Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para os estragos causados pela cochonilha-do-carmim nos Estados de Pernambuco e Paraíba.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Alerta para os estragos causados pela cochonilha-do-carmim nos Estados de Pernambuco e Paraíba.
Aparteantes
Cícero Lucena, Jarbas Vasconcelos.
Publicação
Publicação no DSF de 02/09/2009 - Página 40238
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • ADVERTENCIA, CRESCIMENTO, INCIDENCIA, INSETO, PRAGA, DESTRUIÇÃO, VEGETAÇÃO, FORRAGEM, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ESTADO DA PARAIBA (PB), PREJUIZO, PECUARIA, REDUÇÃO, PRODUÇÃO, LEITE, INSUFICIENCIA, GARANTIA, ABASTECIMENTO, PROGRAMA, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE, REGIÃO SEMI ARIDA, REGIÃO NORDESTE.
  • DEFESA, NECESSIDADE, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), URGENCIA, PROVIDENCIA, COMBATE, PRAGA, GARANTIA, ASSISTENCIA TECNICA, AGRICULTOR, UTILIZAÇÃO, DEFENSIVO AGRICOLA, IMPORTANCIA, MEDIDA PREVENTIVA, POSSIBILIDADE, PROTEÇÃO, ERRADICAÇÃO, AREA, CONTAMINAÇÃO, CULTIVO, VEGETAÇÃO, RESISTENCIA, INSETO.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, há cerca de um mês, o Senador Jarbas Vasconcelos apresentou o Requerimento de Informações nº 874, de 2009, ao Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, sobre a verdadeira devastação promovida pela cochonilha-do-carmim nas plantações de palma forrageira no sertão e no agreste de Pernambuco. No requerimento, alertava para o risco de comprometimento de toda a bacia leiteira do Nordeste.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, são duas as versões de como a cochonilha se instalou em Pernambuco. Uma diz que esse inseto já existia no Nordeste desde 1857 e que essa espécie de cochonilha produzia um corante de boa qualidade e também não era agressiva a ponto de dizimar os palmais por ela infestados.

            Outra versão, a mais crível, atribui a técnicos do IPA - Instituto de Pesquisa Agronômica de Pernambuco, a importação ilegal dessa espécie agressiva e sua reprodução em larga escala num campo experimental situado no Município de Sertânia na microrregião do Moxotó pernambucano.

            O tipo de inseto trazido era utilizado no México para erradicar palmais inservíveis para uso mais nobres. Entretanto, os técnicos do IPA em Sertânia teriam perdido o controle sobre o experimento e assim a praga da cochonilha atravessou as fronteiras pernambucanas e espalhou-se pelos Estados vizinhos, notadamente pela Paraíba.

            Lamentavelmente, a cochonilha mexicana, introduzida ilegalmente em Pernambuco, atravessou as fronteiras e chegou, de forma avassaladora, ao nosso Estado.

            O certo é que agora o mal já está feito e a saída é fazer o combate direto no sentido de primeiro deter o seu avanço e, em seguida, erradicar a praga pelos meios já conhecidos, uma vez que a cochonilha do carmim é uma velha conhecida em praticamente todos os grandes centros de pesquisas agrícolas do mundo.

            Não é diferente na Embrapa ou mesmo no SEBRAE da Paraíba, que em 2001, reproduziu o livro editado na Itália pelo Instituto de Cultura Arbórea da Universidade de Palermo sobre o tema.

Aliás, o Diretor-Presidente da Emepa - Empresa Estadual de Pesquisa de Agropecuária da Paraíba, José de Oliveira Costa, reuniu, no dia 10 de agosto próximo passado, a pedido do Secretário de Agricultura, Rui Bezerra, um de pesquisadores e técnicos para elaborar uma proposta de programa de recuperação da palma forrageira do Cariri paraibano, atualmente dizimada pela cochonilha-do-carmim.

            A ação da EMEPA visa a recolocar sob controle essa praga devastadora de alto poder, em face de sua velocidade de propagação.

         Os dados abaixo, apropriados por pesquisadores de renome da Embrapa, EMEPA/PB, CNPq/Finep e Universidade Federal da Paraíba, são alarmantes:

A praga já destruiu cerca de cem mil hectares de plantações de palma forrageira no semi-árido paraibano.

O Estado da Paraíba chegou a produzir 148.599 milhões de litros de leite por ano, chegando a um crescimento de 500% na produção nos últimos anos, mas a quantidade não é suficiente para garantir o autoabastecimento interno. Todavia, a cochonilha-do-carmim afetou a palma e, consequentemente, a produção de leite de gado, impedindo que as metas fossem atingidas.

Caso esse inseto-praga se alastre pelas outras regiões da bacia leiteira, o prejuízo pode ser muito maior. Há o risco de o Estado perder as conquistas que obteve na produção leiteira nos últimos três anos, devido a queda de produção.

            Senador Cícero.

            O Sr. Cícero Lucena (PSDB - PB) - Permita-me um aparte?

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Pois não, Senador.

           O Sr. Cícero Lucena (PSDB - PB) - Para que eu possa me somar a V. Exª e ao Senador Jarbas Vasconcelos. Como bem fez referência V. Exª, o que antes era um pedido de informação e fonte de preocupação por parte do Senador Jarbas Vasconcelos, hoje o senhor traz a esta tribuna, a esta Casa, uma comprovação de que essa preocupação já é uma realidade em um item que, sem dúvida, é um instrumento de geração de renda no nosso Estado. V. Exª sabe muito bem que o crescimento da bacia leiteira da Paraíba foi fruto de um programa do Governo Federal com o Governo do Estado que permitiu que pequenos agricultores estabelecessem uma linha de produção leiteira com um pequeno número de vacas, para que esse leite, inicialmente, fosse distribuído, fomentando não só o atendimento àqueles que necessitavam da complementação alimentar, mas também a cadeia produtiva, tendo como foco principal o micro e o pequeno produtor. A Paraíba deu um salto na preocupação e um dos itens fundamentais para atravessar o período de seca, de estiagem, no nosso Estado - e por que não dizer no Nordeste - tem como fundamento a alimentação através da palma, que, infelizmente, está tendo esse grave problema e requer de todos nós o alerta, a cobrança, a reivindicação e a busca da solução, porque, sem dúvida nenhuma, é uma ação de Governo, já que o pequeno e o microagricultor não terá meios técnicos e muito menos financeiros para combater mais essa grave situação dos nossos pequenos e sofridos agricultores da Paraíba. Muito obrigado.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Senador Cícero, agradeço o aparte. V. Exª mais do que ninguém domina o tema, tendo em vista ter sido Governador do Estado da Paraíba, ter sido Ministro da Integração Regional, detentor de um manancial de informações e testemunha da situação por que passa o rebanho da Paraíba em função da perda da palma forrageira.

            O Cariri Ocidental, a Serra de Teixeira e o Vale do Piancó foram as regiões mais afetadas. O prejuízo já chega a R$400 milhões. O resultado disso foi um desabastecimento do programa do leite, criado para atender 120 mil famílias.

            Sr. Presidente, esse é um assunto a ser enfrentado com a maior urgência e onde a Embrapa terá, inescapavelmente, papel preponderante. Isto porque o Nordeste Rural e semiárido tem na pecuária bovina, caprina e ovina a sua principal e quase exclusiva atividade economicamente viável.

            É certo também que a palma forrageira em todo o semiárido nordestino é o único cultivar capaz de sobreviver às estiagens prolongadas e suprir, com baixo custo, as necessidades alimentares dos rebanhos. Sem a palma forrageira e nas condições atuais, a pecuária nas áreas afetadas pela cochonilha por certo entrará em colapso.

            Em Monteiro, na Paraíba, a pecuária tradicional já foi drasticamente reduzida e o que dela sobrou só sobrevive porque a demanda de palma forrageira está sendo suprida por municípios ainda não afetados e cuja contaminação é questão de tempo, se não foram tomadas as providências requeridas.

            A produção de forragem nos municípios atingidos hoje não atende mais que 20% de suas necessidades.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, sem a palma forrageira é impossível qualquer atividade pecuária, sustentável do ponto de vista econômico, na quase totalidade das áreas e zonas rurais semiáridas do Nordeste.

            Na Paraíba não é diferente. A persistir o quadro atual, a tendência é o abandono de grande parte das área de terras e a desarticulação do sistema produtivo nesses 82 municípios.

            No entanto, o controle da cochonilha não carece de grandes somas de recursos. Basta que se faça um cinturão de proteção em volta das áreas afetadas, erradicando-se os palmais infectados e plantando-se novos cultivares, resistentes a pragas.

            Igualmente indispensável é a assistência técnica aos agricultores...

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE) - Permite-me V. Exª ?

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Pois não, Senador Jarbas. É um prazer, tendo em vista que vi V. Exª, primeiramente, nessa tribuna, levantar essa questão no tocante ao Estado de Pernambuco. 

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE) - Senador Roberto Cavalcanti, V. Exª volta a esta tribuna, como sempre, mostrando-se um Senador atuante, para tratar de um tema de que tratei há pouco mais de trinta dias: a praga da cochonilha em Pernambuco. V. Exª hoje diz que a Paraíba também é profundamente afetada, na sua área rural, por essa praga. Nós pedimos ajuda ao Ministério da Agricultura no sentido de que adote providências efetivas de combate à praga. Tivemos esse problema no sertão de Pernambuco, no agreste meridional, no agreste setentrional, nas microrregiões do sertão pernambucano. A queixa era generalizada com relação à palma forrageira, planta vítima da praga da cochonilha. Agora é o Estado da Paraíba que levanta a mesma questão, e espero que contribua para que o Ministério da Agricultura adote providências efetivas, por se tratar de um problema que atinge mais de um Estado - Pernambuco e Paraíba e, possivelmente, outros Estados do Nordeste -. De forma que é muito positiva a presença de V. Exª na tribuna desta Casa hoje, abordando o mesmo assunto que nós, pernambucanos, abordamos no sentido de pedir providências urgentes ao Governo Federal para ajudar esses Estados federados. Muito obrigado.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Agradeço pelo aparte e, na verdade, convoco as forças políticas dos dois Estados a se acostarem ao tema e exigirem do Ministério da Agricultura ação imediata sobre o problema.

            Igualmente indispensável é a assistência técnica aos agricultores durante o combate direto ao inseto, mediante o uso de defensivos agrícolas alternativos, já devidamente identificados, bem como a adoção de medidas profiláticas e preventivas, o que demanda a presença efetiva do Ministério da Agricultura e, especialmente, da Embrapa, trabalhando em conjunto com o Governo do Estado.

            A pesquisa para obtenção de novos cultivares resistente à praga pode e deve continuar, pela relevância do tema e dada a importância econômica da matéria. Ocorre que esta não é uma solução imediata, seus resultados somente virão a longo prazo. E no momento precisamos de providências imediatas, de resultados em curtíssimo prazo.

            Nesse sentido, ouso sugerir que a solução imediata consistiria em se importar do México, Peru ou Chile uma grande quantidade de raquetes de novas espécies, saudáveis e resistentes, e distribuí-las por toda a área infestada. Paralelamente, erradicar-se os palmais sob o ataque da praga, que darão lugar a nova espécie, resistente à cochonilha. Ao mesmo tempo, disponibilizar para a área sob controle técnicos capazes de orientar e assistir os tratos agrícolas necessários ao desenvolvimento, com sucesso, dos novos campos de palmas em formação.

            Feito isso, Sr. Presidente, como canta Luiz Gonzaga, em Vozes da Seca,

Se o doutor fizer assim,

salva a gente do sertão,

nunca mais nós pensa em seca,

vai dá tudo nesse chão,

como vê nosso destino

mercê tem nas suas mãos.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância com o tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/09/2009 - Página 40238