Discurso durante a 43ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque para o discurso pronunciado pelo Governador José Serra, durante cerimônia de despedida do governo de São Paulo, no Palácio dos Bandeirantes, em 31 de março último. Registro de matéria do jornalista Leonardo Sousa, publicada no jornal Folha de S.Paulo, sobre o empresário petista Hamilton Lacerda, apontado pela Polícia Federal como o "homem da mala de dinheiro que seria usado na compra de dossiê contra políticos". (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO ESTADUAL. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Destaque para o discurso pronunciado pelo Governador José Serra, durante cerimônia de despedida do governo de São Paulo, no Palácio dos Bandeirantes, em 31 de março último. Registro de matéria do jornalista Leonardo Sousa, publicada no jornal Folha de S.Paulo, sobre o empresário petista Hamilton Lacerda, apontado pela Polícia Federal como o "homem da mala de dinheiro que seria usado na compra de dossiê contra políticos". (como Líder)
Aparteantes
Marisa Serrano.
Publicação
Publicação no DSF de 06/04/2010 - Página 11797
Assunto
Outros > ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO ESTADUAL. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • LEITURA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, PRONUNCIAMENTO, DESPEDIDA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), MOTIVO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, BALANÇO, ATUAÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, IMPORTANCIA, ETICA, HONRA, PLANEJAMENTO, MERECIMENTO, DEMOCRACIA, EXERCICIO, POLITICA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, POLICIA FEDERAL, EMPRESARIO, RESPONSAVEL, DINHEIRO, DESTINAÇÃO, AQUISIÇÃO, DOCUMENTO, DENUNCIA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Fórmula I vale quando se chega ao pódio, não é, Senador Mão Santa?

            Srs. Senadores, Srªs Senadoras, creio que se justifica registrar, nos Anais do Senado, o grande discurso pronunciado pelo Governador paulista José Serra no Palácio dos Bandeirantes, quando da sua despedida, depois de um mandato profícuo, realizador, que deixou uma marca como gestão eficiente no Governo de São Paulo. Faço questão de destacar algumas palavras-chaves desse pronunciamento: caráter, honra, história, planejamento, mérito, democracia. São palavras essenciais de um discurso que mostra o perfil de quem pode ser Presidente da República.

            Eu vou ler apenas alguns trechos desse pronunciamento e peço a V. Exª, Senador Mão Santa, que autorize o registro na íntegra deste discurso nos Anais do Senado Federal.

            Serra, a respeito de caráter disse:

Os governos, como as pessoas, têm de ter caráter. Caráter é índole. Ele se expressa na maneira de ser e de agir. E este é um governo de caráter, que manteve a sua coerência: nem cedeu à demagogia, às soluções fáceis e erradas para problemas difíceis, nem se deixou pautar por particularismos e mesquinharias. Venho de longe. Se tive, ao longo da vida, uma obsessão, é certamente a de servir aos interesses gerais de São Paulo e do Brasil.

Os governos, como as pessoas, têm de ter honra. E assim falo não apenas porque aqui não se cultivam escândalos, malfeitos, roubalheira. Mas também porque nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito.

Fizemos um governo honrado também porque não fraudamos a vontade popular. Honramos os votos dos paulistas, seu espírito empreendedor e amante da justiça, sua disposição de enfrentar desafios e vencê-los com trabalho sério e consequente.

Os governos, como as pessoas, têm de ter sentido de história. Repudiamos a espetacularização, a busca da notícia fácil, o protagonismo sem substância que alimenta mitologias.

Este governo sabe que não há nenhuma contradição entre minorar as dificuldades dos que mais sofrem e planejar o futuro. Tantos me aconselharam, nos muitos anos de vida pública, a ser mais atirado, a buscar mais os holofotes, a ser notícia. Dizem alguns que o estilo é o homem. O meu estilo, se me permitem, é este: procuro ser sério, mas não sisudo; realista, mas não pessimista; calmo, mas não omisso; otimista, mas não leviano; monitor, mas não centralizador.

Os governos, como as pessoas, têm de ter personalidade, brio profissional. Sempre me empenhei em formar boas equipes de trabalho, desde quando fui líder estudantil, pesquisador ou professor universitário, passando pela Secretaria de Economia e Planejamento do Governador Montoro, pelo Congresso Nacional, pelos Ministérios do Planejamento e da Saúde, pela Prefeitura da capital e, agora, pelo Governo do Estado. Além das qualidades de cada um dos seus integrantes, a boa equipe necessita de um norte claro de quem está no comando, do acompanhamento próximo das formulações e da execução das ações, da liberdade e do incentivo para inovar, de apoio nos momentos mais difíceis e do desestímulo aos possíveis e previsíveis conflitos entre esses integrantes.

Sempre tive aversão àquelas teses do dividir para governar, de convidar fulano para contrapor-se a sicrano. Perde-se e já se perdeu muito na vida pública brasileira em razão dessa verdadeira anomalia que permeia a política e a administração em nosso País.”

            Serra falou, também, da alma do Governo:

Os governos, como as pessoas, têm de ter alma, aquela força imaterial que os impulsiona e lhes dá forma. Nossa alma, a alma deste Governo, que inspira todas as nossas ações, é essa vontade de melhorar a vida das pessoas que querem uma chance, que dependem de um trabalho honesto para viver, que estão desamparadas. É essa vontade de criar condições para que todos possam se realizar na plenitude de suas possibilidades, que tenham a oportunidade de estudar, de ter acesso à cultura, de trabalhar, com saúde física e espiritual. Essa é a nossa vontade, essa é a nossa alma, é a alma do nosso Governo.

Os governos, como as pessoas, têm de ter sensibilidade para agir e compensar as desigualdades.

            O Governo, Senador Mão Santa, tem de ter alma e sensibilidade humana para sentir, sobretudo, o drama que vivem as pessoas desfavorecidas, as pessoas sem moradia, sem escola, sem hospital, sem trabalho e sem salário; alma e sensibilidade humana para sentir o drama de milhões de brasileiros que vivem sob a égide da pobreza, num País com recursos naturais extraordinários.

        Concedo à Senadora Marisa um aparte, com satisfação. Ela também esteve em São Paulo, na solenidade de despedida do Governador José Serra.

            A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Obrigado, Senador Alvaro. Confirmando as palavras de V. Exª, é bom quando a gente sente a pessoa, quando a gente percebe não só aquilo que ela mostra externamente, mas aquilo que pensa, aquilo que vive. Quando a gente conhece as pessoas, quando conhece, realmente, a sua história, quando as pessoas são iguais sempre, não mudam por um acidente de percurso, mas são, efetivamente, aquilo que são, dão mais segurança, dão mais credibilidade e dão mais tranquilidade para que a gente possa seguir juntos. Eu fiquei, também, muito sensibilizada com o discurso do ex-Governador José Serra, que me passou isto, me passou aquilo que eu sempre pensei dele: uma pessoa linear, uma pessoa conhecida como é, em quem as pessoas podem confiar, que não vai mudar de uma hora para outra. Aquilo que ele disse é aquilo que ele vem pregando na sua vida toda, desde quando era presidente da UNE, desde quando brigou pela democratização deste País. Quer dizer, foi sempre um homem conhecido, nacionalmente, pelo seu caráter, pela sua forma de agir. Isso ele demonstrou no seu discurso. Concordo com V. Exª que foi um legado e que deu a todos nós já o rumo do que a gente espera ter de um pré-candidato do PSDB: que tenha as ideias e as propostas claras, que possam ser debatidas por todo o País.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Senadora Marisa Serrano, com competência, V. Exª sintetiza.

            Serra é um formulador, grande formador de equipe, descentralizador, como ele diz, com uma notável experiência administrativa, que tem como suportes, sobretudo, os valores da eficiência técnica. Mas, nesse discurso, ele revela sua sensibilidade humana, mostra que o seu Governo, verdadeiramente, é possuidor de algo essencial, que se chama alma, coração.

            Prossigo em mais um momento de seu discurso que revela essa sensibilidade:

Os governos, como as pessoas, têm de ser solidários e prestar atenção às grandes questões que dizem respeito ao futuro do País e do mundo, mas também às medidas que respondem aos problemas aparentemente pequenos das pessoas - para elas, eles são sempre muito grandes. Fico emocionado quando lembro que criamos as Vilas Dignidade, moradias decentes para idosos abandonados tomarem conta de suas vidas com assistência das prefeituras locais. Ou as plataformas nas praias e cadeiras especiais que permitem às pessoas com deficiência tomar um banho de mar... Alguns dirão que se trata de coisa pequena. Pois, para elas, é imensa! Quem dera a vida fosse, para todos nós, o primeiro banho de mar! Governos, como as pessoas, têm de ter compromisso com a responsabilidade e com a felicidade.

            Serra falou de inovação. Disse ele: “Eu acredito no planejamento”. E é um planejador. E foi além:

Eu acredito em inovação. Tem sido imensa nossa ênfase em pesquisas, que servem não apenas ao Estado, mas ao Brasil: na saúde, na agropecuária e no IPT, que recebe os maiores investimentos de sua história, com efeitos que se estenderão por décadas, na nanotecnologia, materiais leves e bioenergia.

            Serra foi além e disse:

Eu acredito que a essência do Governo é garantir a vida, os bens e a liberdade, que constituem os direitos fundamentais dos cidadãos nos marcos do Estado de Direito. [...]

Eu confio na democracia. Aqui, a nossa relação com o Legislativo é transparente e em favor da população. No lugar de nomeações e cabides de emprego, a corresponsabilidade pelo investimento em todas as cidades do Estado. No nosso Governo, Deputados não nomeiam diretores de empresa ou secretários. No nosso Governo, Deputados ajudaram a estabelecer as prioridades para o desenvolvimento do Estado e o bem-estar das pessoas.[...]

Na minha vida pública, já fui governo e já fui oposição. De um lado ou de outro, nunca me dei à frivolidade das bravatas, nunca investi no “quanto pior, melhor”, nunca exerci a política do ódio. Sempre desejei o êxito administrativo de adversários quando no poder, pois isso significa querer o bem dos cidadãos, dos indivíduos. Uma postura que nunca me impediu de apresentar as sugestões ou divergências, mas o fiz, e estimulei que meus aliados o fizessem, nos fóruns adequados ao embate político e ao exercício democrático das diferenças.[...]

Ao eventual ódio reajo com a serenidade de quem tem o Brasil no coração. E que ninguém confunda amor com fraqueza. Ao contrário, ele é a base da minha firmeza. Ele é a base da minha luta. Ele orienta as minhas convicções.

            E, para finalizar, Serra afirmou:

Até 1932, nosso Estado, em seu brasão, ostentava aquela frase em latim “não sou conduzido, conduzo”[esse era o lema de São Paulo, até a Revolução Constitucionalista de 32]. Mas, desde então, a divisa mudou. A divisa passou a ser: “Pelo Brasil, façam-se as grandes coisas”. É o papel, é o destino de São Paulo, construído por brasileiros de todas as partes do Brasil.

E esta é também a nossa missão! Vamos juntos, o Brasil pode mais!”

            Peço a V. Exª, Sr. Presidente, a inserção nos Anais de todo o discurso, já que li apenas alguns dos tópicos que considerei mais importantes. Sem dúvida, é o norte para quem deseja governar o País. É uma manifestação de intenção que nos traz, sobretudo, a possibilidade de termos a visão do modelo de governo que se pretende conferir ao País: um governo que privilegia o mérito, o planejamento, a inovação, a modernidade e, sobretudo, os valores éticos, destruindo a relação de promiscuidade implantada no País nos últimos anos entre os poderes constituídos, o que, lamentavelmente, produziu escândalos de corrupção interminavelmente. Creio que o Brasil pode mais, e certamente nós estaremos num bom caminho se adotarmos essa agenda de futuro para o povo brasileiro.

            Ao encerrar a minha participação de hoje, Sr. Presidente, peço a V. Exª que insira também nos Anais da Casa matérias jornalísticas que considero de importância e que devem merecer esse registro. Refiro-me a matérias publicadas pela Folha de S.Paulo, pelo jornalista Leonardo Souza, em que a Polícia Federal aponta como o homem da mala de dinheiro que seria usado na compra de um dossiê contra políticos o empresário petista Hamilton Lacerda, que virou fazendeiro no sul da Bahia.

            Peço a V. Exª que insira essas matérias nos Anais da Casa, até porque, nos próximos dias, deveremos ouvir na CPI das ONGs o Sr. João Vaccari Neto, que, segundo consta, teria recebido telefonema de Hamilton Lacerda minutos antes do flagrante oferecido pela Polícia Federal, num hotel em São Paulo, a uma mala com R$1,7 milhão, que seriam destinados à compra de um dossiê anti-PSDB, naquela oportunidade.

            Portanto, peço a V. Exª que faça esse registro nos Anais do Senado Federal.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ALVARO DIAS EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

- “Nesta prestação de contas...” (discurso de José Serra);

- “Pivô dos “aloprados” vira fazendeiro no sul da Bahia” e outras matérias (Folha de S. Paulo).


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/04/2010 - Página 11797