Discurso durante a 32ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo da Bahia pela forma como tem conduzido a política econômica no estado.

Autor
Antonio Carlos Júnior (DEM - Democratas/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DA BAHIA (BA), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Críticas ao Governo da Bahia pela forma como tem conduzido a política econômica no estado.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2010 - Página 7985
Assunto
Outros > ESTADO DA BAHIA (BA), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ECONOMIA, ESTADO DA BAHIA (BA), RESULTADO, FALTA, PLANEJAMENTO, INVESTIMENTO, INEFICACIA, INCOMPETENCIA, GESTÃO, GOVERNO ESTADUAL, COMENTARIO, ORADOR, INFERIORIDADE, ARRECADAÇÃO, COMPARAÇÃO, DADOS, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ESTADO DO MARANHÃO (MA), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ESTADO DE GOIAS (GO), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ESTADO DO PARANA (PR).
  • LEITURA, TRECHO, DECLARAÇÃO, DIRETOR, ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL, AUDITOR FISCAL, INFORMAÇÃO, INSUFICIENCIA, INVESTIMENTO PUBLICO, GOVERNO FEDERAL, OBRAS, INFRAESTRUTURA, INCAPACIDADE, ATRAÇÃO, INVESTIMENTO, SETOR PRIVADO, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, ESTADO DA BAHIA (BA).
  • REGISTRO, INFERIORIDADE, QUALIDADE, PORTO, MUNICIPIO, SALVADOR (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), AUSENCIA, INVESTIMENTO, PROGRAMA, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO, EXPECTATIVA, ORADOR, MELHORIA, SITUAÇÃO, GESTÃO, SUCESSÃO, GOVERNO ESTADUAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há governantes que sobem em palanques, são eleitos, mas depois não conseguem descer do palco. Fazem isso não apenas porque são populistas - aqueles que o são -, mas principalmente porque não sabem como passar do discurso à ação.

            Vejam o caso baiano.

            Há quase dois anos, aqui mesmo desta tribuna, eu chamava a atenção para a crise de competitividade que ameaçava o meu Estado por conta da omissão do governo estadual, que, à época, encontrava-se pelo meio de seu segundo ano de gestão.

            Houve mudanças desde então?

            Houve. Para pior.

            A Bahia perdeu ainda mais investimentos, inclusive federais, muitos deles por absoluta falta de prestígio do governador junto ao governo federal.

            Empresas deixaram o Estado, investimentos privados foram suspensos.

            Ampliação de plantas industriais e projetos inovadores, ambiciosos e bem sucedidos, que viriam revolucionar a economia baiana, como foram os projetos que criaram o pólo de Camaçari e que ensejaram a implantação de montadoras de veículos, na Bahia atual são coisas do passado.

            A realidade modificou-se muito, para pior. A economia baiana vive tempos sombrios. A arrecadação despenca ano a ano e agrava, ainda mais, a precária situação financeira do Estado.

            Vejam os senhores: pela primeira vez na história do ICMS no Brasil, a Bahia apresentou o pior índice nacional de crescimento da arrecadação.

            Em setembro do ano passado, o presidente do Instituto dos Auditores Fiscais da Bahia (IAF) já alertava o governo Jaques Wagner a respeito da queda na arrecadação estadual. Dizia o presidente: “Os repetidos equívocos na condução da política econômica e financeira do estado nos colocou na incômoda posição de pior estado brasileiro em índice proporcional de crescimento da arrecadação do ICMS”.

            Senhores, o quadro é mesmo preocupante e tende a se agravar, vez que não são percebidas medidas eficazes por parte do governo baiano.

            Segundo Sérgio Furquim, diretor de Assuntos Econômicos do IAF, nos últimos três anos a arrecadação de ICMS da Bahia teve o pior desempenho dentre os 27 Estados da Federação e foi a que mais perdeu participação nacional (share).

            A Bahia ocupa a última posição no ranking nacional, com um crescimento nominal 17,8%, bem abaixo do obtido por estados como Pernambuco (41,6%) e Maranhão (37,5%).

            O que terá causado tamanha desaceleração em um estado que, no passado recente, notabilizava-se por liderar rankings econômicos e financeiros?

            Falta de planejamento? Falta de investimentos? Gestão ineficaz? Incompetência? A resposta correta, talvez, seja: a soma de todos esses males.

            De fato. A falta de planejamento deste governo fez com que a Bahia patinasse, sem planos de desenvolvimento, e perdesse espaço junto, até mesmo, ao governo federal.

            Vejam este exemplo.

            Há dois anos, o Porto de Salvador é apontado pelo Centro de Estudos em Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro como o pior porto do País. Enquanto isso, como ressalta Furquim, os investimentos no Porto de Suape têm feito toda a diferença em favor do estado vizinho de Pernambuco.

            Falta planejamento e faltam também investimentos públicos.

            Em 2007 e 2008, a Bahia teve apenas R$902,7 milhões de investimentos do chamado PAC - já comentamos várias vezes sobre o PAC, que, realmente, é um book de projetos; na verdade, é uma jogada de marketing que não tem tido eficácia no País inteiro. No mesmo período, Pernambuco teve mais de R$11 bilhões no mesmo PAC.

            Fico me perguntando: por onde andava o Governador Jaques Wagner quando a destinação desses recursos foi decidida?

            É inadmissível um Estado, que tem o governador do mesmo partido do presidente da República e que se jacta do prestígio que teria junto a este presidente, da amizade pessoal, ser alijado na definição das grandes obras de infraestrutura!

            É inexplicável haver recursos para os portos de Suape, em Pernambuco, e Itaqui, no Maranhão, e não haver para o porto de Salvador!

            Senhores, se no governo baiano falta planejamento, investimentos públicos, prestígio político, faltam também políticas fiscais sólidas.

            A comparação da performance baiana com a de outros estados é devastadora para nós, baianos.

            Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, por exemplo, tiveram taxas de crescimento de arrecadação acima de 42% nos últimos quatro anos.

            Estados com arrecadação historicamente superior à da Bahia, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná também tiveram taxa de crescimento bem superiores às baianas.

            Vejam o caso do Paraná: em 2006, a arrecadação do Paraná era pouco mais de R$650 milhões superior à da Bahia; em 2009, essa diferença saltou para R$2,1 bilhões, valor superior ao dobro de todos os investimentos realizados pelo governo baiano em 2009.

            Se a Bahia um dia sonhou recuperar posições no ranking de arrecadação, hoje se vê prestes a ser ultrapassada por outros Estados: em 2006, a arrecadação de ICMS de Santa Catarina era 71,6% da arrecadação da Bahia. Em 2009, alcançou 84,08%. Mantida a tendência, nos próximos quatro anos Santa Catarina deverá ultrapassar a Bahia em arrecadação.

            Srs. Senadores, não bastasse na Bahia faltar planejamento, investimentos públicos e políticas fiscais sólidas, lá sobram gestores ineficazes, incompetentes, inexperientes, para dizer o mínimo.

            Por mais que alguns tentem poupar a atual administração estadual, não há como dissociá-la dos péssimos resultados alcançados pela economia baiana.

            Insisto que basta compararmos a Bahia com os outros Estados nordestinos. Qualquer um!

            No governo petista de Jaques Wagner, a arrecadação cresceu, nominalmente, 18%. No Piauí, também gerido pelo PT, Estado do Senador Mão Santa, a receita foi superior à baiana em 30 pontos percentuais. Pernambuco e Ceará, concorrentes tradicionais da Bahia na atração de investimentos, viram sua receita crescer 42% e 37%, respectivamente.

            São dados, Sr. Presidente, que comprovam a deficiência de gestão que tem caracterizado a administração estadual, deficiência esta que se reflete no péssimo desempenho da economia estadual e que deverá ser a marca, o legado do governo Jaques Wagner.

            Some-se a essa incompetência atávica, a inexperiência de grande parte da equipe que gere a pasta fazendária e iremos compreender as causas da queda de arrecadação.

            Vejam a conclusão a que chegou o Instituto dos Auditores Fiscais e com o qual concordo.

            A inexistência de investimentos públicos, em especial em obras de infraestrutura, e a incapacidade de atrair investimentos privados explicam o medíocre crescimento econômico e a vertiginosa queda de arrecadação experimentados pela Bahia.

            E mais! Vejam o que diz o diretor de assuntos econômicos do Instituto, sintetizando a realidade baiana:

Enquanto o governo baiano ainda se gaba de ser a locomotiva do Nordeste, investimentos (...) no Porto de Suape e no Porto de Itaqui chegam como verdadeiros “trens-bala”, impulsionando a economia e deslocando o vetor de desenvolvimento para aquela região.

            Sr. Presidente, essa é a atual realidade baiana.

            Contudo, a despeito do cenário desanimador e dos rumos que tomou a economia baiana no governo Jaques Wagner, tenho procurado me manter otimista.

            Durante este tempo, aqui desta tribuna, tenho procurado transmitir os planos, anseios e temores do empresariado estadual, do trabalhador que, apreensivo, vê oportunidades de emprego desaparecerem.

            Ainda estou otimista, Srs. Senadores, talvez porque as eleições se aproximam e, com elas, a oportunidade de o povo baiano recolocar a Bahia no caminho do desenvolvimento e com níveis de crescimento compatíveis com sua história ainda recente.

            A Bahia não merece o que tem passado e não tem culpa de o governador, tragado pela inexperiência e incompetência funcional de seu partido, correr o risco de ver encerrar-se seu mandato de forma melancólica, levando consigo o rótulo de não ter conseguido elevar, sequer manter, a Bahia no patamar de desenvolvimento econômico e social em que recebeu no início de sua gestão.

            Uma coisa é certa: as próximas administrações estaduais baianas terão muito trabalho para recuperar o tempo perdido.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2010 - Página 7985