Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da participação de S.Exa. em cerimônia de homenagem, na cidade de Lorena (SP), no quinta Batalhão de Infantaria Leve (BIL), aos militares brasileiros que faleceram no Haiti durante o terremoto.

Autor
Romeu Tuma (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Registro da participação de S.Exa. em cerimônia de homenagem, na cidade de Lorena (SP), no quinta Batalhão de Infantaria Leve (BIL), aos militares brasileiros que faleceram no Haiti durante o terremoto.
Publicação
Publicação no DSF de 11/02/2010 - Página 2184
Assunto
Outros > HOMENAGEM. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • QUALIDADE, REPRESENTANTE, SENADO, REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, MUNICIPIO, LORENA (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), HOMENAGEM POSTUMA, SOLDADO, TENENTE, MORTE, MISSÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, VITIMA, ABALO SISMICO, LEITURA, DISCURSO, ORADOR, OPORTUNIDADE, SOLENIDADE, ELOGIO, SOLIDARIEDADE, ATUAÇÃO, FORÇAS ARMADAS, BRASIL, CONTRIBUIÇÃO, RECUPERAÇÃO, PAZ, ESTABILIDADE, DEMOCRACIA, SEGURANÇA PUBLICA, AUXILIO, CALAMIDADE PUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente. Não é só sua mão que é santa, seu coração também. Muito obrigado.

            Vim a esta tribuna porque houve um fato importantíssimo: uma representação que fiz do Senado Federal, em São Paulo, na cidade de Lorena. Hoje, o Senador Eduardo Azeredo leu a carta do General que foi sabatinado durante a apresentação para o Superior Tribunal Militar, juntamente com o Almirante. O Relator no caso do General Cerqueira foi nosso Senador Eduardo Azeredo, e, no do Almirante, tive a honra de ser o Relator e tive a cautela, Srªs e Srs. Senadores, de retirar trechos do depoimento de ambos, do General Cerqueira e do Almirante Álvaro, sobre o Haiti. O General Cerqueira, comandante das Forças terrestres, teria a responsabilidade de controlar e de enviar a parcela dos homens do Brasil no Minustah, em que havia sete mil homens comandados por um general brasileiro, sob ordens da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele, por três vezes, lá esteve, e a pergunta do Senador Camata ao Senador Suplicy deu uma explicação sobre o que representava o Brasil naquele país, o Haiti. O Almirante, como comandante das Forças marítimas, tinha a obrigação do transporte das Forças terrestres e de todos os subsídios necessários ao fortalecimento da presença da Força brasileira, que tão bem trabalhou naquele País num momento difícil, de início, quando se precisou empregar um pouco da Força por causa das quadrilhas que foram formadas assim que houve a suspensão da revolução e a queda e substituição do Governo. Então, foi preciso agir com um pouco de rigor, e, hoje, claramente, é a mão amiga do Brasil que é estendida àquelas pessoas do Haiti.

            Hoje, o Senador Arthur Virgílio, diplomata de carreira, nosso companheiro, fez um exposição sobre um pouco da história do Haiti, sobre sua luta pela independência e sobre todo o seu passado, como primeiro asilo de Bolívar, que tem sua vida ligada à história do continente americano.

            Sabemos que a liberdade é o multiplicador natural dos valores humanos e mede o grau de evolução social, política e econômica dos povos. Até mesmo a opressão mais cruel, aquela baseada no extermínio em massa, só consegue ocultá-la apenas momentaneamente. Isso aconteceu no Haiti.

            A tropa do Brasil lá estava quando um terremoto, um desses tristes acontecimentos meteorológicos, acabou matando dezessete brasileiros: soldados, a Drª Zilda Arns e um representante brasileiro da ONU. Todos, infelizmente, vieram a falecer no cumprimento de um serviço em benefício da população daquele país.

            Quanto à Drª Zilda, hoje, o Senador Flávio Arns teve a oportunidade, durante a discussão sobre direitos humanos, de se referir a toda a sua história e ao seu trabalho, principalmente à ocorrência da sua morte, em pleno serviço ao qual se dedicou por toda a vida, em benefício dos menos favorecidos, principalmente das crianças.

            Fui a Lorena. Primeiro, apresentei um voto de pesar às famílias dos soldados falecidos, inclusive de um tenente, que eram do 5º Batalhão de Infantaria Leve de Lorena. O General Ésper, Comandante do Sudeste, que hoje assume o lugar do General Cerqueira no comando das Forças terrestres, um velho amigo, um grande soldado, pediu que eu adiasse minha ida, porque ele fazia questão de estar presente nessa homenagem. E isso aconteceu nesta semana, na segunda-feira.

            O General Ésper e o General Araújo Lima, Comandante do Vale do Paraíba, receberam-me com muito respeito e com dignidade, e o Presidente Sarney fez questão de informar àquele Comando que eu lá estava representando o Senado, para homenagear as famílias dos soldados que deram sua vida em benefício daqueles que mais necessitavam da presença das Forças Armadas Brasileiras no Haiti.

            Fiz um pequeno pronunciamento nessa ocasião e peço licença para lê-lo o mais rapidamente possível, em razão do fato de que alguns aguardam para usar da palavra.

            Um terremoto, vidas perdidas, solidariedade são ingredientes de uma triste história que abalou o mundo no último dia 12. O terremoto de magnitude 7 na escala Richter arrasou o pequeno Haiti, país caribenho que luta como gigante para conseguir reconstruir sua democracia. Desde a vitoriosa independência da dominação francesa, conseguida pelos escravos em 1804, os haitianos protagonizam sucessivas calamidades físicas, sociais, políticas e econômicas.

            A tragédia do Haiti atravessou o oceano e enlutou famílias de militares brasileiros que abraçaram a nobre missão de ajudar a reconstruir aquele país, marcado pelas mazelas do homem e pelos caprichos da natureza. Em respeito às famílias enlutadas, abstenho-me de prosseguir na narração do que restou do Haiti e de seu povo: um cenário de dor, pós-apocalíptico, regado pelas lágrimas dos que choram seus mortos.

            As tropas brasileiras, quando desembarcaram em Porto Príncipe para comandar a missão de paz da ONU no Haiti, encontraram um país devastado por uma sangrenta rebelião. Os “boinas ou capacetes azuis”, como são chamadas as tropas de paz da ONU, eram sinônimo de esperança e de dias melhores. Nossos herois de farda ganharam a confiança dos haitianos, conquistaram sua simpatia e não mediram esforços para trazer a paz e a estabilidade sociopolítica ao Haiti. A atuação militar brasileira contou com o sentimento comum de todos esses homens idealistas, qual seja o espírito de solidariedade e de amor ao próximo que eles carregavam em seus corações. Não resta dúvida de que foi o amor ao próximo o sentimento que motivou nossos herois a deixar suas famílias para ajudar aquela nação caribenha. Nos testemunhos e depoimentos dos familiares, ficou demonstrado que nossos militares brasileiros queriam, mais do que cumprir uma missão, ajudar o povo haitiano a reconstruir seu país e a resgatar a tão sonhada cidadania e dignidade humana. Nesses quase seis anos de atuação, reverencio o Exército brasileiro, que cedeu homens valorosos de seus quadros para essa honrosa missão.

            Neste momento de dor, mas também de ternura, lembramos os militares que pertenciam ao 5º Batalhão de Infantaria Leve (5º BIL), sediado em Lorena. Lá, repeti os nomes que me foram fornecidos pelo Comando, e a tropa, em forma, Senador Renato Casagrande, respondia “presente” a cada nome lido. Tomo a liberdade de reler os nomes agora: 1º Tenente Bruno Ribeiro Mário, nascido em São Gabriel, no Rio Grande do Sul; 2º Sargento Davi Ramos de Lima, de Lorena, São Paulo; 2º Sargento Leonardo de Castro Carvalho, de São João Del Rei, Minas Gerais; 3º Sargento Rodrigo de Souza Lima, de Piraí, Rio de Janeiro; Cabo Douglas Pedrotti Neckel, de Lorena, São Paulo; Cabo Washington Luiz de Souza Seraphin, de Lorena, São Paulo; Soldado Thiago Anaya Detimermani, de Lorena, São Paulo; Soldado Antônio José Anacleto, de Lorena, São Paulo; Soldado Felipe Gonçalves Júlio, de Lorena, São Paulo; Soldado Rodrigo Augusto da Silva, de Lorena, São Paulo. Ao responder “presente”, toda a tropa, formada sob o comando do seu Coronel Comandante, na presença do General Ésper e do General Araújo Lima, demonstrava que, espiritualmente, eles continuavam presentes naquela hora de tristeza, de amargura e de reverência.

            Senador Renato Casagrande, V. Exª é um Senador presente em todos os fatos relevantes que acontecem no País, quer politicamente ou não. Eu gostaria de dizer uma coisa que é sublime, Senador Neuto de Conto e Senador do Amazonas: a maioria dos soldados - aprovamos, aqui, a autorização para aumento de efetivo - está se apresentando voluntariamente para incorporar a tropa. São os que lá já serviram e sabem dos riscos que correm em razão dos últimos acontecimentos e da recomposição de quadrilhas criminosas que estão agindo, as quais, hoje, as tropas brasileiras e as de outros países têm de combater, para levar tranquilidade àquele país e garantir a sobrevivência dos moradores do Haiti.

            O grito de guerra desse batalhão é interessante, porque é o próprio nome da sua atividade. Eles gritam: “Aeromóvel!”. E a resposta é: “Brasil!”.

            Agradeço a V. Exª pela oportunidade a agradeço ao General Ésper e ao General Araújo Lima pela amabilidade com que me receberam naquele quartel de Lorena.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/02/2010 - Página 2184