Discurso durante a 180ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre o melhor presente que se pode dar as crianças brasileiras, um futuro digno.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reflexão sobre o melhor presente que se pode dar as crianças brasileiras, um futuro digno.
Aparteantes
Expedito Júnior, Jefferson Praia, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 14/10/2009 - Página 51303
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ANALISE, COMEMORAÇÃO, DIA, CRIANÇA, SANTO PADROEIRO, LEITURA, OPORTUNIDADE, DEFESA, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, IMPORTANCIA, SOLIDARIEDADE, MEIO AMBIENTE, EDUCAÇÃO, LUTA, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, VIOLENCIA, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE, GARANTIA, ETICA, DIGNIDADE, FUTURO, INFANCIA, JUVENTUDE, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem o Brasil comemorou tradicionalmente tanto o Dia da Criança quanto o Dia de Nossa Senhora Aparecida. Mas, de uma maneira não tradicional, pela primeira vez, no Brasil, ontem foi o Dia da Leitura, projeto aprovado, há algum tempo atrás, pelo Senado, que passou pela Câmara e que o Presidente Lula sancionou.

            Senador Expedito, o Dia da Leitura foi escolhido junto com o Dia da Criança, exatamente para ver se conseguimos criar o hábito de que, no Dia da Criança, o presente seja livro e, até mesmo, quem sabe, um dia, para nos acostumarmos a, no dia 12 de outubro, presentearmos os amigos com livros. Da mesma maneira que há o Dia das Mães, o Dia dos Pais, haveria o Dia da Leitura, com o costume de dar livros aos amigos.

            Mas, Srª Presidente, quero perguntar aqui o que demos de presente ontem às crianças. Foi um dia de alegria para as crianças, para os pais e de alegria imensa para o comércio. O comércio comemorou, porque houve uma grande quantidade de presentes comprados, e isso é ótimo. E cada um de nós, tenho certeza, deu presentes às crianças, filhos dos amigos, afilhados, netos. Mas quero saber se demos aos nossos filhos aquilo que é o mais importante presente que é possível dar a uma criança, que se chama “futuro”.

            O que fizemos ontem para darmos às nossas crianças brasileiras um futuro? Será que alguém se lembrou de que a maneira mais importante de presentear uma criança é dar um meio ambiente? E fico feliz em ter como Presidenta nesta sessão a Senadora Serys. Não há presente melhor para o futuro de uma criança hoje do que o meio ambiente. Que futuro terá a criança de hoje se vai enfrentar o aquecimento global; se, morando na beira do mar, pode ter sua casa perdida com a elevação do nível do mar? Com o aquecimento global e a desarticulação que vai ocorrer na agricultura, ela poderá ter dificuldades de alimentação. Com a crise do meio ambiente, as crianças do futuro terão menos animais para comemorar, quando os veem, do que nós, pela extinção de espécies inteiras. As crianças de hoje terão menos recursos econômicos no futuro. O petróleo, na velocidade como é consumido, vai acabar, e outros recursos também. Mais grave ainda: os recursos da vida vão ficar escassos; os recursos da vida, como a terra, a água, vão ficar escassos.

            Ontem, no Dia das Crianças, teria sido muito importante que cada um de nós déssemos de presente às crianças o debate em casa sobre o meio ambiente, à procura de conscientizá-las de que elas têm que lutar por aquilo que é delas. Ou até mais: quem deu de presente ontem o plantio de uma árvore aos seus filhos? Plantar árvores pode ser uma gotinha d’água, mas é uma gotinha d’água que a gente estaria dando.

            Além do meio ambiente, quem se lembrou ontem de que devemos dar de presente para as nossas crianças, no futuro, um País menos violento? Como será o País dessas crianças daqui a dez anos, quinze anos, se a gente não toma hoje as medidas necessárias para frear essa violência? Seria interessante lembrar, tratando de dar de presente um futuro à criança, Senador Expedito; que, daqui a dez, quinze anos, se se continuar nesse ritmo, elas vão ter que viver escondidas, assustadas com sequestros, com assaltos, sem poderem dormir tranquilamente, a não ser cercadas de grades fechando a frente da janela, para que não haja invasões domiciliares para roubo. Esse, o futuro que a gente vai deixar para as crianças?

            Então, o que a gente fez para reduzir a violência? Não apenas sob a forma de mais polícia, porque as crianças vão ter que pagar o custo de mais polícia. Cada vez mais, uma maior parte dos recursos públicos terá de ser canalizada para a polícia. Mas, também, o que a gente está fazendo, para acabar com a impunidade, para fazer a Justiça mais eficiente, para reduzir a desigualdade, que também é uma das causas da violência? O que estamos fazendo para que, no futuro, as nossas crianças tenham um País em paz? Esse futuro é um presente que temos a obrigação de dar para as nossas crianças.

            O que estamos fazendo, na tentativa de dar um futuro melhor para as nossas crianças, para acabar com a corrupção no País? Porque a corrupção significa para as crianças, daqui a dez, quinze anos, se se continuar assim, um constrangimento; significa menos recursos para os projetos sociais, para as suas escolas; significa uma indignação maior que vão sentir daqui para frente. O que estamos fazendo para reduzir a corrupção, que não é um problema só da política, mas geral?

            Quem, ontem, no Dia das Crianças, lembrou a cada uma delas que o futuro, para ser bom - o futuro que lhes queremos dar -, exige que haja no Brasil um processo de respeito mútuo, de punição àqueles que cometem atos de corrupção; que haja a consciência de que é preciso votar bem, para evitar a corrupção na política; que é preciso fiscalizar no comércio a corrupção que existe; e que é preciso fiscalizar nas escolas?

            E os jovens que em 1992 pintavam as caras e que agora são pais? O que esses jovens, hoje, já com os seus filhos, deram de presente às suas crianças, na luta por um futuro melhor, sem corrupção?

            O que nós fizemos ontem, na busca de dar de presente às crianças um futuro, para reduzir a desigualdade social? Quantos de nós, ontem, em homenagem aos seus filhos, para dar-lhes um futuro melhor, tentamos alfabetizar alguém? Quem tentou, ontem, dar uma ajuda àqueles que precisavam? Quantos de nós, ontem, em nome das nossas crianças, tentamos lutar para que o futuro delas não seja aquilo que se está prevendo, Senador Jefferson Praia, um futuro dividido entre os que entram e os que não entram no shopping, os que entram e os que não entram num posto de saúde de qualidade, os que entram e os que não entram numa escola de qualidade? Que mundo eles terão se o mundo deles for um mundo dividido, um mundo com corrupção, com vergonha, com ineficiência, um mundo onde o Brasil seja dividido?

            Vou dar um aparte, em breve, Senador Expedito, com muito prazer. Só quero acrescentar um pouco mais.

            O que fizemos ontem para que as nossas crianças recebam de presente um futuro melhor, passando-lhes o sentimento de nacionalidade, o amor à pátria, o gosto pela bandeira, o saber corretamente cantar o Hino Nacional? Esse é um presente que a gente tem que dar às crianças, ao lado de tudo que a gente deu, de brinquedo, de confeito, de chocolate. Mas, o futuro - o futuro, senhores - é o melhor presente para dar a uma criança: o futuro sem desigualdade, o futuro sem violência, o futuro sem corrupção, o futuro sem a desigualdade social brutal.

            E ontem era um dia para a gente fazer isso também, embora isso tenha que ser feito todos os dias.

            Antes de concluir, Senadora, passo a palavra ao Senador Expedito e, depois, ao Senador Jefferson.

            O Sr. Expedito Júnior (PSDB - RO) - Senador Cristovam, eu não poderia deixar de me associar ao pronunciamento que V. Exª faz na tarde de hoje, quando coloca em dúvida, na verdade, qual foi o presente que ontem oferecemos ao futuro desta Nação, às crianças. Eu não poderia deixar de me associar a V. Exª porque V. Exª sobe à tribuna acho que todos os dias para falar sobre a criança, para falar sobre a segurança pública, para falar sobre a educação. Durante esta semana temos dois dias em que haveremos de discutir nesta Casa, principalmente, esta questão que acabamos de comemorar, o Dia da Criança e, no dia 15, o Dia do Professor. Então, durante esta semana, acho que teremos como debater sobre qual é o melhor futuro para as nossas crianças. V. Exª faz isso todo santo dia da tribuna desta Casa. Se o Presidente da República - e sei que ele não tem tempo para nos ouvir - decidisse: “Bom, vou ouvir o Senador Cristovam pelo menos um dia da semana”, certamente, as ações do Governo seriam diferentes. Então, eu não poderia deixar de me associar a V. Exª e de cumprimentá-lo, no momento em que faz um pronunciamento brilhante, mais um dos que toda tarde faz - o que nos alegra muito vê-lo na tribuna do Senado.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Expedito Júnior (PSDB - RO) - (...) e aproveitar para registrar aqui a aprovação, hoje, de mais um projeto na Comissão de Educação, de autoria de V. Exª, que institui o Dia Nacional do Meio Ambiente, exatamente chamando a nossa atenção e chamando a atenção do mundo para essa questão do aquecimento global. Parabéns.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu agradeço, Senador Expedito. E esse foi um projeto de que V. Exª foi Relator. Aproveito para falar de um projeto cujo Relator foi o Senador Paim, também de minha autoria, que deve alegrar muito os professores, que comemorarão o seu dia depois de amanhã. É um projeto que assegura vaga nas universidades públicas aos professores que tenham passado em concurso e que tenham, pelo menos, três anos de exercício do magistério e desde que o curso seja Pedagogia ou uma licenciatura. Não é um direito de entrar nas escolas de engenharia ou medicina, mas, se quer estudar pedagogia ou alguma licenciatura, terá direito...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - (...) imediatamente. Terá direito porque o vestibular já foi feito, foi o concurso para ser professor e os três anos de exercício do magistério.

            Eu passo a palavra para o Senador Jefferson Praia, pedindo, Senadora, um pouco mais de tempo, porque há ainda o Senador Paim, e eu gostaria de concluir, embora falte pouco na minha fala.

            A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Eu pediria aos Srs. Senadores que farão os apartes que restringissem o tempo, porque os inscritos estão cobrando.

            O Sr. Jefferson Praia (PDT - AM) - Serei breve, Srª Presidenta. V. Exª, Senador Cristovam, toca no maior presente às crianças. Qual o maior presente aos nossos filhos? Eu digo que temos dois grandes presentes. O primeiro é um presente muito direto a elas, que é um dos pontos que V. Exª toca muito aqui, que é a questão da educação e da orientação para a vida. O outro grande presente, que V. Exª muito bem destaca nesta tarde, é a questão relacionada ao cuidado com o nosso Planeta. Este é um dos maiores presentes que temos para as crianças, para os jovens, adultos e para os mais idosos. Portanto, quero parabenizá-lo quando V. Exª destaca, hoje, o Dia das Crianças como um dia importante para a reflexão. Temos que fazer essa reflexão todos os dias, todos os pais, todos aqueles que têm responsabilidade. O nosso povo tem uma grande responsabilidade com a sua família, com o seu País e com a Terra também, um planeta que caminha para uma situação complicadíssima. Eu, que sou da Amazônia, já sinto muito isso de perto, com uma seca muito grande em 2005 e uma cheia - a maior de todas - agora, neste ano. Portanto, o cuidado com o Planeta é fundamental. Para finalizar, quero dizer que fico muito contente de fazer parte do PDT e por ter, nas fileiras do PDT, pessoas como V. Exª. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador.

            Passo a palavra ao Senador Paulo Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Professor Cristovam, é só uma questão de justiça: com muito orgulho, eu fiz o relatório do seu projeto, como Relator ad hoc, mediante o relatório original do Senador Expedito Júnior.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É verdade.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Só faço essa justificativa. Fiquei muito satisfeito pelo brilhantismo do relatório.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É verdade. Não ficou claro, na minha fala, que ambos os projetos foram relatados pelo Senador Expedito Júnior e o parecer, lido pelo Senador Paim.

            Continuando, Senadora, tentando concluir, quero dizer que, se não passarmos aos nossos filhos o sentimento de nacionalidade, o amor à Pátria, o gosto pela Nação brasileira, que futuro essas crianças vão ter, mesmo que a gente resolva os problemas do meio ambiente, mesmo que resolva o problema da desigualdade?

            Por isso, no Dia das Crianças, a gente tem que dar de presente o futuro. E o futuro está também na nacionalidade, nesse sentimento especial de ser brasileiro.

            Que futuro eles vão ter se nós não passarmos para eles o sentimento de solidariedade? Solidariedade com a natureza, solidariedade com os outros, solidariedade com os pobres brasileiros e com os pobres do mundo inteiro, que sofrem hoje. Esse sentimento de solidariedade é um instrumento de construção do futuro e, portanto, é um instrumento necessário para que as crianças tenham aquilo que nós temos mais obrigação de lhes dar: futuro. Este é o presente que a gente tem que dar às crianças: o futuro.

            O que fizemos ontem foi dar presentes para o imediato, como disse o Senador Jefferson. Isso é bom, isso não é ruim. Mas também é preciso dar o futuro. Se nós não fizermos isso, não teremos cumprido com a nossa obrigação de adultos diante das nossas crianças. Muitos de nós terminam esquecendo isso. Muitos de nós terminam esquecendo que é preciso, sim, fazer com que nossas crianças tenham um futuro melhor. Por isso, nós precisamos dar às crianças a consciência, precisamos dar a elas o sentimento de indignação com as coisas erradas do mundo, precisamos passar a elas o direito que elas têm a um futuro com qualidade.

            Eu espero que se, neste ano, muitos de nós não pudemos fazer isso, não lembramos, não quisemos fazer isso, que, no próximo ano, a gente lembre que no Dia da Criança o principal presente a ser dado é o futuro. E o futuro é construído em cima de diversos pilares, e a gente pode dar estes pilares: o pilar da solidariedade, o pilar do meio ambiente, o pilar da luta contra a desigualdade social e, sobretudo, o pilar da educação.

            Vamos dar, nos próximos anos, às nossas crianças o gosto, Senador Papaléo, pela educação para cada uma delas e de cada uma delas para com todo o Brasil.

            Era isso, Senadora, que eu tinha para passar, lembrando que se a gente não fez isso este ano, no próximo ano o número de crianças será maior, porque mesmo que umas pessoas saiam do mundo das crianças, o número das que entram é muito maior. Portanto, no próximo ano, vamos dar às nossas crianças, além dos presentes que cada uma delas recebe, vamos tentar dar um futuro para elas, lutando por um Brasil melhor.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/10/2009 - Página 51303