Discurso durante a 127ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Denuncia a campanha que está vitimando o Presidente Sarney.

Autor
Fernando Collor (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/AL)
Nome completo: Fernando Affonso Collor de Mello
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Denuncia a campanha que está vitimando o Presidente Sarney.
Publicação
Publicação no DSF de 11/08/2009 - Página 35184
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, ATENDIMENTO, EXPECTATIVA, POPULAÇÃO.
  • DEFESA, PRESIDENTE, SENADO, VITIMA, INJUSTIÇA, INJURIA, CALUNIA, TENTATIVA, IMPUTAÇÃO, RESPONSABILIDADE, CRISE, ELOGIO, ATUAÇÃO, MESA DIRETORA, PROVIDENCIA, ANALISE, MOVIMENTAÇÃO, NATUREZA POLITICA, PROXIMIDADE, ELEIÇÕES, SEMELHANÇA, PROCESSO, IMPEACHMENT, ORADOR, MANIPULAÇÃO, IMPRENSA, REITERAÇÃO, COMPROMISSO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, LUTA, SOBERANIA, LEGISLATIVO, CONCLAMAÇÃO, POPULAÇÃO, BUSCA, INFORMAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, NECESSIDADE, CONHECIMENTO, REPRESENTAÇÃO.

            O SR. FERNANDO COLLOR (PTB - AL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de poder falar, neste momento, à Nação brasileira. Todos sabem, alguns podem não se lembrar, mas todos sabem que, nos idos de 1992, a minha saída da Presidência da República pelo processo de impeachment instaurado pela Câmara dos Deputados teve como patrocínio o Partido do atual Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também a simpatia do atual Presidente do Senado da República, Presidente José Sarney.

            Fui vítima de uma campanha insidiosa. Nas palavras do ex-Governador Leonel Brizola, saudoso Governador, muito mais violenta do que aquela sofrida pelo não menos saudoso Presidente Getúlio Vargas. Sofri, e muito. Arrancaram-me o mandato, levaram-me a mãe, dispersaram minha família, suspenderam meus direitos políticos, violando o Regimento da Casa e as leis do País, por oito longos anos.

            E hoje aqui estou, no Senado da República, representando o meu Estado, Alagoas, apoiando o Presidente, o Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e apoiando o Presidente desta Casa, José Sarney.

            Portanto, a minha posição é absolutamente insuspeita. Se calasse dentro de mim algum tipo de rancor, de raiva, algum espírito de revanche, momento propício melhor não haveria do que este. E por que não o faço? Não o faço, em primeiro lugar, porque não acolho esses sentimentos subalternos dentro de mim, e, segundo, porque não desejo a ninguém, nem mesmo àqueles que, no passado, estiveram em campos opostos ao meu, que sejam vítimas de campanhas como essas que estão vitimando o Presidente desta Casa, Presidente José Sarney, e, por extensão, do ponto de vista político, o Governo do Presidente Lula.

            Quando apóio as ações do Governo Federal, apóio, como disse anteriormente, pela consciência plena que possuo de que o seu Governo vem atingindo as expectativas da população brasileira, sobretudo a população mais sofrida.

         Quando apoio a permanência do Presidente José Sarney nessa cadeira em que V. Exª, Senador Papaléo Paes, preside a sessão, é porque não desejo que ele seja alcançado por essas injúrias, calúnias, mentiras. Ouvem-se várias vezes daqueles que querem retirar o Presidente Sarney da cadeira para a qual foi legitimamente eleito pela maioria dos integrantes desta Casa: “Li na publicação X”, “Diz a publicação Y”, “Fala-se nas ruas”. E não se dão sequer o cuidado de procurar ler essas acusações, de procurar entender essas acusações. E dizem exatamente assim: “Não li ainda o processo, mas, pelo que vejo publicado, isso não pode, isso tem de acabar.” Como se o Presidente José Sarney fosse o culpado por tudo que vem acontecendo neste Senado.

         E permitam V. Exª e as Srªs e os Srs. Senadores colocar-me também como uma pessoa insuspeita nesse processo, porque aqui cheguei eleito em 2007. E o que tenho eu a ver com tudo isso que hoje está sendo aí levantado, como alguns outros poucos companheiros que estão inaugurando um mandato, como inaugurei em 2007?

            O que foi solicitado à Mesa Diretora do Congresso Nacional essa Mesa Diretora vem fazendo e mostrando serviço. As providências estão sendo tomadas de forma adequada, sem que se impeça nem o Ministério Público, nem a Polícia Federal de que tomem as atitudes que julguem convenientes, entre as atribuições que lhes confere a Constituição da República brasileira, sobre aquilo que todos nós desejamos, ao final, esclarecer.

            Há, sim, um movimento político em jogo. E esse movimento é feito exatamente às vésperas do processo eleitoral, o que inibe alguns companheiros de tomarem alguma posição de acordo com a sua consciência e com a razão. Mas, infelizmente, pela proximidade das eleições, optam por ouvir o intangível ruído das ruas. A mesma coisa aconteceu comigo. A votação para o meu afastamento se deu às vésperas de uma eleição, para inibir companheiros parlamentares de votarem contra o meu afastamento, porque tinham receio desse movimento que se criava e que, julgavam eles, poderia prejudicá-los no pleito que se avizinhava.

            Lamentavelmente, vejo que isso, mais uma vez, acontece. E gostaria de dizer a esses companheiros que, aqui e acolá, de alguma forma, têm manifestado esse receio que não tragam para sua decisão esse tipo de atitude receosa. A multidão - e a sua vontade - nem sempre ou quase nunca tem razão. A razão é alcançada com base numa reflexão profunda dos fatos que nos estão cercando e do conhecimento desses fatos.

            Temos exemplos na história. O nosso Jesus Cristo foi levado à cruz, porque a turba optou por Barrabás, em vez de optar por Jesus.

         Getúlio Vargas. Getúlio Vargas. Aqueles que, na véspera do dia 24 de agosto de 1954, andavam pelas ruas do Rio de Janeiro, cometendo arruaças, fazendo badernas, quebrando portas de comerciantes pró-Getúlio, tentando empastelar jornais que eram a favor de Getúlio, ou jornal a favor de Getúlio, a favor da constitucionalidade, como Última Hora, aqueles mesmos que pelas ruas caminhavam tentando incendiar os espíritos dos brasileiros contra o Presidente legitimamente eleito pelo voto popular, quando da madrugada do dia 24 de agosto, depois do trágico episódio, caminhavam eles mesmos pelas mesmas ruas, querendo caçar (com “c” cedilha) aqueles que porventura estivessem a comemorar o falecimento trágico de Getúlio Vargas. Esse é o comportamento da massa. Esse é o comportamento da turba, quando não informada de maneira conveniente.

            E parte da mídia deste País não está informando de forma conveniente. Parte da mídia deste País, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todas as senhoras e os senhores que nos estejam escutando, neste momento, parte da mídia deste País está querendo engolir, fazer engolir a cada um de nós essas empulhações cometidas contra o Presidente José Sarney.

            Aqueles que têm alguma coisa contra o termo “engolir” devem sofrer de um período de regressão. Não conseguiram ultrapassar a fase oral da primeira infância, e isso traz graves problemas na fase adulta, porque engolir, deglutir é algo absolutamente natural, aliás, é algo - V. Exª e o Senador Mão Santa, que são médicos, sabem - que faz parte da nossa fisiologia.

            Então, parte da mídia está desejando impor a linha de pensamento único: “Temos que mostrar a força. Temos que tirar José Sarney da Presidência do Senado e ponto final”. Mas a mídia não irá conseguir consagrar o seu intento. A mídia não fará com que esta Casa, como disse anteriormente, agache-se diante dela. Esta Casa é muito mais alta do que isso, muito mais alta do que isso.

            Há que se respeitar esta Casa, porque há que se respeitar o processo democrático. E se tudo isso que está acontecendo no âmbito do Senado Federal, com as CPIs - e volto a dizer, pedindo licença a V. Exª., Sr. Presidente, e às Srªs e aos Srs. Senadores, que fala aqui uma pessoa insuspeita, que foi vítima de CPIs viciadas, foi vítima de um processo espúrio, que não deixou, em nenhum momento, de fornecer à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito todas as documentações solicitadas, mas que, por isso mesmo, por ter essa experiência, por ter passado por essa experiência, não desejo isso a ninguém, nem àqueles que estiveram em campos opostos nos idos de 1992 - por isso, peço à Nação brasileira que faça uma reflexão, veja onde está a verdade e onde está a mentira.

            Em cada uma dessas representações feitas contra o Presidente José Sarney, não se deixem levar somente pelo lide da matéria, não se deixem levar apenas pelos títulos das matérias, não se deixem levar apenas pelos humores dos colunistas e dos cronistas.

            Procurem aprofundar-se um pouco mais. Solicitem aqui ao Senado da República que recebam as interpelações e as representações feitas na íntegra.

            Discutam esse problema e não apenas queiram fazer do Presidente do Senado da República a bola da vez, como no jargão popular costumam utilizar.

            Por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu venho aqui, mais uma vez, para fazer este chamamento à Nação, para que a Nação, conhecendo, sim, o inteiro teor das representações que foram apresentadas contra o Presidente José Sarney, possa, a partir do conhecimento dessas interpelações e dessas representações, fazer o correto juízo do que aqui está acontecendo. Este é um jogo político em que forças a favor do Governo Lula e forças contra o Governo Lula estão se digladiando, tendo como pano de fundo as eleições de 2010.

            Eu aqui me ponho dessa forma, Sr. Presidente, e peço a todos aqueles que nos escutam neste momento que façam essa reflexão para depois tomarem a sua decisão.

            Obrigado, Sr. Presidente.

            Era isso que eu tinha a dizer, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/08/2009 - Página 35184