Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, pelo segundo ano de seu falecimento, ocorrido em 23 de maio de 2008.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2010 - Página 23483
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, DEFESA, INTERESSE, ESTADO DO AMAZONAS (AM), COMPROMISSO, ETICA, COMPETENCIA, CONDUTA, CONHECIMENTO, ECONOMIA, DIREITO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Jefferson Praia, Srs. Senadores, demais pessoas que vêm aqui prestigiar esta homenagem a uma das grandes figuras que tivemos neste Senado ao longo de muitos anos. Creio que, deste século em que vivemos, daqui para trás, o Jefferson faz parte como um dos grandes nomes.

            Uma vez perguntaram se eu considerava que o ponto alto da minha carreira tinha sido ser candidato a Presidente da República. Eu disse: “Esse foi o segundo ponto mais alto. O primeiro foi ter Jefferson Péres como meu vice, porque isso, sim, dá para a gente colocar no curriculum vitae”. E isso dá para colocar por diversas razões. Primeiro, pela sua firmeza na defesa da sua região e do seu Estado, o que é uma obrigação de cada Senador. Ele, aqui, fazia seus discursos pelo seu Estado, fazia discursos por essa região por que nós todos devemos lutar, amar e defender, que é a Amazônia. Mas isso outros Senadores fazem. Na verdade, o que o caracterizava, o perfil que fez do Jefferson Péres uma figura tão diferenciada de nós, em primeiro lugar, era seu compromisso com a ética. Mas não como muitos outros de nós. Aqui, tem um que cito especialmente: o Senador Pedro Simon, que é um desses defensores. O Jefferson tinha uma coisa que era a rigidez no seu comportamento, casada com a firmeza do seu discurso. Rigidez de comportamento, firmeza de discurso. Era um homem que chegava a achar que não era ético fazer gestos que facilitassem conseguir votos. Ele mesmo dizia: “Se para conseguir votos eu precisar rir sem estar escutando uma piada boa, eu vou perder os votos, porque eu só rio quando alguma razão existir para rir e não em busca de votos”. Dizia mais: “Adoro crianças, mas eu não agrado uma criança para receber um voto. Não carregarei criança em troca de voto. Carregarei criança quando for a oportunidade correta de um parente”.

            Esse rigor, essa rigidez às vezes faziam com que ele se orgulhasse de parecer chato, como ele dizia, porque até que não era. Pessoas que conviveram mais com ele sabem, por exemplo, que no seu dia a dia ele era um homem que gostava - o que é uma surpresa para cada um de nós e foi para mim - de dançar. Mas gostava tanto de dançar que, como disse uma vez a esposa dele, ela o surpreendeu mais de uma vez dançando sozinho na sua sala, ouvindo música, que ele curtia muito. Era também um grande conhecedor do cinema, por exemplo, e era um homem muito culto, como seus filhos também.

            Essa ética é uma marca dele.

            A seriedade é outra marca dele.

            Aqui temos muitos de nós sérios e éticos, mas ele levava isso ao extremo nas duas coisas.

            Uma terceira é a competência, competência jurídica. Graças ao exercício, por longos anos, da atividade jurídica, ele conhecia as coisas como ninguém e, para surpresa de muitos, era um conhecedor muito bom de economia. Ele era capaz de discutir os assuntos da economia com uma competência muito grande. Mas aí também a rigidez dele era formidável. Ele não votava aquilo que significasse para ele, por exemplo, quebra do orçamento fiscal, que ele considerava como uma coisa sagrada para a manutenção do bom funcionamento dos negócios do País.

            Lembro também, e aí quero deixar claro, o relacionamento familiar do Jefferson Peres: com seus três filhos, a sua esposa. A convivência que eles tinham, a solidariedade entre eles, o carinho que a gente percebia, que faziam de Jefferson Péres essa figura tão simbólica para todos nós, essa figura tão marcante, que faz com que estejamos aqui, comemorando a sua vida, no dia em que lembramos que faz dois anos da sua surpreendente morte. Porque foi de repente, absolutamente, e provocou surpresa. O Jefferson, que convivia com ele, deve ter ficado, como todo o povo de Manaus, absolutamente pasmo, surpreso.

            Fui à missa de sétimo dia, porque eu não estava aqui no momento em que ele faleceu, e vi o clima que Manaus viveu naqueles dias. Vi como o povo sentia, como se estivesse perdendo um grande filho, um filho da Amazônia, um filho do Amazonas, um filho do Brasil. Um homem que orgulhou o nosso País e por cuja razão estamos aqui, lembrando dele no segundo aniversário de sua morte. Outros, não nós, mas outros vão estar aqui lembrando, daqui a 100 anos, que passou pelo Senado, passou pelo Brasil, pelo Amazonas, pela Amazônia uma figura marcante chamada Jefferson Péres, que alguns de nós tivemos o privilégio de conhecer bem.

            Eu considero este um dos grandes privilégios que tive nesta Casa: ter podido conviver, conhecer, admirar e respeitar profundamente Jefferson Péres.

            A vocês que aqui estão e que não o conheceram, sobretudo os mais jovens que vejo aqui, que estiveram hoje de manhã numa audiência que nós fizemos na Comissão de Direitos Humanos, a vocês quero que levem daqui o nome Jefferson Péres, símbolo de uma maneira de fazer política que a gente precisa que se espalhe para todos os homens e mulheres que fazem a vida política neste País.

            Que ele seja o nosso exemplo, já que não está aqui para, presentemente, ser o nosso guia!

            Levem, também, a lembrança destes livros, que estão aí na mesa para os Senadores, mas que eu creio, Senador Jefferson Praia, que o senhor, como Presidente, me autorizaria a dizer que podem levar como presente do Senado, para que se lembrem do que ele escreveu, do que ele falou, e para que vocês levem essa lições, para que sirvam a vocês, aos colegas e aos filhos.

            Viva Jefferson Péres! (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2010 - Página 23483