Discurso durante a 11ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do início hoje, da Campanha da Fraternidade de 2010, de iniciativa da CNBB, propondo o tema "Economia e Vida".

Autor
Flávio Arns (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Registro do início hoje, da Campanha da Fraternidade de 2010, de iniciativa da CNBB, propondo o tema "Economia e Vida".
Aparteantes
Paulo Paim, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 18/02/2010 - Página 3122
Assunto
Outros > RELIGIÃO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ABERTURA, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), RELEVANCIA, PROPOSIÇÃO, DEBATE, RELAÇÃO, ECONOMIA, VIDA, NECESSIDADE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, DEMONSTRAÇÃO, EFEITO, ALTERAÇÃO, CLIMA, ESPECIFICAÇÃO, INUNDAÇÃO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EXPECTATIVA, ORADOR, CONSCIENTIZAÇÃO, CIDADÃO, TRANSFORMAÇÃO, INICIATIVA, CONSERVAÇÃO, NATUREZA, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. FLÁVIO ARNS (PSDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Mas se V. Exª concordar com os dez, em função do número de pessoas, eu até abordaria dois assuntos, com a tolerância de V. Exª. Agradeço, de qualquer forma, pela amizade também.

            Gostaria de enfatizar que a CNBB inicia nesta quarta-feira, hoje, primeiro dia depois do Carnaval, primeiro dia da Quaresma, preparação para a Páscoa, a Campanha da Fraternidade de 2010, propondo-nos o tema “Economia e Vida”. O lema, baseado em Mateus, capítulo 6, versículo 24, lembra-nos: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”.

            Trata-se de um tema abrangente, que nos permitiria falar de sustentabilidade, de questões ambientais, de globalização... No entanto, parece-nos mais oportuno falar em postura diante da vida, em maior atenção às relações sociais, em fraternidade no mundo do trabalho, enfim, lembrar a todos que a sociedade hoje tem de recuperar os seus melhores valores e a humanidade que vem se perdendo - isso foi enfatizado, agora há pouco, pelo Senador Paulo Paim.

            “Economia e Vida”, diz a Campanha da Fraternidade! Sabemos que o Brasil tem potencial para promover a vida em abundância, como as  
Pastorais das igrejas desejam e por que se dedicam há tanto tempo. E seu trabalho nas comunidades tem dado exemplo - as Pastorais, os trabalhos comunitários, as iniciativas do povo - ao setor oficial do quanto é possível fazer quando todos se sentem comprometidos.

            A Campanha da Fraternidade deste ano propõe contribuir para “equacionar a relação entre economia, vida humana e conservação do meio ambiente vital”. Todos nós somos importantes para que este objetivo seja alcançado; todos, no Brasil todo. A receita continua sendo a mesma: precisamos que cada um faça a sua parte, onde quer que atue, com maior senso de solidariedade e disposição para agir com lealdade e justiça, contribuindo para um país de que todos possam se orgulhar.

            Temos assistido por todo o globo a tragédias ocasionadas pela questão climática. Estamos sofrendo por modificações que, durante séculos, provocamos no planeta. São deslizamentos, maremotos, temperaturas surpreendentes, enchentes, uma sucessão de desordens que têm feito sofrer uma grande parcela da população mundial. Lembro que, de 2009 para cá, o Brasil assistiu a uma série de catástrofes, a começar pelos deslizamentos em Santa Catarina, seguidos por uma sucessão de temporais que trouxeram mortes aos demais Estados do Sul - do Rio Grande do Sul ao Paraná, onde também tivemos problemas sérios em muitos Municípios.

         Cito aqui São José da Boa Vista, Pinhalão, Arapoti, Sengés e Tomazina, onde o grande rio que passa pelo Município teve suas margens ampliadas em quinze metros mais ou menos, engolindo ruas, árvores, casas, rodoviária, quer dizer, um caos de fato. Na área metropolitana de Curitiba, Campo Magro, Almirante Tamandaré. Foram afetados o Rio Grande do Sul, como os meios de comunicação divulgaram, São Paulo, Angra dos Reis, enfim, temporais causaram mortes nos Estados do Sul e também mantêm certas regiões de São Paulo imersas em cheias intermináveis. Foram quarenta dias de chuva, cinquenta dias de chuva seguidos em bairros de São Paulo, da capital e de cidades do interior, que também estão submersos em água.

            Ao mesmo tempo, porém, essas tragédias parecem tirar de muitos de nós o melhor: o senso de partilha que o brasileiro tem, a capacidade de se unir ao próximo na adversidade, na dificuldade, o cuidado em informar-se sobre um novo tipo de educação que temos de desenvolver - uma educação ambiental!

            Na esteira da Campanha da Fraternidade, que, como eu já disse, inicia-se hoje, quarta-feira de cinzas, na preparação para a Páscoa, somos convidados a pensar e a cuidar do próximo e do ambiente. A partir de 2010, podemos fazer do Brasil o país que almejamos. Basta-nos cultivar essa cultura de solidariedade e paz, a serviço da vida e sem exclusões, com a participação de todos. Podemos cultivar também um viver de mais retidão - como dito no lema da campanha: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” -, sem abrir precedentes para a ganância e a ambição desmedidas, que só têm levado o homem a marcar passos, perpetuando o estado de pobreza e de miséria em que grande parte da humanidade vive.

            A gente se pergunta: de que lado cada um de nós está? Quais são os nossos valores? Qual a contribuição de cada um de nós nesta Campanha da Fraternidade? A que senhor cada um vai servir em 2010? São questões que coloco para a reflexão de todos.

            Deixando esta mensagem, encerro com esperança de que haja uma mentalidade nova - a mentalidade nova que outras vezes já mencionei -, capaz de produzir o bem e o senso de justiça social em todos os brasileiros e, acima de tudo, capaz de produzir a vontade de envolver-se com a causa do outro pelo bem de toda uma comunidade.

            Se V. Exª permite, concedo um aparte ao Senador Romeu Tuma. Aliás, eu quero destacar também o trabalho constante do Senador Romeu Tuma a favor de solidariedade, de humanidade, do próximo. O movimento social sempre pôde contar, e certamente continuará contando, com V. Exª. A exemplo do que aconteceu com o Senador Paulo Paim, estamos felizes que esteja bem, já que V. Exª também esteve internado. A sua saúde é importante para o Brasil.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Muito obrigado.

            O SR. FLÁVIO ARNS (PSDB - PR) - Portanto, que bom que V. Exª está aqui presente!

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Eu só queria cumprimentar V. Exª por trazer a mensagem da CNBB para essa campanha de solidariedade. No ano passado, nós tivemos a campanha sobre a segurança. E V. Exª traz um ponto crucial hoje, que é a ganância, a ambição pelo dinheiro, que acarreta postura de corrupção quase incontrolável por pessoas que não se satisfazem nunca com o necessário para a sobrevivência, querem sempre mais, mais, mais. O dinheiro mal ganho, Senador - eu aprendi isso na vida -, é maldito, é gasto de forma incorreta, traz prejuízo para o indivíduo e para sua família, porque os filhos não têm comportamento de controle financeiro - o dinheiro chove, e eles não sabem nem onde guardar. A desgraça toma conta da família daquele que tem ambições desenfreadas e nenhum tipo de solidariedade com o próximo. Eu vi essas enchentes. Nos dias de recesso, eu não saí de São Paulo; fui para São Luís do Paraitinga, uma cidade de cultura que foi destruída, teve suas igrejas totalmente destruídas. Sabe quem tomava conta? O Exército e o padre, que ofereceu tudo o que sobrou da igreja para guardar alimentos que chegam, fruto da solidariedade de muitos...

(Interrupção do som)

           O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - ... de psicólogos, de esperança para aqueles que perderam tudo e toda a população se uniu para ajudar aqueles que mais sofreram. Então, V. Exª falou mais uma vez em solidariedade. É impressionante sentirmos de perto o que representa essa expressão que V. Exª trouxe hoje a essa tribuna. Cumprimento-o pelo brilhantismo. Vou atrás da nossa campanha de solidariedade.

            O SR. FLÁVIO ARNS (PSDB - PR) - Muito bem.

            Então, como mencionei, é uma iniciativa da CNBB, mas, em conjunto, neste ano, novamente - e isso é muito bom -, com as demais igrejas cristãs, abordando um tema do momento: Economia e Vida. Há sempre um tema e um lema, e o lema é “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro, justamente com o enfoque tão bem colocado por V. Exª.

            Concedo a palavra ao Senador Paulo Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Flávio Arns, eu, primeiramente, gostaria de cumprimentar V. Exª, que, todo ano, traz ao Plenário o debate a respeito das decisões tomadas pela CNBB - e V. Exª fala muito bem - e por todas as igrejas cristãs sobre a Campanha da Fraternidade. Neste ano, falando da economia e da responsabilidade social, quero dar um testemunho. Primeiramente, quero dizer que, ainda esta semana, a CNBB, nessa ótica, chamou o movimento social ligado aos aposentados para discutir como ela pode ajudar na questão do fim do fator e construir uma política de recuperação dos benefícios dos aposentados. Essa é a fala do Secretário-Geral da CNBB. Ele não entra neste ou naquele projeto, mas diz:Nós queremos ajudar na caminhada para terminar o fator e construir uma política de recuperação dos benefícios dos aposentados”.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Achei muito interessante. Ao mesmo tempo, Senador Flávio Arns, aproveito o aparte a V. Exª para me desculpar, porque eu fui convidado para estar em Santa Maria nesse dia 16, na Romaria da Terra, que é feita todos os anos e que este ano tinha também a questão dos quilombolas. Eu seria um dos painelistas, mas, devido a crise que passei, acabei não participando dessa iniciativa também da CNBB. Então, parabéns a V. Exª, parabéns pela Campanha da Fraternidade.

            O SR. FLÁVIO ARNS (PSDB - PR) - Agradeço a V. Exª.

            Para concluir, Sr. Presidente, quero dizer que esta reflexão do tema proposto pela CNBB e pelas demais igrejas cristãs, esse debate, discussão, reflexão, posicionamento vai acontecer durante todo o período da Quaresma, daqui até a Páscoa, debatendo-se isso em todas as igrejas do Brasil, nas comunidades, nos colégios. O objetivo aqui é, de fato, animar, entusiasmar as pessoas a pensarem sobre o tema, que não se encerra na Páscoa, pois, depois, o tema, o debate perdura durante todo o ano até o ano que vem, quando será proposto um novo tema do momento, do contexto atual, necessário para a reflexão.

            Então, nesse sentido, quero aqui parabenizar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, as demais igrejas cristãs, porque é uma grande oportunidade, com uma abrangência enorme, acontecendo em todos os Municípios do Brasil esse debate, reflexão e posicionamento sobre fraternidade, sobre a Campanha da Fraternidade, que tem como tema “Economia e Vida”, com o lema, como já foi dito, “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”, e, dentro do que o Senador Romeu Tuma colocou, com a palavra mais forte: solidariedade. Eu diria, se a gente pudesse traduzir isso em termos populares, que seria: vamos nos colocar na pele da outra pessoa para ver como é que eu gostaria de ser tratado se estivesse no lado de lá. A partir daí, se isso acontecer, metade dos problemas do Brasil, com certeza, já estariam resolvidos.

            Parabéns à CNBB. Foi mencionado o Secretário da CNBB, Dom Dimas, a quem também parabenizo, pois ele também esteve no Haiti por ocasião do terremoto, prestando apoio e a ajuda necessários.

            Obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/02/2010 - Página 3122