Fala da Presidência durante a 172ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Farmacêutico.

Autor
Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia do Farmacêutico.
Publicação
Publicação no DSF de 02/10/2009 - Página 48928
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ABERTURA, SESSÃO ESPECIAL, SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, COMEMORAÇÃO, DIA, FARMACEUTICO.
  • DEPOIMENTO, HOMENAGEM, ATUAÇÃO, FARMACEUTICO, MUNICIPIO, PARNAIBA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), SOLUÇÃO, COMBATE, DOENÇA TRANSMISSIVEL.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. S/Partido - PI) - Brasília, plenário do Senado da República Federativa do Brasil. Há número regimental. Declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

            O painel registra a presença de 31 Senadores na Casa.

            Esta 172ª sessão especial destina-se a comemorar o Dia do Farmacêutico, de acordo com os Requerimentos nºs 750 e 816, de 2009, do Senador Gim Argello. Gim Argello é Senador pelo Distrito Federal, Brasília, e representa o PTB, Partido Trabalhista do Brasil, fundado pelo estadista Getúlio Vargas. Gim Argello é também o líder desse partido no Senado da República.

            Convidamos para compor a Mesa, primeiramente, o Senador responsável pelo requerimento, o qual o plenário do Senado aprovou, para que se fizesse esta homenagem aos farmacêuticos.

            Representando aqui o Presidente da nossa Mesa Diretora, o Senador José Sarney, convidamos para compor a Mesa o primeiro signatário do requerimento da presente sessão, o Exmº Sr. Senador Gim Argello. Convidamos também o Presidente do Conselho Federal de Farmácia, Sr. Jaldo de Souza Santos; e, com toda a satisfação, convido uma mulher, porque esse negócio de só homem não dá certo. Cristo nos deu um ensinamento. Na mesa dEle, o senadinho, era só homem. Deu no que deu. Então, convidamos a Vice-Presidente da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrados do Rio de Janeiro, Srª Aline Coppola Napp, que representa as farmacêuticas e a encantadora mulher brasileira. (Palmas.)

         Em nome do Presidente do Senado, passo a ler as palavras do Presidente José Sarney.

Minhas senhoras e meus senhores, o Senado Federal comemora hoje, em sessão especial, o Dia do Farmacêutico, uma das profissões mais importantes para a humanidade, pois lida diretamente com a saúde das pessoas, não só no combate às moléstias e enfermidades, mas também em sua prevenção.

Antes de tudo, gostaria de saudar o eminente Senador Gim Argello, que tão bem representa nesta Casa o Distrito Federal, pela iniciativa de propor esta justa homenagem aos profissionais farmacêuticos, tão importantes que são para as brasileiras e os brasileiros.

Os registros históricos do profissional de farmácia remontam a tempos imemoriais. Desde que o homem existe na face da terra, ele se utiliza de ervas, raízes, cascas de árvores para aliviar ou até mesmo curar os males tão comuns à nossa natureza finita.

Aqui, no Brasil, podemos dizer que os antecedentes da farmácia datam de antes do descobrimento, quando os pajés das tribos indígenas já utilizavam produtos naturais em seus rituais de cura, seja ela física ou mesmo espiritual.

A chegada dos portugueses trouxe ao Brasil os conhecimentos medicinais dos europeus, que, mesclados aos conhecimentos ancestrais indígenas, legaram-nos as tradicionais boticas, instituições que experimentaram seu auge após a outorga da Constituição de 1824, que facilitava a obtenção dos alvarás de funcionamento.

Data de 1832 a institucionalização do ensino de Farmácia, com a criação dos cursos da especialidade no âmbito das faculdades de Medicina da Bahia, a mais antiga do Brasil, e do Rio de Janeiro. Os primeiros farmacêuticos seriam diplomados cinco anos depois, em 1837.

Após a criação, no ano de 1896, da Escola de Farmácia de Porto Alegre e, em 1899, da Escola Livre de Farmácia de São Paulo, o ensino da profissão se disseminaria pelo Brasil.

O divisor de águas, no entanto, seria a década de 1940, quando nosso País, ainda eminentemente agrário, passaria a industrializar-se. Concomitantemente, no resto do mundo, o desenvolvimento científico e tecnológico possibilitou a descoberta e a criação de novos fármacos.

O grande progresso experimentado naquela época teve seus reflexos no Brasil, e as antigas boticas deram lugar aos laboratórios farmacêuticos, responsáveis pela produção de remédios; e às farmácias, como as conhecemos hoje, ambientes de comercialização de produtos farmacêuticos.

Infelizmente, o atraso relativo de nosso País face às grandes potências mundiais fez com que a descoberta, o desenvolvimento e a produção de novos fármacos se concentrassem nas mãos de poucas multinacionais sediadas no exterior. Isso fez com que o campo de atuação da maioria dos farmacêuticos brasileiros ficasse restrito aos balcões das farmácias e laboratórios de análises clínicas.

Essa realidade, felizmente, vem mudando, ao passo que a assistência farmacêutica começa a ocupar o lugar que merece como uma das bases fundamentais do sistema brasileiro de assistência à saúde no âmbito do SUS.

Segundo dados do Conselho Federal de Farmácia, existem, hoje, quase 123 mil farmacêuticos no Brasil, profissionais competentes e dedicados que cuidam da saúde das brasileiras e dos brasileiros.

Gostaria, assim, de cumprimentar o farmacêutico Jaldo de Souza Santos, Presidente da CFF, em nome de quem saúdo todos os farmacêuticos e farmacêuticas do Brasil pelo seu dia. Parabéns a todos vocês que fazem da saúde da população uma missão para toda a vida!

            Essas são palavras escritas pelo nosso Presidente José Sarney, mas quis Deus eu estar aqui substituindo-o. Sou um profissional irmão das ciências das saúde. Todos nós dedicamos o melhor de nossa vida, da nossa juventude, da nossa mocidade para buscarmos ciência, para, com ciência e com consciência, servirmos a nossa gente.

            O farmacêutico é essencial, não é? A própria Organização Mundial da Saúde reza que saúde não é apenas ausência de enfermidade ou doença, mas o mais completo bem-estar físico, mental e social. Daí ser o objetivo de todos nós darmos o bem-estar social, combatermos a fome, a miséria, o pauperismo.

            Nós construímos um exército, vários batalhões: eu, médico, e vocês, farmacêuticos, enfermeiros, odontólogos e todos que, a cada dia, aumentam com esse mundo de especialização. Shakespeare já dizia que o futuro é de quem sabe mais, mais de menos, indicando os caminhos da especialização.

            Eu queria dizer que o farmacêutico tem muita credibilidade e vou buscar o exemplo na minha cidade.

            A nossa cultura vem de lá da Grécia, queiramos ou não. Sei que o mundo existe. Sabemos, mas nossa civilização foi buscar fonte de inspiração na Grécia, em todos os setores da vida, na Itália, passou pela França, pela Revolução Industrial na Inglaterra e por seu filhote, Estados Unidos da América, que tem o modelo político com o qual nos assemelhamos muito: presidencialismo bicameral.

            Eu queria dizer o seguinte: eu vou buscar lá na minha cidade. Isso é importante, porque Sêneca, que é dessa mesma plêiade de homens que fizeram a ciência - Hipócrates, no caso da Medicina, e Galeno, simbolizando o saber organizado na Grécia - dizia, quando se referia à cidade dele, porque ele não era nem da culta Atenas, nem da beligerante Esparta: “Não é uma pequena cidade, é a minha cidade”. Então, eu vou dar o exemplo da minha cidade, Parnaíba, Piauí. Um quadro vale por dez mil palavras.

            Eu vi, e saiu, e vocês têm de saber a história dessa personalidade, que, aliás, foi Presidente do PTB: Raul Bacelar. Eu vi, orgulhoso. Ele saiu em revistas daqueles tempos, na Manchete e tudo, como o farmacêutico mais velho da cidade. Era da minha cidade e é ali um símbolo. Hoje, a cidade, os seus filhos, todos brilhantes, mantêm, vamos dizer... Como tem o Memorial Juscelino Kubitschek, tem o Memorial Raul Bacelar.

            Mas eu era menino, e o que significava o Raul Bacelar? O que significou, até, a sua influência política? Ele foi Presidente do PTB, que fez nascer Francisco das Chagas Caldas Rodrigues, que foi Governador do Piauí, que foi Senador e Vice-Presidente. Raul Bacelar foi fundador do Rotary, do qual eu fiz parte.

            Um dia, em 1972, teve uma grande enchente. O rio Parnaíba se abre em cinco rios antes de se lançar no mar, daí o Delta, que lembra a letra grega delta. Eu acho que é mais uma mão, porque tem cinco rios, e, com certeza, santa, porque forma 78 ilhas, que o Brasil admira.

            Gim Argello, eu estava no Rotary e era Secretário de Saúde do Governo do MDB, que era quase todo do PTB. Ele era muito meu amigo. Em 1972, antes de Ulysses, que foi em 1974, Elias Ximenes do Prado. Ele sentiu que eu estava acabrunhado, ele bem idoso e também partidário, vamos dizer assim. Ele chegou e disse assim: “Mão Santa, o que está havendo?”. Os prefeitos estavam todos chorando por dinheiro, os de lá também, naquela época difícil. Eu disse: “Rapaz, com esse negócio de enchente, aí, já tem mais de cem alojamentos. Só de ribeirinhos... Eles botam nas igrejas, depois botam nos estádios, mesmo”. Chegaram na minha casa - por isso eu e a Adalgisa somos felizes -, que estava em fase de término. Entraram seis famílias e eu acho que Deus nos abençoou. Mas, aí, o que me preocupava era o seguinte: já tinha, como contei, até cem alojamentos, inclusive contando com a minha casa, em construção.

            Aí, ele disse: “O quê?”. “Não, Dr. Raul, é o seguinte, e vocês sabem mais do que eu: está tudo bem, a gente vai, faz um esforço, alimenta, mas deu uma epidemia que o povo chama de frieira.” É o nome popular disso é frieira. Eu já tive. Ô bicho ruim! Lá tem muita água. É uma micose que dá nas pernas, principalmente nos dedos dos pés. Olha que é ruim aquilo! Aquilo pega mais do que essa gripe, aí, do porco. E o sujeito botava, ali, cem famílias num alojamento. E vocês sabem que naquele tempo... Esses antimicóticos são caros, Grifulvin. Tem um outro mais caro e eu não sei nem o nome. Como é o nome? Eu sou mais velho. Você tem só 20 anos, eu já tenho 42 anos. Mas tinha um que eu tinha medo quando chegava um eleitor com o nome dele. São caros os antimicóticos. Rapaz, mas aquilo era uma epidemia, pegavam nos alojamentos e aquilo tudo. Cem pessoas num colégio, duzentas numa igreja, e não tinha jeito mesmo, porque os bichos são bem pequenininhos. Os farmacêuticos eram enganados, não davam e era muita gente.

            Eu disse: “Rapaz”, e tal... Ele disse: “É?” Atentai bem para o valor do farmacêutico. “Não tem, rapaz, o bichinho...” Eu tinha medo quando eles pediam o nome, porque o dinheiro era pouco e eu tinha de dividir, como Cristo. Aí, ele olhou assim, o velho Raul Bacelar - a farmácia dele os filhos pegaram e é um tipo de museu. Ele morreu com 104 anos -, e disse: “Mão Santa, você tem álcool?”. “Aí tu também queres desmoralizar. Se a Secretaria de Saúde não tiver álcool, está tudo morto.” “Você tem álcool?”, perguntou. “Claro que tenho. Aí, também, se não tiver álcool... Eu tenho, eu vou botar lá”. “Homem, leve os vidros de álcool que você tem.” Rapaz, aí eu mandei. E peguei o Rotary para fazer essa campanha - o Rotary, com aquele espírito humanitário! Mandei o álcool todo para o homem. E o homem transformava o álcool em antimicótico. Rapaz, foi muita felicidade.

            E eu, chegando lá com o pessoal do Rotary, com o Sebastião Rodrigues, chegava de noite e batia, via assim se tinha algum enfermeiro que tinha higiene, aí dava uns três litros daquilo. Para você ver como é necessário e útil. Acho que o povo, agradecido, depois me fez prefeito, deputado, governador, e eu estou aqui. Eu acho que eu devo muito. Olha, nós somos privilegiados, higiênicos. Mas eu tive esse negócio de frieira. É uma micose entre os dedos, e em ambiente úmido ela aumenta e pega.

            Então, esse é o significado: o Governo tem que mais ter mais atenção, porque esses produtos são inviáveis ao povo. E eu acho que só tem razão a política se nós procedermos como Cristo. Até Luiz Inácio está com razão. Dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, um remédio a quem está doente, os presos, se não soltam, vá visitar. E é essa a doutrina cristã.

         Quero fazer meu agradecimento a Raul Bacelar. São muitas histórias, há outras várias, mas esse é um símbolo. E que vocês visitem a minha cidade, que tem lá o museu, aquela farmácia antiga, que os filhos fizeram um monumento. Os filhos, todos bem educados, são ricos hoje. Tem um que é Presidente da Academia de Letras, Professor Renato Bacelar. Então, convido-os a ir a Parnaíba ver o exemplo, a grandeza de um profissional que ainda é cultivado e a farmácia dele antiga que os filhos...

            Então, essas são as palavras que li do Presidente Sarney, e eu quero transmitir a minha emoção de admiração e de respeito aos farmacêuticos. Sei como são fundamentais na consecução daquilo que nós queremos. Somos todos iguais no combate - vamos dizer - para levar ao povo uma boa saúde.

            Então, depois dessas palavras, concedemos a palavra ao Senador Gim Argello, primeiro subscritor do requerimento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/10/2009 - Página 48928