Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apresentação das razões que levaram S.Exa. a pedir seu desligamento do PT. Considerações sobre a gravidade da nota pública do Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores, orientando senadores a votarem pelo arquivamento do processo contra o Presidente José Sarney. Leitura de carta de S.Exa. dirigida ao Presidente do Diretório Municipal do PT, comunicando seu desligamento das fileiras do Partido.

Autor
Flávio Arns (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Apresentação das razões que levaram S.Exa. a pedir seu desligamento do PT. Considerações sobre a gravidade da nota pública do Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores, orientando senadores a votarem pelo arquivamento do processo contra o Presidente José Sarney. Leitura de carta de S.Exa. dirigida ao Presidente do Diretório Municipal do PT, comunicando seu desligamento das fileiras do Partido.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Cristovam Buarque, Eduardo Azeredo, Eduardo Suplicy, Mário Couto, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2009 - Página 39660
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, REPUDIO, CONDUTA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ORIENTAÇÃO, SENADOR, VOTAÇÃO, ARQUIVAMENTO, CONSELHO, ETICA, PROCESSO, REPRESENTAÇÃO, JOSE SARNEY, ARTHUR VIRGILIO, COMPROVAÇÃO, FALTA, DESRESPEITO, VONTADE, POPULAÇÃO, POSIÇÃO, CONGRESSISTA, SOLICITAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, ESCLARECIMENTOS, PROVIDENCIA, MELHORIA, GESTÃO, SENADO.
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, ORADOR, ENDEREÇAMENTO, PRESIDENTE, DIRETORIO MUNICIPAL, MUNICIPIO, CURITIBA (PR), SOLICITAÇÃO, DESLIGAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APRESENTAÇÃO, TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL (TRE), ESTADO DO PARANA (PR), DIRETORIO NACIONAL.
  • EXPECTATIVA, ADOÇÃO, BRASIL, JURISPRUDENCIA, EXIGENCIA, FIDELIDADE PARTIDARIA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, SIMULTANEIDADE, COBRANÇA, FIDELIDADE, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, HISTORIA, PROGRAMA, IDEOLOGIA.
  • MANIFESTAÇÃO, DISPOSIÇÃO, CONTINUAÇÃO, LUTA, DEFESA, ETICA, DIGNIDADE, VALORIZAÇÃO, CIDADÃO, RESPEITO, DIREITOS HUMANOS.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

            Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu desejo, em primeiro lugar, rememorar os acontecimentos da semana passada no Conselho de Ética, cuja reunião decidiu pelo arquivamento das denúncias que constavam da pauta daquele Conselho.

            Como todos sabem, os Senadores do Partido dos Trabalhadores, os doze Senadores, nós assinamos uma nota, elaboramos a nota e assinamos essa nota em conjunto, já há cerca de dois meses, pedindo, na verdade, que houvesse o afastamento do Presidente desta Casa, a investigação, o esclarecimento das denúncias e a tomada de posições em relação a um conjunto de medidas necessárias, importantes, para o bom funcionamento desta Casa do Senado Federal.

            Apesar de haver esta nota por escrito, os três votos do Partido dos Trabalhadores naquela reunião foram a favor do arquivamento do processo e não do esclarecimento, apesar de todos os Senadores terem participado da elaboração e com assinatura daquele documento.

            Inclusive, durante o recesso, houve novas denúncias em relação ao que estava acontecendo dentro do Senado. O Líder do nosso Partido, Senador Aloizio Mercadante, se posicionou de uma maneira determinada a favor do esclarecimento e da investigação. Foi também dito pelo Presidente Nacional do Partido, Ricardo Berzoini, que o nosso Líder estava tendo uma atitude infantil. E ao mesmo tempo, o Ministro das Relações Institucionais, José Múcio, colocou nos meios de comunicação que aquela posição do Senador Mercadante era a posição de um ou dois Senadores e não dos doze Senadores da Bancada do PT.

            Estive nesta tribuna, no reinício das atividades, enaltecendo o Líder do nosso Partido, Aloizio Mercadante, e dizendo, naquela ocasião, que ele estava sendo fiel aos princípios discutidos e aprovados na reunião da Bancada de Senadores do nosso Partido. Que ele estava sendo fiel, correto. E inclusive fiz essa fala, naquela ocasião, referindo-me especialmente ao povo de São Paulo.

            Mas, infelizmente, os três Senadores se posicionaram de maneira diferente. Esse, inclusive, não foi o fato mais grave, na minha ótica, na semana passada. O fato mais grave foi a nota pública do Presidente do Partido dos Trabalhadores, portanto Presidente Nacional do Partido, Ricardo Berzoini, orientando - como se tivesse autoridade, em primeiro lugar, para orientar - os Senadores a votarem pelo arquivamento do processo.

            Nós dissemos, naquela ocasião, que nós estávamos fazendo exatamente o contrário daquilo que a sociedade estava esperando. As pessoas, a sociedade diziam: “Esclareça-se”, e aqui a Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores dizia: “Arquive-se, sem esclarecer”.

            Quero dizer que essa atitude do Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores criou um mal-estar não só entre os Senadores que tinham elaborado aquela nota pedindo investigação, esclarecimento e outras medidas necessárias para a gestão do Senado. Criou um mal-estar entre Prefeitos do Partidos, Vereadores, Deputados, e principalmente na militância, na base do Partido. Todos nós - eu dizia na ocasião - perdemos o argumento de dizer por que é importante percorrer um caminho nesse sentido. E eu, inclusive, disse que o PT, o Partido dos Trabalhadores, não estava em sintonia com a sua luta histórica, não estava em sintonia com as bandeiras da ética, da transparência, de escutar o povo, de discutir com o povo e, a partir desse debate, dessa sintonia com o anseio popular, dizer: olhe, nós vamos tomar uma atitude ética. Qual é a atitude ética? Estar em sintonia com os anseios da sociedade.

            Então, lamentei profundamente, disse inclusive que as bandeiras fundamentais do Partido estavam sendo jogadas no lixo naquele momento. E houve realmente uma grande dificuldade, nesse sentido, de qualquer explicação. As pessoas chegaram para mim depois e disseram: “Não, mas isso poderia ser debatido dentro do PT.”

            Como é que se vai justificar para a sociedade, num momento importante, qualquer discussão, qualquer debate, qualquer encrenca, como o Presidente da República colocou? Mas foi o momento fundamental na história do PT, na História do Brasil, em que a gente poderia perfeitamente dizer: “Olhe, nós estamos inaugurando um novo jeito de fazer política, uma nova forma para evitarmos aquele chavão de que política sempre foi feita dessa maneira, de que esse é o jeito de fazer política.” É o jeito de fazer política se nós quisermos que esse seja o jeito de fazer política. Há outras maneiras dignas, competentes, participativas de se fazer política.

            E, na semana passada, eu disse: “Não foi a este Partido que eu me filiei. Quando eu entrei no Partido eram outras bandeiras, outros debates, e não essas bandeiras que foram perdidas e que serão difíceis de ser reencontradas.”

            Então, nesta direção, eu disse que iria me afastar do Partido, que iria me desfiliar do Partido, porque eu não posso compactuar, conviver com todas essas questões que foram defendidas em termos deste debate todo e ao arrepio do que pensa a militância, do que pensa a base, porque isso não foi discutido sequer com os Senadores. Nem nós soubemos, pelos meios de comunicação, que o Presidente Nacional do Partido estava orientando num determinado sentido.

            Mas a base não soube, ninguém soube. Então, nesse sentido, criou-se um clima complicado, difícil, que não poderia ser e que não tem condições absolutamente de ser sustentado.

            Ai, as pessoas me disseram “Mas você corre o risco de perder o mandato, caso você se desfilie do Partido”. Tenho colocado sempre que o mais importante neste momento é a discussão nacional, o que se pretende, o que se pode fazer, as instituições. O meu mandato, nesse cenário, é secundário; ele é um instrumento importante, fundamental que se tem para que as grandes discussões, os grandes anseios da sociedade sejam trazidos para o Congresso. Então, nesse sentido, eu tenho absoluta certeza de que a própria sociedade, os movimentos sociais estão dizendo que mais importante do que qualquer coisa é o posicionamento.

            Então, nunca estou falando também em relação ao Presidente ou ao João ou à Maria ou ao Pedro ou a seja quem for. Eu estou sempre dizendo qual é o nosso posicionamento como partido político em relação a um fato que deva ser esclarecido, deixando impessoal a coisa, para que a gente possa se posicionar.

            Nesse sentido, eu gostaria de comunicar à Casa que, na manhã de hoje, apresentei ao Diretório Municipal de Curitiba, onde estou filiado, o meu pedido de desfiliação do Partido dos Trabalhadores e, ao mesmo tempo, também, vou apresentá-lo amanhã ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Paraná e à Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores.

            Quando as pessoas perguntam sobre o meu mandato, eu respondo: “O mandato era para estar em sintonia, em respeito com a sociedade, fazendo o que nós achamos correto num determinado momento histórico.” E, se houver o debate judicial na sequência, haverá o debate judicial e vamos enfrentar o debate judicial com a maior tranquilidade, com a maior segurança no sentido de o Brasil poder ter uma jurisprudência que diga que a fidelidade tem que ser de mão dupla: fidelidade minha com o Partido e fidelidade do Partido para com o seu ideário, com o seu programa, com a sua história, com a sua filosofia. E eu tenho absoluta convicção de que, nesse sentido, não fui infiel, mas o Partido, sim, foi infiel a sua história e ao seu programa.

            E, antes de passar a palavra aos colegas Senadores, eu só gostaria de ler a carta que apresentei ao Diretório Municipal no dia de hoje, que foi apresentada em meu nome porque estou aqui em Brasília, mas assinada por mim. A carta foi endereçada ao Sr. Presidente do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores.

Sr. Presidente,

Por ocasião do meu ingresso no Partido dos Trabalhadores, no ano de 2001, dirigi-me à sociedade brasileira, por meio de carta, externando os motivos por tal decisão. Na ocasião, afirmei que os partidos precisavam ser fortes, democráticos e respeitadores da doutrina e dos programas a eles inerentes, exigindo-se daqueles que foram eleitos para representar o povo posicionamentos firmes, convicção de que a dignidade da pessoa humana precisa ser priorizada e transparência na gestão da coisa pública.

Durante toda a minha trajetória política, mesmo antes do meu ingresso no Partido dos Trabalhadores, venho atuando em atenção aos movimentos sociais que visam ao bem comum, atento ao combate às desigualdades, injustiças, exclusão e quaisquer formas de discriminação.

Entretanto, considerando:

a atitude do Partido dos Trabalhadores, que orientou Senadores a votarem pelo arquivamento de representações junto ao Conselho de Ética contra o Presidente daquela Casa, em flagrante distanciamento e violação aos princípios e diretrizes que sempre nortearam o ideal do Partido

que a referida orientação ignorou o documento assinado por todos os Senadores da Bancada do Partido dos Trabalhadores, em que requeriam a apuração e investigação das denúncias encaminhadas ao Conselho de Ética;

a discriminação relativa à minha pessoa e ao meu mandato popular, manifestada por membros do Partido e até mesmo pelo Senhor Presidente da República;

o meu dever de lealdade para com as entidades sociais, segmento que me colocou na vida pública e que, reconhecidamente, presta inestimável serviço a toda a comunidade paranaense e brasileira;

o meu compromisso com o povo paranaense, que me outorgou o mandato de Senador da República, compromisso esse em consonância com as bandeiras originais do Partido, as quais propugnam a defesa intransigente do comportamento ético no trato da coisa pública como condição básica para o exercício do mandato;

por fim, o princípio da indissociabilidade do meu mandato com os anseios de toda a sociedade brasileira;

Venho comunicar meu desligamento das fileiras do Partido dos Trabalhadores, pedindo que seja este formalizado internamente, ao tempo em que enalteço o trabalho da militância responsável pela construção desse Partido, cujo respeito aos princípios que o fundamentaram poderia ter estabelecido uma nova maneira de se fazer política no País.

           Então, esse documento foi entregue no diretório municipal e amanhã será entregue no Tribunal Regional Eleitoral, que, de acordo com a legislação, são as instâncias corretas e adequadas para receber o documento; e, na seqüência, para a direção nacional do Partido dos Trabalhadores.

            Escuto o Senador Eduardo Azeredo.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Flávio Arns, perde o PT, perde o Partido dos Trabalhadores com a sua saída. Eu quero aqui manifestar a V. Exª a total solidariedade, o meu apoio pessoal e político. Eu sou testemunha da sua luta e da sua coerência. V. Exª foi coerente o tempo todo. Quando há oito anos se afastou do meu Partido, o meu Partido perdeu com sua saída. E perdeu porque V. Exª, naquele momento, foi coerente também, porque exatamente buscava investigações, buscava esclarecimentos. De maneira que eu quero lembrar que a sua linha é uma linha correta, é uma linha de homem público de primeira grandeza, de homem público preocupado com as questões sociais. A sua vida é de um homem ético, de um homem correto, de um homem que não é precipitado, de um homem que não é demagogo, de um homem que não usa, em nenhum momento, de hipocrisia. A sua posição é uma posição equilibrada. Assim foi sempre o seu mandato: a serviço da população, da população mais carente, da população mais necessitada. A sua atitude, neste momento, merece todo o respeito do Senado brasileiro. E mais: não merecem respeito aqueles que o criticam, aqueles que vêm dizer que V. Exª está agindo de maneira equivocada, como um ex-Ministro chegou a menosprezar a sua saída, ou o próprio Presidente da República, que disse que V. Exª é encrencado. É encrencado, sim, é encrencado para defender as boas causas.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - Obrigado, Senador Eduardo Azeredo.

            Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Flávio Arns, eu creio que aqui ninguém tem mais condições de falar sobre a sua posição do que eu, porque eu já passei por isso, já estive na mesma posição, já li também uma carta feita ao diretório local, e sei do seu sofrimento e, ao mesmo tempo, da sua satisfação ao cumprir um dever. E, ao mesmo tempo, do orgulho que pode ter pela coragem que é preciso para fazer esse gesto. Seria muito mais cômodo se acomodar, seria muito mais cômodo aceitar, continuar, fazer de conta que não há esse clamor na sua alma e de fora também para tomar uma posição como essa. Eu creio que os grandes políticos dependem dos grandes gestos que fazem muito mais do que de todos os discursos que pronunciam na vida. O senhor está lendo um discurso, mas está, na verdade, fazendo um gesto, um gesto ousado, não o gesto de quem sai por interesses eleitorais ou por um arranjo qualquer, mas de quem sai para continuar fiel. Eu lembro que quando passei pelo que o senhor está passando eu disse que foi o PT que saiu de mim. E eu sofri muito por isso. Não fui eu que saí do PT. Eu sofri muito e acho que ainda sofro de vez em quando porque é muito ruim a gente se afastar de companheiros com os quais esteve junto em lutas e mais lutas. Entretanto, esses companheiros estão se afastando e é preciso gestos como esse até para que tais companheiros se encontrem. Eu ainda acredito que o PT será um grande Partido. Só não sei quantas décadas serão necessárias para isso. Ainda acredito que há uma massa muito grande de militantes do PT ansiosos por liderança e confesso, sinceramente, que pensei que ela ia surgir aqui na sexta-feira passada na pessoa do Senador Mercadante. Eu achava que ele ia renunciar à Liderança do PT e dizer: “Eu vou me dedicar a liderar não os Senadores do PT, mas o Partido inteiro com uma visão nova, com uma proposta nova”. Não é aqui que a gente vai discutir esse assunto, porque o discurso é seu, mas eu imaginava isso. Hoje o senhor está fazendo um gesto que merece toda a nossa admiração e tem toda a minha simpatia. Eu sei que esse é um gesto difícil, que exige coragem, que provoca sofrimento, mas que se fizesse qualquer outro o senhor depois ficaria - não vou dizer envergonhado - muito encabulado diante do povo do Paraná.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - Agradeço ao Senador Cristovam Buarque as palavras sempre de muita amizade.

            Senador Mário Couto.

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Senador Flávio, quero aqui externar o meu sentimento e dar parabéns a V. Exª. Senador, para mim, esta é uma sessão histórica, um momento histórico. Na minha vida política, isso significa uma raridade. Nunca vi. Pela primeira vez estou vendo uma postura tão digna. Eu sei, Senador, eu sei... Tenho consciência na minha vida pública de que muitos hoje no seu Partido desejariam ter essa coragem. Não estão satisfeitos, mas não fazem isso por falta de coragem, Senador. E V. Exª, hoje, vai à tribuna e diz a eles: “É assim que um homem com H maiúsculo deve fazer.” Como V. Exª disse, a fidelidade tem que ser dos dois lados. Como V. Exª disse, perdeu a credibilidade. Como V. Exª disse, não pode mais ficar onde não lhe convencem as ideias, onde o que o levou a entrar nesse Partido já não é mais a mesma coisa. Tenho uma posição diferente da do Senador Cristovam Buarque - às vezes digo Colombo, às vezes chamo Chico Buarque. É uma confusão danada. Há dois dias que faço isso. Mas eu tenho uma idéia completamente contrária; eu acho que o PT está se estraçalhando de uma vez Ele mesmo procurou isso, parece até que propositadamente, Senador, parece que até propositadamente. A gente não consegue entender o que aconteceu na semana passada. V. Exª marca hoje, na sua vida, um momento em que a sua família, tenho certeza, está envaidecida. O povo do seu Estado deve estar feliz com a postura de V. Exª. O Brasil hoje deve dizer assim, Senador: “Ainda tem homens públicos sérios neste País”. Na sua casa, ao deitar, Senador, agradeça a Deus pela postura de V. Exª, de um homem, homem com H, sério, digno, honesto com a sua consciência. Parabéns. V. Exª está dando uma demonstração de um homem público a toda a Nação, principalmente para aqueles que querem ser políticos na vida. Meus parabéns.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - Agradeço.

            Senador Eduardo Suplicy, ouço o amigo e companheiro Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Flávio Arns, não posso expressar qualquer contentamento pelo fato de perder um companheiro por quem tenho o maior respeito, com quem, ao longo destes anos em que estamos juntos aqui, na Bancada do PT no Senado, temos tido muita afinidade. E sempre tenho enaltecido a sua preocupação com as questões sociais, como a sua preocupação, por exemplo, com as pessoas portadoras de deficiência, que constitui uma das áreas de sua maior atenção; com as questões relativas às entidades que estão na área social, os movimentos sociais, e a sua preocupação, conforme em sua própria carta, em seu pronunciamento, de estar em sintonia com os valores maiores que nos fizeram ingressar no Partido dos Trabalhadores, pela realização de justiça para que todo o povo brasileiro tenha assegurada a devida cidadania para erradicarmos a pobreza, melhorarmos a distribuição da renda e estarmos sempre em busca da verdade e em defesa da ética, inclusive e sobretudo na vida pública. Eu não tomo a mesma decisão de V. Exª de sair do Partido, ainda que comungue com V. Exª posição semelhante. Quando o Presidente Ricardo Berzoini enviou-nos aquela carta, no dia da reunião do Conselho de Ética, na semana passada, eu, de pronto, telefonei para ele, ao tomar conhecimento, e lhe perguntei: “Mas houve uma reunião da Executiva Nacional?” Ele mencionou “Não”. Mas ponderou que cerca de 90%, na estimativa dele, da Executiva Nacional, estava de acordo com aquela orientação. Perguntei-lhe se aquilo era uma ordem. Ele respondeu: “Não, é uma orientação”. Eu observei que o Líder Aloizio Mercadante havia nos transmitido que cada membro do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, como é a nossa tradição aqui, sempre deveria votar de acordo com a sua convicção, com a sua consciência. Então, eu transmiti a ele que, se coubesse a mim o voto - eu era o terceiro suplente, não chegou a mim -, eu votaria pelo desarquivamento, porque essa era a posição coincidente com aquela que, conforme assinalou V. Exª, vínhamos mantendo. Desde o começo de julho, nós encaminhamos uma carta, uma manifestação em que conclamamos o Presidente José Sarney para se licenciar e se colocar perante o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, a fim de responder e dirimir todas as questões contidas nas representações apresentadas pelo PSOL e pelo PSDB. Portanto, na minha avaliação, muitas dúvidas permaneciam. Compreendo o seu sentimento, respeito a sua decisão, mas eu preferi manifestar-me, conforme fiz na última segunda e terça-feira e inclusive agora, em decorrência da situação, estou propondo ao Presidente José Sarney a renúncia à Presidência. Se porventura ocorrer que o Supremo Tribunal Federal venha a acatar o recurso encaminhado hoje por, acredito, 12 Senadores, inclusive V. Exª, para que o Plenário do Senado venha a examinar as duas representações, então, se faria aquilo que nós havíamos propugnado, ou seja, a oportunidade de o Presidente José Sarney aqui nos expor, nos explicar e responder a indagações, para que, então, façamos uma avaliação mais adequada e possamos inclusive avaliar a eventual gradação da gravidade de eventuais falhas, de eventuais faltas. Seria importante que - eu inclusive disse isso no meu pronunciamento - diferentemente de simplesmente dizer que nada aconteceu que pudesse significar algo que ferisse o decoro, a ética, pudéssemos examinar. Gostaria de dizer que, inclusive a propósito da atitude do Presidente Ricardo Berzoini, estou, de ontem para hoje, abrindo, na minha página eletrônica do Senado, a possibilidade de cada pessoa responder à seguinte pergunta: “Você concorda com o pedido de renúncia do Senador Sarney da Presidência do Senado, feito pelo Senador Suplicy, diferentemente da orientação do Presidente do PT, Ricardo Berzoini?” As pessoas passaram a responder. Daqui a instantes, vou pedir a palavra para dar no plenário do Senado o meu endereço eletrônico, porque gostaria... Caso o Presidente Ricardo Berzoini queira fazer o mesmo, sugiro que o faça, na página do próprio Partido dos Trabalhadores, a consulta aos filiados e a todos que queiram aquela página acessar, para ver qual será a resposta. V. Exª tem razão quando aqui nos transmite que a enorme vontade do povo brasileiro estava condizente com aquilo que V. Exª estava colocando, que eu estou colocando e que corresponde à avaliação, inclusive, da base do nosso partido. E como, na história do PT, sempre a direção procurou estar em sintonia com a base do partido, é importante que o Presidente Ricardo Berzoini cuide de estar em sintonia com a base, tão numerosa hoje, de mais de um milhão de filiados no Brasil inteiro.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - Agradeço a V. Exª e passo a palavra ao Senador Arthur Virgílio.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Meu prezado Senador Flávio Arns, naquela reunião do Conselho de Ética, nós vimos algumas cenas de absoluta anomalia. Por exemplo, o julgamento das representações e denúncias contra o Presidente da Casa sendo feito antes dos arrazoados, ou seja, primeiro se votava “sim” ou “não”, e nove votaram pela absolvição do Senador, ou pela não aceitação da denúncia, melhor dizendo, e seis pelo prosseguimento das investigações, mas sem que se pudesse dizer absolutamente coisa nenhuma. E, quando chegou a vez da representação do PMDB contra mim, chegaram a me sugerir que ficasse quieto e deixasse que a mesma pantomima se repetisse. Eu disse: “Eu não posso aceitar uma coisa dessas”. Então, pedi licença ao Presidente do Conselho para ir à Mesa e procurar desmontar, ponto por ponto, cada uma daquelas acusações que ali estavam postas, mostrando as falácias nelas contidas e enfrentando, diante da Nação, o que me parecia mesmo o caminho mais justo. Muito bem, recebi depois manifestações muito eloquentes de companheiros, colegas, adversários, correligionários de várias latitudes. A sua me emocionou profundamente. A sua manifestação me tocou profundamente - a mim, a minha família, a meus amigos. V. Exª não é homem dado a arroubos. V. Exª é um homem contido. Fui seu colega de Câmara. Sempre o respeitei. Sou seu colega de Senado e devo lhe dizer dessa minha gratidão pessoal. As palavras de V. Exª se incorporaram a minha vida para sempre. E eu espero sempre merecer de V. Exª o mesmo conceito, o mesmo respeito. V. Exª sabe que desfruta de um conceito absolutamente respeitável aqui na Casa. E eu vou fazer a diferença entre conceito e prestígio. V. Exª era muito bem conceituado na Câmara e é excelentemente bem conceituado no Senado. E hoje, talvez, não faça idéia do tamanho do prestígio que granjeou dentro e fora do Senado Federal. V. Exª não tem ideia do que o nome de V. Exª repercute hoje no Amazonas, que é o meu Estado. V. Exª não tem ideia do que repercutem aqui no Distrito Federal, fora das fronteiras do Congresso, o nome, a palavra e a imagem de V. Exª. Eu não vou aqui criticar o Partido dos Trabalhadores. Não me cabe fazer isso. Eu tenho boa convivência com os membros de sua Bancada. Marchamos juntos - e disso não me arrependo um só milímetro - pela campanha do Senador Tião Viana para a Presidência do Senado. Eu entendo que, ao Partido de Governo, ou ao Partido do Presidente, às vezes cabe muita tarefa difícil de ser executada, enfim. E, portanto, não aproveitarei para fazer críticas ao PT. Tenho respeito e amizade pelo Líder Mercadante. Tenho respeito e amizade pelos integrantes do Partido que V. Exª hoje deixa de nele militar, assim como tenho estima e respeito pelo Senador Eduardo Suplicy, que é uma figura de integridade a toda prova. Apenas entendo que V. Exª agiu como um homem. Agiu como as pessoas devem agir: de maneira simples, como é o seu jeito. Se V. Exª fosse outra pessoa, teria deixado para falar às quatro da tarde, plenário mais cheio, mais imprensa, mais tudo, e teria transformado isto aqui num grande ato. Recebi seu recado ainda há pouco - de que V. Exª gostaria de me ter presente aqui - e interrompi o almoço e corri para ouvi-lo e para lhe dizer do meu carinho, do meu respeito, da minha estima e da vontade que tenho de abraçá-lo quando V. Exª descer dessa tribuna. V. Exª é um exemplo para todos nós aqui no Senado. Seja qual for sua opção partidária - se V. Exª vier a fazer alguma -, esse partido vai receber uma grande figura da política brasileira. Perde o PT - disseram aqui vários Senadores, e isso é absoluta verdade -, mas o País, não. O País ganha. O País ganha porque essa coerência, que está tão em falta no mercado da política hoje, sobra em V. Exª, como também a firmeza de caráter, que faz de V. Exª às vezes até uma figura inflexível. Aliás, a firmeza de caráter compensa essa inflexibilidade nos momentos de crise. Não tenho muito que me estender. Apenas dizer que tenho extrema honra de ser seu colega de Senado, extrema gratidão por V. Exª, extremo respeito pela sua figura. E eu lhe desejo o máximo de felicidades aonde quer que se dirija o seu destino. V. Exª merece um destino político exitoso, porque, aí sim, seria uma falta muito grande, uma ausência muito grande o Brasil perder o concurso, aqui no Senado, de alguém com o seu senso crítico, de alguém com a sua grandeza moral, de alguém com a sua generosidade pessoal. Eu acompanho várias lutas de V. Exª, inclusive uma luta pessoal de V. Exª que me emociona e me toca muito e que V. Exª transformou em uma luta geral e que é a marca de V. Exª quando se trata do específico, aqui nesta Casa e no País. Mas V. Exª estabeleceu os seus limites, e as pessoas de bem têm limites: “A partir daqui, não vou”. E, a partir daí, V. Exª não foi. A Casa continua funcionando em anomalia. Não adianta votarmos uma tolice aqui e outra tolice acolá e imaginarmos que, de repente, uma fada madrinha passou uma esponja em todos os problemas e que não há problema nenhum aqui na Casa. Os problemas essenciais não foram atacados. Mas é muito confortador saber que, olhando para essas bancadas, a gente ainda encontra figura do seu calibre, do seu porte, da sua estatura. Portanto, que Deus o proteja e que V. Exª seja muito feliz! Aliás, muito orgulhosos de V. Exª devem estar todos os seus familiares, todos os seus amigos, todos os seus admiradores, que, acredite, são milhões hoje neste País. V. Exª ultrapassou aquela fase do conceito para a fase do prestígio. V. Exª sempre teve muito bom conceito. Agora, V. Exª é um homem de muito prestígio neste País, graças às atitudes que vem adotando e graças à retidão de seu caráter, que era conhecida de nós outros, mas que era desconhecida, talvez, de muitos brasileiros. E os brasileiros apreciam quem tem caráter firme, como V. Exª o tem. Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - Agradeço, Senador Arthur Virgílio, sinceramente. Obrigado.

            Senador Pedro Simon.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Prezado companheiro e irmão Senador Arns, eu lamento muito ter de dar este aparte. Lamento muito ver V. Exª na tribuna nessas condições. Eu aprendi a apreciar e admirar V. Exª ao longo do tempo, nesse mandato. V. Exª é quase um homem rude, seco, concentrado. V. Exª é um homem muito circunspecto. Fala no momento exato e na medida exata, mas eu acho muito difícil encontrar outro colega nesta tribuna que, semelhantemente a V. Exª, possa pegar nos Anais todos os seus pronunciamentos, todos os seus apartes e mostrar a identidade, a unidade de pensamento, a firmeza nas convicções. Sempre, em qualquer lugar e em qualquer circunstância, V. Exª é o mesmo. A imprensa tem publicado que a sua saída do PT representa, de certa forma, o afastamento das comunidades de base, aquelas que lá na origem tanto fortaleceram a criação do PT, quando a sigla era uma incógnita, uma interrogação: “Mas quem são esses que querem fundar um partido de trabalhadores? Qual vai ser o futuro?” Lá estavam aqueles que, como V. Exª, muito antes de entrar no PT, já se preocupavam com os problemas sociais, com os mais humildes, com os deficientes físicos, com as comunidades de base. As suas ideias, a sua convicção foi muito antes do PT. O PT não acrescentou nada à formação da sua personalidade e das suas bandeiras de luta. V. Exª é que, no PT, tentou - e se esforçou muito para isto - fazer com ele se identificasse com as bandeiras de lutas sociais que V. Exª representou. Não vi nesta Casa, em nenhum momento, nesses anos em que V. Exª está aqui, uma discussão, uma dúvida, uma preocupação de V. Exª com relação a cargo, com relação a favor, com relação a regalias que o Partido que está no poder distribui a mancheias: dinheiro, como distribuiu no Mensalão; cargos e favores, como está distribuindo agora, na Petrobras, na Eletrobrás, na Receita Federal, e por aí afora. Em nenhum desses momentos, V. Exª teve a preocupação em colocar nem parente, nem amigo, nem sequer companheiro de Partido. V. Exª manteve o mesmo discurso. Como disse o Senador Cristovam Buarque - e ele diz com razão -, ele não saiu do PT; o PT saiu dele. V. Exª hoje está dando... E a sociedade está dizendo que a saída de V. Exª significa...

(Interrupção do som.)

         O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ... as comunidades de base. Não sei se foi à revelia de V. Exª, mas recebi, da sua assessoria, cópia de um telegrama que, se V. Exª permitir, vou ler.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - Claro.

           O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Endereçada a V. Exª.

Parabéns atitude coerente diante corrupção inacreditável Senado.

Queira transmitir votos de apoio benemérito à Senadora Marina, (...) como também aos demais colegas que defendem ética e decoro dos chamados Pais da Pátria.

Abraços de seu tio,

Cardeal Paulo Evaristo Arns

           Não sei, mas é a primeira manifestação que vejo de D. Evaristo nestes termos, falando em “corrupção inacreditável no Senado, dando parabéns pela atitude coerente diante dessa corrupção inacreditável no Senado. E transmite seu abraço à Marina e aos demais colegas que defendem ética e decoro dos chamados “pais da Pátria”. Aqui, o carinho: não apenas o abraço do Cardeal, nosso chefe, mas o abraço do seu tio, o Cardeal Paulo Evaristo Arns. Repare V. Exª que sua saída e sua manifestação fazem com que a sociedade tome conhecimento da posição, hoje, de D. Evaristo. Muitas vezes, daquela tribuna, eu perguntava, inclusive a S. Emª Revmª: “D. Evaristo, o senhor, como Cardeal de São Paulo, praticamente abriu as portas... Primeiro, criou as comunidades de base, um dos momentos mais espetaculares da Igreja Católica na América Latina e no mundo inteiro. Criou as comunidades de base no sentido de que a Igreja não é apenas olhar para esperar o caminho do céu, mas mostrar a sua responsabilidade aqui na Terra, principalmente com os mais humildes”. D. Evaristo fez isso, num movimento que preocupou até a Direita do Vaticano, que rachou a Arquidiocese de São Paulo em quatro, para evitar a força que ela tinha. D. Evaristo, realmente, cá entre nós, foi, talvez, a pessoa mais importante na criação do PT. Não que ele tenha feito, não que ele tenha facilitado, não que ele tenha encaminhado, mas ele abriu e permitiu que o debate, que as idéias do PT entrassem nas comunidades de base. E essas comunidades de base foram para o PT. Daquela tribuna, nas vezes que eu gostaria de falar com D. Evaristo, eu perguntava para ele: “V. Emª Revmª, que organizou, que teve tanta presença, tanta ação na organização das bases que foram para o PT, e que ensinou tanto para o PT...” E o PT foi um Partido que eu achava espetacular na oposição. Eu olhava até com inveja aquela gente, aquela firmeza, aquela dignidade, aquela correção, aquela capacidade, aquela competência de lutar. Eu olhava, nas campanhas eleitorais, aquela comunidade do PT, e lá no Rio Grande do Sul era gente simples, era gente de pé descalço, que trabalhava sem receber um centavo, sem nenhuma preocupação, sem nenhuma chance de chegar ao Governo... Estavam ali por ideal, por amor. Mas chegaram ao poder. E mudou tudo no poder. Alguém pegar uma diretoria da Petrobras e uma diretoria do Banco do Brasil e pegar funções gratificadas de R$10 mil, R$12 mil, R$15 mil, R$20 mil por mês... Mudou! E hoje, no Rio Grande do Sul e no Brasil inteiro, as bases do PT são as bases mais bem remuneradas e as mais bem colocadas. Aí eu perguntava: “Mas será que o D. Evaristo se esqueceu de orientar a gente do PT sobre o que fazer quando chegar ao Governo? Ou talvez ele achasse que ia levar muito tempo para chegar ao Governo?” Foi quando me deu uma resposta. “Aquela gente era tão pura que, para mim, podiam até ordenar padre, porque eram pessoas imbuídas do que tinha de melhor e do que tinha de mais puro.” Esse era o PT. Esse era o PT do Lula que perdeu uma eleição para Presidente, uma eleição ganha. Eu era Governador do Rio Grande do Sul e, parece-me, fui o único Governador que saiu do Palácio e foi ao palanque do Lula no segundo turno. Uma eleição ganha, ele perdeu. Perdeu a segunda, perdeu a terceira, ganhou a quarta. Mas até ganhar a quarta, o Lula e o PT, que era o Partido da dignidade, da seriedade, da ética, chegaram com bravura e com respeito ao Governo. Mas agora mudou. Agora mudou. E esse fato que V. Exª salienta na sua carta, se a Bancada do PT, por unanimidade, decidiu que deveria se levar o Sr. Sarney a julgamento, a decisão por parte da Comissão de Ética, e, segundo disse o Senador Suplicy, o Presidente do Partido, sem ouvir a Executiva, sem reunir a Executiva, toma uma decisão em sentido contrário... No momento em que, para ficar do lado do Sr. Sarney, perdem homens que nem V. Exª e recebem mensagens que nem a do D. Evaristo, eu, sinceramente, não consigo entender. V. Exª é um grande quadro. V. Exª é um grande nome. Pode até parecer que V. Exª hoje está em desuso. Pode até parecer que V. Exª é um homem que está fora da realidade: um homem exageradamente sério, um homem cuja palavra é para valer, um homem que não se preocupa com cargos ou com vantagens, um homem que mantém a sua firmeza, as suas convicções, as suas ideias. No Governo de hoje, é uma figura meio em decomposição. Realmente, parece que não há lugar para V. Exª no PT, como também não há para o Frei Betto e para todas aquelas pessoas fantásticas de ideia, de princípio, de doutrina, que fizeram o PT. Eu me lembro... Não há lugar para V. Exª, Senador Cristovam. Não há lugar. Há lugar, com a maior tranqüilidade, para o Presidente Meirelles - e é provável que seja candidato a Governador de Goiás pelo PT. Não vejo preocupação nenhuma nesse sentido; não vejo nenhuma dúvida nesse sentido. É provável que haja um grande entendimento, e o Sr. Sarney termine Presidente de honra do PT. Não vejo nenhuma dúvida nesse sentido. Sarney, Renan, Collor, Jader, essas figuras são os amigos íntimos do Sr. Lula, são as pessoas da sua confiança. Essas são as pessoas que estavam lá no Palácio do Governo, não sei se bebendo ou não - não sei! -, na hora em que o Conselho consagrou a figura do Sr. Sarney como o grande herói. Este não é um momento para ninguém ficar alegre. Eu dizia para o Frei Betto, numa reunião do nosso grupo católico - quando ele comunicava que estava saindo do Palácio, da assessoria do Presidente Lula, porque não tinha mais ambiente -, de uma maneira até irreverente, em meio à solenidade: “Mas V. Exª errou! Se os bons que nem V. Exª, que podem orientar no bom sentido, saem, os ruins é que ficam”. E ele respondeu: “É que eu não tinha mais ambiente, eu não tinha mais condições de ficar, eu tive que sair”. É o que V. Exª está dizendo agora. Será que o Lula não nota isso? Será que ele perdeu a grandeza de olhar para as suas origens? Será que, de certa forma, o Lula hoje tem vergonha do Lula que ele era? Ele gosta de lembrar o Lula que veio de São Paulo, o Lula da miséria e da fome, ele gosta de lembrar como história, mas, na verdade, o que ele vive é o Lula da pomposidade, o Lula que anda pelo mundo, o Lula que, depois do Obama, é uma das pessoas mais bem vistas e mais respeitadas... Deus me perdoe, mas na Bíblia está escrito: “Os poderosos, os soberanos não têm defeito mais grave do que a vaidade”. Ai de quem tem o poder e, junto com o poder, esteja dominado pela vaidade. Deus me perdoe. Deus me perdoe, mas eu vejo o Lula, olhando para ele quando ele fala, e fala muito bem, quando ele olha e, às vezes, quando ele até exagera nas ofensas que ele faz, e que não devia fazer, como quando diz que quem não gosta do Plano Real é um idiota e coisa que o valha. A soberba! Eu sinto ali a soberba de alguém que, praticamente, se considera acima do bem e do mal. Eu gosto da Ministra Dilma. Acho que a Ministra Dilma foi um grande divisor de águas no Governo do PT. Quando ela entrou, a gente discutia aqui o impeachment do Lula. Desde que ela aí ficou, as coisas mudaram. Mas o Presidente Lula está afundando a candidatura da Srª Dilma, pelo seu jeito, pelo seu estilo, pela maneira de ser. O Lula não foi elegante com V. Exª ao se referir à sua saída. Foi uma grosseria barata que não seria necessária. Ele não precisava. E V. Exª, com muita categoria, não respondeu. O que eu digo daqui? O senhor está enganado, Presidente Lula. O Arns está saindo, mas o que a sociedade está dizendo é que uma representação enorme, a das comunidades sociais, está se afastando com ele. São as comunidades sociais, aquele movimento de fé lá do início, que estão se afastando com ele. E hoje, de certa forma, eu vejo o lado negativo. Quando Vargas criou o PTB, entre as coisas boas havia as ruins. E as ruins eram os pelegos do sindicato querendo adornar-se dos cargos. O que eu vejo muito no PT hoje são os sindicatos de base. Eu não vejo mais a CUT na rua defendendo a Petrobras nem coisa alguma. Eu vejo a CUT na rua defendendo o Lula e seus cargos, seus empregos e suas vantagens. CUT, UNE, esses movimentos de grande história no passado, hoje são Lula, quer dizer, são os cargos, as vantagens e o dinheiro que o Governo Lula está por apresentar. Seria muito bom se o Presidente Lula, olhando o seu comportamento, lendo a manifestação do seu amigo, o Cardeal Dom Evaristo, parasse para pensar. Vou ser sincero. Se eu tenho influência sobre o Lula, se eu sou amigo do Lula e vejo um telegrama que nem esse do Dom Evaristo, eu digo: Lula, vá lá procurar o Dom Evaristo. Vá lá a São Paulo - você está toda hora em São Paulo - e faça uma visita ao Dom Evaristo. Ouça o que ele tem a dizer, responda o que você tem a responder, mas diga alguma coisa. Mas ele não diz nada a V. Exª. A Senadora Marina, até parece que ele gostou de ela ter saído: “ela tem que seguir o destino dela” - e se abraça com Sarney, com Collor, e se abraça com aqueles que são exatamente o oposto do que ele representava. O Paraná se orgulha de V. Exª. Eu não sei que futuro V. Exª escolherá e quais são os desígnios que Deus lhe está reservando, mas eu tenho a convicção de que V. Exª seguiu o caminho. Seria muito fácil para V. Exª, seria muito singelo. Agora, por exemplo, vem a distribuição. O Lula está distribuindo os cargos lá no Paraná: quer um para Governador, quer que o Requião vá para o Senado e aceite um candidato de outro partido, quer fazer um entendimento. Nesse entendimento, na pior das hipóteses, V. Exª resultaria diretor da Petrobras ou diretor de Itaipu. É assim que o PT está agindo. É assim que o PT está decidindo. V. Exª, indo mal, indo mal, seria um diretor da Itaipu. Mas V. Exª prefere seguir esse caminho da retidão, da dignidade, da correção. É por isso que o seu tio cardeal Dom Evaristo se orgulha de V. Exª. E é por isso que eu, com a maior humildade, digo que mais uma vez eu me espelho em V. Exª. Na sua singeleza, na sua simplicidade e na sua grandeza eu vejo o exemplo, e muitas vezes tento imitá-lo. V. Exª não procura os holofotes, V. Exª não procura brilhar, V. Exª é o que é e não muda. Meus cumprimentos. Meus cumprimentos com muito carinho, com muito respeito e com muito amor.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR) - Obrigado. Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

         Eu quero dizer que o Senador Pedro Simon só não leu o telegrama na sua integralidade, porque Dom Evaristo diz para transmitir o apoio benemérito à Senadora Marina Silva, ao amigo Pedro Simon e também a todos aqueles Senadores e aquelas Senadoras que lutam por ética, por transparência, por dignidade e respeito ao ser humano.

            Para finalizar, Sr. Presidente, quero dizer a todos os companheiros destes anos do PT que nós vamos continuar na mesma luta, na mesma batalha, com os mesmos objetivos de construção de uma sociedade em que a pessoa seja valorizada, em que os direitos humanos sejam respeitados, em que haja dignidade, chances e oportunidades para todos.

            Vamos continuar na luta pela defesa da nossa maior riqueza, que é o ser humano, e que tudo esteja em função do ser humano. Escutar a sociedade, dialogar com ela, buscar, juntos, as soluções, os encaminhamentos, dentro de uma política de transparência. E isso é ética, sintonia, sintonia ética, valorização do ser humano, porque, sem dúvida alguma, como dizia o filósofo Heráclito - não o nosso Heráclito, que também é filósofo -, o filósofo grego, “Ética é o anjo protetor da humanidade”.

            Vamos continuar trilhando este caminho, juntos, para que lá na frente possamos dizer, em conjunto com a sociedade: valeu a pena.

            Obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2009 - Página 39660