Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Professor.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia do Professor.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2009 - Página 51951
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, PROFESSOR, OPORTUNIDADE, DEFESA, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, CATEGORIA PROFISSIONAL, MELHORIA, SALARIO, QUALIDADE, ENSINO, EDUCAÇÃO, PAIS, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, PROFISSÃO, SALVAGUARDA, GARANTIA, MANUTENÇÃO, ETICA, MORAL, DIVERSIFICAÇÃO, CONHECIMENTO, PESQUISA CIENTIFICA, REFORÇO, DEMOCRACIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Hoje, resolvi fazer um discurso lido e quis colocar no papel um pouco da minha história, da minha vida e daquilo que sinto a respeito de ser professora.

            Quero começar com uma frase de Paulo Freire, que disse: “Como professor, não me é possível ajudar o educando a superar sua ignorância se não supero permanentemente a minha”.

            Quero dizer a todos que o Brasil vive um período de profundo e inédito processo de transformação social. Discutimos a importância da educação como fator primordial de desenvolvimento. No entanto, percebo que o papel do professor não está bem situado nesse debate que a sociedade faz.

            Há clara consciência de que, sem uma educação de qualidade, de pouco adiantarão investimentos maciços em políticas públicas de assistência e de benefícios sociais. O que precisamos definir, com a maior clareza possível, é o que significa investir em educação. Pensa-se que o cumprimento dessa tarefa resume-se em fazer obras e dar material didático e uniformes para os alunos ou, então, em conceder bolsas ou facilitar o acesso às universidades. É claro que tudo isso é importante, mas o essencial é o professor. Ele é quem cria as relações multidisciplinares que começam na família, passam pela escola e terminam na sociedade.

            Atualmente, milhares de brasileiros debatem, intensamente, a importância da educação num País em desenvolvimento como o Brasil. É um processo de crítica e de autocrítica permanente, sem o qual, acredito, não encontraremos caminhos que possam definir uma agenda consistente de prioridade ao setor educacional. Esta Casa é exemplo disto: de debate constante a respeito de como fazer para que a educação brasileira melhore.

            Esses desdobramentos históricos, que terminam por conceituar as reflexões sobre a função da educação num País desigual como o nosso, muitas vezes têm colocado os professores e os educadores como os principais responsáveis pelas mazelas do nosso processo educacional. Coitado do professor! Vem-se tornando recorrente criticar as falhas sistêmicas da educação, insistindo na desqualificação dos professores. Esse é um grande equívoco que temos de superar.

            Tem sido corriqueiro também apontar os professores como responsáveis diretos pelos problemas estruturais da nossa educação. Todos os dias, somos bombardeados por notícias e informações dando conta de que o professorado brasileiro tem apresentado déficits diante das demandas crescentes e variadas da sociedade quanto à melhoria dos padrões educacionais exigidos neste nosso mundo contemporâneo.

            Esse discurso tem de ser mudado. Não podemos mais aceitar que professores, educadores e pedagogos sejam julgados sem serem devidamente compreendidos. Quem viveu em salas de aula sabe que o dia a dia dos professores é uma luta incansável contra as adversidades geradas pelas contradições da realidade política e social em que vivemos. Não é fácil ser professor no nosso País.

            Seria dizer pouco afirmar que o professor é um herói desconhecido. Ele é um lutador que busca criar, diariamente, unidades de conhecimento contra a fragmentação permanente ditada pelo mundo em constante transformação cultural, como é o nosso.

            Nesse aspecto, posso dizer, por experiência própria, que o professor é aquele que, com seu esforço, com sua grandeza, com seu espírito público, com sua generosidade, com sua visão social e com sua experiência cotidiana, tem sido uma verdadeira salvaguarda de garantia da manutenção dos nossos valores morais.

            Por isso, a política de valorização do professor deve ser encarada como prioridade máxima no País. De pouco adiantará direcionar investimentos e gastos públicos para obras de caráter nem sempre correto, sem que haja um projeto nacional que aponte na direção do fortalecimento da educação pela via do fortalecimento e da valorização da carreira do professor.

            O Brasil precisa inverter os sinais e deixar claro para toda a sociedade brasileira que ser professor é a profissão do futuro. É a do presente, mas tem de ser a do futuro. Não adianta tergiversar: temos de investir, sem medo, no saber, na consciência crítica, na valorização da ética, no conhecimento diversificado, nas pesquisas científicas, no enaltecimento das liberdades democráticas, no fortalecimento da comunidade. Tudo isso só se faz com professor valorizado.

            Sem isso, seremos sempre uma sociedade amorfa e sem alma, uma sociedade pouco confiante em si mesma, uma sociedade sem esperança, uma sociedade sem cidadãos, um mero agrupamento de consumidores passivos, uma sociedade individualista, sem noção clara da influência política no seu cotidiano.

            Nesse contexto, ressalto que é o professor quem cria esse elemento diferenciador. É ele quem estabelece os parâmetros do amor ao conhecimento. É ele quem instiga a curiosidade. É ele quem revela o novo. É ele quem ajuda a formar o vínculo entre a família e a Pátria. É ele quem estabelece os critérios que balizam nossas noções de cidadania. É ele, enfim, que cria a plataforma para que possamos ter uma relação transformadora e positiva perante a vida.

            Não posso deixar de lembrar, neste dia importante - que é importante mesmo para todos os professores brasileiros -, que estamos participando deste evento comemorativo porque, um dia, um professor nos entregou uma bússola e um farol para que nos conduzíssemos na estrada da vida. Foi ele que nos forneceu a régua e o compasso, como dizia o poeta, para que pudéssemos fazer nossas escolhas. Sem essa figura inspiradora, não poderíamos acreditar nas relações humanas como fonte inesgotável de mudanças.

            Não há dúvida: sem um professor, não conseguiríamos inventar a vida como ela é. Sem a figura do professor, a luta permanente que travamos com nossas vicissitudes, entre nossos encontros e desencontros, nossas virtudes e defeitos, nossas facilidades e dificuldades, nossos acasos e circunstâncias, simplesmente não existiria; e, se essa luta existisse, não valeria a pena porque seria vazia e pouco expressiva.

            Faço um apelo à nossa consciência. Temos de criar uma corrente nacional pela valorização dos professores, pelo respeito aos professores. Temos de protegê-los e preservá-los. Temos de fortalecer os elos da cadeia do conhecimento e da sabedoria, para que possamos ajudá-los a transformar este País.

            Sem uma extensa e profunda valorização dos professores, não vamos conseguir avançar. Temos de trabalhar para que a profissão de educador seja uma das mais valorizadas e vantajosas do País. Com isso, tenho a certeza de que o Brasil será outro em menos de uma geração.

            Senhores e senhoras visitantes, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, temos de ultrapassar as intenções do nosso discurso e passar à prática. Falar da importância do professor pode ser algo óbvio e correto, mas eu gostaria que todos avaliassem, com clareza, que, entre as intenções e os gestos, deve existir um esforço de trabalho, para que possamos mudar a realidade em que vive o professorado brasileiro, no tempo mais curto possível.

            Sei que, nas últimas décadas, avançamos muito, mas reconheço que os avanços ainda são poucos diante dos desafios que temos pela frente.

            Por isso, quero pedir aos professores de todo o País que não esmoreçam, que não desistam, que lutem conosco por dias melhores. Esta Casa está fazendo o possível. Um grupo de Parlamentares pressiona, diuturnamente, para que a educação seja melhor neste País, para que a educação seja de melhor qualidade para nossas crianças e também para que o professor, a figura central desse processo, seja valorizado.

            Não há como uma pessoa se aposentar, como eu me aposentei - estou com quarenta anos de carreira ligada ao magistério e com 62 anos de idade -, com um salário de R$2 mil. Isso não é correto para nenhum profissional de educação. Quero dizer aos professores deste País, que recebem seus contracheques e veem que toda a sua vida foi dedicada a uma causa que não foi valorizada pela sociedade e muito menos pelos homens públicos, que é por isto que estou hoje aqui, que é por isto que a educação me trouxe hoje ao Senado: para continuar uma luta de toda uma vida pela educação.

            É difícil, Senador Cristovam, quando nos dizem que só falamos de educação, que não abrimos a boca para falar de outra coisa que não seja a educação, que a gente só fala em educação, que, a cada lugar que vamos, abordamos a questão a educação. Quero dizer que vamos continuar tocando na questão da educação em todos os nossos discursos. Se falarmos do meio ambiente, vamos falar de educação; se falarmos de trabalho, vamos falar de educação; se falarmos de desenvolvimento econômico, vamos falar de educação. A educação é o cerne, é a base de uma sociedade. Ai do país - e não quero que o Brasil seja este país - que não valoriza o conhecimento, que não valoriza o saber! Só por meio do conhecimento e do saber é que poderemos ser um País de menos desigualdades, de homens e mulheres mais livres, de democracia plena.

            Portanto, termino minha fala, que foi um pouco longa hoje, apesar de eu estar bem cansada, porque passamos toda a manhã discutindo educação por meio da cultura e do discernimento dos livros, numa capilaridade que queremos ver cada vez maior neste País: livro em cada residência, livro em cada mão. Deus queira que a gente consiga isso!

            A trincheira do Senado está sempre pronta a defender os professores, a educação e o povo brasileiro.

            Muito obrigada. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2009 - Página 51951