Discurso durante a 230ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca de matéria publicada no jornal O Estado de S.Paulo, de 25 de novembro último, intitulada "Brasil pode perder R$3,6 trilhões por causa do aquecimento global efeitos climáticos". Registro de outras matérias relacionadas aos efeitos do aquecimento global.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Comentários acerca de matéria publicada no jornal O Estado de S.Paulo, de 25 de novembro último, intitulada "Brasil pode perder R$3,6 trilhões por causa do aquecimento global efeitos climáticos". Registro de outras matérias relacionadas aos efeitos do aquecimento global.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2009 - Página 64441
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INFORMAÇÃO, INAUGURAÇÃO, EXPOSIÇÃO, HOMENAGEM POSTUMA, FOTOGRAFO, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, FIXAÇÃO, BRASIL, ASSUNTO, REGIÃO AMAZONICA.
  • IMPORTANCIA, ESTUDO, PROBLEMA, ALTERAÇÃO, CLIMA, AUMENTO, TEMPERATURA, MUNDO, CRITICA, NEGLIGENCIA, GOVERNANTE, AMEAÇA, REGIÃO AMAZONICA, LEITURA, TRECHO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, NOTICIARIO, SECA, REGIÃO, MUNICIPIO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ANTERIORIDADE, VITIMA, INUNDAÇÃO, COMPROVAÇÃO, EQUILIBRIO ECOLOGICO.
  • PREVISÃO, PERDA, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), DADOS, ESTUDO, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ), UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), REFERENCIA, SITUAÇÃO, REGIÃO, BRASIL, CONCLAMAÇÃO, URGENCIA, PROVIDENCIA, ALTERAÇÃO, MODELO, DESENVOLVIMENTO, REDUÇÃO, EMISSÃO, GAS CARBONICO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Mão Santa. Ao seu lado, temos uma figura que prima pela coerência, pelo respeito à coisa pública e pelo respeito ao Parlamento, que é, precisamente, o Senador Jarbas Vasconcelos.

            Mas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Amazônia é o mais que perfeito retrato do portento, a um tempo de espetacular beleza, incomparável no mundo; e de riquezas fantásticas de uma biodiversidade única na face da Terra.

            A Amazônia - e saúdo a presença no recinto do meu colega de Bancada do Amazonas, Deputado Átila Lins - é encanto e é cantada aqui e no mundo todo, em prosa e verso, em pintura e na fotografia, tal como apareceu na capa do Caderno 2 de O Estado de S.Paulo, com uma visão da Amazônia de Gautherot, de Marcel Gautherot, o francês que, há 70 anos, desembarcou na região e agora é homenageado em São Paulo. É de autoria dele a exposição de 60 imagens de sua câmera mágica, ora inaugurada em São Paulo, no Instituto Moreira Salles, no Bairro de Higienópolis.

            Gautherot mostra encantos de uma região encantada, ele que, mais tarde, a pedido de Niemeyer, viria a ser o fotógrafo oficial da construção de Brasília.

            Que sua exposição - homenagem póstuma a quem soube olhar a natureza com olhos de comprazer - possa inspirar os governantes de hoje na busca de medidas objetivas, sem a politiquice com que elas costumam ser expostas.

            Os fatos, Srªs e Srs. Senadores, constituem o reverso das imagens de encanto de que a Amazônia até aqui é pródiga.

            Os fatos, como a exposição de maravilhas, não podem ser ocultados. Afinal, é preciso salvar a Amazônia.

            Para muitos, que se dedicam a estudar os problemas do aquecimento global, os dirigentes do País preferem lançar farpas a encarar os fatos, precisamente como ocorre nesta fase que antecede a realização da Conferência de Copenhague sobre o aquecimento global.

            O reverso, Srªs e Srs. Senadores, aparece sem o verde da formidável floresta e sem o caudal impressionante dos rios que correm entre árvores, em cujas margens vive uma população de ribeirinhos que mereceria ser ouvida para opinar acerca da realidade amazônica, que poucos conhecem e sobre a qual muitos falam.

            O reverso mostra, sim, uma visão diferente daquela dos cartões postais ou exposições. Mostra a realidade iminente, a realidade sobranceira, que ameaça acontecer muito breve; que já está em via de efetivação imediata. É a ameaça independente que aparece também em capa de jornal, mas não em Caderno B. Está na primeira página, com título feito com a seriedade que o tema reclama. “Mudança climática: seca na Amazônia sinaliza prejuízos”.

            A foto que ilustra a capa do jornal O Estado de S.Paulo mostra os efeitos climáticos da região do Careiro da Várzea, Município do centro amazonense, numa área com 95% tipicamente de várzeas e cujo acesso só é possível em barcos que saem diariamente de Manaus ou nas conhecidas lanchas rápidas com ponto de embarque no porto do Ceasa, na capital do meu Estado.

            No Careiro - e eu poderia citar Manaquiri, Manacapuru, etc -, o cenário é preocupante. Os barcos já não conseguem se locomover, a não ser puxados por cavalos, em pacata andadura sobre o leito seco do rio, onde, antes, a água era abundante.

            Pelo telefone, a jornalista Tereza Cidade informou-me, de Manaus, que, no Careiro, cerca de 300 famílias estão sem água potável. Não parece inacreditável?! As populações que ali vivem são obrigadas a boas caminhadas em busca de água. Igual situação registra-se - eu repito - no Manaquiri.

            A vazante, garantem os estudiosos, resulta do fenômeno do aquecimento global. Não deveria haver “sêca”. E eu falo aqui, Senador João Pedro, “sêca" com acento circunflexo, o que não existe mais. Mas eu quero dar a entonação, com som de acento circunflexo no “e”.

            Não deveria haver “sêca" ou estiagem, mas, sim, o que, como já mencionei, as populações locais chamam de “séca". É uma palavra que não existe no dicionário, mas é “séca" com acento agudo no “e”.

            Até como contribuição aos etimólogos e bem a propósito do tema, creio que caberia, nesta oportunidade, estabelecer uma diferenciação entre “sêca", ou seja, com som de acento circunflexo no “e”, e “séca", com o som de acento agudo no “e”.

            Ensina o Aurélio:

            Seca (ê) [de secar]

1.     Falta de chuvas; estiagem [ou]

2.     Período em que a ausência ou carência de chuvas acarreta graves problemas sociais e econômicos.

            “Sêca", pois, é fenômeno climático causado pela insuficiência de chuvas numa determinada região e por um período de tempo muito longo. É o que ocorre, por exemplo, no Nordeste, no Sudeste, no Centro-Oeste e no Sul.

            Já “séca", com o “e” aberto, não é propriamente estiagem pela ausência de chuvas. “Séca" é fenômeno mais comum no Norte, na Amazônia, e significa vazante das águas dos rios. Os rios ficam sujeitos, assim, à “séca", com acento agudo no “e”.

            A ser aceito o verbete como neologismo, que é a palavra ou expressão que uma língua pode assumir pelo seu continuado uso popular, nós teríamos, no Aurélio ou no Houaiss:

Séca.

(é). [ De secar.]

S. f.

1. Vazante ou redução do volume de águas de um rio.

2. Período em que a diminuição da água de um rio acarreta graves problemas sociais e econômicos.

            Neste momento, na área em que se situa o Município do Careiro da Várzea, ocorre exatamente o fenômeno da seca.

            Seria o caso de indagar: por que ocorre vazante em um rio? Muito provavelmente, um técnico atribuiria o fenômeno ao aquecimento global. Às vezes, o homem agride lá longe, e quem sofre é outra região, distante geograficamente.

            Não faz muito, no meio do ano, o Amazonas sofreu com as cheias dos seus rios. O rio Negro, que banha Manaus e alguns outros Municípios, enfrentou à época a sua maior enchente dos últimos 100 anos, atingindo mais de 29,77 metros. Muitas das ruas do centro de Manaus ficaram alagadas.

            Chega a ser inacreditável, mas nessa recente cheia alguns Municípios ficaram inteiramente sob as águas, entre eles Careiro da Várzea, que agora sofre com a vazante.

            Queira Deus que o fenômeno seja passageiro.

            Queira Deus!

            Pedir a proteção divina é sempre bom. Principalmente quando o Governo prefere insistir em se manter de ouvidos moucos aos apelos do mundo diante da grande catástrofe que o aquecimento global promete diante da insensatez humana.

            Leio, para que conste dos Anais (com outras matérias) a manchete do tema da capa do Estadão: “(...) Brasil pode perder R$3,6 trilhões por causa do aquecimento global.”

            Leio de novo uma palavra dessa manchete: trilhões.

            O que isso significa? Significa que cada brasileiro perderá de R$534,00 a R$1.600,00 de sua renda anual por causa da mudança climática.

            Os dados são de estudo realizado por um grupo denominado Economia das Mudanças do Clima no Brasil. O grupo reuniu instituições insuspeitas, respeitadas, como a USP, a UFRJ, a Unicamp e a Embrapa.

            Destaco do relatório final desse levantamento esta frase: “A perda para o País significa uma redução do PIB em 2,3% em 2050”.

            Um dos técnicos e também um dos coordenadores, que atuaram nesse estudo, o professor Sérgio Margulis, cedido pelo Banco Mundial, observa a propósito dessa cifra - e abro aspas para o Dr. Margulis: “As pessoas podem achar que não é muito. No entanto, basta comparar esta cifra com a recente crise financeira mundial, estimada em 2% do PIB global”.

            Srªs e Srs. Senadores, temo não ser possível esperar muito do atual Governo no tocante a providências acautelatórias sobre o clima. Resta esperar que o próximo volte atenções especiais para esse que é um grande problema.

            Comecei falando de Amazônia e mencionei uma bem produzida exposição em que se exibe “ uma viagem pela grande floresta, guiada pelo olhar de Gautherot”.

            Volto a falar sobre a Amazônia.

            Queria Deus - uma vez mais busco a proteção divina - que, no amanhã, no Brasil de nossos netos, a visão da Amazônia e seu hoje fantástico potencial não fiquem resumidos a imagens fotográficas, como mera e saudosa lembrança de um tempo em que não se agiu como seria necessário.

            Do desastre previsto pelo estudo a que faço referência, as regiões mais afetadas no Brasil serão a Amazônia e o Nordeste.

            Viro o enfoque para o tema com que iniciei este pronunciamento.

            Na Amazônia, o chamado preço da inércia atual vai significar a perda de 40% da cobertura florestal na parte sul/sudeste, que se transformaria em savana. Ali, a temperatura registraria uma elevação de até 8 graus centígrados, tornando praticamente impossível a vida humana.

            Hoje, todos nos extasiamos em qualquer voo de carreira por quilômetros sobre a Floresta Maior. É visão que nos remete a uma profunda reflexão sobre essa incalculável riqueza em terras brasileiras: o rio Amazonas, serpenteando as árvores, em dimensão que chega a tocar o sentimento de qualquer um de nós!

            Pois bem, também essa imagem pode estar comprometida. É o preço que iremos pagar pela mesma inércia de hoje: o rio Amazonas sofrerá uma redução de 30% em sua vazão, entre 2071 e 2100.

            Falar em 2100 não significa imaginar que “ainda vai demorar muito para a hora do grande desastre” - 2100 está a um pulo, na dimensão universal das grandezas.

            Se esse é o panorama para a Amazônia, para o Nordeste o que se prevê é ainda mais catastrófico, a começar pelo rio São Francisco, cuja vazão será reduzida não em 30% como no Amazonas, mas em 70%. Não é quase toda a vazão possível, e até impossível?

            E mais: as chuvas, no mesmo Nordeste, vão ter uma redução de 2 a 2,5mm/dia até o mesmo ano de 2100. E, por causa desse déficit hídrico, a capacidade de pastoreio sofrerá queda de 25%.

            No Sudeste, Deputado Átila Lins, haverá sérios prejuízos na Baixada Santista, enquanto a vazão do rio Paraná será reduzida à metade, até 2100. Haverá drástica redução das áreas hoje cultivadas com soja, café, milho, algodão, feijão e arroz. Apenas o plantio de cana será beneficiado, com aumento de 139 pontos percentuais.

            No Sul, os prejuízos podem ser menores. Como haverá menos geadas, as culturas tradicionais dos três Estados da Região serão beneficiadas. Mesmo assim, a Região sofrerá com os impactos do aquecimento global, a começar pela elevação da temperatura.

            Por último, em toda a orla costeira haverá aumento do nível do mar, colocando em risco um patrimônio estimado em R$207 bilhões.

            Mostra ainda o estudo que o abastecimento de água e energia elétrica será seriamente afetado. Em todas as bacias, a tendência é de diminuição das vazões, afetando o abastecimento de água e a geração de energia elétrica.

            Antes de encerrar, repito palavras de advertência do coordenador-geral dos estudos a que faço referência, o técnico Jacques Marcovitch, professor da Universidade de São Paulo, a USP.

            Aspas para o professor Marcovitch: “Não podemos esperar para começar a agir. Não há mais outra alternativa”.

           Para esse estudioso, o Brasil só tem a ganhar com a opção por um desenvolvimento de baixo carbono atrelado a metas de redução de emissões. E diz mais o professor Marcovitch: “A inação será muito mais onerosa no futuro”.

            Em anexos, incluo diversas matérias de jornais de hoje, para que passem a integrar este pronunciamento e, também, os Anais do Senado da República, Sr. Presidente.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.

 

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            DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

            (Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e o §2º, do Regimento Interno.)

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            Matérias referidas:

             “Seca atípica isola 14 mil famílias em cinco cidades do Amazonas”; “ O custo das mudanças climáticas”;

             “Fontes renováveis são necessárias”;

            “Abastecimento de água e energia seria afetado”; “Recife já vê efeitos de alta no nível do mar”;

            “ Praias paulistas ficam cada vez mais estreitas”;

            “Não podemos esperar para começar a agir”.


            Modelo1 5/8/246:36



Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2009 - Página 64441