Discurso durante a 237ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Leitura de carta enviada à Deputada Iris de Araújo, Presidenta Nacional do PMDB, sobre as denúncias de corrupção apuradas na Operação Pandora, da Polícia Federal, envolvendo vários representantes do Partido.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). POLITICA NACIONAL.:
  • Leitura de carta enviada à Deputada Iris de Araújo, Presidenta Nacional do PMDB, sobre as denúncias de corrupção apuradas na Operação Pandora, da Polícia Federal, envolvendo vários representantes do Partido.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2009 - Página 64890
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF). POLITICA NACIONAL.
Indexação
  • GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, RESULTADO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INCLUSÃO, ACUSAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), LEITURA, CARTA, AUTORIA, ORADOR, DESTINATARIO, PRESIDENTE, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, DETALHAMENTO, DENUNCIA, COBRANÇA, RESPOSTA, OPINIÃO PUBLICA.
  • FRUSTRAÇÃO, IMPUNIDADE, CLASSE POLITICA, BRASIL, OMISSÃO, PODERES CONSTITUCIONAIS, EXPECTATIVA, ORADOR, MOBILIZAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL.
  • DETALHAMENTO, RETROCESSÃO, LEGISLATIVO, AUMENTO, REFORMA POLITICA, FRUSTRAÇÃO, OMISSÃO, MOVIMENTO ESTUDANTIL, MOVIMENTO TRABALHISTA, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES (CUT).
  • APOIO, PROPOSTA, ELEIÇÃO, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, EXCLUSIVIDADE, DEBATE, REFORMA POLITICA.
  • ANALISE, POLITICA NACIONAL, CORRUPÇÃO, PODER, GOVERNO, ALTERAÇÃO, DIRETRIZ, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • GRAVIDADE, IMPOSSIBILIDADE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EXERCICIO, FUNÇÃO FISCALIZADORA, EFEITO, IMPUNIDADE, CONFIANÇA, ELEITOR, REPUDIO, CANDIDATO, CORRUPÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Meu querido amigo Presidente Mão Santa, cumpro um dever de consciência ao vir aqui a esta tribuna. Eu sou um político que, várias vezes, tem debatido os problemas do meu partido e, várias vezes, tenho vindo a esta tribuna para debater os problemas do meu partido. Mas hoje é uma questão diferente. Nós todos estamos vivendo um impacto tremendo com os fatos do Governo de Brasília. Não é novidade, isso é quase corriqueiro no Brasil, mas é impressionante como esses fatos chocaram a sociedade e como eles vieram num momento difícil, e, por conta disso, é que venho a esta tribuna, para me referir a um fato que diz respeito ao meu partido.

            São várias referências feitas a dirigentes e a parlamentares do meu partido, feitas pelos envolvidos. E eu acho que nós devemos... Aliás, justiça seja feita, a imprensa já está publicando que eles pensam em fazer isso, mas nós devemos tomar providência no que diz respeito às pessoas do meu partido que estão sendo referidas.

            Entreguei a seguinte carta à Presidente, Deputada Íris de Araújo, protocolada com o devido recibo, na sede da Presidência Nacional do PMDB.

Exmª Srª Deputada Íris de Araújo

M.D. Presidente da Executiva Nacional do PMDB, em exercício.

Querida companheira Íris,

O Brasil está estarrecido, desde o final da semana passada, com as imagens exibindo políticos, governantes e parlamentares embolsando maços de dinheiro vivo em cenas de corrupção explícita no âmbito da ‘Operação Caixa de Pandora’, da Polícia Federal, centrada nos gabinetes e nos homens mais influentes do Distrito Federal.

São imagens revoltantes, transmitidas pela TV para todo o País, que provocam indignação na população honesta e deixam todos nós, políticos, deprimidos com o despudor a que se pode chegar no trato do dinheiro público desviado por corruptos e por corruptores.

O constrangimento é geral, querida Presidente, suprapartidário. E atinge, desde ontem, o próprio PMDB, ferido com o envolvimento de nomes ilustres de seu comando nacional, com notícias que agora transbordam os limites do Distrito Federal e da paciente opinião pública brasileira.

Grandes jornais noticiam, hoje, que existiria um vídeo gravado pela Polícia Federal, em 17 de setembro passado, com autorização da Justiça, que envolveria figuras de destaque do PMDB, citados pelo pivô das denúncias de Brasília, o ex-policial e ex-Secretário Durval Barbosa e o empresário Alcir Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil.

Agora os termos, as conversas são absolutamente inquietantes:

- Arruda dá R$1 milhão por mês para o Filippelli - diz Barbosa, citando o Governador José Roberto Arruda, principal personagem denunciada, e o Deputado Tadeu Filippelli, atual Presidente do PMDB de Brasília. O dono do jornal corrige:

- São 800 pau (sic). R$500 mil para o Filippelli para fazer... vai R$100 mil para o Michel, R$100 mil para o Eduardo e R$ 100 mil para o Henrique Alves. São 800 paus.

Assim, numa única cena, acabam envolvidos os nomes do Presidente Nacional do PMDB, o ilustre Deputado Michel Temer, do ilustre Líder da bancada na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, e do Deputado fluminense Eduardo Cunha.

No mesmo dia, Presidente Íris, em outras circunstâncias e outros jornais, o Presidente Temer é citado numa denúncia de outra investida da Polícia Federal, a ‘Operação Castelo de Areia’, que investiga a evasão de divisas e lavagem de dinheiro da empreiteira Camargo Correa. Em 25 de março passado, a Polícia Federal apreendeu documentos, na casa em São Paulo de um alto executivo da empreiteira, Pietro Francisco Giavina Bianchi. Numa planilha de 54 folhas, que aponta a doação não contabilizada de R$178 milhões a mais de 200 políticos e vários partidos entre os anos de 1995 e 1998, aparece o nome do companheiro Temer, identificado com o nome de Michel ‘Themer’, com 22 cifras registradas com dólares, datas, taxas de câmbio e as conversões para o real. No total, ele seria beneficiário de R$410 mil de doações naquele período.

Como poderíamos esperar, e é importante salientar, o Presidente Temer nega com veemência a acusação, informando que teve uma única doação de R$50 mil da Camargo Correa, oficialmente contabilizada no Tribunal Regional Eleitoral paulista, na campanha de 2006. Portanto, absolutamente clara e legítima, diz o Presidente.

Temer e todos os companheiros do PMDB negam, enfaticamente, o envolvimento nessas operações escusas e anunciam processos na Justiça para contestar seus detratores.

Mas só isso não basta, Presidente Íris.

É preciso mais. Pela direção nacional, o PMDB precisa dar uma cabal satisfação à opinião pública brasileira, cada vez mais perplexa com o que ouve e vê em imagens e palavras eloquentes pelo conteúdo e despudoradas pelo que mostram.

O PMDB, na condição de maior partido brasileiro, hoje abriga as duas maiores bancadas no Congresso Nacional - 95 Deputados Federais e 19 Senadores. Temos nove Governadores e cinco Vice-Governadores. Temos 1.201 dos 5.564 Prefeitos do país, entre eles os Governantes de cinco Capitais. Temos 910 Vice-Prefeitos. E temos ainda 8.497 dos 51 mil Vereadores espalhados pelo país.

Todos eles e os 190 milhões de brasileiros, dos quais 130 milhões farão fila nas seções eleitorais de outubro de 2010, merecem uma pronta satisfação do comando nacional do PMDB sobre o que há de verdade ou não nestas acusações.

Não podemos conviver com suspeitas, insinuações, dúvidas, maledicências.

Precisamos separar o que é verdade e o que é mentira.

Precisamos distinguir entre os bons e os maus políticos, os homens públicos de bem e os homens publicamente envolvidos com o mal.

Precisamos exaltar a boa política e execrar a política que virou caso de polícia.

É o que espera o Brasil do PMDB.

Confio nas suas providências.

Um abraço,

[Passe bem.]

Pedro Simon.

            Confesso e é importante que eu chame a atenção para o fato de que os envolvidos, ou melhor, os citados do PMDB já estão noticiando que estão tomando providências. Mas não pode ficar nisso. Alguma coisa temos de começar a fazer.

            Estou sentindo que o que aconteceu em Brasília é uma espécie de gota d’água. Transbordou! Transbordou! A maneira como aconteceu, o envolvimento, o descaramento com que os fatos foram apresentados excedeu a tudo o que já havia acontecido.

            Infelizmente, tenho dito e repetido: não sou um otimista. Eu me sinto achatado por esses fatos. E tenho dito e repito: não espero, meu amigo Cristovam, deste Congresso quase nada. Perdoe-me, Senador Cristovam, mas falo com quase 60 anos de vida pública, com quase 80 anos de idade e vou fechar 32 anos só nesta Casa. Não tenho o direito de ter esperança; pelo que aconteceu, pelo que está acontecendo, não tenho o direito de ter esperança.

            Desta Casa não sai nada, do Senado não sai nada, da Câmara não sai nada, do Congresso não sai nada, do Presidente Lula não sai nada e do Supremo não sai nada!

            Se a sociedade não começar a se movimentar, se a sociedade não acordar, se a sociedade não entender sua responsabilidade de cobrar, de cobrar na nossa cara, de botar o dedo na nossa cara e de cobrar aquilo que ela tem direito de cobrar, nada vai acontecer. Nada!

            Reparem a lei da reforma política: falava-se tanto, e tanta coisa que ia ser feita, e nada foi feito. O Supremo teve a coragem de determinar que parlamentar que muda de partido, perde o mandato. O que a Câmara quer fazer? Trinta dias antes de cada eleição todo mundo pode mudar para onde quiser! A Câmara está legitimando isso.

            Esta Casa tentou, e votamos no Senado projeto nosso, apenas verbas públicas de campanha. A Câmara engavetou. O que a Câmara e o Senado votaram? Verbas de Internet podem ser gastas à vontade. Não precisa dar o nome de ninguém. É tudo conta secreta, e não precisa dar nenhuma explicação.

            Na lei que votamos aqui não teve uma vírgula em termos de moralização, em termos de seriedade. Não!

            Acho que a sociedade tem que acordar. Olhar, assistir, rir das piadas da televisão sobre os Congressistas, olhar os jornais de televisão e debochar do que acontece não vai mudar nada. Se não se tomar providências...

            Está aí: um milhão e trezentas mil assinaturas do povo, um projeto de lei de iniciativa popular, está lá na gaveta da Câmara. Nem andar andou, quanto mais ser discutido; nem satisfação se deu! Um milhão e trezentas mil assinaturas! Está lá, perdido, sem nenhuma providência.

            Eu me lembro - e não estava mais magoado do que estou hoje; eu não estava mais machucado do que estou hoje: naquela hora, naquela época, parecia que não havia muito o que fazer. Caiu a emenda das Diretas Já, um general substituindo outro general, o Congresso cercado, o MDB praticamente desmoralizado, uns indo para a guerrilha, outros, voto em branco. Ninguém esperava nada da classe política. E os jovens foram para rua, e os caras pintadas foram para a rua, e milhões foram para a rua. Começou, eu me lembro, lá em Porto Alegre, em Cachoeira, quando lançamos as Diretas, começou com alguns e sem praticamente nenhuma expectativa. E foi crescendo, e foi crescendo, e foi crescendo, e milhões foram para rua.

            O Tancredo se elegeu. “Mas o Tancredo não vai tomar posse! Imagine se o Tancredo vai tomar posse! Os generais não vão deixar, é uma piada, o Figueiredo vai fechar tudo!” Depois, o Tancredo ficou mal; o Sarney tomou posse. E o Sarney, o Figueiredo não queria em hipótese nenhuma. E veio a democracia. O povo conseguiu.

            Logo depois, o povo cassou o mandato de um político, de um Presidente da República, que incorreu em fatos infinitamente menos graves do que está acontecendo hoje.

            Acredito na ira popular e acho que deve ser feito isso. Não fazer quebra-quebra na Assembléia Legislativa, na Câmara Distrital. Não é isso o que estou propondo. O que estou propondo é o povo ir para a rua, é o povo cercar o Congresso, é o povo ir para os aeroportos, é o povo cobrar dos políticos, cobrar de mim e de todos nós, exigir, cobrar da Justiça.

            Vejam agora o Presidente do Supremo, numa atitude muito inteligente, muito competente, dizendo que está escandalizado com o que aconteceu em Brasília. E ele tem razão, mas ele não entende o que a impunidade tem a ver com isso. Se S. Exª não entende o que a impunidade tem que ver com o que está acontecendo em Brasília, S. Exª não é um profundo entendedor da realidade social.

            A impunidade é o mal de todos os males e, neste Brasil, o que está acontecendo hoje? Faça uma pesquisa para perguntar se alguém, no Brasil, acha que vai acontecer alguma coisa com o Sr. Arruda, com o Presidente da Assembleia, com alguém que está envolvido. Com os corruptores, nem se fala, porque este é o País em que ainda se discute o corrupto, mas o corruptor, nem se fala.

            Quando eu quis fazer uma CPI dos corruptores... No Governo Fernando Henrique e no Governo Itamar Franco, criamos a CPI dos Anões do Orçamento, que fiscalizou, que cassou quase 20 Parlamentares corruptos, com algumas injustiças. Mas, quando eu pedi a CPI dos corruptores, das empreiteiras, hã, hã... O Fernando Henrique e o Governo não toparam. De jeito nenhum toparam. Não deixaram sair, e não saiu.

            Eu acho que o momento é agora. Na realidade, tem uma situação muito estranha. Eu fui dirigente da UNE. Ó UNE, onde tu estás? Ó UNE da Praça do Flamengo! Ó jovens, onde vocês estão?

            Uma sede nova, a mais bonita sede de jovens do mundo, do projeto de Niemeyer. Que coisa bonita!

Muito bom! Meia entrada para cinema e para teatro é ótimo, muito bom! Discutir a liberdade sexual e não perseguir o homossexualismo é bom. Mas, ó Une, o que está acontecendo no Brasil? Ó CUT, é uma diretoria da Petrobras, é uma diretoria do Banco do Brasil, são cargos no Palácio do Planalto! Mudou todo o conceito da CUT! Ó CUT, onde tu estás? Meu Deus, isso é real!

            Teotônio Vilela, quando convocava a sociedade, a sociedade vinha, chegavam a Porto Alegre os estudantes, as entidades estudantis se reuniam, milhares atendiam ao chamamento. Agora, temos de ir diretamente à sociedade, não pode ser via CUT, porque essas entidades foram absorvidas pelo Governo Lula. Elas foram absorvidas pelo Governo Lula. Agora, ele está na Hungria? A cada dia, ele está em um país, e não sei qual foi o último. Foi a Hungria, Sr. Presidente?

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - A Ucrânia.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Foi a Ucrânia.

            Ele disse, primeiro, que não viu nada de mais nas imagens: “Não se pode, por imagens, consolidar o fato”. Depois, ele viu. Quero dizer que concordo com o Lula. Estou inclinado a concordar com o Lula, sinceramente. Só mesmo uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva para votar a reforma política! Com toda a sinceridade, sou obrigado a reconhecer: é preciso uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva. O que quer dizer exclusiva? Vamos eleger, no ano que vem, um novo Congresso, uma nova Câmara e um novo Senado. Elejam-se! Mas, paralelamente a isso, elege-se uma Assembleia Nacional Constituinte, composta por duzentos ou trezentos parlamentares, para fazer a nova Constituição na parte referente à política. E essa Assembleia só poderá fazer a Constituição e ir para casa. Não se pode ser candidato a mais nada, nem a Deputado, nem a coisa alguma, que é para não ter compromisso, para não votar já pensando no “quanto vou ganhar”, no “quanto vou receber”. É preciso alguém que tenha isenção. Era para ser assim quando fizemos isso no passado. Lutei, defendi essa tese, mas fomos derrotados.

            Agora, entendo. Nisso, fecho com o Lula, que está lá fora. Sei que é uma tese delicada. Os juristas, professor Cristovam, os intelectuais dizem que não há legitimidade numa Constituinte, que só pode haver Constituinte quando há rompimento de direito, mas a Constituinte tem de nascer do povo, que pega as malhas e as forças, que derruba um governo e que faz uma nova ordem social e política. Não sei, mas só uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva pode mudar isso.

            Agora, que o Dr. Lula, lá de fora, baixe o tom! Essas coisas aconteceram com Fernando Henrique e com Lula na Presidência. Os dois foram responsáveis. Quanto ao Sr. Waldomiro, era para se apurar, e ele não apurou. E não se deixou fazer a apuração dos anões do Orçamento. Estava no início do Governo dele, e, se ele tivesse apurado e demitido, mudava-se o Governo dele.

            É por isso que digo, Sr. Presidente: não foi o PT que corrompeu o Governo, foi o Governo que corrompeu o PT. O PT que chegou ao Governo era aquela turma que vinha da Oposição, que não tinha cargo, não tinha favor, não tinha vantagem, não tinha funções gratificadas, não tinha diretoria. Vinha da Oposição, de pé descalço, brigando e lutando! Ao chegar ao poder, Lula não tinha compromisso com ninguém. Chegou à Presidência e se acomodou na Presidência. Lula não teve a coragem de ser firme. As pessoas que cobravam dele, como o Frei Beto, dizendo “olha, Lula, você está errado, você não pode fazer isso”, foram postas para fora, foram caindo fora, para ficarem aquelas que fechavam o olho.

            Quanto aos caras que estão aí, o Lula foi o responsável. Não criou a fiscalização do mensalão. Quando lutamos pela CPI, ele não deixou que ela fosse criada. Entramos no Supremo, e ele e o Presidente do Senado não queriam que a CPI funcionasse. A CPI funcionou por que o Presidente do Supremo mandou criá-la.

            Está aí a CPI da Petrobras, e não podem abrir a boca; está aí a CPI das ONGs, e não podem abrir a boca. Essa é a realidade do Brasil.

            Está aí o Parlamentar, a gente cobra do Deputado, porque ele é isso, porque ele é aquilo, mas o Deputado tem de correr atrás, porque, se ele não votar a favor do Governo, sua emenda não é aceita. Se sua emenda não é aceita, a estrada, a escola, o hospital ou seja lá o que for, na terra dele, não é construído, e ele não é reeleito. De quem é que se tem de cobrar mais? Do Deputado que está com o Governo para a sua emenda ser aceita? Ou sua emenda que está no Orçamento poderia ser executada sem favor e sem caridade?

            Essa é a realidade. Tudo se faz em nome da governabilidade. Fernando Henrique precisava do PFL e do PMDB. Lula precisa do PMDB. E há um troca-troca, como agora. O que aconteceu com o Sr. Arruda? Em nome da governabilidade, para ter maioria na Assembleia, para ter maioria, compra-se o que for necessário. Triste realidade essa!

            Pois não, Senador, concedo-lhe o aparte.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Simon, aqui, assisto aos discursos, pensando em como o povo, como as pessoas, lá fora, estão assistindo a isso e em como elas vão assistir a isso mais tarde. Fico agarrado a uma frase sua, a frase que não vem de um jovem rebelde, mas que vem de um político moderado e maduro que diz que daqui nada vai sair. O pior é que a experiência desses últimos anos levam a isso, até porque temos aprovado muitos projetos aqui, mas projetos que não levam à transformação deste País de uma maneira urgente e necessária. Fica aí, então, a esperança dessa sua ideia, de que outros e o Presidente Lula têm falado, de uma Constituinte exclusiva. Vou mais longe: primeiro, ela tem de ser exclusiva, e os que fizerem parte dela não poderão ser candidatos em duas eleições, não só em uma, para dar um horizonte de tempo. Em segundo lugar, os Deputados eleitos para o Congresso - vai precisar haver um Congresso - deverão ter o mandato até que terminem os trabalhos da Constituinte, para, logo depois, submeterem-se à outra eleição, já sob as novas regras que a Constituinte fizer. Aí a gente poderá ter alguma esperança. Fora isso, entendo seu desânimo. Penso que esse desânimo é ainda maior lá fora do que aqui dentro. Aqui, a gente vai se iludindo com as coisas, com os projetos que aprova e que o povo não vê que a gente aprovou. Lá fora é ainda maior esse sentimento de inoperância e de ineficiência que estamos passando. Aí vem o mais grave: isso passa uma desconfiança sobre a própria democracia, não sobre o Congresso. O Congresso encarna a democracia. A ideia que se passa é a de que a democracia, em si, não é capaz de enfrentar os problemas que vivemos. E sabemos que, sem democracia, será muito pior, porque será inoperância secreta, será inoperância para alguns, não haverá a possibilidade nem deste debate que a gente está travando aqui. Entendo seu desânimo, mas fico assustado quando o senhor tem esse desânimo, como eu também. E a gente conversa aqui e troca essas ideias - e já falei sobre isso -, porque esse desânimo tende a se espalhar, quando sai de figuras com credibilidade. Fazemos isso ao invés de levarmos a esperança. Talvez, a gente precise sentar, descobrir quais as palavras que levariam este País a acordar, tentar levar às pessoas deste País as palavras que poderiam despertá-los. Deve haver alguma coisa que desperte o povo. Seu grito “onde estás UNE, onde estás CUT, onde estão todos?” é um grito correto, mas nós somos os líderes e devíamos saber onde eles estão, devíamos ir aonde eles estão, devíamos falar as palavras que os despertassem. Não vamos conseguir despertar mais a burocracia da UNE, nem a da CUT. A burocracia que domina essas corporações, não vamos despertar mais. Estão perdidas essas pessoas que fazem parte das corporações, mas as bases devem querer um palavra, devem ansiar por um discurso que diga: “ Vale a pena eu ir atrás dessa bandeira”. Está faltando a gente perceber isso. É claro que a culpa de tudo isso se dá por que morreu a ideia da democracia por que a realizamos; morreu a ideia do socialismo por que caiu o Muro de Berlim. Os desafios novos da ecologia e da educação ainda não se consolidaram no imaginário, na cabeça das pessoas deste País. Penso que temos de ir aonde eles estão e tentar acordar esses jovens e toda essa população que anseia, que deseja uma alternativa. E não estamos sabendo fazer o discurso correto. Empolgamo-nos quando manifestamos nossos descontentamentos. É o máximo, a meu ver, que a gente, hoje, pode fazer - e o senhor tem feito isso muito bem -, mas a gente precisa dar um jeito de descobrir como ir além disso e dar um recado. A ideia da Constituinte é uma dessas alternativas. Fico feliz de ouvi-lo, como sempre. O senhor trouxe essa ideia, e, talvez, devamos lutar por isso. Comecemos uma campanha outra vez: “Constituinte já!”. Talvez, seja esse o caminho para dar uma esperança.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço o aparte a V. Exª e reconheço que V. Exª tem me dado alento. Quando escuto V. Exª e assisto a V. Exª na televisão, é como se a gente encontrasse um oásis no meio do deserto para respirar, e até parece que estou vivendo uma verdadeira democracia.

            Acredito num movimento que está nascendo e do qual a imprensa está participando, em que as pessoas estão dando um passo adiante, dizendo: “O que é que posso fazer?”. Quando O Globo diz “nós e você já somos dois”, essa é uma grande verdade. Se começarmos a cobrar e começarmos a exigir a presença da sociedade, a coisa pode mudar. Não tenho dúvida disso. A sociedade tem condições de fazer isso. E o político, seja ele quem for, só tem medo da sociedade organizada; disso ele tem medo. Mas deve haver esse movimento. Deve haver esse movimento! Esse movimento deve crescer! Ele deve existir de tal maneira que faça com que muita gente não seja eleita. Isso parece impossível, mas muita gente não será eleita por que o povo não vai deixar. Isso é necessário. Isso é preciso.

            Quando O Globo iniciou esse movimento, fiquei muito feliz. Ontem, vi um jornalista, um homem de televisão, fazer a notícia e dizer: “O que fazer?”. E ele responde: “Se não punir, não resolve”. Ele se referia a Brasília. Acho que é por aí o caminho, acho que é por aí. Caso contrário, eu não sei... Fico olhando em roda de mim, e parece até que a gente está ironizando com a opinião pública. A gente se sente tão forte! O voto não é distrital, o voto é geral. Um Parlamentar, um Deputado vê a estrutura que tem: 20, 30, 40 funcionários, mais a verba de gabinete, mais não sei o quê, mais não sei o quê. Lá no Rio Grande do Sul, não estou conseguindo candidato a Deputado. Os caras não estão querendo, não aceitam. Um grande amigo meu é brilhante médico, um excepcional cardiologista de nível internacional. Ele construiu o Instituto de Cardiologia, o Hospital São Francisco. Eu lhe disse: “Tu tens de ser candidato”. Ele me perguntou: “Mas, Simon, para quê? Tenho condições de fazer alguma coisa positiva? Minha vida inteira, compus um nome, para, daqui a 24 horas, sem eu ter o direito de fazer nada, ele ser lançado ao ar?”. O que vou responder? E, se digo o mesmo a um jovem brilhante, que tem destaque na sociedade, que é o primeiro aluno da turma, que é excepcional, ele vai dizer: “Mas, Senador, não tenho um tostão. Como é que vou fazer campanha se não tenho absolutamente nada de nada, de nada, de nada?”.

            Então, é difícil. Estou achando, realmente, muita dificuldade. Se me perguntarem “o senhor aconselha alguém a entrar na política?”, direi: “Eu aconselho”. E repetem: “Mas o senhor aconselha isso do fundo do coração?” Direi: “Não. Do fundo do coração, não aconselho”. Tirei da cabeça dos meus filhos a ideia de serem políticos. Isso não foi fácil, mas não deixei que entrassem na política. Minha vida foi tão ingrata, a luta foi tão cruel, que meus filhos estão seguindo suas profissões. Não os deixei entrar na política. E, com toda a sinceridade, não me arrependo disso, porque, hoje, é preciso ser herói. É preciso ser herói.

            Quando vejo alguém como o senhor, Senador Cristovam, quando vejo o Mão Santa lutando, eu me emociono, porque o normal, hoje, não é isso, o normal não é isso. O normal é olhar o que está acontecendo em Brasília, o que - Deus me perdoe! -, daqui a pouco, alguém vai querer repetir na Câmara não sei de onde, na cidade não sei de onde, porque essas coisas estão se multiplicando. Lamentavelmente, estão se multiplicando. E não tenho dúvida em dizer que o motivo disso é um só, Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal: a impunidade. A razão de ser dessas coisas, Sr. Presidente do Supremo, é a impunidade, o que não há na Inglaterra, na França, na Itália, na China, no Japão, nos Estados Unidos, mas há no Brasil. É a impunidade! V. Exª diz, enche a boca para dizer que o Supremo nunca condenou ninguém, nenhum deputado, nenhum político. É verdade. E também é verdade que, se depender do Supremo, nós não mudaremos.

            Por isso, quando escrevo esta carta à Drª Iris, estou cumprindo minha parte. Como Presidente do PMDB do Rio Grande do Sul, eu me dirijo à Presidente do meu Partido, para fazermos o que devemos fazer. Penso que cada partido tem de cuidar do seu partido.

            Já se falou aqui, Senador Cristovam - e tenho um projeto de lei nesse sentido que não anda -, que, na convenção do partido, um grupo x de convencionais pode vetar a candidatura de deputado a qualquer cargo e dizer os motivos. E aí o candidato vai ter de responder, e a convenção pode vetar o candidato, se houver alguma imoralidade, alguma irresponsabilidade que manche a biografia do candidato. Mas, infelizmente, tudo isso é conversa.

            Confio que o Sr. Michel Temer e os Deputados do PMDB tenham condições de se explicar, de se justificar. Que eu possa vir a esta tribuna e dizer: mostraram que nada têm a ver. Mas é preciso fazer, coisa que parece que pouca gente quer fazer neste País.

            Obrigado, Sr. Presidente.


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