Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.

Autor
Romeu Tuma (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2010 - Página 3975
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ZILDA ARNS, MEDICO, FUNDADOR, ENTIDADE, IGREJA CATOLICA, APOIO, CRIANÇA, IDOSO, SITUAÇÃO, POBREZA, ABANDONO, REPRESENTANTE, BRASIL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MILITAR, FORÇAS ARMADAS, VITIMA, ABALO SISMICO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI.
  • ELOGIO, VIDA PUBLICA, ZILDA ARNS, MEDICO, BRAVURA, MILITAR, FORÇAS ARMADAS, BRASIL, TRABALHO, RECONSTRUÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, LEITURA, TRECHO, HINO, SOLDADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Meu caro Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Membros da Mesa, meu caro amigo Flávio Arns, eu e V. Ex ª requeremos, junto com Mercadante, com Paulo Paim e com Magno Malta, cada um por si, uma sessão especial em homenagem a D. Zilda e a todos aqueles heróis que vieram a falecer no triste acontecimento no Haiti.

            A Mesa, inteligentemente - e V. Exª já se referiu a isso -, achou que não poderia fazer quatro ou cinco sessões especiais, ainda que o merecessem aqueles que estamos homenageando hoje. A decisão foi que V. Exª, por justeza do parentesco, mas também pela liderança em vários segmentos desta Casa, fosse o primeiro signatário do requerimento, e eu me senti honrado em seguir a sua assinatura. Ela traz, sem dúvida nenhuma, uma força muito grande ao Senado hoje, quando buscarmos homenagear aqueles que faleceram durante o trágico acontecimento no Haiti. Acontecida em país marcado pelas mazelas do homem e pelos caprichos da natureza, a tragédia enlutou o Brasil pelas perdas irreparáveis de homens e mulheres de luta, dignos de serem considerados como verdadeiros heróis brasileiros.

            Drª Zilda Arns: Mulher-Amor, Mulher-Coragem, Mulher-Abnegação, Mulher-Determinação, Mulher-Exemplo, Mulher-Devoção. São muitos os adjetivos que fizeram da pediatria sanitarista Zilda Arns uma das figuras mais admiráveis que já conheci. O trabalho incansável em defesa das crianças pobres é exemplo para todas as nossas gerações.

            Aí vem Mulher-Coragem, onde eu descrevo, Senador Pedro Simon - não lerei porque o tempo já passou, e outros fizeram, inclusive V. Exª - um pouco da história da Mulher-Coragem, da Mulher-Determinação, da Mulher-Devoção e, em cada capítulo, eu procurei descrever o porquê dessa rotulagem sadia em homenagem a essa brilhante mulher.

            Ela usou a sabedoria e a metodologia que Jesus utilizou para saciar a fome - aqui já foi falado - de mais de cinco mil homens, mulheres e crianças, segundo relato bíblico. Eles estavam há horas ouvindo os ensinamentos do Mestre. Era noite e tinham fome. Os discípulos, ainda aprendizes do amor-maior, disseram a Jesus que era melhor que todos voltassem para suas casas, mas Jesus ordenou: “Dá-lhes vós de comer”. Atordoados diante da multidão e da falta de alimento, viram o milagre da multiplicação dos pães e peixes. Grupos de 50 a 100 pessoas foram formados como pequenas comunidades e o alimento distribuído saciou a fome de todos.

            Essa era uma das narrativas bíblicas da qual mais gostava Zilda Arns. E ela costumava contá-la em todos os locais onde comparecia, inclusive na igreja em Porto Príncipe, onde, infelizmente, durante a sua palestra, veio a falecer. Isso mostra a importância da Pastoral da Criança e da solidariedade fraterna, o amor e o conhecimento sobre os cuidados com as grávidas e as crianças para que sejam saudáveis e felizes.

            Era uma Mulher-Exemplo: fazia um palestra a 15 religiosos de Cuba quando o País foi atingido pelo violento terremoto. O Dr. Luiz Carlos da Costa, brasileiro, 60 anos, também foi vitimado nessa triste ocorrência. Como representante da ONU, participou das missões de manutenção da paz no Kossovo e na Libéria, além de ter ocupado diferentes cargos no Departamento de Operações de Paz nas Nações Unidas.

            Aqui explico um pouco do que ele representava na ONU como cidadão brasileiro a serviço da paz mundial. Vou deixar e pedir que seja considerado como lido.

            Há 15 dias, Sr. Presidente, Senador Flávio Arns, Senador Marco Maciel, estive em Lorena, no 5º BIL, Batalhão de Infantaria Leve. Falei com o General Esper, no aeroporto de Congonhas, quando ele embarcava para Brasília e eu também. Eu disse que gostaria muito de homenagear àqueles que, a serviço da paz, faleceram com o uniforme glorioso do Brasil, e aqui homenageio a senhora esposa do Emílio, um grande amigo que tivemos nesta Casa, hoje General, pela promoção merecida.

            O General Esper, bom amigo, antigo soldado, a quem conheci ainda como Capitão, General-Comandante Sudeste, quando assumi o comando das forças terrestres aqui em Brasília, disse-me: “Tuma, é uma boa ideia, mas eu gostaria muito de estar presente. Segura um pouco para que eu possa dela participar”. Isto aconteceu. Esperei. O General-Comandante do Vale do Paraíba, General Araújo Lima me ligou, marcando a data e a hora para que, em nome do Senado, autorizado pelo Senador Sarney, Presidente desta Casa, pudesse ir lá levar uma mensagem em homenagem ao número maior de dez soldados que faleceram e que serviam no 5º BIS.

            Eu lá estive, Coronel, e pude, com muita dificuldade, Presidente Mão Santa, chegar ao fim do meu pronunciamento, porque a emoção era terrivelmente destruidora, embargando a voz daqueles que ousassem lembrar os heróis que serviram à Pátria pela paz. E eu vi, Senador Flávio Arns, uma coisa bonita. Tive a honra de vestir a farda do Exército Brasileiro, como vários de nossos companheiros aqui nesta Casa, e aprendi a canção do soldado. E eles cantaram, na minha presença, o Hino Nacional, o Hino do 5º BIS e o Hino ao Soldado. Tem uma estrofe tão bonita, Presidente:

A paz queremos com fervor

A guerra só nos causa dor.

Porém se a Pátria amada

For um dia ultrajada,

Lutaremos com fervor.

            Extraindo a frase dessa estrofe “a paz queremos com fervor”, nós podemos imaginar a dignidade e o trabalho do soldado brasileiro no Haiti. Por amor à paz, deram a sua vida, como D. Zilda também o fez, em benefício das crianças sofridas e de todo aquele povo que, miseravelmente, tem dificuldade até para comer.

            Desculpem a emoção, mas não podemos deixar passar em branco, porque as lágrimas, provavelmente, falam mais alto do que Cristo quis nos ensinar, hoje, com a Campanha da Solidariedade que o Senador Flávio Arns descreveu desta tribuna. Ninguém pode amar dois senhores: a economia e o povo e os mais pobres. Quem pensa no dinheiro sacrifica o povo que não tem do que viver.

            Há pouco, Coronel, quando a banda tocava o Hino Nacional, nós nos emocionamos, porque ela fala alto o que é o nosso País. Mas quando o corneteiro levantou a sua corneta e tocou o “Toque de Silêncio”, a emoção aflorou de uma vez. O toque do silêncio é como a alma que chora, é como as lágrimas que caem ao som que nós ouvimos, lembrando o sofrimento de Maria e de todos aqueles que, por solidariedade, repetem o sofrimento de Cristo na cruz.

            Eu não tive dúvida. Eu posso chorar! Sou homem, tive um trabalho difícil como policial, mas a dignidade humana, a solidariedade nos emociona sempre.

            Pois não, Senador Marco Maciel.

            Desculpem.

            O Sr. Marco Maciel (DEM - PE) - Nobre Senador Romeu Tuma, eu gostaria de interrompê-lo por alguns minutos para me associar à homenagem que V. Exª presta à Drª Zilda Arns, que foi o modelo de caridade humana, cuja vida dedicou integralmente a servir os mais carentes e morreu de forma - diríamos - heroica, posto que se encontrava numa missão de alto valor não somente humano, mas também de um alto significado social, por isso eu gostaria de dizer a V. Exª que o seu depoimento sobre Dona Zilda Arns de alguma forma expressa o sentimento da Casa com relação ao trabalho que ela realizou durante sua proba e densa vida. E nós sabemos que a morte, como disse certa feita Rui Barbosa, não divorcia, aproxima, e por isso nós estamos juntos aqui, hoje, para nos associarmos a esse reconhecimento que fazemos da obra de Zilda Arns e que o exemplo da Drª Zilda Arns sirva, quem sabe, para que nós continuemos na nossa caminhada no sentido de construirmos também uma Nação menos desigual, menos assimétrica, mais justa e, consequentemente, atenta às preocupações que foram reveladas ao longo da vida pela Drª Zilda Arns. Por isso, eu queria cumprimentá-lo pelas palavras que V. Exª profere neste instante e desejo acrescentar que elas refletem o sentimento não somente do Senado Federal, mas - eu diria aqui com toda a certeza - também da sociedade brasileira.

            O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP) - Grato, Senador Marco Maciel. Eu peço licença a V. Exª para incorporar ao meu discurso o aparte de V. Exª.

            Tenho a tristeza da saudade de Dona Zilda, pelo seu falecimento, e tenho a alegria de ter casado com uma Zilda, professora, que sempre teve um amor profundo às crianças. Então, essas senhoras que aqui estão, usando com orgulho e disposição a camisa da Pastoral da Criança, sem dúvida, terão de contar sempre com o apoio do Senado Federal e do Congresso Nacional.

         Coronel, peço licença para, em homenagem a todos que morreram a serviço da paz, bater continência sem cobertura.

            Muito obrigado. (Palmas.)

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR ROMEU TUMA.

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            O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2010 - Página 3975