Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com as questões que envolvem a exploração do pré-sal. (como Líder)

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Preocupação com as questões que envolvem a exploração do pré-sal. (como Líder)
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares.
Publicação
Publicação no DSF de 01/09/2009 - Página 39904
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLENIDADE, LANÇAMENTO, PROGRAMA, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL, PATRIMONIO, POVO, BRASIL, APREENSÃO, INSUCESSO, IMPLEMENTAÇÃO, SEMELHANÇA, INICIATIVA, COMBATE, FOME, PRODUÇÃO, Biodiesel, QUESTIONAMENTO, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO, REGIME, CONCESSÃO, REGISTRO, DADOS, EVOLUÇÃO, AUTO SUFICIENCIA, OPOSIÇÃO, ORADOR, SISTEMA, PARTILHA, AMPLIAÇÃO, PRESENÇA, ESTADO, RISCOS, AFASTAMENTO, INVESTIMENTO, DIFICULDADE, NATUREZA TECNICA, VARIAÇÃO, PREÇO, PRODUTO, CRITICA, TENTATIVA, REDUÇÃO, TEMPO, DEBATE, CONGRESSO NACIONAL.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, eu estava vindo agora de casa para o Plenário, ouvindo uma rádio no carro que transmitia a solenidade do pré-sal. Vi algumas manifestações e algumas manchetes que me valem as observações que desejo fazer.

            Sua Excelência o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse uma coisa com a qual concordo inteiramente: “O petróleo pertence a todo o povo. Hoje é o dia da independência”. Ele se refere ao petróleo do pré-sal.

            Presidente Paim, concordo inteiramente com o fato de que o petróleo pertence a todo o povo, mas não conheço lago de petróleo, nem rio de petróleo; o petróleo está lá embaixo e, para pertencer ao povo brasileiro, tem de ser extraído, acumulado, processado e vendido como gasolina, como BPF, como óleo diesel, como querosene, para ter valor comercial. Aí, sim, ele é um bem, patrimônio do povo brasileiro.

            Digo isso porque tenho muito receio de que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa estar usando uma descoberta que pertence realmente ao povo do Brasil como foi usado o anúncio do Programa Fome Zero, que não chegou a lugar nenhum, não fora o Bolsa Família, que é a reunião de uma série de programas que já existiam e que foram, é verdade, acrescentados em benefício dos mais pobres do Brasil. O Programa Fome Zero, como programa, não chegou a nada. O programa do biodiesel, que foi anunciado com pompa e circunstância, perdeu-se na economicidade. Fazer biodiesel com mamona, como foi prometido no meu Estado, o Rio Grande do Norte, deu em nada; não há plantio nenhum, não há usina nenhuma. Fazer biodiesel de soja é absolutamente falácia, porque não tem economicidade; o óleo de soja tem valor muito maior para ser vendido como óleo comestível do que para ser transformado em combustível.

            Eu tenho receio desse tipo de evento como o que foi produzido hoje para anunciar a mudança, por proposta, de uma lei que deu certo. Presidente Paim, em 1997, foi feita uma lei, a Lei do Petróleo, que pôs exatamente a produção na mão do petróleo brasileiro. “O petróleo é nosso” passou a ser realmente nosso a partir da lei votada em 1997, que fez com que, por um regime de concessões, o petróleo saísse do subsolo, em terra ou no mar, e produzisse a autossuficiência do Brasil em petróleo. Fez com que saíssemos de 300, 400, 500, 700 mil barris por dia para dois milhões de barris por dia. Produziu-se uma realidade alvissareira. Na década de 90, a indústria petrolífera brasileira não significava mais do que 3% do PIB; hoje, significa 12% do PIB. Produto de quê? Dos fundamentos do que significou a Lei do Petróleo, das concessões. Produzimos contratos de risco que geraram o quê? Inclusive a descoberta do pré-sal. Foi tudo decorrente de uma lei que deu certo, que é transparente e que é acreditada no plano internacional.

            Qual é o meu receio? É que se esteja agora anunciando um novo marco regulatório que troca as concessões por uma lei de partilha, partilha que significa a volta à ingerência do Estado, que Sua Excelência o Presidente Lula justifica. Tenho receio muito forte porque, Presidente Paim, Senador Dornelles, o pré-sal que está descoberto e meio quantificado numa extensão de 800 km por 200 km de largura, do Espírito Santo a Santa Catarina, não é privilégio apenas do Brasil. Tenho informações de que há pré-sal nas costas de Angola. E aqueles investidores que poderiam ser mobilizados por uma lei como a Lei do Petróleo, que já atraiu investidores que produziram a autossuficiência de petróleo do Brasil, poderiam, em vez de ficar aqui, atraídos por um marco regulatório positivo para eles pelo Governo brasileiro, ir para outros lugares. Nós não temos US$20 bilhões para transformar o petróleo do pré-sal, que está a 8 km de profundidade, passando por uma lâmina d’água de 2 km; não temos dinheiro, recursos próprios do Estado brasileiro para buscar esse petróleo e transformar esse petróleo em um bem do povo. Esse bem é do povo na hora em que ele for apanhado. E o meu receio é de que a discussão desse marco regulatório esteja sendo feita de forma “aligeirada”.

            Senador Paulo Paim, a produção de petróleo do pré-sal, como está dita, que “enseja qualquer tipo de investimento ou chama qualquer tipo de investidor, porque é de baixíssimo risco”, a mim não convence. Eu não conheço nenhum país que tenha experiência absolutamente amadurecida de exploração de petróleo à profundidade de 7, 6 ou 8 km. Não conheço. O campo de Tupi, que é um dos campos do pré-sal, que se supunha já estivesse produzindo 15 mil barris de petróleo, está produzindo 7,5 mil barris, muito aquém daquilo que se esperava.

            Isso é risco para o investidor, é dúvida para o investidor, como dúvida maior é a oscilação do preço do petróleo. Há dois anos, o preço do barril de petróleo estava beirando os 150 dólares. Hoje, está na faixa de 50 ou 60 dólares o barril. E você vai fazer investimento proporcional ao resultado da operação que você faça de captação ou de sucção desse petróleo para venda no mercado brasileiro e no mercado internacional.

            Há enormes riscos que têm de ser considerados. E o que se propõe ao Congresso agora, Senador Valter Pereira, é uma coisa que não aconteceu interna corporis dentro do Governo. O Governo, para chegar à posição em que chegou, e que nem dentro do Governo é consenso, levou 14 meses. A fórmula do marco regulatório, que não é consenso nem dentro do Governo, levou 14 meses em discussão. De repente, fazem uma reunião do Conselho Político e resolvem mandar para o Congresso Nacional discutir, em regime de urgência, urgentíssima, dando 45 dias à Câmara e 45 dias ao Senado.

            Senador Augusto Botelho, V. Exª, que é filiado ao Partido dos Trabalhadores, um homem sensato, como eu que sou de um partido de Oposição e que tenho a obrigação de também ser sensato, não temos o direito de usurpar da sociedade o direito de participar dos debates sobre o marco regulatório, para que esse petróleo seja um bem do povo, para que esse petróleo seja succionado. Ele não está em nenhum lago, não está em nenhum rio; ele está lá embaixo. É preciso que haja investidor que acredite no marco regulatório, numa lei acreditada brasileira. E nós é que temos a responsabilidade de produzir essa lei, para que o investimento aconteça, para que esse bem seja do povo brasileiro. Do contrário, nós estaremos participando de uma farsa: trocar o certo pelo duvidoso.

            A Lei do Petróleo já deu certo. Já deu! O Brasil, por conta dela, já atingiu a autossuficiência! No PIB brasileiro hoje, diferente da década de 90, a indústria de petróleo significa 12% do PIB - era 3%! Vai trocar a Lei de Concessões por um novo marco regulatório, que trata da partilha entre empresas contratadas pelo Estado brasileiro e o Estado brasileiro, com o objetivo de distribuir a renda para o povo brasileiro. Não precisa mudar uma lei acreditada. O Brasil pode, o Governo pode, por decretos, aumentar a participação da União na renda do petróleo sem precisar modificar a lei que já está passada a limpo, já é propriedade da credibilidade das instituições brasileiras.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - V. Exª me concede um aparte, Senador José Agripino?

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Com muito prazer, Senador Valadares. Com muito prazer.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - V. Exª traz ao debate nesta Casa um assunto que é da mais alta relevância para o futuro da nossa economia. O aproveitamento dos recursos do petróleo, por meio da camada do pré-sal, existente numa profundidade incrível que chega até a 9 mil metros, é uma preocupação, sem dúvida alguma, mas é uma tecnologia de que o Brasil já tem total domínio, por intermédio da ação da Petrobras. Quanto à regulamentação do pré-sal, o marco regulatório que está sendo instituído pelo Governo, a finalidade, Senador José Agripino, é conceder à União maior participação nos lucros advindos da exploração do pré-sal, porque, como nós sabemos, existem duas condicionantes que devem ser observadas: em primeiro lugar, o risco menor da operação; segundo lugar, a sua rentabilidade. Então, essas duas condicionantes é que estão levando o Governo a adotar agora, em vez do regime de concessão - que foi estatuído há muitos anos em nosso País, que vem sendo usado na exploração em terra e também no mar -, o regime de partilha, que é aplicado em diversos países, notadamente nos lugares onde há esses dois fatores, quer dizer, um risco menor em contrapartida a uma rentabilidade maior. O marco regulatório será nessa direção, para proteger o nosso País de uma exploração predatória, onde empresas que não vão ter nenhum risco para explorar o petróleo possam usufruir lucros exorbitantes. Aquelas empresas que já têm contrato definido, que já foram objeto de licitação, etc., pela lei contratual...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - ...essas empresas, mesmo ali na área do pré-sal, como já têm contrato garantido, e os contratos são imutáveis, o Brasil assumiria um grande risco se porventura viesse a revogar contratos anteriormente assinados, porque isso não é uma lei, mas um costume internacional da observância dos contratos. Mas, quanto aos novos contratos, que vão incidir em 72% da área do pré-sal, esses contratos serão sob o regime de partilha, na certeza de que, assim fazendo, o Brasil vai proteger as suas riquezas, vai evitar uma exploração predatória e terá a garantia de um lucro maior para si. Parece-me que, no marco regulatório, no mínimo, a empresa terá de partilhar com a União 30% do resultado da exploração.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Senador Valadares, obrigado a V. Exª pela sua contribuição. Trinta por cento são a participação mínima da Petrobras dentro desses contratos a que o Governo se propõe a fazer em regime de partilha?

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Correto.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - A minha preocupação, que deve ser a preocupação de V. Exª, que é um bom brasileiro, é que a substituição do regime de concessão por regime de partilha signifique uma presença exagerada do Estado. Eu acho que o Estado - não é aqui, não é na África, não é em lugar nenhum do mundo - não é bom empresário. Na época de “o petróleo é nosso”, nós não passávamos de 300 mil barris de petróleo por dia, e as reservas existiam. Foi a Lei de Concessões que possibilitou evoluirmos de 300 mil barris de petróleo para 2 milhões de barris de petróleo por dia, gerando a autossuficiência.

            A participação do capital privado pressupõe uma mão dupla de interesses. Nós participamos do risco - e há risco, sim, na exploração de pré-sal; há risco real, até pela flutuação do preço do petróleo -, mas queremos que a legislação que o Brasil oferece seja permanente e acreditada. Mais do que isso, Senador Valadares...

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador José Agripino, por exemplo, na região da bacia de Santos...

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Eu concedo a V. Exª mais um aparte.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - ...o risco é zero por cento.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Não entendi.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Estou sendo informado de que, na região do pré-sal na área de Santos, no litoral de Santos, o risco é praticamente zero.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Senador Valadares, o risco seria zero se eu tivesse razões para acreditar. O anúncio que a Petrobras fez, a instalação que a Petrobras deu para a produção dos primeiros postos exploratórios da bacia de Tupi foi de 15 mil barris. O primeiro poço exploratório não passou de 7,5 mil barris.

            O preço do barril de petróleo flutua - e V. Exª sabe - de acordo com a situação do mundo. Nessa história de risco zero em matéria de investimento, você tem risco em investir dinheiro para obter xis barris e não conseguir os xis barris; tem risco em a tecnologia que não é conhecida para buscar petróleo a 8 km de profundidade não ser adequada; e tem risco no faturamento da sua produção pela flutuação do preço do petróleo, em que você não manda, você investidor; quem comanda são as leis de mercado.

            Em cima disso tudo, eu diria a V. Exª, o Governo brasileiro, sem precisar macular a legislação que já deu certo, a Lei de Concessões, a Lei do Petróleo, de 1997, poderia auferir uma renda muito maior para nós, brasileiros, mediante uma taxação combinada, uma taxação a maior. E mais: V. Exª, que é municipalista como eu, na medida em que o regime de partilhas seja estabelecido, diferentemente da Lei de Concessões, quem vai pagar parte da conta é a perda de receita de Estados e Municípios, que vão ter diminuídos seus royalties.

            Então, até em nome disso, nós temos a obrigação de estabelecer o mais profundo debate nesta Casa, para dar à sociedade o direito de opinar. Nós não podemos ser instrumentos para que a sociedade não opine. Nós somos, neste momento, o instrumento que a sociedade vai ter e com que vai contar para opinar em termos de acerto ou equívoco para a lei do pré-sal, que é um patrimônio do povo brasileiro na medida em que exista investidor que aplique dinheiro para retirar o petróleo que está a 8 km de profundidade.

            Do contrário, Sr. Presidente, nós vamos todos participar de uma suposição que alguns possam fazer...

(Interrupção do som.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Por que essa pressa? O Governo, durante 14 meses, não chegou a um consenso, ou o consenso a que chegou foi fechado no martelo. Por que agora o Governo, que em 14 meses não encontra um consenso, quer impor três meses ao Congresso Nacional para dar, em três meses, a oportunidade de a sociedade se manifestar nas audiências públicas? É porque a pressa é política? É porque esse ato de anúncio do pré-sal é um ato eleitoral? Se é, temos, em nome do interesse nacional, que aqui nos rebelarmos. E não vamos concordar com o aligeiramento desse debate e dessa discussão. Se a matéria vem em regime de urgência, urgentíssima, eu vou trabalhar no meu Partido para, se for o caso, a pauta ficar trancada. Mas esse assunto não vai ficar sem as respostas que o Brasil quer.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/09/2009 - Página 39904