Discurso durante a 15ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral Nacional e Internacional da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa; do Dr. Luiz Carlos Costa, representante da ONU; e dos militares brasileiros vitimados pelo terremoto no Haiti.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2010 - Página 3992
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ZILDA ARNS, MEDICO, LIDER, ENTIDADE, IGREJA CATOLICA, APOIO, CRIANÇA, IDOSO, SITUAÇÃO, POBREZA, ABANDONO, REPRESENTANTE, BRASIL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), MILITAR, FORÇAS ARMADAS, VITIMA, ABALO SISMICO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, CUMPRIMENTO, FAMILIA.
  • REGISTRO, PROXIMIDADE, ORADOR, ZILDA ARNS, MEDICO, ANTERIORIDADE, GESTÃO, SECRETARIA, AMBITO NACIONAL, ASSISTENCIA SOCIAL, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSINATURA, CONVENIO, APOIO, PROGRAMA, ENTIDADE, IGREJA CATOLICA.
  • ELOGIO, VIDA PUBLICA, SOLIDARIEDADE, ZILDA ARNS, MEDICO, ATUAÇÃO, VOLUNTARIO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO CARENTE, APRESENTAÇÃO, DADOS, PROJETO, ENTIDADE, IGREJA CATOLICA, RECONHECIMENTO, MUNDO, TRABALHO, INSTITUIÇÃO BENEFICENTE.
  • ELOGIO, ESFORÇO, MILITAR, FORÇAS ARMADAS, TRABALHO, RECONSTRUÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, senhores componentes da Mesa, em nome da Presidência, cumprimento todas as autoridades que compõem a Mesa e os familiares das vítimas do terremoto no Haiti; cumprimento todos os senhores e as senhoras que aqui estão.

            O mundo ainda está abalado pela tragédia que atingiu o Haiti, um dos países mais pobres do planeta.

            Todos ficamos consternados pelos números que nos chegam, todos eles de amplitude dantesca: pelo menos 200 mil pessoas morreram, 300 mil ficaram feridas, 4 mil amputadas. Um milhão de pessoas ficaram desabrigadas.

            Nesse palco de horror e dor, 21 brasileiros perderam a vida: 18 militares que integravam as forças de paz da ONU, além do diplomata Luiz Carlos da Costa, segundo homem da missão brasileira, e da médica e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns.

            Dentre as inúmeras sessões de homenagens que esta Casa realizou, certamente esta é a que mais gera comoção. Estamos aqui não apenas para reverenciar a memória desses heróis que perderam suas vidas, mas também porque todos estavam em missão humanitária naquele país.

            Foi com muita tristeza que recebemos a notícia sobre essa tragédia. Acompanhamos os acontecimentos com muita angústia. Um sentimento de dor se apoderou de todos nós. E é exatamente por tudo que sentimos naqueles momentos que ocupo esta tribuna para prestar minha homenagem a todos, inclusive os haitianos, que perderam suas vidas.

            Quero expressar meus sentimentos às vítimas falando especificamente sobre a médica sanitarista Zilda Arns. Acredito que ela não gostaria de ser enaltecida nesse contexto onde tantas outras pessoas morreram e de grande sofrimento para a pobre população do Haiti.

         Tive o prazer de conviver intensamente com a Drª Zilda quando ocupava a Secretaria Nacional de Assistência Social, no primeiro Governo de Fernando Henrique Cardoso.

            Ela estava implantando inúmeros programas naquela época, inclusive o do enriquecimento dos farelos, fundamental na formação da cadeia alimentar das crianças assistidas pelos programas da Pastoral da Criança.

            Enquanto fui Secretária, assinamos convênios anuais de repasse de recursos, que, sabíamos, iriam estender a capacidade de atuação de um dos mais extraordinários e eficazes programas de atendimento à infância brasileira.

            A sua aparência, sempre, transparecia um mundo interior de paz, de quem estava consciente de que tentava fazer o melhor no atendimento aos milhares de lares visitados pelas visitadoras da Pastoral da Criança, a quem eu faço uma homenagem neste momento. Mas o seu exemplo é incomum e merece uma reflexão de todos nós. Existem muitas carências no mundo. Carência de alimento, de condições sanitárias, de amor ao próximo e de pessoas voluntárias como Zilda Arns. Daí a crença de que ela deixa uma lacuna no lastro do trabalho social em nosso País.

            Sobre o voluntariado, certa vez ela disse: “Eu acho que o voluntariado está dentro da gente, o que falta é ser despertado. Qualquer pessoa tem vontade de ser voluntária, porque o voluntário dá, mas ganha muito mais quando trabalha com o espírito”.

            Essa alma voluntária acreditava que os problemas sociais vêm de duas áreas: uma é a família, que forma o tecido social humano. A outra área são as políticas públicas.

            Visionária, usou sua inteligência para obter resultados. Com isso, conseguiu maior poder de transformação na sociedade.

            Não falava mal de políticos e governos, não teorizava critérios de administração, nem procurava culpados para a miséria do mundo.

            Ela costumava ir a lugares mais carentes para ensinar às mães os conceitos básicos e de baixo custo para criar os filhos. Envolvia todos numa grande conspiração do bem.

            Na sua vida, tudo sempre foi ocupado pela solidariedade e doação. Com isso, criou clubes de mães para ensinar planejamento familiar, nutrição e formação de filhos.

            A vida de Zilda Arns, cujo magnífico trabalho à frente da Pastoral da Criança já salvou milhares de vidas, lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz.

            A famosa “farinha múltipla”, uma mistura milagrosa de farelos, combateu a desnutrição e salvou da morte tantas crianças brasileiras. Era com empolgação e originalidade que essa grande mulher marcava suas ações.

            Segundo a Pastoral da Criança, Zilda coordenava cerca de 155 mil voluntários, presentes em mais de 32 mil comunidades em bolsões de pobreza, em mais de 3,5 mil cidades brasileiras.

            A entidade informa que, atualmente, cerca de dois milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes são acompanhadas todos os meses em ações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania.

            Seu trabalho serviu de modelo para vários países. Além do trabalho, reconhecido mundialmente, com as crianças, Zilda também era fundadora e coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa, fundada em 2004. A entidade tem por objetivo capacitar líderes locais para ajudar os idosos a controlar as vacinas, evitar acidentes domésticos e identificar doenças físicas e emocionais.

            Quero, nesta oportunidade, também cumprimentar todos os militares que estão e estiveram na missão de paz no Haiti. A eles, a nossa homenagem e, principalmente, o nosso orgulho, como brasileiros, de ver a solidariedade e a generosidade do Exército Brasileiro ali representado. Cumprimento, também, a equipe de saúde do Hospital Albert Einstein, que acabou de chegar do Haiti e que pôde ali mostrar a solidariedade e a generosidade do povo brasileiro.

            Não tenho dúvida de que ficamos órfãos, além de mais pobres. Todos os brasileiros que perderam suas vidas no Haiti deixam ao mundo um legado de ação solidária, de trabalho, de decência e de caráter.

            Não tenho dúvida de que o povo brasileiro, hoje, é mais brasileiro, é mais verde e amarelo pelo que foi representado no Haiti por nossa gente.

            Muito obrigada. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2010 - Página 3992