Discurso durante a 208ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Saudação ao Senador Flávio Torres pelo trabalho desenvolvido nestes 120 dias de suplência. Considerações sobre os problemas que vem atingindo uma parcela significativa de pequenos produtores da Paraíba.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA AGRICOLA.:
  • Saudação ao Senador Flávio Torres pelo trabalho desenvolvido nestes 120 dias de suplência. Considerações sobre os problemas que vem atingindo uma parcela significativa de pequenos produtores da Paraíba.
Aparteantes
Augusto Botelho.
Publicação
Publicação no DSF de 12/11/2009 - Página 58254
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • HOMENAGEM, FLAVIO TORRES, SENADOR, PERIODO, EXERCICIO, SUPLENCIA, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
  • SOLIDARIEDADE, PEQUENO PRODUTOR RURAL, ESTADO DA PARAIBA (PB), SUPERIORIDADE, DIVIDA AGRARIA, BANCOS, PROGRAMA, CREDITOS, GOVERNO, NEGLIGENCIA, LONGO PRAZO, PROBLEMA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, CARACTERISTICA, AGRICULTURA, PROTEÇÃO, ATIVIDADE, DEPENDENCIA, CLIMA, REGISTRO, DADOS, INADIMPLENCIA, SUSPENSÃO, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), MAIORIA, MUNICIPIOS.
  • DEFESA, APERFEIÇOAMENTO, POLITICA DE CREDITO, FINANCIAMENTO, PRODUÇÃO AGRICOLA, FACILITAÇÃO, PEQUENO PRODUTOR RURAL, QUESTIONAMENTO, CRESCIMENTO, DIVIDA AGRARIA, EXPECTATIVA, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, IMPEDIMENTO, EXECUÇÃO, PROPRIEDADE RURAL, AUTORIZAÇÃO, CONTINUAÇÃO, CONTRATAÇÃO, EMPRESTIMO, RENEGOCIAÇÃO, DIVIDA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, nossa amiga, Senadora Serys Slhessarenko, gaúcha, disciplinada, organizada, que tutela nosso tempo com extrema cautela e rigor, eu gostaria de fazer-lhe uma ponderação: como hoje é um dia em que temos o compromisso de fazer o nosso pronunciamento, eu gostaria que não fosse do meu tempo tomada uma saudação que quero fazer ao Senador Flávio Torres, tendo em vista ser hoje a sessão que, na verdade, marca a passagem brilhante do Senador Flávio Torres em nossa Casa. Tivemos o privilégio de tê-lo conosco por 120 dias. Como 120 dias passam rápido! Na verdade, é impressionante como as coisas boas - os bons filmes, os bons fatos da vida, as boas viagens, as boas companhias - passam rapidamente! E a passagem do Senador Flávio Torres por esta Casa veio honrá-la, veio dignificá-la. Desde o primeiro momento em que aqui cheguei e em que aqui ele chegou, assumindo, na condição de suplente, a vaga pelo Estado do Ceará, eu dizia que ele tinha estatura, no amplo sentido da palavra: tem uma boa estatura de altura - à qual eu, como baixinho, já faço a minha referência -, como também estatura profissional, pelo seu gabarito, pela sua formação técnica. É o nosso cientista aqui na Casa. Então, na verdade, eu gostaria de fazer essa referência à presença do Senador Flávio Torres aqui conosco.

            Senador, foi um privilégio para nós, Senadores, tê-lo como amigo, como companheiro. Espero que possamos nos encontrar brevemente em outras missões. Como homem público que V. Exª é, sem dúvida dará ao País esse privilégio de tê-lo colaborando com a nossa Nação. Parabéns, Senador!

            A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Agora é que vai iniciar o seu tempo, conforme V. Exª me solicitou.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Pronto.

            Com todo o carinho, e quando o tema é muito interessante, muito importante, tenho a certeza de que a senhora não vai me deixar sob a tutela daquela campainha. Eu sou alérgico a ela. Então, peço-lhe que corte o meu tempo, mas não toque aquela campainha.

            A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Não sou eu quem faço o corte; a campainha é automática.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Mas, com muito cuidado, apertando aqueles botõezinhos, a gente consegue salvar os Senadores que estiverem na tribuna.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entre as funções de maior relevo de um Senador da República inclui-se a altiva missão de representar e defender os interesses do seu Estado.

            Recebi, pois, de bom grado a tarefa de comunicar à Nação os problemas que vêm afligindo parcela significativa dos pequenos produtores e agricultores da Paraíba, às voltas com as pesadas dívidas junto ao sistema bancário e aos programas creditícios governamentais.

            As dívidas dos micro e pequenos agricultores e produtores rurais já viraram uma novela, uma triste rotina que verga a autoestima de quem teima em produzir no campo. Outros Senadores, inclusive de outros Estados, reportaram-se recentemente a essa angulosa problemática. Aliás, é inquietante verificar como alguns temas são recorrentes nos pronunciamentos exarados a partir desta tribuna. E não me refiro à sua gravidade ou importância, mas à perspectiva parcial ou fragmentária com que são tratados na esfera do Poder Executivo.

            Em decorrência, erige-se uma pauta ad-aeternum, a qual se apresenta, inflexivelmente, ano após ano, à espera de uma solução definitiva.

            Ora, não desconheço as peculiaridades da atividade produtiva rural, sujeita a uma enorme variedade de intercorrências, como a oferta de insumos, o grau e a periodicidade das chuvas, a temperatura, as necessidades corretivas dos solos, os diversos ciclos das culturas, os efeitos das sazonalidades, as pragas, enfim, uma ampla gama de variáveis que diferenciam a lida no campo de todas as demais atividades econômicas. Quem parece ignorar tais peculiaridades é aquele gestor que estipula regras de financiamento incapazes de dar conta de demandas tão específicas e, ao mesmo tempo, elásticas.

            O problema do financiamento agrícola é um entrave à plena expansão da capacidade produtiva do campo. Somos, é verdade, um player mundial na produção de alimentos. Temos, é também verdade, alcançado expressivas melhoras na rede de financiamento nos últimos anos.

            Mas, então, o que nos falta? Por que, ano após ano, retornam os mesmos e conhecidos problemas de endividamento?

            A imprensa noticiou, recentemente, que 140 Municípios paraibanos, o equivalente a 62% do Estado, estão inadimplentes e com o crédito suspenso junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf.

           Não há números oficiais divulgados sobre as taxas de inadimplência, mas a Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Paraíba estima que esse valor represente algo em torno de 30% dos cerca de 1 milhão de pequenos produtores.

            Portanto, Srªs e Srs. Senadores, 300 mil famílias padecem desse mal secular: o descaso para com a realidade rural.

            Tenho para mim que o modo de olharmos a atividade do homem do campo não pode permanecer o mesmo.

            Em qualquer lugar do mundo, reconhece-se uma dinâmica peculiar, que contribui para tornar a agricultura um tipo de negócio com índice de risco muito diferenciado, ao tempo em que é absolutamente indispensável para qualquer formação social. Disso resulta um entendimento que leva a um determinado grau de proteção do empreendimento, com vistas a diminuir os riscos e preservar os dois polos beneficiários: produtores e consumidores.

            Nesse contexto, o crédito rural não pode ser visto somente por um prisma financista. Cada vez mais, ele precisa ser entendido como um insumo técnico específico da produção agrícola, indispensável como é a chuva, o nível de insolação ou a semente de qualidade.

            Em outras palavras, os tratos culturais exigidos pela produção não podem prescindir jamais desse outro componente vital: o financiamento.

            Por outro lado, Srªs e Srs. Senadores, os pequenos produtores não possuem um histórico de “calote”. Pelo contrário, eles têm plena consciência da necessidade de renovar o crédito. Para eles, pagar ordinariamente significa continuar a produzir e gerar renda, numa lógica tão simples quanto a que vai da semeadura à colheita.

            Assim, se o endividamento dessa massa de trabalhadores honestos e dedicados não para de crescer é que há alguma coisa de muito errada no desenho do sistema creditício.

            Em debate promovido na Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, o Presidente da Casa lembrou que, na década de 1990, “as contas da agricultura não passavam de R$25 bilhões. De lá para cá, o montante aumentou mais de cinco vezes e, hoje, já ultrapassa R$130 bilhões”.

            Os números são sintomáticos e deixam entrever que, de fato, alguma coisa tem falhado.

            O Presidente Lula conhece bem a situação e sabe que não podemos descuidar dessa importante atividade econômica, umbilicalmente ligada a uma intricada teia de questões sociais e políticas.

            Por certo, as equipes dos Ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Fazenda, e as da Casa Civil e dos bancos oficiais vão tomar, no curto prazo, uma medida saneadora.

            O pequeno agricultor almeja quebrar o círculo vicioso para o qual se viu compelido. Endividado, perdeu sua capacidade de pagamento e, assim, não pode voltar a operar com os bancos e obter capital de giro, o que por sua vez o impede de plantar e, com os dividendos da safra, arcar com os compromissos financeiros.

            Em meio a tal circuito de desencontros, torna-se imperioso que o Governo Federal atue imediatamente em várias frentes. Primeiro, impeça a execução de leilões de propriedade, compromisso já assumido pelo Presidente da República. Segundo, examine a conveniência de sustar as proibições quanto a novos empréstimos ou rolagem de dívidas para os produtores inscritos no Cadastro Informativo de Créditos Não Quitados do Setor Público - Cadin. Terceiro, em paralelo, promova a renegociação dos débitos e os necessários ajustes nas linhas de financiamento.

            Porém, Srª Presidente, no médio e longo prazo, é indispensável que as autoridades estejam atentas ao princípio que me propus aqui a enunciar. O crédito precisa ser visto como um item técnico indispensável, um componente central da atividade agrícola, como um insumo básico.

            Naturalizar e introjetar essa percepção nos livrará - e aos milhões de famílias que labutam no campo - da desconfortável necessidade de buscar soluções para o mesmo problema inesgotável, ano após ano.

(A Presidência faz soar a campainha.)

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Muito obrigado, Srª Presidente. Tenho certeza de que este problema aflige todo o campo do Estado que V. Exª representa com muita dignidade e competência aqui, no Senado Federal.

            O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senador Roberto.

            A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador Roberto Cavalcanti, peço desculpas, mas é que é automática a campainha, não tem jeito, tentei.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Senador Botelho.

            O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Presidente, preciso fazer um aparte curtinho, só para fazer uma observação no pronunciamento dele. Concordo, realmente, que é importante a gente prestigiar o serviço técnico. Fiquei, outro dia, muito preocupado, numa audiência que houve, porque vi que a proporção de técnicos por grupos familiares, por propriedades agrícolas no Brasil, é de um para 360 famílias, mais ou menos. Não dá para fazer o trabalho dessa forma. Então, V. Exª puxa um assunto importante, porque, realmente, temos que investir na educação técnica para melhorar a produção agrícola em todos os níveis no Brasil. Parabéns pelo discurso de V. Exª!

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Muito obrigado, Senador Botelho, nosso dileto amigo e competente Senador nesta Casa.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/11/2009 - Página 58254