Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2010 - Página 3967
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ZILDA ARNS, MEDICO, LIDER, ENTIDADE, IGREJA CATOLICA, APOIO, CRIANÇA, IDOSO, SITUAÇÃO, POBREZA, ABANDONO, REPRESENTANTE, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MEMBROS, FORÇAS ARMADAS, VITIMA, ABALO SISMICO, HAITI, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, RECONSTRUÇÃO, PAIS.
  • ELOGIO, HISTORIA, INDEPENDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, COBRANÇA, AUMENTO, EMPENHO, PAIS, PRIMEIRO MUNDO, MELHORIA, SITUAÇÃO.
  • ELOGIO, VIDA PUBLICA, ZILDA ARNS, MEDICO, ESPECIFICAÇÃO, IMPORTANCIA, PARECER FAVORAVEL, CRIAÇÃO, CURSO SUPERIOR, MEDICINA, UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA (UFRR), QUALIDADE, MEMBROS, CONSELHO NACIONAL, SAUDE.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Mão Santa. Já que V. Exª citou que sou de Roraima, eu sou, portanto, do lugar do Brasil mais próximo do Haiti. Todos os voos que saíram daqui rumo ao Haiti pousaram em Boa Vista.

            Senador Mão Santa, eu quero cumprimentar aqui os parentes da Drª Zilda Arns, os parentes dos militares mortos e os militantes da Pastoral da Criança e fazer algumas reflexões.

            Primeiramente, é bom que tenhamos noção - e o Senador Pedro Simon disse isso aqui - porque às vezes perguntamos por que Deus tira deste mundo uma pessoa que está fazendo um trabalho tão bom numa hora que achamos não ser a adequada.

         A mesma coisa podemos perguntar em relação ao Haiti: por que um terremoto daquela proporção num País já tão sofrido? Será que não é um alerta para o mundo todo? Será que não é um modo de balançar a consciência de toda a humanidade em relação àquele País, que foi o primeiro País da América Latina a se declarar independente? E uma independência feita diferentemente dos outros Países da América Latina: não pela elite pensante, não pelas forças armadas, não por acordo outros, mas exatamente pela população escrava. Isso, Senador Romeu Tuma, Senador Mão Santa, em 1804. Passados mais de dois séculos, todos os grandes Países ignoraram a existência do Haiti.

         O Brasil está lá com uma missão de paz desde o dia 1º de junho de 2004 e hoje nós estamos aqui reverenciando a memória de 21 brasileiros e brasileiras, sendo 2 civis - a Drª Zilda Arns e o Sr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU, - e 19 militares, que estavam lá muito mais fazendo uma ação cívico-social do que mesmo qualquer outro tipo de atividade. E eram admirados pelos haitianos.

            Mas será que a grande preocupação da ONU com o Haiti, portanto de todos os Países, se resumia em ordem lá? E os seres humanos do Haiti? É aí que entra a figura da Drª Zilda. Ela foi lá preocupada com as pessoas, com os seres humanos. Foi levar justamente o amparo e os seus ensinamentos para melhorar a qualidade de vida daquelas pessoas. Então o Brasil deu a sua cota de sacrifício: 21 heróis faleceram em virtude daquele terremoto. Mas como disse aqui a Senadora, mais de 200 mil haitianos morreram e o País ficou praticamente destruído. Aí é de perguntar: por que exatamente no Haiti aconteceu uma tragédia dessa proporção? Será que Deus seria tão malvado a ponto de fazer isso com o País mais pobre? Por que não interpretamos esse fato exatamente como disse o Senador Pedro Simon, ou seja, como um grande sinal para os Países ricos se voltarem para o Haiti para ajudar a reconstruí-lo, para que os haitianos vivam com dignidade e tenham oportunidade como outras pessoas têm e não fiquem apenas próximos de Países ricos, muito ricos. Inclusive Países dos quais eles se libertaram. Que ajuda eles tiveram durante esses dois séculos de independência para construir a sua sociedade e ter condições de vida na área da saúde, da educação e da segurança?

            Então, acho que este é o momento, sim, de reverenciar, como é o objetivo desta sessão, os mortos brasileiros, como também os mortos haitianos; homenagear os heróis brasileiros que faleceram nesse terremoto; mas, acima de tudo, que o sacrifício deles não tenha sido em vão.

            Não continue, portanto, a mesma trajetória apenas de estarmos lá para garantir a segurança e a ordem, mas olharmos além da montanha. Olharmos cada cidadão e cidadã que lá estão. Como vivem no que tange à alimentação, ao vestuário, à educação, à oportunidade de serem gente? Esse é um grande recado que precisa ser dado ao mundo todo, principalmente ao mundo rico.

            Eu quero, também por ser de Roraima, fazer aqui um registro, Senador Flávio Arns, que talvez outro não pudesse fazer porque não sabe.

            Eu era membro do Conselho Universitário da Universidade Federal de Roraima em 1993, quando ousamos pensar em criar um curso de Medicina em Roraima. Na Amazônia, só havia um curso de Medicina no Pará e outro em Manaus, e a nossa universidade, que tinha poucos anos de existência, ousou pensar em criar um curso de Medicina.

            E aí, Senador Nery, juntamente com outro colega médico e com uma professora de Biologia, eu tive a honra de elaborar o plano de criação do curso de Medicina em Roraima.

            Fui encarregado de defender esse projeto junto ao Conselho Nacional de Saúde. Na época, eu já tinha sido Deputado Federal por duas vezes, e, talvez por isso, o Conselho Universitário tenha achado que eu teria mais facilidade de dialogar a respeito dessa questão.

            Na primeira reunião a que fui, Senador Flávio Arns, havia unanimidade do Conselho Nacional de Saúde contra a criação de curso de Medicina em qualquer lugar do país, e especialmente em Roraima, que era, à época, Território Federal - aliás, recentemente havia passado a Estado.

            Sabe qual foi a única voz que se levantou a favor do curso de Medicina? Justamente a da Drª Zilda Arns. Não sabia que ela era médica. Eu achava que ela fosse uma freira, uma religiosa. Ela se posicionou a favor da criação do curso de Medicina e usou justamente os argumentos sociais que estou usando agora com relação à população do Haiti. Aí, outro membro do Conselho pediu vista do processo.

            Na outra reunião, adquirimos mais um adepto: o Presidente do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde.

            Para encurtar a história, conseguimos aprovar o projeto no Conselho Nacional de Saúde.

            Hoje, o nosso curso de Medicina já formou 11 turmas. Desde 2007, ele é avaliado pelo MEC como o melhor curso de Medicina da Região Norte, passando até a Faculdade de Medicina do Pará, onde me formei.

            Então, vejam como uma pessoa iluminada como a Drª Zilda soube antever, há tanto tempo, o que poderia significar para Roraima, para a Região Norte, a criação do curso de Medicina, num lugar em que não tinha cabimento haver esse curso.

            Lembro-me de que o Presidente do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde disse: “Eu fui da oitava turma do curso de Medicina da Unicamp. Quando eu chegava ao campus, era só poeira; os equipamentos, precários. E, hoje, quem ousa discutir se o Curso de Medicina da Unicamp não é de excelência?”

            Então, nesse particular, como Senador por Roraima, quero prestar uma homenagem especial a todos aqueles brasileiros e brasileiras, quer militares, quer representantes da ONU, quer a Drª Zilda Arns, que, naquele dia - vamos dizer assim -, foram imolados em benefício de um Haiti melhor.

            Mas deixo aqui o registro claro de que não basta homenagear e reverenciar esses heróis mortos se os países ricos e todos os países não olharem para o Haiti, que está aí e precisa caminhar para realmente ser um país cada dia melhor e merecer, digamos, o aplauso de todos por ter tido o seu povo - podíamos dizer a plebe - a coragem de se tornar independente e declarar sua independência antes de todos os países da América Latina.

            Assim, quero fazer este apelo, ao homenagear os nossos heróis: olhemos esse sinal como um sinal de que todos nós precisamos, principalmente o povo da América Latina, ser solidários com o Haiti.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2010 - Página 3967