Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2010 - Página 3970
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ZILDA ARNS, MEDICO, LIDER, ENTIDADE, IGREJA CATOLICA, ASSISTENCIA, CRIANÇA, IDOSO, SITUAÇÃO, POBREZA, ABANDONO, REPRESENTANTE, BRASIL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MILITAR, FORÇAS ARMADAS, VITIMA, ABALO SISMICO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI.
  • ELOGIO, VIDA PUBLICA, ZILDA ARNS, MEDICO, RELEVANCIA, MOBILIZAÇÃO, VOLUNTARIO, PROMOÇÃO, CIDADANIA, BRASIL.
  • ELOGIO, BRAVURA, MILITAR, FORÇAS ARMADAS, MISSÃO, RECONSTRUÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, ESPECIFICAÇÃO, SOLDADO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), VITIMA, ABALO SISMICO.
  • REGISTRO, ENCAMINHAMENTO, CONGRESSO NACIONAL, PROJETO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO, FAMILIA, CONCESSÃO, BONUS, EDUCAÇÃO, DEPENDENTE, MILITAR, MORTE, VITIMA, ABALO SISMICO, COMENTARIO, APROVAÇÃO, PROPOSIÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, EXPECTATIVA, AGILIZAÇÃO, SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Mão Santa, colegas Senadoras, colegas Senadores, aos familiares das vítimas daquela tragédia, que choramos até hoje, no Haiti; ao povo haitiano, por intermédio do Embaixador aqui presente; aos familiares dos nossos civis e militares lá falecidos; à família da Drª Zilda, os nossos sentimentos.

            O que me traz aqui à tribuna é esta sensação de emoção. Ouvindo todas as manifestações aqui do meu querido mestre Senador Pedro Simon; do Senador Flávio Arns, querido amigo, caríssimo amigo do nosso convívio cotidiano na Comissão de Educação e aqui dentro deste plenário; do Senador Mozarildo, colega médico - colega da Drª Zilda, pois eu não sou médico - que testemunhou os atos que uma pessoa pode produzir durante a sua passagem aqui.

            E é exatamente isso que me traz aqui, porque essa mulher eu não tive o privilégio de conhecê-la pessoalmente, mas as pessoas públicas se tornam nossas íntimas mesmo que não tenhamos possibilidade do contato físico, da presença física. Então, a Drª Zilda era íntima para todos nós brasileiros, com os seus ensinamentos, sua fé e sua obra. Está muito explícito para quem ouve eventualmente os ensinamentos do grande livro, que é a Bíblia, que não há fé sem obra. E foi isso que nós, mais uma vez, consolidamos ao observamos a história dessa mulher. Uma história com muitas obras consolidadas por sua fé. Isso é algo que nos remete a uma enorme reflexão realmente.

            Observamos todos os dias, e muitas vezes nos flagramos pedindo milagres, mas onde está nossa obra? Eis que vemos uma pessoa executando verdadeiros milagres por sua fé através de sua obra. E é por esta razão que estamos aqui: reverenciarmos a pessoa por sua fé, por sua obra, por tudo o que fez, pelo que representou e por que continuará representando para todos nós brasileiros e para todos os povos que se utilizarão de sua experiência. A gente vai lendo e aprendendo, vai ouvindo e vai captando as muitas mensagens que Drª Zilda nos deixou. Lições de cidadania. Eu acompanhava Fátima Cleide que dizia da experiência da multimistura lá em seu Estado e me lembrei de uma coisa tão singela e tão simples que só alguém com muita credibilidade, Senador Paim, pode transformar em um movimento nacional, que é a reidratação oral. Nós estamos vivendo um calor fenomenal. Nós estamos vendo gente morrendo desidratada por aí. Mas, se nós resgatarmos uma de nossas mais singelas receitas que Drª Zilda nos ensinou, nós vamos continuar salvando vidas.

            E eu estou aproveitando, exatamente, este momento daqui da tribuna, dos veículos de comunicação desta Casa, do Senado, para lembrar àqueles que, eventualmente, se esqueceram de uma fórmula extremamente simples, Dr. Mão Santa - V. Exª como médico e querido colega Tuma -, que é o soro caseiro. Ela nos ensinou que, com um litro de água filtrada ou fervida, duas colheres de açúcar e uma colherinha de sal, a gente salva vidas.

            Agora, para dizer isso ao Brasil, tem que ter credibilidade, sob pena do ridículo. Foi exatamente a voz de credibilidade da Drª Zilda que ensinou àquelas mães das periferias, sem acesso a médico, sem acesso a uma orientação melhor, mas por intermédio daquele voluntariado que sai de casa e que cumpre as 24 horas mensais que essas vidas foram salvas. Dizia às mães: “Mãe, pegue um litro de água filtrada, ponha duas colheres de açúcar e uma pitadinha de sal e está feita a receita.” Pronto, vai evitar a diarreia e, em consequência, a desidratação e providenciará que, nos primeiros momentos, essa vida que está a perigo comece a se regenerar e a ser resgatada. Isso é obra. Isso é fé. E é esse ensinamento que estamos resgatando hoje no plenário desta Casa.

            Aliás, Presidente Mão Santa, se tem algo que posso sugerir aqui para resgatar e possibilitar que permaneça viva a memória da Drª Zilda é que o Senado, que publica tantas coisas maravilhosas - já falamos desta tribuna quantas publicações esta Casa já fez resgatando fatos históricos da vida brasileira -, se associe à Pastoral da Criança e à Pastoral do Idoso e faz chegar a esses rincões mais longínquos uma cartilha com meia dúzia de páginas, bem simples, bem didática oferecendo essas informações?

            No meu conceito, é a informação que transforma a vida e o cotidiano do cidadão. É a informação que faz a verdadeira cidadania.

            Pois Drª Zilda nos proporcionou e propôs ao Brasil informação. O que seria ela? Uma pessoa. Mas ela percebeu que, pela grande rede social que a Igreja montou, ela poderia mobilizar milhares de pessoas, 100 mil, 150 mil, 200 mil pessoas. Meu Deus! É uma mobilização que pode comparar-se à do Exército. Nós temos aqui nossos representantes das Forças Armadas, eu não sei se o Exército disponibilizaria 150 mil homens e mulheres, para serem mobilizados, espontaneamente, voluntariamente, de um momento para outro como essa rede social propôs. São esses os aprendizados. Essa causa que nos traz aqui.

            Lendo também um pouco do discurso que não foi pronunciado, o discurso que não foi lido e que agora está sendo lido, a cada pouco, nós encontramos realmente o quanto ela significou para todos nós brasileiros, sul-americanos, e tantos países que receberam a sua mensagem, obviamente e muito para os nossos irmãos haitianos. Aliás, todos nós, de alguma maneira, passamos a entender um pouco aquele povo, Embaixador, do seu povo, do nosso povo, temos tantas afinidades. E acho que não há haitiano, em qualquer local deste Planeta, que, de alguma maneira, não esteja chorando a perda de alguém, de um amigo, de um irmão, de um familiar.

            Lá na minha amada Porto Alegre, eis que em dezembro recebo como meu vizinho de porta, ali ao lado, uma pessoa que se transformou em grande amigo da minha família, que é Giles Sazine, com sua querida Tânia, servidor da Embaixada do México, que estão lá em Porto Alegre. Esse querido amigo foi impactado com a morte de seu amado avô. Ele contava as histórias do avô. Em nossas reuniões de domingo, quando ele aprendeu a fazer o nosso churrasco gaúcho, ele falava do avô como uma das suas referências da sua amada terra, o Haiti. E eis que, no dia seguinte ao trágico terremoto, o Giles chorava a perda do avô e de dezenas de amigos.

            Então, o Haiti é para nós, como bem comentaram aqui o Senador Mozarildo e o Senador Simon, referência de uma tragédia, mas também um desafio para todos nós como cidadãos e seres humanos, um desafio para o resgate, um resgate que pode vir dos ensinamentos que nós estamos trazendo aqui do discurso que não foi lido e que pode levar-nos a ações e reflexões. E o Senado pode contribuir com isso, com suas publicações. Eis aqui as campanhas.

            Ela citava, no seu discurso, campanhas, como a campanha dos sais de reidratação oral, a receitinha singela, simples, que cada voluntária, cada voluntário ensinou, está ensinando e está salvando vidas agora, neste verão fora do normal que o Brasil está vivendo. A campanha da certidão de nascimento! Tudo isso nasceu dessa gestão, de uma gestora, de alguém que realmente tinha uma percepção e uma capacidade social acima do normal, mas, acima de tudo, tinha credibilidade, Flávio, para produzir os efeitos que essas ações devem produzir junto aos órgãos judiciais e junto à sociedade também.

            E encontro aqui a campanha da certidão de nascimento - isso é cidadania. Cidadania! A campanha para promover o aleitamento materno - isso é desmistificar, é colocar de volta a mãe e o bebê juntos neste principal sentido da vida. A campanha de prevenção da tuberculose, pneumonia e hanseníase, as três doenças que continuam a afetar muitas crianças e adultos em nosso País. A campanha de saneamento, o acesso à água potável e ao tratamento de águas residuais. A campanha do teste HIV/Aids e sífilis, durante o pré-natal, que permite a redução de 25% para 1% do risco de transmissão para o bebê. A campanha para prevenção da morte súbita de bebês - dormir de barriga para cima é mais seguro. A campanha da prevenção do abuso infantil, que merece, inclusive, uma CPI aqui, nesta Casa, Senador Suplicy. A campanha 20 de novembro, dia de oração e de ação para todas as crianças.

            Enfim, eu dizia que o Senado pode oferecer uma contribuição para perenizar os ensinamentos de Drª Zilda, auxiliando e pegando junto à Pastoral da Criança e do Idoso uma pequena cartilha, bem simples, que possa chegar a todas as escolas do Brasil, especialmente as mais periféricas. Que aquela professora que muitas vezes não tem material para oferecer aos seus alunos possa oferecer-lhes esses ensinamentos, esses conhecimentos através dessa contribuição que o Congresso brasileiro pode fazer. Nós podemos fazer isso. E é uma maneira de fazer com que esse trabalho ganhe inclusive uma nova dimensão.

            Quero deixar à Mesa esta sugestão, Presidente Mão Santa, esta proposta para que nos somemos a este momento que estamos vivendo.

            Eu quero aproveitar para prestar minhas homenagens aos demais brasileiros que tombaram naquela tragédia, entre eles o Dr. Luiz Carlos da Costa, ilustre diplomata, que era o vice-representante do Secretário-Geral da ONU no Haiti, aos nossos bravos militares, entre os quais dois gaúchos, o 1º tenente Bruno Ribeiro Mário, nascido em São Gabriel, Rio Grande do Sul, que tinha apenas 26 anos e servia no 5º Batalhão de Infantaria, em Lorena, interior de São Paulo; e o cabo Douglas Pedrotti Neckel, de 23 anos, natural de Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Cito-os nominalmente por nossos vínculos de origem, porém os nossos sentimentos se estendem estreitamente a todos os familiares desses heróis que lá estavam para, com o seu trabalho, com a sua determinação, fazer do Haiti um país melhor.

            Sei que não existem palavras ou ações que confortem essas famílias, mas o mínimo que podemos fazer é assisti-las da melhor maneira possível. E com esse objetivo o Presidente Lula encaminhou ao Congresso Nacional o projeto que prevê o pagamento de indenização para cada família dos militares vitimados. Além disso, o texto prevê a concessão de bolsa educação para cada um dos seus dependentes, até os 24 anos de idade.

            Ainda no dia 3 de fevereiro, a Câmara aprovou, por unanimidade, a proposta, que agora tramita no Senado Federal e que, com certeza, terá também sua aprovação unânime e muito breve.

            Para concluir, socorro-me, mais uma vez, do encerramento do texto daquele discurso que não foi lido publicamente pela Drª Zilda, mas que está sendo lido por milhares e milhares de pessoas em todo o mundo, mostrando sempre sua preocupação especial com a infância, para dar a ela a expectativa de um futuro realmente mais sólido para o mundo.

         “Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los”.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2010 - Página 3970