Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o aumento da alíquota do trigo importado dos Estados Unidos, implementado pelo governo brasileiro, em função do subsídio à cultura do algodão pelos Estados Unidos, contestando a notícia de que haverá aumento do pãozinho, de massas e biscoitos tendo em vista a grande produção brasileira de trigo que abasteceria o mercado interno. (como Líder)

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMERCIO EXTERIOR. POLITICA AGRICOLA.:
  • Comentários sobre o aumento da alíquota do trigo importado dos Estados Unidos, implementado pelo governo brasileiro, em função do subsídio à cultura do algodão pelos Estados Unidos, contestando a notícia de que haverá aumento do pãozinho, de massas e biscoitos tendo em vista a grande produção brasileira de trigo que abasteceria o mercado interno. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2010 - Página 6688
Assunto
Outros > COMERCIO EXTERIOR. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • REGISTRO, DECISÃO, GOVERNO BRASILEIRO, AUMENTO, ALIQUOTA, IMPORTAÇÃO, TRIGO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REPRESALIA, PROTECIONISMO, ALGODÃO, QUEBRA, PRODUTOR, INDUSTRIA, BRASIL.
  • CRITICA, ANUNCIO, PREÇO, PÃO, MOTIVO, FALTA, COMERCIALIZAÇÃO, TRIGO, PRODUÇÃO, ESTADO DO PARANA (PR), DESRESPEITO, PREÇO MINIMO, EXISTENCIA, ESTOQUE.
  • CRITICA, MOINHO DE TRIGO, IMPORTAÇÃO, FARINHA DE TRIGO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, ISENÇÃO, IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO, TRATADO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), DENUNCIA, ORADOR, IRREGULARIDADE, FALTA, INCENTIVO, PRODUTOR, BRASIL, PERDA, AUTO SUFICIENCIA, TRIGO.
  • COBRANÇA, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), POLITICA NACIONAL, TRIGO, RECLAMAÇÃO, IRREGULARIDADE, CRITERIOS, QUALIDADE, DEFESA, CUMPRIMENTO, PREÇO MINIMO, INCENTIVO, CULTIVO, ESCOAMENTO, SAFRA, PRESERVAÇÃO, PREÇO, CONSUMIDOR.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, o noticiário de ontem foi bastante didático em relação àquilo que pode acontecer com o preço do pãozinho. Todos os jornais disseram o seguinte: “Agora, vai subir o preço do pão, porque o Brasil aumentou de 10% para 30% a alíquota para o trigo americano”.

            Há uma lista que foi feita - que tem vários produtos, cerca de 30 produtos -, aumentando a alíquota de 10% para 30% em alguns e de 10% para 40% em outros, em função daquilo que aconteceu com o algodão: o subsídio exagerado dos Estados Unidos ao algodão americano, quebrando praticamente a indústria de algodão brasileira e os produtores de algodão de todo País.

            Retaliação - essa é a palavra que foi utilizada pela imprensa. Mas eu não consigo entender essa notícia, Presidente. E não consigo entender o Governo brasileiro. Por que, ao aumentar a alíquota, o Governo diz que o pão vai subir, se só no Paraná tem 800 mil toneladas de trigo, da safra passada, que os produtores não conseguem sequer vender?

            O Governo estabeleceu para o trigo um preço mínimo de R$32,00. O trigo atravessou o ano passado a R$24,00 a saca - R$32,00 e os produtores vendendo a R$24,00. De repente, o trigo brasileiro ficou sem mercado. Só no Paraná - vou repetir - 800 mil toneladas de trigo não encontram comprador. As cooperativas não compram. Os moinhos não compram, porque os moinhos querem mesmo é trazer farinha pronta da Argentina, que tem incentivos determinados pelo Tratado do Mercosul - e até hoje não foram analisadas as irregularidades praticadas pelos argentinos, quando eles fazem uma mistura e essa mistura acaba sendo contemplada praticamente na alíquota zero na importação.

            O Brasil importa farinha, gerando emprego nos moinhos argentinos, gerando emprego nos campos argentinos, que aumentam a produção de trigo; e o Paraná, que é o grande produtor de trigo do Brasil, acaba sendo desestimulado e não planta trigo. Outros Estados, igualmente.

            E o Brasil, que já alcançou auto-suficiência em 1988... Eu lembro, eu era Secretário de Agricultura do Senador Alvaro Dias, que era Governador. E o Paraná foi o responsável pela produção de 60% do trigo nacional. E nós estabelecemos uma meta no Paraná: nós queremos ajudar o Brasil a alcançar a auto-suficiência. Em 1988, alcançamos a auto-suficiência. O Brasil consumia, naquela época, sete milhões de toneladas. Produzíamos 7,4 milhões de toneladas.

            Hoje o consumo brasileiro é de 900 mil toneladas por mês aproximadamente, o que vai dar em torno de 10 milhões de toneladas. O Brasil vai produzir seis. Tem que importar no mínimo quatro; o Brasil tem que importar no mínimo quatro. E aí eu não encontro explicação junto ao Governo brasileiro.

            O Ministro Stephanes tem feito um esforço para liberar os recursos para o AGF, para o PEP, para aqueles programas do Governo Federal que dinamizem a comercialização, agilizem o processo de comercialização e escoamento da safra. Mas há trigo. E não é só da safra de 2009, não. Há trigo da safra de 2008 nos armazéns que os produtores não conseguiram vender,

            Então, o Governo brasileiro não pode aceitar que o pão suba, que o macarrão suba, que os derivados de trigo subam, porque não há razão para isso. Os consumidores estão sendo avisados de que não há razão para o aumento dos preços desses produtos - e se fala em ameaça do índice da inflação - porque há trigo estocado e trigo brasileiro. E não venham com conversa fiada que o trigo brasileiro não tem qualidade para fazer massa para pão, para fazer macarrão, para outros derivados. A qualidade é a mesma praticamente do trigo argentino.

            Aliás, nós precisamos rever os critérios de qualificação. Temos que ir até a Argentina e ver quais os critérios deles, porque os critérios argentinos estabelecem que aquele trigo de lá tem qualidade para tudo e que o nosso não tem. Aí os moinhos vão e usam essa alíquota diferenciada, privilegiada, importam a farinha, jogam o emprego do Brasil para a Argentina, tanto na indústria quanto no campo, e nós vamos reduzindo a cada ano a área plantada de trigo.

            É preciso, primeiro, estabelecer preço de garantia, cumprir o preço de garantia, porque, se o Governo tivesse comprado o estoque que está nas mãos das cooperativas dos moinhos hoje e dos produtores, o Governo poderia agora, sim, praticar a política de regulação de preços. Como? Aumentando a alíquota para o trigo importado, mas colocando o trigo brasileiro ao mesmo preço que ele próprio estabeleceu como preço de garantia. Mas preço de garantia no Brasil virou uma coisa de ficção. Não existe. O Governo estabelece e não cumpre. Não cumpre o preço de garantia para o trigo, não cumpre o preço mínimo para o feijão, não cumpre o preço mínimo para o leite, Deputado Chico da Princesa, e aí o produtor fica entregue ao mercado e é um mercado que, muitas vezes, é direcionado não por brasileiros, mas por interesses de indústrias estrangeiras, como é o caso desse de que estou falando, do trigo, porque muitos moinhos tem capital estrangeiro e conseguem manter o mercado sob controle, nas suas mãos.

            Então é conversa mole essa conversa de que tem que subir o preço do pão, tem que subir o preço da farinha, tem que subir o preço do macarrão para o consumidor porque a alíquota do trigo está sendo aumentada. Não vai, de jeito nenhum, ser necessário aumentar, se o Governo brasileiro tirar o trigo que está nos armazéns, ou com os produtores, ou com as cooperativas, ou com os moinhos, e colocar esse trigo no mercado.

            Vou repetir: só no Paraná, são 800 mil toneladas. Se o consumo nacional de um mês é de 900 mil toneladas, isso significa que só o Paraná tem o consumo de um mês, praticamente, do Brasil, para abastecer.

            E nós vamos começar a plantar a nova safra agora, em abril, maio, junho. Em algumas regiões, começam em abril, em outras, em maio, outras, em junho. Então, depende do Governo Federal, neste momento, sinalizar aos produtores o seguinte: plantem que vocês vão ter a garantia do preço mínimo, para não ficar dependendo do trigo importado. Eu já falei mil vezes aqui que, enquanto o Governo não estabelecer uma política nacional de trigo, vai continuar dependendo do trigo importado; e depender do trigo importado é pagar o preço que aqueles que produzem vão querer receber. Aí, sim, vai ter que aumentar o preço do pão. Hoje, não; se o Governo não comprar esse trigo que está estocado, os brasileiros não vão plantar o trigo na nova safra.

            Aí, no futuro, pode o Governo brasileiro esquecer de colocar uma alíquota maior, porque vai ter que comprar trigo para abastecer o mercado brasileiro. Se hoje está precisando importar quatro, daqui a pouco vai ter que importar tudo, porque o produtor que está plantando hoje a um custo de produção de R$30,00 a saca para receber R$24,00 não vai querer pagar R$6,00 por saca para plantar. Então, que me desculpe o Governo brasileiro, mas o que está acontecendo é falta de visão de futuro, é falta de consciência de que o trigo é um alimento nobre, que está na cesta básica, que precisa ser produzido em nosso território, até para garantir a nossa soberania.

            Nós não podemos mais continuar dependentes do trigo importado, de produtos que são importados e o Brasil paga o preço por não produzi-los aqui dentro.

            Não vamos, neste momento, sacrificar os consumidores. Vamos ajudar os produtores, tirando o trigo que está no estoque, colocando-o no mercado e fazendo com que o mercado seja regulado; e o preço do pão, do macarrão, continue sem esse aumento que está sendo previsto pela imprensa e pelo próprio Governo.

            O Governo está errando, e eu estou alertando.


Modelo1 5/8/246:27



Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2010 - Página 6688