Discurso durante a 210ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação sobre a presença nas sessões do Senado Federal. Análise sobre o apagão elétrico ocorrido na última terça-feira em diversas regiões do país, e conselho ao presidente Lula no sentido de que "diminua a soberba". Agradecimentos à Assembléia Legislativa do Paraná pela outorga a S.Exa., do título de Cidadão Honorário do Paraná. Aplausos à população de Caxias do Sul, escolhida como a "Capital Brasileira da Cultura/2008", e apontada como o município brasileiro com o melhor Índice de Desenvolvimento Familiar-IDF.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. CONCESSÃO HONORIFICA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Manifestação sobre a presença nas sessões do Senado Federal. Análise sobre o apagão elétrico ocorrido na última terça-feira em diversas regiões do país, e conselho ao presidente Lula no sentido de que "diminua a soberba". Agradecimentos à Assembléia Legislativa do Paraná pela outorga a S.Exa., do título de Cidadão Honorário do Paraná. Aplausos à população de Caxias do Sul, escolhida como a "Capital Brasileira da Cultura/2008", e apontada como o município brasileiro com o melhor Índice de Desenvolvimento Familiar-IDF.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2009 - Página 59261
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. CONCESSÃO HONORIFICA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ADVERTENCIA, COMPORTAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, ADIAMENTO, VOTAÇÃO, PROJETO DE LEI, BENEFICIO, APOSENTADO, DECLARAÇÃO, INEXISTENCIA, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA.
  • ANALISE, CRITICA, INTERRUPÇÃO, FORNECIMENTO, ENERGIA ELETRICA, SOLICITAÇÃO, ESCLARECIMENTOS.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, DISCURSO, ORADOR, CERIMONIA, RECEBIMENTO, TITULO, CIDADÃO, ESTADO DO PARANA (PR).
  • COMEMORAÇÃO, TITULO, CULTURA, RECEBIMENTO, MUNICIPIO, CAXIAS DO SUL (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DETALHAMENTO, INDICE, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO MUNICIPAL, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO CULTURAL.
  • IMPORTANCIA, LIDERANÇA, MUNICIPIO, CAXIAS DO SUL (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), INDICE, DESENVOLVIMENTO, FAMILIA, DETALHAMENTO, AVALIAÇÃO, LEITURA, TRECHO, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • DESCRIÇÃO, HISTORIA, MUNICIPIO, CAXIAS DO SUL (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), SAUDAÇÃO, PREFEITO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu estava em casa e liguei a TV Senado. Não sei por que, eu desconfiei que não ia ter sessão. Aí, vi a figura de V. Exª e disse: “Não, se lá está o Mão Santa, mais uma vez - e o plenário vazio - eu, pelo menos, vou lá dar minha solidariedade”. E vim correndo para cá.

            Eu acho que o trabalho que V. Exª faz, valorizando esta Casa, principalmente nas sessões de segundas-feiras e sextas-feiras, é algo que merece bastante respeito.

            É triste, Sr. Presidente, mas está ali no painel: 210ª sessão. É uma sessão não deliberativa. Então, não tem presença. Ninguém precisa assinar presença. E, não tendo presença, a maioria não vem. Na segunda-feira vai ser a mesma coisa.

            Então, esta Casa, que deveria funcionar às segundas, terças, quartas, quintas e sextas-feiras, funciona, na verdade, na verdade, às terças e quartas-feiras. Nas quintas-feiras, já não funciona a todo vapor; nas sextas-feiras e nas segundas-feiras, as sessões são não deliberativas, e a Casa funciona porque o Senador Mão Santa está aqui - às oito e meia ele já está aqui. Aliás, na verdade, na verdade, o Senador Mão Santa e nós não cumprimos o Regimento, porque o Regimento exige um certo número de Senadores presentes para que a sessão possa ser aberta. Eu também, já muitas vezes, participei e abri sessões com dois ou três presentes. Não importa: é mais importante abrir do que permitir que a sessão não ocorra. Por isso, quando V. Exª, em seu pronunciamento, fala - e fala muito bem - na análise feita pelo Governo Federal e pelo Presidente Lula...

            Eu tenho dito que o Presidente Lula vive um momento de grande euforia mundial. Ainda ontem, uma revista, em lista em que enumerou os homens mais poderosos do mundo, colocou o Lula na frente do Presidente da França e na frente de uma série de pessoas da maior importância. Lá estava ele. Mas eu tenho dito que o Presidente Lula tem de se cuidar no que diz respeito a uma questão: a soberba.

            Presidente Mão Santa, V. Exª, como eu, sabe que a soberba é um dos chamados pecados capitais; ao lado da gula, da ira, da inveja e da cobiça, está a soberba. Eu até entendo. Alguém, como o Presidente Lula, que veio de onde ele veio... V. Exª tem razão, Presidente Mão Santa: ele tem o curso do Sesi. Mas V. Exª há de concordar que gente como Fernando Henrique e tantos outros, que têm curso de pós-graduação na Sorbonne e tudo mais, não chegaram aos pés do Lula. Ele, realmente, é um grande homem, tem grandes causas e está fazendo um grande governo.

            Há casos como o que o Presidente Mão Santa apresentou aqui. Realmente, o que o Presidente Lula e o seu Governo estão fazendo com os aposentados é uma maldade, é uma profunda maldade.

            Esta Casa aprovou o projeto do Senador Paim por unanimidade. E lá, na Câmara, estão brincando com os aposentados: transferem para amanhã, transferem para depois, fazem uma reunião aqui, fazem outra reunião lá, fazem outra não-sei-onde, mas não têm coragem de rejeitá-lo.

            Que o rejeitem! Podem dizer que não dá, que não há condições para aprová-lo. Que o rejeitem de uma vez! Mas eles não têm coragem de fazer isso, porque é negativo do ponto de vista eleitoral. Não aprovam o projeto e ficam, durante anos, discutindo “uma fórmula intermediária”. É tudo de mentirinha, nunca chegam a conclusão alguma!

            Isso é cruel, realmente isso é cruel. Mas o que eu vejo no Presidente Lula é a soberba. Eu até entendo: são tantas coisas boas que estão acontecendo com ele...

            Outro dia, a televisão nacional o mostrou em Londres. Era uma recepção para um estadista! Inclusive, a Rainha da Inglaterra o recebeu e o encheu de elogios. O Primeiro Ministro, o Parlamento... Uma entidade criou um prêmio novo para os grandes nomes, e ele foi premiado como grande construtor de condições de paz e crescimento na América Latina. É uma série...

            Amanhã já pegará o avião para ir a Paris, chamado que foi pelo Presidente da França. É um chamado importante, porque o Presidente da França quer dialogar com o Lula para encontrar uma fórmula para levar a Copenhague, para chegar a um entendimento quanto a uma proposta para ser levada a Copenhague, para que a reunião que irá debater o meio ambiente não seja um fracasso, como muita gente está esperando.

            Então, isso tudo está levando o Lula a uma posição... Vou ser muito sincero, Presidente, não é fácil conviver com os elogios, os abanos e tudo mais e ter a humildade de se conservar um Presidente com os pés no chão. Ele vive a euforia: bate-boca com o Presidente Fernando Henrique, bate-boca com a oposição, é o dono da verdade.

            Nesse contexto, eu gostaria de analisar o apagão. Acho que, de certa forma, Sr. Presidente, o apagão veio para que o Presidente Lula baixe um pouco o tom da voz. O apagão aconteceu no governo do Fernando Henrique. A Ministra Dilma disse que o apagão não vem do céu não, o apagão acontece pelas deficiências do sistema. Pois agora veio o apagão. Nosso correligionário, o Ministro de Minas e Energia, mostrando uma ingenuidade fantástica, disse que o apagão foi por causa de um raio, que está encerrado o assunto e não se fala mais nisso. Claro que S. Exª não é um técnico, não é uma pessoa entendida na matéria.

            Se fosse, entenderia que os técnicos do Ministério de Minas e Energia não podem dizer: “Não se fala mais nisso”. É preciso que se dê uma explicação completa sobre o que aconteceu, e os órgãos técnicos do Ministério de Minas e Energia, com muita responsabilidade, disseram: “Vamos estudar e vamos dizer o que aconteceu”.

            Mas o que eu quero dizer é outra coisa quanto a esse apagão de agora. Eu não concordo com a oposição, que quer transformá-lo num palanque eleitoral, condenando a Ministra e tudo mais. Não é por aí que eu quero falar. O que eu quero falar é para o Lula ver que, às vezes, um raio cai duas vezes num mesmo lugar.

            O que aconteceu no governo Fernando Henrique - e o PT, o Lula e a Ministra fizeram uma guerra santa de ridicularização - aconteceu no governo dele. E talvez tenha acontecido no auge do endeusamento do Presidente Lula para ele ser mais modesto, para ele não ter tanta soberba, para ele ser mais simples, para ele ser mais humilde, porque assim será muito melhor para ele. Eu vejo as coisas assim. Não vejo como uma desgraça o que aconteceu. Não entendo o que aconteceu, os técnicos vão explicar - uns dizem que foi um raio, outros dizem que um raio não teria condições de fazer o que fez. Que o Lula seja mais modesto. Cuidado com a soberba, Presidente Lula!

            Eu entendo isso. Afinal, com 80% de aprovação popular, de prestígio, onde o Lula entra ele é endeusado, são aplausos e mais aplausos. A própria oposição, a começar pelo Governador Serra, faz questão de não colocar o Lula no debate - disse: “Eu não vou fazer uma campanha contra o Lula, vou fazer uma campanha após o Lula, o Lula não está na discussão”. Essa é uma decisão inteligente, porque o Lula tem uma imensa popularidade.

            Mas que o Lula não se deixe levar pela euforia. Agora, por exemplo, ele declara que não houve mensalão, que o mensalão foi uma tentativa de golpe da oposição.

            Eu sou o Senador que foi ao Governo quando o Waldomiro, Subchefe da Casa Civil, apareceu na televisão pegando dinheiro, com dinheiro nas mãos, discutindo o percentual que ele ia ganhar na bandalheira. Eu fui ao Lula e disse: “Demita, Presidente. É o início do seu governo. Demita para mostrar o estilo do seu governo”. Mas ele não demitiu. Pediu-se uma CPI, mas ele, Lula, e o Presidente do Congresso não deixaram que se criasse a CPI.

            Tivemos de ir ao Supremo, e o Supremo mandou criar a CPI. E a CPI, que tinha em seu comando dois homens do Governo, Presidente e Relator - o ilustre Senador do PT do Mato Grosso do Sul era seu Presidente -, concluiu com o mensalão. O Procurador-Geral da República fez a denúncia contra os quarenta, e o Supremo Tribunal aceitou essa denúncia.

            Eu não vi tentativa de golpe por parte de ninguém. E agora vem o Presidente Lula dizer que o mensalão é mentira, que não houve mensalão. Houve, Presidente Lula, houve corrupção muito séria, e o seu Chefe da Casa Civil teve seu mandato cassado lá no Supremo porque foi considerado o chefe da quadrilha.

            Vivemos uma hora muito delicada. Os valores são deixados de lado. O Governo segue uma linha: nunca aquela bandeira defendida no livro O Príncipe - o fim justifica os meios - esteve tão alta.

            O próprio Presidente Lula disse que se tiver de fazer um acordo com Judas ele faz. Aliás, ele tem feito: é só ver a biografia daqueles que fazem parte da aliança do Governo; para entrar tem de estar sendo processado no Supremo. Se não está sendo processado, não tem chance alguma de ser convocado pelo Governo para qualquer cargo. É só reparar para ver quem são os Ministros, quem são os convocados do PMDB e de outros partidos e suas biografias.

            Sr. Presidente, se V.Exª me permite, eu gostaria de pedir que fosse transcrito nos Anais o seguinte.

            No dia 19 de outubro, por obra e graça do povo do Paraná, através de seus representantes na Assembléia Legislativa, eu me tornei Cidadão Honorário do Paraná.

            Mário Quintana, o grande poeta gaúcho, escreveu um dia: “Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto/ É como se abrisse o mesmo livro/ Numa página nova...”.

            Pois é, o povo do Paraná acaba de escrever, no livro da minha existência, uma página especial, daquelas que a gente abre sempre quando se quer recordar, com carinho, as passagens mais comoventes e mais importantes da nossa história.

            A proposta partiu do Deputado Estadual Caíto Quintana. O diploma foi assinado pelo Deputado Nelson Justus, Presidente da Assembléia Legislativa; pelo Desembargador Carlos Augusto Hoffmann, Presidente do Tribunal de Justiça, e pelo Governador do Estado Roberto Requião, todos presentes na reunião.

            Muitos amigos meus também me prestigiaram, com a presença e com o abraço, naquela tarde de segunda-feira, dia da semana que, segundo o mesmo poeta gaúcho, “existe para que nos dê a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça”.

            Cito, apenas como referência ilustrativa, Euclides Scalco, velho e querido companheiro dos tempos do verdadeiro MDB; Ittala Nandi, amiga de longa data, que tão bem soube compreender a multiplicidade cultural do Paraná e ali implanta um belíssimo projeto de produção audiovisual e um Pólo de Cinema; e Gustavo Fruet, seguidor dos passos firmes e da estirpe de seu pai, Maurício, um nome que honrou o Paraná e que, hoje, vê seu filho na mesma trajetória.

            O Paraná é uma síntese de todos os continentes, povos que mantêm o orgulho das suas origens, mas que se unem na paixão de serem, todos, paranaenses.

            Os paranaenses são uma mistura de feições e de sotaques de japoneses, franceses, suíços, lituanos, poloneses, ucranianos, ingleses, alemães, africanos, libaneses, italianos, judeus e de outros tantos descendentes de outras nacionalidades, que se juntaram ao povo de raiz, que vem desde os indígenas, nos tempos do descobrimento do Brasil.

            Não é a toa que o Paraná é conhecido como “Terra de todas as gentes”.

            Pois bem, com muita honra, eu agora sou, também, um cidadão do Paraná, um Estado do qual se orgulham, também, todos os brasileiros, por seu desenvolvimento econômico e social, por suas belezas naturais, suas festas, danças, roupas, comidas, cores, seu artesanato e sua multiplicidade cultural.

            Eu senti ali, no exato momento em que recebi o diploma de rara beleza, emoldurado com desenhos de araucárias, o Pinheiro-do-Paraná que, desconfio, causa inveja santa a outros campos deste País, a energia positiva de todos os paranaenses.

            Em mão dupla, eu dividi tão emocionante honraria igualmente com todos eles. Do mais modesto ao mais influente. E tenho certeza de que a minha exaltação ao Estado do Paraná é unanimidade nesta Casa, até porque todos os Estados brasileiros aqui representados encontram seus respectivos sotaques entre os paranaenses. O Paraná os acolheu na vida e na lida.

            É por isso, Sr. Presidente, que solicito a V. Exª que seja incluído nos Anais do Senado Federal o inteiro teor do meu pronunciamento feito naquela bela e emocionante cerimônia. Quem sabe possa ser também o prenúncio não apenas de uma vida que continua para todos nós, mas que recomeça.

            Peço, Sr. Presidente, que seja transcrito o meu pronunciamento nos Anais da Casa.

            Aproveito a tolerância de V. Exª, Sr. Presidente, para fazer uma referência que considero muito importante à minha cidade, Caxias do Sul.

            Comecei como estudante, continuei como advogado no Tribunal de Júri e agora vão fazer uma festa pelos 50 anos da Faculdade de Direito. Dr. Virvi Ramos, Dr. Ary Zatti Oliva, nós ajudamos a criá-la. Criamos.

            Eu tive a honra de ser o professor de Economia Política que deu a primeira aula da Faculdade de Direito de Caxias do Sul. Faz 50 anos. A Câmara de Vereadores estará homenageando-a nessa semana.

            Mas eu quero registrar com muito orgulho que Caxias do Sul foi considerada a Capital Brasileira da Cultura de 2008. A constatação veio ao final de importante estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), do Ministério de Planejamento, e pelo Ministério da Cultura, com base em dados levantados pelo IBGE em 2006, quando foi examinado o perfil brasileiro dos Municípios.

            Naquele estudo do IBGE, várias perguntas foram feitas às administrações municipais para tentar avaliar as políticas voltadas para a área da cultura. Foram examinadas, por exemplo, as características do órgão municipal gestor da cultura. Receberam maior pontuação nesse quesito aquelas cidades que possuem secretaria ou fundação para gerir os eventos culturais. Em segundo lugar, avaliou-se a atuação desse organismo cultural, se ele atendia aos interesses de diversos setores do Município. Também foi considerada a existência de uma política cultural permanente e efetiva, mantida apesar da eventual alternância das forças políticas no governo do Município.

            Cito, ainda, outros fatores considerados pelo IBGE: adesão do Município ao Sistema Nacional de Cultura, participação da sociedade na elaboração do Plano Municipal de Cultura, existência de lei municipal de fomento à cultura, proteção ao patrimônio artístico e cultural do Município, escolha democrática dos integrantes do Conselho Municipal de Cultura e participação intensa da coletividade.

            Para obter esse galardão, que foi disputado por 5.562 Municípios brasileiros, Caxias do Sul recebeu o primeiro lugar em Fortalecimento Institucional e Gestão Democrática. Município da Cultura. Depois de Caxias, que teve índice de 212,35, vieram Campo Mourão e Ponta Grossa, cidades paranaenses.

            Sr. Presidente, eu quero aproveitar essa ocasião para destacar aqui a administração extremamente competente do atual Prefeito de Caxias, meu velho amigo e companheiro José Ivo Sartori, Prefeito reeleito.

            Tenho acompanhado de perto o excepcional desempenho de Sartori à frente da Prefeitura de Caxias do Sul. A sua reeleição, em 2008, foi uma mostra da percepção que o povo da minha terra tem do trabalho desse grande homem público.

            Quero ainda ressaltar a atuação da Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, que tem como competência cultivar, criar, estimular, promover e preservar as manifestações artísticas e culturais: teatro, música, literatura, dança, artes visuais, cinema, vídeo, folclore e arte popular.

            Comandada pelo jornalista Antonio Feldmann, a Secretaria de Cultura de Caxias tem proporcionado o acesso dos cidadãos aos bens culturais tangíveis e inteligíveis, materiais ou imateriais, de modo a suscitar o desenvolvimento artístico e cultural do cidadão.

            Na minha cidade, Caxias do Sul, preservamos com cuidado a riquíssima herança cultural local por meio da pesquisa e da proteção ao patrimônio histórico, artístico, arquitetônico e paisagístico. Digo com orgulho que os caxienses trabalham pelo resgate e pela catalogação permanente do acervo da memória da cidade.

            Destaco a atuação dos espaços culturais locais, como a Casa de Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima, que abriga a Biblioteca Pública Dr. Demetrio Niederauer; o Programa Permanente de Estímulo à Leitura (PPEL); o Teatro Pedro Parente e a Galeria de Arte Gerd Bornheim.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aproveitando esta oportunidade, gostaria de acrescentar que Caxias do Sul também foi considerada, há pouco tempo, o Município brasileiro que lidera o ranking do Índice de Desenvolvimento Familiar (IDF). Caxias do Sul lidera esse ranking!

            O IDF, segundo o Ministério de Desenvolvimento Social, que o criou, é ainda mais efetivo que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para apurar a situação real da nossa população. O indicador criado com base no monumental acervo de informações recolhidas nos bancos de dados da Bolsa Família leva em conta seis fatores: nível de escolaridade, possibilidade ou não de acesso a um posto de trabalho, renda efetiva em dinheiro, desenvolvimento estudantil, condições reais de moradia e vulnerabilidade (volume de recursos de que uma família necessita realmente para seu sustento).

            Reproduzo a seguir parte da reportagem divulgada pelo jornal O Pioneiro, de Caxias.

A cidade brasileira onde os pobres são menos pobres: esse foi o título conquistado por Caxias do Sul, de acordo com um indicador traçado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O Índice de Desenvolvimento Familiar (IDF) do Município atinge 0,71, o mais alto do país [ou seja, o mais alto de todos os Municípios do Brasil]...

            Senador Mão Santa, no ano passado, Caxias foi considerado Município livre de analfabetismo pelo Ministério da Educação (MEC). Com uma taxa de menos de 3% de pessoas que não sabem ler, nem escrever, o nível de alfabetização caxiense se equivale ao de países da Europa. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, quase 100% da cidade é atendida por rede de água e esgoto. Quase 100% da cidade é atendida por rede de água e esgoto! O Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que quase atinge R$21 mil, foi outro fator levado em conta para o indicador positivo.

            Apenas 5,3% dos moradores da cidade recebem o Bolsa Família. Numa cidade como Caxias, onde milhares e milhares de trabalhadores, milhares e milhares de pessoas vivem nas vilas populares, apenas 5,3% dos seus moradores recebem o beneficio do Bolsa Família. É um dos menores índices do Brasil, porque o resto é empregado, trabalha, vive do seu trabalho, não precisa do Bolsa Família.

            O Índice de Desenvolvimento Familiar (IDF) varia de 0 a 1. Quanto mais perto de 1, melhor o resultado. Mas vejamos em mais detalhes o que é levado em conta.

            O item vulnerabilidade tenta medir o volume de recursos a mais que a família precisa para se sustentar, levando-se em conta que se incluem, como exemplo, gestantes, mães amamentando, crianças, adolescentes, jovens portadores de deficiências e idosos. Quanto mais membros considerados vulneráveis, pior é o indicador.

            Já o item escolaridade considera o nível de instrução das pessoas da família. Se há analfabetos ou analfabetos funcionais - até quatro anos de escolaridade -, o índice piora.

            Em relação ao acesso ao trabalho, o IDF analisa a oportunidade que as pessoas têm de encontrar uma forma de trabalho. Considera se mais da metade dos membros da família está ocupada, se trabalha na área rural, no setor formal ou informal, se recebe mais de um salário-mínimo. Quanto mais trabalhadores, mais elevado é o índice.

            No que se refere à renda, o Programa do MDS mede o quanto da renda da família é em dinheiro. Avalia qual é a despesa e a renda da família e considera a parte do sustento que não vem dos programas de transferência de renda. Quanto maior a renda e quanto maior a parte que não vem do Bolsa família e de outros, melhor o indicador.

            No quesito desenvolvimento infantil, o estudo considera se há trabalho infantil na família, crianças fora da escola ou em atraso escolar, por mais de dois anos, e adolescentes e jovens analfabetos.

            Por fim, avalia as condições de habitação, levando-se em conta se a moradia é própria, se há mais de dois moradores por dormitório, o tipo de material de construção, se há acesso à água potável, saneamento e coleta de lixo adequados e energia elétrica.

            Como se vê, trata-se de um levantamento exaustivo, que, julgo eu, fez uma radiografia reveladora, mais profunda e mais exata, das condições em que vive nossa população.

            O estudo comprovou, como disse o jornal O Estado de S.Paulo, que “os pobres mais pobres do Brasil estão onde o assistencialismo público equivale a pouco mais do que uma esmola social e onde o trabalho assalariado praticamente inexiste”.

            Na maior parte dos Municípios, segundo O Estado de S.Paulo, os piores indicadores são os que se referem ao “acesso ao conhecimento - presença de analfabetos ou pessoas com menos de quatro anos de estudo na família - e ao trabalho, que leva em conta pessoas ocupadas com rendimento acima de um salário-mínimo, os piores na maior parte dos Municípios”.

            E diz ainda O Estadão:

Isso significa que praticamente ninguém, dentre as famílias mais pobres dessas localidades, tem emprego formal ou mesmo fixo fora da agricultura de subsistência. E, mesmo que procurem, terão muita dificuldade em encontrar algo que os ajude a sair da dependência de programas como o Bolsa-Família. Nas cidades em que os pobres são mais pobres, não há trabalho. Apesar da universalização recente do acesso à escola, a geração de jovens e adultos ainda foi pouco além das primeiras séries do ensino fundamental. E, na maior demonstração de que ali está a pobreza marginalizada, mora-se muito mal. Há excesso de gente habitando casas precárias, sem saneamento, água tratada, esgoto, coleta de lixo ou mesmo sem eletricidade.

            Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, o Município de Caxias do Sul é hoje o segundo polo metal-mecânico do País e um dos maiores da América Latina. Conta com cerca de 6,5 mil indústrias que levam Caxias do Sul a produzir quase 6% do PIB do Rio Grande do Sul. No entanto, nacionalmente, Caxias é mais conhecida como a terra da uva e do vinho, porque é a mais destacada das cidades que surgiram na região colonizada pelos imigrantes italianos.

            Em tempos remotos, aquela área era conhecida como Campo dos Bugres, por ter sido habitada por índios Caingangues. Na segunda metade do século XIX, o governo imperial do Brasil decidiu colonizar regiões desabitadas do sul do País e incentivar a vinda de imigrantes da Itália. Na ocasião, em função da guerra de unificação italiana, aquela nação passava por grave crise social e econômica, com os agricultores empobrecidos não garantindo sequer a subsistência lá na Itália.

            Os primeiros colonos, vindos da região do Vêneto, vieram em 1875. Depois de uma travessia oceânica que durava mais de um mês, em navios superlotados, em que ocorriam muitas mortes por doenças, chegavam ao Rio de Janeiro, onde ficavam de quarentena. Depois, embarcavam em vapores até Porto Alegre, de onde seguiam até São Sebastião do Caí, Montenegro ou Rio Pardo. Daí, subiam a serra a pé, em lombo de burros ou em carretas, atravessando a região, ainda praticamente selvagem, até Campo dos Bugres.

            Instalados em barracões, aguardavam por muito tempo a divisão dos lotes - 63 hectares de área para cada família -, a abertura de estradas e a concessão de ferramentas e de sementes. Depois, os lotes foram gradativamente reduzidos para 44, 30 e 25 hectares. Esses lotes eram reembolsados ao governo em prazos de cinco anos a quinze anos.

            Em 11 de abril de 1877, a denominação oficial passava a ser Colônia Caxias, em homenagem a Duque de Caxias. O desenvolvimento econômico daquela colônia foi rápido. As casas de negócios que, em 1878, eram apenas três, saltaram para 93 em apenas cinco anos.

            Caxias recebeu o status de cidade no dia 1º de junho de 1910, justamente quando chegava o primeiro trem que ligava a região à capital do Estado.

            Vários ciclos econômicos marcaram a evolução do Município. O primeiro foi a agricultura de subsistência, que se concentrava na produção de uva, de vinho, de trigo e de milho, com uma incipiente industrialização doméstica. Com o passar do tempo, a indústria caseira se diversificou, acompanhando o crescimento da população, ampliando o leque de manufaturados, até chegar ao vasto parque industrial que hoje possui. Mas a verdade é que foi pela produção de uva e de vinho que Caxias se projetou no Estado e no País, tornando-se também um polo de turismo no Estado, quando, em 1931, lançou a maior festa municipal do sul, a Festa da Uva. Em 29 de dezembro de 1944, o nome do Município recebeu o elemento indicador geográfico, conformando o apelido Caxias do Sul, que, até hoje, perdura.

            Quero, daqui, levar meu abraço muito carinhoso aos meus conterrâneos de Caxias do Sul, na pessoa do prefeito Ivo Sartori. Um abraço muito grande àquela gente, que é orgulho para todo o nosso Estado!

            Ali eu nasci, Sr. Presidente. Ali eu estudei, no Colégio do Carmo, da Igreja Católica, na minha família. Princípios rígidos, àquela época, aprendi. Com base naqueles colonos que plasmaram uma civilização fantástica, eu sou o que, hoje, eu sou.

            Fui Vereador em Caxias. Preferi ser Vereador em Caxias a sê-lo em Porto Alegre. Podia ter sido Vereador em Porto Alegre, mas preferi sê-lo em Caxias. Ajudei a criar a Universidade de Caxias. Fui o primeiro professor a dar a primeira aula na Faculdade de Direito, que hoje completa 50 anos, e na Faculdade de Filosofia.

            Eu me lembro, Sr. Presidente, de quando fui para Porto Alegre com minha família. Eu me lembro, Sr. Presidente, de quando eu falava com meus amigos, com meus colegas, e de como eles gozavam com minha cara. Eu ficava bravo e dizia: “Vai tomar no banho!”. Eu falava bem acolonado, eu era bem gringo, gringo mesmo, e Caxias era considerada uma terra de gringos, uma terra sem maior significado. Àquela época, o Rio Grande do Sul era Pelotas, era a fronteira, era Livramento, era Santa Maria.

            Caxias é um exemplo, Sr. Presidente. D. Pedro II fez uma autêntica reforma agrária. Aquilo que foi a marcha para o oeste nos Estados Unidos, em que as pessoas saíram do lado de cá e foram para lá e em que cada um recebeu um pedaço de terra, aconteceu em Caxias e deu certo. Naquela região inóspita - montanhas, morros, floresta, absolutamente nada -, o colono recebia um saco de sementes, uma pá e uma enxada e se virava. Eles fizeram um milagre. É interessante, Sr. Presidente, que essa geração de Caxias veio da Itália - quando da unificação da Itália, passavam fome na região do Vêneto -, atravessou o Oceano e plasmou uma nova civilização. Essa gente fez história.

            No discurso que estou pedindo para ser transcrito aqui, que fiz na Assembleia do Paraná, eu lembro isso. No livro que publiquei na Feira do Livro, A Diáspora do Povo Gaúcho, lembro que, inclusive no seu Estado, os netos dessa gente que fez Caxias saíram pelo Brasil. São os gaúchos que, em Santa Catarina, no Paraná, em Mato Grosso do Sul, no Mato Grosso, em Goiás, no Tocantins, no Acre, no Amazonas, no Pará, no Maranhão, no Piauí, no Ceará, na Bahia e em Brasília, alargaram as fronteiras agrícolas e mudaram o Brasil, o que demonstra que o povo brasileiro é um grande povo. No entanto, na nossa fronteira, no Rio Grande do Sul, onde começou a civilização quando São Paulo e o resto do Brasil eram infinitamente inferiores, os jovens de Pelotas, de Uruguaiana e de Rio Grande iam estudar em Paris e se formavam-se em Paris. Era gente muito rica e muito próspera. Lá estão, até hoje, áreas de dois mil, três mil, quatro mil, cinco mil, dez mil hectares, e a metade sul do Rio Grande do Sul, talvez, seja hoje uma das regiões que mais está empobrecendo em todo o Brasil.

            Eu era Deputado Estadual quando saíram milhares de gaúchos para o Brasil inteiro, e eu era favorável a isso. Quando o Governo do Estado criou uma cooperativa e ofereceu todas as vantagens, inclusive transporte e tudo o mais, para pegar os colonos e levar embora do Rio Grande do Sul lá para a Amazônia, eu era favorável a isso, mas eu dizia: “Mas por que não levá-los para as fronteiras? Por que não levá-los também para a metade sul? Por que o Governo está fazendo um plano de reforma agrária e de colonização na Amazônia e não olha para aqui?”. E aquela metade sul, que continua, hoje, decaindo, decaindo, decaindo, vivendo só da história, podia ser como é, hoje, o Mato Grosso, maior produtor de soja, maior produtor de gado, levado pelos gaúchos.

            Lembro-me de que eu, gurizinho, gringo de Caxias, era a gozação dos meus colegas. Meus amigos gostavam muito de mim, mas os porto-alegrenses, falavam um português clássico, todos eram bem instruídos, e o gringo de Caxias dizia: “Vá tomar no banho!”. Eu falava bem arrevesado, como todo gringo falava.

            Hoje, está lá Caxias, Capital Brasileira da Cultura. É uma emoção, Sr. Presidente! Aquela colonada, aquela gente que não tinha nada, de repente, transforma-se em Capital Brasileira da Cultura, a cidade do Brasil onde os pobres são menos pobres. Eu me emociono com isso, Sr. Presidente. Juro por Deus que me emociono com isso, porque sou fruto daquela cidade, sou fruto daquela gente. Aprendi ali, no Colégio do Carmo, rígido. Na minha família, tomávamos o café da manhã juntos, almoçávamos e jantávamos juntos. E não tínhamos televisão. A gente ia fazer visita de família a família.

            Olha, há muito tempo atrás, fiz um debate em que eu salientava um lugarejo singelo do interior, Caxias, onde havia um núcleo muito forte do velho e querido PTB, e havia a tradição de encerrar a campanha lá. A gente fazia o comício de encerramento em Caxias e, às 22h30, ia para um grande churrasco de encerramento em Santa Justina. E era tudo PTB. Eu me lembro de que a reunião era feita no salão de festa da igreja. A música ou era gauchesca ou era cantoria italiana. As meninas estavam todas com aquelas saias, ou eram gaúchas ou eram de colônia italiana até os pés. Vim embora para Porto Alegre, presidente do Partido, e fiquei muito tempo sem ir lá. Um dia, eu era candidato a Governador, e o pessoal disse-me: “Olha, se o senhor não for lá fazer o encerramento, eles não vão para lá”. E fui para lá e, quando lá cheguei, vi que a reunião estava sendo feita no mesmo salão paroquial da igreja. Todas as meninas, Sr. Presidente, estavam de minissaia. No próprio salão paroquial da igreja, num canto, havia uma boate, com luz negra, e a música era do jazz americano. E não havia diferença alguma entre ali e qualquer zona do Leblon ou de Copacabana. A televisão e as novelas de televisão, em meia dúzia de anos, mudaram os hábitos que, há mais de cem anos, eram praticados ali. Veja o mal que isso pode causar, Sr. Presidente. Eram mais de cem anos de uma formação rígida, séria, responsável! Até concordo que tinha de se adaptar, que tinha de evoluir, mas não ao ponto de Santa Justina virar uma boate igual à do Leblon.

            Mesmo assim, Caxias resistiu, a começar pelo seu Prefeito e pelos seus Vereadores. É lindo de ver! O PT ficou oito anos na prefeitura, com o Prefeito Pepe, hoje Deputado Federal. Foi uma grande administração, uma grande administração! Aí, elegeu-se o nosso Prefeito, o Sartori, que fez, nos quatro anos, uma melhor administração ainda. Aí houve novo pleito, e ele foi candidato à reeleição, e o Pepe voltou a ser candidato a Prefeito. Que pleito bonito! Eu ficava emocionado. Não havia uma palavra do Pepe ofendendo o Prefeito Sartori, e não havia uma palavra do Prefeito Sartori ofendendo o Pepe. O Pepe dizia que a administração que ele havia feito era muito boa - e era realmente boa - e que, sendo ele do PT, bem como sendo o Lula do PT, ele podia trazer muitas coisas para Caxias. E o Sartori elogiava a administração do Pepe, que era muito boa, mas dizia que ele podia continuar.

            Eu me lembro de que, no programa, eu disse uma coisa muito interessante: “O gringo de Caxias é tudo, menos burro”. Hoje, ele tem o Sartori na prefeitura e o Pepe como Deputado Federal. Se elegermos Pepe para Prefeito, o Sartori vai para casa, e vamos perder um grande Deputado Federal; se elegermos Sartori para Prefeito, ele fica na prefeitura, e ficamos com um grande Deputado Federal. Por que vamos trocar dois por um? E ganhou o Sartori. Agora, está aqui o resultado.

            Olha, o senhor não calcula a emoção que sinto: Caxias é a Capital Brasileira da Cultura, Caxias é a cidade em que o índice de vida é o melhor do Brasil, onde os pobres são menos pobres!

            Meu abraço à minha querida Caxias!

            Meus cumprimentos ao Sartori, ao Pepe, aos Prefeitos todos e ao povo de Caxias!

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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DISCURSO PRONUNCIADO PELO SR. SENADOR PEDRO SIMON NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARANÁ, EM 19 DE OUTUBRO DE 2009.

      Meus caros amigos e irmãos; meus queridos companheiros, e agora conterrâneos paranaenses:  que bom me sentir em casa. Até agora, eu era paranaense de coração. E isso já não era pouco! Agora, sou cidadão paranaense de coração, de corpo e de alma.

      Eu já percorri muitas vezes as terras do Paraná, porque este Estado é muito rico em manifestações de todos os tipos, da política à cultura, da economia ao esporte, do turismo à religião.

  Durante todos estes anos, nas minhas viagens quase que semanais, do Rio Grande até Brasília, o Paraná também sempre esteve, geograficamente, no meu caminho. Um dia, uma paranaense, igualmente de coração, corpo, alma, e de certidão de nascimento desta terra, cruzou o meu caminho. O caminho da minha vida.

      É que o destino me reservou uma bela companheira, vinda lá de Capanema, para seguir comigo nesta minha travessia. A Ivete era, até aqui, uma paranaense casada com um gaúcho.

      Pois é, Ivete, agora somos, além de tudo o que nos une, conterrâneos. Com muita honra!

      A Ivete é descendente de avós alemães e italianos. Uma legítima paranaense, portanto. Como são legítimos paranaenses todos os descendentes de japoneses, de franceses, de suíços, de lituanos, de poloneses, de ucranianos, de ingleses, de alemães, de libaneses e de tantos outros povos, que, como ela, aqui nasceram.

      É que o Paraná é uma terra benfazeja que acolhe todos os povos do mundo. Diria, a propósito deste momento da nossa história, e me inspirando no discurso do Presidente em Copenhagen, que o Paraná é um “Estado Olímpico”, porque aqui estão representados todos os continentes, como elos ligados pela cultura, pela solidariedade, pelo humanismo, pela ética, pelo trabalho. Pela vida, enfim.

      Não é à toa que o Paraná é conhecido como “Terra de todas as gentes”.

      As festas, as danças, as roupas, a beleza das cores, o artesanato, a língua, as missas e cultos no idioma pátrio, demonstram o orgulho de todos esses povos de serem de cada uma das suas respectivas origens. A vida, a paixão de serem paranaenses.

      Chamou-me a atenção, a propósito, o fato de alguns povos, que para aqui vieram, e que aqui se fixaram, festejarem suas respectivas datas de independência, ao mesmo tempo em que celebram a colheita dos produtos que aqui cultivam. O Paraná os acolheu e os uniu, na vida e na lida.

      Eu me encanto, sempre que assisto às apresentações de grupos folclóricos do Paraná. Uma beleza indescritível e uma riqueza incomensurável. Tradições milenares trazidas pelos imigrantes vindos de todos os pontos do planeta.

      Curitiba, por exemplo, respira cultura, do clássico ao popular, da música erudita que nos enleva em silêncio, aos grandes shows para multidões. A música medieval, a renascentista, a barroca e a contemporânea. A cidade criou espaços apropriados para cada uma destas manifestações culturais.

      Onde tamanha diversidade poderia fazer constituir uma verdadeira Torre de Babel, ao contrário, fez-se brotar uma luz, como nos escritos bíblicos, e todos se entenderam, embora tivessem vindo de tantos, e de tão distantes, lugares.

      Mas, o Paraná é, na sua melhor essência, o Brasil. Para aqui vieram todos os sotaques deste país de tantos contrastes. E que aqui passaram a conviver com todas as línguas, com todos os costumes e todas as crenças.

      Por exemplo, existem, hoje, no Paraná, mais de 320 mil gaúchos. Todos nascidos no Rio Grande do Sul e que para aqui vieram e aqui se sentiram em casa. Aqui nasceram, depois, filhos, netos, bisnetos, e que formam, agora, a grande família paranaense.

      Quantos serão os paulistas, os mineiros, os matogrossenses, os catarinenses, os nordestinos de todos os estados, que também aqui se estabeleceram, e aqui pavimentaram os seus caminhos?

      Quantas serão, também, as manifestações culturais destes nossos conterrâneos, que se juntam ao “daí”, e falam e cantam em “uai”, “ué”, “tchê”, “oxente”... A Festa do Tropeiro, tradição originada na região das missões jesuíticas de Sete Povos, no Rio Grande, os Fandangos, a Congada da Lapa, as Folias de Reis, as Bandeiras do Divino, a Dança de São Gonçalo, as Cavalhadas, as Congadas, o Boi de Mamão, o Cuá-Fubá...

      Quem não se emociona, em qualquer lugar do Universo, em todos os natais, com o coral dos meninos do antigo prédio do Bamerindus? 

      Como não se orgulhar das Cataratas do Iguaçu, patrimônio de toda da humanidade?

      Quem não gosta de um lugar onde se misturam, deliciosamente, os cheiros do churrasco, do tutu, a paulista ou a mineira, da feijoada, do boi e do porco no rolete, do carneiro no buraco e do barreado?  

      Como não se encantar com os verdes campos desta terra? O Paraná, do alto, é uma mistura de tonalidades, que identificam produtos e fases de plantio e de colheita. De soja, milho, trigo, feijão, café, algodão, mandioca, cana-de-açúcar, arroz, frutas de todos os tipos. Da erva-mate do nosso inseparável chimarrão. Presença obrigatória nas nossas mesas de refeição e de trabalho. Ponto de união nas nossas tertúlias.

      Para os que ainda preferem as rodadas de cerveja, o melhor malte e a melhor cevada, que são daqui e do Rio Grande do Sul.

      A qualidade da indústria alimentícia do Paraná é ponto de honra nas prateleiras dos supermercados de todo país e de muitos outros países. A agroindústria paranaense é uma das mais desenvolvidas do Brasil. Aqui está um dos maiores parques de moagem de milho e soja da América Latina.

      Poderia enaltecer tantos outros setores industriais de excelência, como o mobiliário, o de papel e celulose, o de produtos químicos e o metal-mecânico.

      A região metropolitana de Curitiba é, hoje, um dos mais importantes pólos de produção de automóveis do país. 

      O Paraná comemora, neste ano, 25 anos da Usina de Itaipu. Comemora e ostenta. Afinal, não é em lugar qualquer que se pode construir a maior usina de geração de energia do mundo.

      Cá entre nós, eu também desconfio que todos os campos deste país têm uma inveja santa dos pinheiros do Paraná.

      Muita coisa aconteceu nesta terra, e que marcaram a nossa história. Também são tantos os grandes personagens daqui, que contribuíram, em muito, na construção da nossa trajetória política.

      Cito, como exemplo, um fato e um destes personagens maiúsculos: o fato, a semente de criação do MERCOSUL. Foi em 1985, numa reunião idealizada por mim, quando governador do Estado do Rio Grande do Sul, e que aconteceu em Foz do Iguaçu.

      O personagem, o meu grande amigo e da mais saudosa memória, o então Governador do Paraná, José Richa. 

      Na verdade, foi mais um dos nossos encontros, sempre no mesmo caminho e na mesma trajetória.

      Ali, nós semeamos, juntos, a planta do MERCOSUL. A “Declaração de Iguaçu”, num primeiro momento para aproximar Brasil e Argentina, estabeleceu as bases para a integração econômica do Cone Sul.

      Nossos caminhos e nossa trajetória eram os mesmos, porque o Richa e eu já vínhamos, juntos, de muitas outras lutas históricas pela democracia no nosso país.

      Somos fundadores do velho MDB de Ulysses Guimarães.  Como esquecer a sua voz firme, nos palanques do Movimento Diretas-Já, como aqui mesmo, em Curitiba, naquele novembro de 1983? 

      Como não se lembrar da sua coragem, quando foi preciso enfrentar a força-bruta da ditadura? Não foi por acaso que ele foi o primeiro governador eleito, democraticamente, do Paraná, depois de duas décadas de regime militar. 

      Aqui no Paraná está a minha querida amiga Ittala Nandi, que soube, como poucos, perceber a importância da diversidade cultural desta terra.

      Ela, e o Governador Requião, através do incentivo à produção audiovisual, do Pólo de Cinema e dos Festivais, abrem um espelho para o mundo, na verdadeira missão de unir todos os povos.

      Povos diferentes na cultura. Semelhantes no projeto de vida. Iguais na esperança por um mundo melhor.

      Aliás, essa sensibilidade do Governador Requião com o cinema é de sangue.

      Não há como contar a história da produção cinematográfica paranaense e brasileira, sem a lembrança do seu tio-avô Anníbal Requião. Uma história mais que emocionante. Filmava, no final do século XIX, início do século XX, as coisas e a gente do Paraná e, não contente com tão belas imagens e com seu feito pioneiro, tocava ele mesmo a sua pianola e o seu oboé, para adicionar a sensibilidade que deixou de herança para os que vieram depois. 

      Meus queridos irmãos paranaenses, eu quero, neste instante, já alimentado pela solidariedade típica do povo daqui, dividir esta honraria que me concede a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná com todos os que para cá vieram, e que se tornaram paranaenses, acolhidos que foram pela hospitalidade deste mesmo povo.

            Sintam-se, portanto, comigo, honorários todos os cidadãos brasileiros e de todos os cantos e recantos deste planeta, que hoje se irmanam em terras paranaenses. Do mais simples, anônimo na singeleza da sua lida, até o mais eminente, visíveis nos mais altos postos da economia e da política paranaense.

            Como esta Assembléia Legislativa representa todo o povo do Paraná, significa que este mesmo povo está me abraçando, hoje, como um dos seus. Que bom ser bem-vindo à família paranaense!

      Espero continuar, para sempre, à altura deste gesto que me emociona. Quem sabe eu seja algo assim como um filho pródigo, que volta à casa do pai. 

      Quero ser um semeador em terra boa, como no brasão do Estado do Paraná. “Terra, tem brilhos de alvorada, rumores de felicidade, canções e flores pela estrada”, como no hino. Nosso hino!

      Continuarei gaúcho, porque o gaúcho, para onde quer que ele vá, leva junto o Rio Grande. Mas, agora, eu sou um gaúcho com a honra de ser, também, paranaense.

      Quem sabe eu passe, a partir de hoje, a ser um paranaense até mais ostensivo, porque esta “certidão” que agora eu recebo, eu a colocarei no lugar de maior destaque, no caminho de quem me encontre. No caminho de quem me abrace. No meu caminho.

      Pois é, meu caro irmão e companheiro Caíto Quintana: por sua proposição, acatada, para minha incomensurável honra, pelos demais deputados desta Casa, traduzindo a vontade do povo do Paraná, agora somos duplamente conterrâneos. Somos, ao mesmo tempo, “daí” e “mas, bah”.

      Você, que como eu, vem de terras gaúchas. Eu, de Caxias do Sul. Você, de Santo Augusto. Que passou por Santo Ângelo e que veio para o sudoeste do Paraná. Você começou a vida paranaense em Planalto, ali na “região metropolitana de Capanema”. Quem sabe você possa se transferir, dia destes, para o outro Planalto, do sudoeste do Paraná para o centro-oeste do Brasil, como representante de todo o povo do Paraná! 

      Embora hoje seja um dia de grande alegria, não posso deixar de mencionar, meu querido irmão Caíto, que temos, também em comum, momentos de imensa dor. Daquelas que calam fundo na alma, e que parecem eternas. Mas, há, bem lá no fundo da nossa existência, uma também imensa força, que, talvez, não seja suficiente para entender os desígnios, mas que nos faz seguir o caminho traçado pelo Criador.

      Um abraço fraterno ao povo do Paraná. Recorro a outro Quintana, o Mário, poeta gaúcho de todos os brasileiros: Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto é como se abrisse o mesmo livro numa página nova.

      Na verdade, na verdade, o povo do Paraná escreveu, hoje, uma das mais belas páginas no livro da minha existência. Uma página nova, que eu quero manter, sempre, aberta, neste meu livro que venho escrevendo já vem de longe. Uma página de ouro. Quem sabe a própria capa, aquela que se coloca em evidência, mesmo quando o nosso livro se fecha.

      Rogo a Deus para que o Paraná continue sendo este exemplo de trabalho, de perseverança e de união entre os povos. O povo do Paraná não se contenta em viver a história. Como dos mais belos exemplos de dignidade e de solidariedade, luta, diariamente, para construí-la.

      É por isso que o livro da história do Paraná também tem, a cada manhã, uma página nova, repleta de bons exemplos. Quem sabe, no livro da história do Brasil, também tenhamos que colocar o Paraná na capa.

      Muito obrigado, de coração!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2009 - Página 59261