Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apresentação de proposta para que o Padre Roberto Landell de Moura tenha seu nome inscrito no livro dos Heróis da Pátria.

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • Apresentação de proposta para que o Padre Roberto Landell de Moura tenha seu nome inscrito no livro dos Heróis da Pátria.
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2010 - Página 6762
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, RESGATE, MEMORIA NACIONAL, INCLUSÃO, LIVRO, PERSONAGEM ILUSTRE, SACERDOTE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PIONEIRO, DESCOBERTA, RADIO, RADIODIFUSÃO, TELEFONIA, PREVISÃO, INVENÇÃO, ATIVIDADE, CIENTISTA, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO.
  • FRUSTRAÇÃO, AUSENCIA, RECONHECIMENTO, MUNDO, INICIATIVA, SACERDOTE, DESCOBERTA, RADIO, DIVULGAÇÃO, ATUAÇÃO, COMPROVAÇÃO, INJUSTIÇA.
  • ELOGIO, ENTIDADE, RADIOAMADOR, BRASIL, ESCOLHA, SACERDOTE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PATRONO.
  • AGRADECIMENTO, ENTIDADE, JORNALISTA, COLABORAÇÃO, DIVULGAÇÃO, HOMENAGEM, SOLICITAÇÃO, COMISSÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA, SENADO, PLANEJAMENTO, SEMANA, COMEMORAÇÃO, SESQUICENTENARIO, NASCIMENTO, SACERDOTE, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), CONCLAMAÇÃO, ASSOCIAÇÃO DE CLASSE, RADIODIFUSÃO, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI), FEDERAÇÃO, JORNALISMO, ENGAJAMENTO, JUSTIÇA, CAMPANHA, RECONHECIMENTO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente Mão Santa. Agradeço a sua gentileza.

            Venho à tribuna, colega Mão Santa, para buscar aqui, através desse pronunciamento, através de um projeto de lei que estou apresentando aqui nesta Casa, de uma proposta que estou apresentando aqui no Senado, tentar resgatar um nome que espero ver na galeria dos heróis brasileiros.

            Nós já estamos acostumados a ouvir que o Brasil é um grande “celeiro de craques” para o futebol. Isso porque se trata de uma paixão nacional, e há muita divulgação em torno de tudo o que acontece nesse esporte. É algo realmente espetacular. Imaginem agora, em 2010, com a Copa do Mundo, lá na África do Sul!

            Porém, o que não desperta o interesse da mídia e, portanto, não consegue chegar ao conhecimento do público, acaba muitas vezes caindo no esquecimento. É bom sempre lembrar que o Brasil produz também um grande número de cientistas, de inventores, do porte de Carlos Chagas, que descobriu o “mal de Chagas”; Osvaldo Cruz, por seu trabalho na saúde pública; Manuel Dias de Abreu, que inventou um método rápido e barato de radiografia do tórax - V. Exª, que é médico, Senador Mão Santa - e que leva seu nome e que se espalhou pelo mundo inteiro, a abreugrafia, levando-o a ser indicado inclusive ao Prêmio Nobel; Bartolomeu de Gusmão, o “Padre Voador”, inventor do balão movido a ar quente, 300 anos atrás; Santos Dumont, o Pai da Aviação, inventor do balão dirigível e do avião.

            A lista poderia estender-se muito mais; porém, nesta oportunidade hoje, eu quero mostrar o valor de um outro grande homem, de um gaúcho: o Padre Roberto Landell de Moura. Ele foi um dos pioneiros na descoberta do rádio, precursor da radiotelefonia, como ficou conhecido em sua época, descobridor das ondas landellianas, e abriu caminho para a própria televisão.

            Infelizmente, o Padre Landell de Moura não ficou tão conhecido como os outros que mencionei, mas quero aproveitar esta oportunidade para divulgar algumas descobertas ou invenções desse ilustre religioso gaúcho, desse ilustre brasileiro.

            Sr. Presidente Mão Santa, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, Roberto Landell de Moura nasceu em Porto Alegre, no dia 21 de janeiro de 1861, em plena época imperial. Aprendeu as primeiras letras com o pai e, depois, frequentou a Escola Pública do Professor Hilário Ribeiro e o Colégio do Professor Fernando Ferreira Gomes.

            Com 11 anos de idade, em 1872, entrou para o Colégio Jesuíta de Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, onde concluiu o Curso de Humanidades. E aí, então, para o Rio de Janeiro, com o intuito de estudar na Escola Politécnica.

            Depois, foi para Roma. Ingressou no Colégio Pio Americano, em 22 de março de 1878, estudando em seguida na Universidade Gregoriana, onde foi ordenado padre em 28 de outubro de 1886, já com 25 anos de idade.

            Nesse mesmo ano, retornou para o Rio de Janeiro, onde passou a residir no Seminário São José. Em algumas oportunidades, substituiu o coadjutor do capelão do Paço Imperial e manteve longas palestras de caráter científico com Dom Pedro II. Em fevereiro de 1887, foi nomeado capelão da Igreja do Bonfim e professor de História Universal no Seminário Episcopal de Porto Alegre.

            Sua vida de pastor de almas o levou a exercer o sacerdócio em diversas cidades e regiões brasileiras, mas o que vale destacar aqui não é apenas a sua vida religiosa e, sim, a sua atividade de cientista e de inventor.

            Uma das maiores criações do engenho humano para facilitar e agilizar as comunicações e a difusão dos conhecimentos, tendo revolucionado o envio e o recebimento de mensagens há pouco mais de um século, sem dúvida, foi a invenção do rádio. O rádio tem pouco mais de 100 anos, Senador Mão Santa. É muito recente, é muito novo o rádio e a comunicação. Essa descoberta foi atribuída ao físico italiano Guglielmo Marconi, que acabou por tornar-se conhecido como o Pai da Radiodifusão e inventor do primeiro transmissor de ondas eletromagnéticas em 1895.

            Entretanto, o Padre Landell de Moura já tinha apresentado publicamente seu transmissor de ondas em 1893, com um aparelho que cobria a distância de oito quilômetros - mais do que o dobro da distância alcançada pelo invento de Marconi, dois anos depois - e trazia em seu sistema duas novidades: o microfone eletromecânico e o alto-falante-telegráfico, que não existiam na experiência do italiano.

            Na realidade, o padre brasileiro foi mais longe: em 1893, muito antes da primeira experiência de Marconi, realizou em São Paulo, do alto da Avenida Paulista para o alto de Santana, as primeiras transmissões de telegrafia e telefonia sem fio, com aparelhos por ele inventados, cobrindo uma distância de aproximadamente oito quilômetros em linha reta entre o aparelho transmissor e o aparelho receptor. Outra experiência, dessa vez em 3 de junho de 1900, chegou a ser presenciada pelo Cônsul Britânico em São Paulo, Percy Charles Parmenter Lupton.

            Marconi só veio a iniciar suas experiências um ano depois, podendo-se comprovar, dessa forma, que ocorreu uma grande injustiça histórica com esse grande gaúcho.

            O Padre Landell, em decorrência dos êxitos incontestáveis, obteve, em 9 de março de 1901, a patente brasileira para um “aparelho destinado à transmissão phonética a distância, com ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”, patente que recebeu o número 3.279. E ele executava tudo sozinho. Era, ao mesmo tempo, o cientista, o engenheiro e o operário.

            Ciente do valor de suas descobertas, o Padre Landell foi para os Estados Unidos. Lá, acabou por conseguir, em 11 de outubro de 1904, a patente americana para o seu Transmissor de Ondas, precursor do rádio. E, em 22 de novembro de 1904, foram conferidas a ele as patentes para o Telefone sem Fio e para o Telégrafo sem Fio. Nessas patentes, ele já havia incorporado vários avanços técnicos, como a transmissão por ondas contínuas, por meio da luz (princípio da fibra ótica) e por ondas curtas; e a válvula de três eletrodos, elemento fundamental no desenvolvimento da radiodifusão, para o envio de mensagens.

            Ainda em 1904, o Padre Landell começou a projetar a transmissão de imagem, abrindo as possibilidades para a transmissão televisiva e para a transmissão de textos, teletipo, a distância.

            Apesar de vários jornais da época terem noticiado os feitos no final do século XIX e início do século XX, como O Estado de S. Paulo, Jornal do Commercio (RJ) e outros jornais internacionais, Landell de Moura jamais foi reconhecido oficialmente, sendo ignorado aqui, em seu próprio país.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero ressaltar aqui a importância das ondas landellianas para o desenvolvimento da radiodifusão. Conquanto aparentemente possam ser equiparadas às ondas hertzianas, são bem diferentes. As hertzianas são ondas mais ou menos amortecíveis e produzidas por movimentos vibratórios elétricos sem constância nem uniformidade, que vão decrescendo pouco a pouco. O Padre Landell conseguiu produzir ondas que não estão sujeitas a essas transformações e são produzidas por movimentos vibratórios elétricos, com movimentos vibratórios contínuos, que permanecem sempre iguais.

            Padre Landell de Moura retornou ao Brasil no final de 1904, mas não lhe deram a oportunidade de expor suas invenções ao governo brasileiro. Por isso, em 28 de fevereiro de 1905, a nossa Marinha de Guerra realizou experiências com a telegrafia por centelhamento no encouraçado Aquidabã com aparelhos importados da Telefunken, da Alemanha. Portanto, a Marinha é a pioneira, no País, no uso da radiotelegrafia permanente, mas, infelizmente, não se utilizou da tecnologia do brasileiro.

            Estou concluindo, Senador Mão Santa.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - V. Exª ainda tem nove minutos.

            O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS) - Agradeço imensamente sua gentileza, mas não vou utilizá-los. Preciso de apenas dois ou três minutos, porque quero complementar esta exposição que estou fazendo a respeito de um brasileiro, Senador Renan Calheiros, que quero, com a sua ajuda, com a ajuda desta Casa, colocar entre nossos heróis. Quem sabe possamos iniciar um grande movimento de resgate de sua imagem, a exemplo do que precisa ser feito com muitos outros brasileiros que a gente esqueceu com o passar dos anos, com o passar do tempo? Houve a inteligência de Santos Dumont, que, ainda hoje, sofre contestações exatamente por que o Brasil não soube reagir à altura à época, talvez porque ele estivesse em Paris fazendo suas invenções e nós estivéssemos aqui. Mas Landell de Moura fez suas invenções no Brasil, todas as suas experiências foram feitas aqui. E, de repente, vimos um engenheiro italiano, dois anos depois das experiências do padre brasileiro, ganhar mundialmente o título de Pai da Radiodifusão.

            Queremos ver Landell de Moura reconhecido. Em janeiro de 2011, vamos comemorar os 150 anos do nascimento de Landell de Moura. Ele teve apenas um reconhecimento em toda a sua história de vida e de trabalho: os radioamadores, uma classe que presta enormes serviços à sociedade em situações difíceis, escolheram-no para “Patrono dos Radioamadores Brasileiros”. Foi o único reconhecimento público que Landell de Moura recebeu.

            Mas a genialidade desse padre não estava restrita apenas à área das telecomunicações. Em 1907, com a designação de “O Perianto”, descreveu minuciosamente os efeitos eletro-luminescentes da aura humana e a possibilidade de registrá-los em filme fotográfico. Os russos, que hoje são reconhecidos como grandes especialistas nessa área, só vieram a tomar conhecimento dessa técnica em 1939. Somente a partir daí, tornaram-se mais comuns as denominadas “fotos Kirlian”.

            Landell de Moura estudou também os efeitos da acumulação de eletricidade no comportamento humano, deixando interessantes e minuciosos relatos nessa área, que denominou “Estenicidade”. Escreveu ainda orientações sobre a maneira de controlar esses efeitos.

            O Padre Roberto Landell de Moura é muito pouco conhecido se consideramos a importância de suas contribuições científicas para a humanidade. Além das ciências físicas, sua mente laboriosa e incansável transitava pela Química, pela Biologia, pela Psicologia, pela Parapsicologia e pela Medicina. Foi ele o primeiro cientista brasileiro a obter o registro internacional de invenção pioneira.

            Porém, ele não se descuidou de sua vocação religiosa. Em 17 de setembro de 1927, foi elevado pelo Vaticano a Monsenhor e, seis meses antes de sua morte, recebeu o posto de Arcebispo. Faleceu em 30 de junho de 1928.

            Sr. Presidente Mão Santa, seu microfone está ligado. Apenas quero alertá-lo e destacar essa invenção que também passou pelas mãos de Marconi e que hoje nos permite muitas facilidades na comunicação.

            O que faço aqui hoje é pedir justiça para esse grande gaúcho, para esse grande brasileiro, pela importância do seu legado científico, para torná-lo conhecido do grande público. Minha intenção, com este pronunciamento, é exatamente a de divulgar os feitos desse grande inventor brasileiro, prestando minha homenagem ao ilustre rio-grandense que foi o Padre Roberto Landell de Moura.

            Na condição de comunicador, de radialista e de jornalista, eu me senti privilegiado ao receber um grupo de profissionais que compõem uma publicação chamada Jornalistas & Cia. São eles os grandes colaboradores deste meu momento na tribuna do plenário do Senado. Inspirado por esses profissionais que nos permitem receber publicações e posicionamentos de jornalistas de todo o Brasil, pude, na condição de conterrâneo, oferecer ao Brasil, pelos veículos de comunicação do Senado, um pouco da história do Padre Landell de Moura.

            Nesse sentido, apresentei também o PLS nº 51, de 2010, que tem o objetivo de inscrever o nome do Padre Landell de Moura no Livro dos Heróis da Pátria. Creio que essa iniciativa é o início do resgate da memória desse ilustre brasileiro. Proponho ainda, Sr. Presidente Mão Santa, que o Senado Federal, pela nossa Comissão de Ciência e Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática, possa idealizar a realização, no próximo ano, de uma semana comemorativa do sesquicentenário de nascimento de Landell de Moura, que se dará no dia 21 de janeiro de 2011. Queremos conclamar as entidades que representam o setor de comunicação do Brasil, tais como Abert, ABI, Fenaj e muitas outras, a se engajarem nessa campanha de reconhecimento, ainda que tardio, dos feitos desse brasileiro que, sem dúvida, merece estar inscrito no livro dos nossos heróis, no Livro dos Heróis da Pátria.

            Era esse meu pronunciamento.

            Agradeço, mais uma vez, a toda a equipe da publicação Jornalistas & Cia, que me privilegiou com informações e com uma riquíssima contribuição, para que pudéssemos produzir este momento de homenagem à memória de um brasileiro que merece este espaço. Espero que o Senado, em 2011, aceite essa sugestão que deixo aqui como contribuição para esta Casa.

            Muito obrigado.


Modelo1 5/8/243:36



Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2010 - Página 6762