Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o tráfico e o uso de drogas no Brasil, assinalando o contrabando realizado através do Estado de Mato Grosso do Sul e cobrando ações governamentais mais efetivas para enfrentar esse problema.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • Preocupação com o tráfico e o uso de drogas no Brasil, assinalando o contrabando realizado através do Estado de Mato Grosso do Sul e cobrando ações governamentais mais efetivas para enfrentar esse problema.
Aparteantes
Adelmir Santana, Kátia Abreu, Papaléo Paes, Patrícia Saboya, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/2010 - Página 31067
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, CONSUMO, DROGA, BRASIL, REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, SEMANA, COMBATE, ENTORPECENTE, PRESENÇA, DIVERSIDADE, ENTIDADE, SOCIEDADE CIVIL, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), IMPORTANCIA, DISCUSSÃO, PROBLEMA, VITIMA, JUVENTUDE, FAMILIA.
  • REGISTRO, AUMENTO, CONSCIENTIZAÇÃO, SOCIEDADE, PROBLEMA, DROGA, ESPECIFICAÇÃO, DISCUSSÃO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, ELABORAÇÃO, POLITICA NACIONAL, COMBATE, ENTORPECENTE.
  • QUESTIONAMENTO, PARCERIA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, ACUSAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, NEGLIGENCIA, TRAFICO, DROGA, REGIÃO, ESPECIFICAÇÃO, FRONTEIRA, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • IMPORTANCIA, PREVENÇÃO, PERIGO, CONSUMO, DROGA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, CULTURA, ESPORTE, PROTEÇÃO, JUVENTUDE, UTILIZAÇÃO, REDE ESCOLAR, CONSCIENTIZAÇÃO, CRIANÇA, ADOLESCENTE, FAMILIA, COBRANÇA, GOVERNANTE, OFERECIMENTO, TRATAMENTO, VICIADO EM DROGAS.
  • COMENTARIO, PESQUISA, MINISTERIO DA SAUDE (MS), NUMERO, BRASILEIROS, EXCESSO, CONSUMO, BEBIDA ALCOOLICA, ESPECIFICAÇÃO, SUPERIORIDADE, INDICE, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), MANIFESTAÇÃO, APREENSÃO, POSSIBILIDADE, ALCOOLISMO, INDUÇÃO, JUVENTUDE, UTILIZAÇÃO, DROGA, NECESSIDADE, RESGATE, VALOR, MORAL, FAMILIA, SOCIEDADE.

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            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Pensei que fossem 20 minutos, Sr. Presidente. Muito obrigada.

            Mas, quero dizer a V. Exª, aos Senadores, a todos que nos veem e ouvem, algo que é importante para o País. Finalmente, a sociedade brasileira parece que acordou para um grave problema que afeta não só hoje a nossa vida, mas afeta o futuro do País.

            O uso de drogas está solapando a vida de milhares de jovens, incapacitando-os para o estudo, para o trabalho, para o convívio social. Além deles, a família toda sofre, a família toda é atingida, é sacrificada, potencializando um drama que não é só dos jovens mas se torna de milhões de pessoas neste País, que coloca em perspectiva um fenômeno que poderá marcar, de maneira nefasta e perigosa, as próximas gerações de brasileiros e brasileiras, podendo inclusive inviabilizar esta Nação como uma Nação livre e autossuficiente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, participei, na semana passada, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, minha terra, da abertura da XII Semana Nacional Antidrogas, evento que foi criado em 1999, e que conta com a participação de órgãos governamentais, ONGs, entidades da sociedade civil, conselhos municipais e estaduais antidrogas.

            Ali pude constatar que há um movimento social contra as drogas que começa a assumir nova dimensão, visto que o problema adquiriu a gravidade assustadora que eu coloquei agora há pouco.

            O sinal mais significativo de que estamos chegando a uma situação limite é que a questão das drogas passou a ser base para a discussão nacional dos nossos presidenciáveis. Todos eles, os três que estão aí colocados, analisam e falam da questão das drogas e da questão do crack. Portanto, essa questão entrou na campanha presidencial. Eu espero que se torne um grande debate e que realmente possamos ter, na questão do debate presidencial contra as drogas, uma proposta efetiva para o País, que possa vir ao encontro daquilo que esperam não só as famílias, mas principalmente os usuários que querem se libertar do vício.

            Com a palavra a Senadora Kátia Abreu.

            A Srª Kátia Abreu (DEM - TO) - Obrigada, Senadora Marisa Serrano. Eu quero cumprimentá-la pelo pronunciamento bastante próprio e importante para o País. Apenas para comunicar que aprovamos um requerimento e teremos audiência pública, na próxima quinta-feira, na CCJ, Comissão de Constituição e Justiça, exatamente a respeito da questão da droga que vem da Bolívia para o nosso País, para o consumo dos nossos jovens, das nossas meninas e rapazes que estão enveredando na área da droga, especialmente o crack. E o governo boliviano, assim como disse o ex-Governador José Serra, é o grande responsável, por fazer vista grossa e até mesmo por um certo apoiamento, por não tomar medidas duras para impedir o tráfico de drogas da Bolívia para o Brasil. Portanto, na próxima quinta-feira, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, teremos a presença de vários especialistas, inclusive uma professora da Bolívia, membros do Ministério Público do Mato Grosso do Sul, do seu Estado, e representantes da Polícia Federal. Será uma grande oportunidade para debatermos essa permissividade com a entrada de drogas em nosso País. E também registrar como é lamentável o aumento do uso de crack no Brasil, nos últimos dois anos, especialmente. Hoje, somos o segundo país das Américas, perdendo apenas para os Estados Unidos, em número de consumidores de drogas. Isso parece um filme inacreditável. Não podíamos imaginar que nosso País pudesse participar de um ranking negativo dessa natureza. Portanto, droga só se combate com políticas públicas efetivas, com políticas públicas e com recursos públicos. O desperdício, às vezes, o desvio de recursos, de que a Oposição reclama aqui no dia a dia, na sua função democrática, é justamente por conta de que esses desvios, esses desperdícios, esses abusos de gastos discricionários poderiam estar combatendo as drogas em nosso País. Quantas mães e pais que choram, que perdem noites de sono, com angústias, tristezas, desenvolvendo doenças graves por conta do desgosto de ver um filho envolvido nas drogas e sem defesa, sem nenhuma atitude incisiva por parte do Governo, da Secretaria do Ministério responsável por isso, para que pudéssemos combater e reprimir essa utilização e penalizar os criminosos, traficantes que vêm estragar, que vêm manchar, que vêm destruir a vida de tantos brasileiros, jovens, que já são o futuro do Brasil, ainda não serão, já são o futuro do Brasil, pois já participam e colaboram muito com o nosso País. Então, quero parabenizá-la pelo pronunciamento e também me solidarizar com todas as mães e avós do País, como mãe e avó, aquelas que choram por seus filhos viciados e que estão no consumo das drogas. Muito obrigada.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Senadora Kátia.

            Antes de passar ao Senador Romeu Tuma, quero lembrar também que V. Exª fez alusão aqui a um detalhe que faz realmente a diferença. O tráfico de drogas que tem que ser coibido, Senador Tuma, nas nossas fronteiras.

            Quero colocar aqui o caso da fronteira do meu Estado, o Mato Grosso do Sul, com a Bolívia e o Paraguai. Como V. Exª disse, Senadora Kátia, o ex-Governador José Serra, esses dias, fez essa colocação, dizendo que a Bolívia tinha que ser mais ativa, mais pró-ativa, não podia ser conivente com a questão do tráfico de drogas pela fronteira, o que foi amplamente debatido e discutido pelo Governo, dizendo que ele estava sendo no mínimo imprudente ao falar sobre isso, que estava atacando o país vizinho, e assim por diante.

            Quero só afirmar a V. Exª que ficamos imaginando como é que poderia ser feito com um país que fosse realmente amigo. Se fosse um país realmente amigo, Senador Tuma, e se fosse um país que tivesse uma parceria efetiva com o Brasil, e que o Brasil extraísse disso aquilo que é importante para a sociedade brasileira, certamente pediria uma troca. Quando o BNDES financiou uma estrada que vem de Santa Cruz de La Sierra até Corumbá, integrando toda a rota do Pacífico ao Atlântico, quando financiou, Senadora Patrícia Saboya, no mínimo, o que podia ter colocado como uma ação pró-ativa seria uma parceria. Nós financiamos, mas queremos também, em troca, que a Bolívia nos dê mais respaldo na fronteira, para não termos o excesso que temos hoje do tráfico de drogas passando por nossas fronteiras.

            Portanto, Senador Romeu Tuma, essas questões têm que ser discutidas. Questão de fronteira, questão de repressão, e depois vou falar aqui também - porque quero falar - sobre a questão da prevenção e do tratamento, que é fundamental nesses casos.

            Passo a palavra, com prazer, a V. Exª.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Peço desculpas por ter demorado a chegar, mas estava ouvindo uma parcela do discurso de V. Exª pela Rádio Senado. É uma coisa que aflige bastante todo cidadão brasileiro. Eu gostaria, primeiramente, de cumprimentá-la pelo aniversário. Infelizmente, não consegui fazê-lo anteontem, mas o desejo de felicidade,...

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada.

            O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - ...alegria e sucesso permanente e a vitória, visto que a senhora tem um coração de ouro, uma amizade carinhosa, sempre com um sorriso amigo, e eu não poderia deixar de, publicamente, enaltecer a sua figura e cumprimentá-la pelo aniversário, que rejuvenesce a sua figura perante seus companheiros. Bonita sempre foi. Mas é difícil. Deus abençoe a senhora. É um assunto interessante. Hoje, eu estava lendo o jornal. O Peru passou a Colômbia na produção de folhas, em 0,6, segundo o levantamento da ONU. Os países que circundam o Brasil são produtores de folha, e provavelmente a transformação na Colômbia tem uma influência bastante grande da passagem da droga já pronta. Depois, aqui eles transformam em crack para baratear, para misturar e trazer, sem dúvida nenhuma, aquilo mais grave para a juventude, que provavelmente será a destruição física e moral da garotada que faz uso do crack. Mas, Senadora, a penúltima reunião do Mercosul em que estive presente foi logo após o incidente na fronteira do Brasil com o Paraguai, em que mataram um segurança e feriram, ao tentar matar, o Senador que luta contra o tráfico de drogas naquela fronteira com o Brasil. Anteontem, uma Senadora, companheira nossa do Mercosul, me ligou desesperada. Eu apresentei uma proposta de reunião dos quatro países, das suas representações e dos setores de inteligência, para se integrarem e trabalharem conjuntamente para a troca de informações, porque de um lado só não dá para vencer a guerra. Ainda esta semana, a Polícia Federal apreendeu em contêineres duas toneladas de cocaína, fora um carregamento enorme de armas para serem vendidas a traficantes e criminosos do crime organizado, em qualquer Estado do País. Nós acusamos o morro, mas isso está se espalhando pelo Brasil inteiro. V. Exª traz um assunto importantíssimo. Estou esperando ela me ligar para marcar essa reunião. Vou conversar com V. Exª. Acho que temos que colaborar para fazer uma frente, uma unidade de trabalho, para coibir o tráfico de drogas. Nós sabemos das fontes. Agora, quanto à transferência, como ela é feita, e aos receptadores para trazerem para o consumo é que temos que agir com rapidez e boicotar para que eles não continuem nesse comércio sujo que tanta tristeza traz. Não podemos nos esquecer da recuperação e da conscientização das crianças para que não sejam envolvidas pelos traficantes. Hoje, muitos atletas têm promovido alguns eventos importantíssimos, lideranças de luta ou de basquete, com esportes, que evitam qualquer possibilidade de as crianças serem cooptadas pelo tráfico de drogas. E a lei de drogas fala claramente na recuperação. Eu pergunto à senhora: o Governo está oferecendo meios, para que os hospitais, os centros de atendimento deem conta dos usuários, que as mães sofridas levam para tentar encontrar uma vaga? Não estão. Então, estou com V. Exª e acho que é importantíssimo o que traz a esta tribuna hoje.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - V. Exª colocou bem a falta que o Poder Público faz nessa seara - como em outras também. Mas não vemos Prefeituras Municipais, Governos Estaduais e a União preocupados em fazer uma rede de atendimento, de acolhimento dos usuários de drogas nesta cidade. E não se trata só daqueles que querem, por vontade própria, sair do vício: é preciso ir buscar aqueles que estão no vício, para que possam ter o atendimento necessário. Essa é uma falha que há no tratamento e nas ações nesse sentido. Não basta fazer, Senador Adelmir, um projeto lindo, uma política maravilhosa, se não se colocar em prática. E também não se pode, Senadora Patrícia, fazer uma proposta de combate ao tráfico de drogas só em época de eleição e no final de Governo. Isso me cheira a algo eleitoreiro, não me parece uma coisa séria. E é isso que me chateia muito.

            Vim, hoje à tarde, fazer este libelo justamente pelo fato de essa questão não ser tratada com o devido respeito e com a seriedade que merece e que precisa, conforme o que vemos acontecer na sociedade brasileira.

            V. Exª tem a palavra, Senadora Patrícia Saboya.

            A Srª Patrícia Saboya (PDT - CE) - Senadora Marisa, em primeiro lugar, parabéns pelo seu aniversário. Desejo-lhe tudo de bom, que Deus a cubra de muitas bênçãos e que V. Exª possa continuar nessa sua trajetória que dá tanto orgulho não só às mulheres brasileiras, mas aos homens e mulheres de boa fé de todo o nosso País, que descobriram o seu talento, a sua vocação para a política, mas uma política com “P” maiúsculo. Parabéns e que Deus a abençoe muito pela sua data. E, ao mesmo tempo, parabéns pelo pronunciamento. Eu sou uma daquelas que estou nessa mesma fileira de mulheres e de homens que têm lutado para entender melhor e para encontrar as melhores soluções para a questão do crack. Eu quero trazer-lhe uma sugestão, porque faço parte de uma Subcomissão presidida pelo Senador Tasso Jereissati, que é a Subcomissão da Reforma da Segurança Pública no nosso País. Somos cinco Senadores, e eu sou uma das Senadoras que deve relatar a questão das drogas em nosso País e a forma de combate ou de mudança na legislação brasileira que trata sobre isso. Já tenho cinco requerimentos que ainda precisam ser votados na Comissão e que também vão tratar da questão da droga, desde o aspecto mais polêmico, que é a descriminalização ou não das drogas, tema que não podemos furtar-nos de discutir, independentemente da opinião de cada um de nós. É um tema que precisamos conhecer e entender melhor. Então, acho que essa sua preocupação se junta à dessa Comissão, que poderá ter um brilho muito maior com a sua participação. Quero dizer, então, que vou pedir agilidade na votação desses requerimentos. Vou encaminhar a V. Exª quais são os requerimentos, as pessoas que estão sendo convidadas a virem debater, que são muito sérias. São pessoas de dentro e de fora do Brasil - alguém que é radicalmente contra, alguém que é radicalmente a favor, alguém que pensa nas duas posições. E assim se vai levantar essa questão. O que não podemos, concordo com V. Exª, é ficar de braços cruzados, fazendo disso apenas uma questão eleitoral. Acho isso criminoso. Estamos vivendo um momento muito difícil. O Ministro Temporão tem dito que vai ampliar o número de leitos, se não me engano, em 10 mil para atendimento de dependentes químicos, por exemplo, de crack. Tenho conversado com especialistas não só do Brasil, mas de fora do Brasil, que dizem que isso não resolve o problema, porque o dependente químico está de tal forma desfigurado, está de tal forma tão dilacerado, que - não adianta - não será cuidado em um leito de hospital. É preciso uma clínica especializada; é preciso pedir o apoio das entidades do terceiro setor, que já vêm desenvolvendo um trabalho extraordinário, pontual, embora pouco, porque não têm recursos para isso. Mas precisamos pegar a experiência dessas pessoas. Precisamos falar de verdade o que acontece nas fronteiras deste País, porque é uma droga que não é produzida, plantada no Brasil, mas que vem, como V. Exª disse, da Bolívia, da Colômbia. É uma droga que rapidamente se espalhou: em qualquer lugar do interior do País, norte, nordeste, centro, sul, leste, enfim, em todos os lugares, já existe uma “boca” que vende o tal do fumo. E tenho visto uma coisa que tenho achado ainda muito mais grave: há um “combinemos” entre os traficantes do crack, para, inclusive, tirar de circulação a maconha, que é uma droga menos pesada do que o crack, justamente para começar a repassar aos dependentes químicos ou àqueles que têm algum tipo de dependência nas drogas, como em maconha, por exemplo, para que comecem a usar o crack pela falta da maconha no mercado.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - É verdade.

            A Srª Patrícia Saboya (PDT - CE) - Eu também não tenho ouvido ou tenho ouvido muito pouco esse debate de forma bastante séria, como V. Exª tem trazido aqui. Parabéns. Espero que, juntas e, evidentemente, com tantos outros, possamos fazer alguma coisa, para mudar essa realidade tão dura e perversa.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Senadora Patrícia.

            O crack vicia mais rápido. E, viciando mais rápido, as pessoas que o utilizam têm constantemente de estar utilizando-o. O tempo de duração é de cinco, dez minutos, quer dizer, a pessoa tem de fumar mais rápido, para poder continuar naquele estado de euforia, para não cair na depressão, e assim por diante. Isso é perigosíssimo. É uma droga que desfaz a pessoa, como V. Exª disse, que a desfigura, que a transforma, que vicia rapidamente.

            Então, esse é um perigo enorme. E aí, Senador Adelmir, acho que tínhamos que aproveitar aquilo que a Senadora Patrícia colocou. Espero que os nossos presidenciáveis ouçam todos os debates que estão sendo feitos, que leiam as pesquisas que existem, os estudos que são feitos a respeito e que, de tudo isso, formem de fato uma política efetiva nacional, que possa ser colocada em prática no próximo Governo, porque esse que está aí já está acabando. Não há como uma política desse tamanho ser colocada em prática, mas alguma coisa ainda pode ser feita.

            Com a palavra, o Senador Adelmir Santana.

            O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senadora Marisa, a senhora veja o carinho que os Senadores têm por sua pessoa! Também quero associar-me, inicialmente, e dar-lhe parabéns pelo seu aniversário. Não tive oportunidade de cumprimentá-la. Esta Casa sente-se honrada em ter a presença de uma mulher como a senhora, que tão bem representa o seu Estado. Aliás, não apenas o estado masculino ou feminino, mas o Estado de Mato Grosso do Sul. Fiquei atentamente ouvindo o discurso de V. Exª, e uma coisa me chamou a atenção. Foi a última parte, a que dizia respeito aos usuários. Na verdade, o Brasil tem dívidas sociais imensas. Uma delas é, exatamente, na área da saúde. Alguns já levantaram essa questão aqui - aliás, todos, a grande maioria dos Senadores -, e foi feita, em determinados momentos, uma explanação sobre o número de postos de atendimentos a usuários no Brasil. Falava-se em torno de 200 instalações, em um País que tem mais de cinco mil Municípios. Tenho recebido telefonemas de Municípios os mais distantes. Não são pessoas que não têm recursos; até têm recursos, mas não sabem como usá-los, porque não acham clínicas especializadas ou postos especializados para o atendimento dos seus entes queridos - seus filhos, muitas vezes. Vemos casos de aprisionamento de filhos, com pessoas de menor nível cultural no desespero, porque não sabem a quem recorrer para o tratamento desses usuários. Então, é preciso que isso, efetivamente, entre na agenda dos candidatos já postos e do futuro Presidente para que seja tratado como uma questão de saúde pública, como uma questão que interessa a todos nós. O tráfico vê essa situação como um mercado e, como a senhora bem colocou, procura inclusive fazer o processo de troca de determinadas substâncias, objetivando usar aquelas que viciam mais rápido e que têm maior consumo. Esquece muitas vezes da periodicidade, porque também se morre mais cedo. É importante o discurso de V. Exª, porque não se prende apenas à questão dos limites do nosso País com os centros produtores, mas também com essa preocupação em relação à assistência aos usuários, às pessoas dependentes. Quero louvá-la por isso e dizer que efetivamente essa é uma matéria que deve interessar a todos nós, e deve interessar aos futuros candidatos, ou candidatos à Presidência da República, e ao futuro Presidente, para que tratem disso como matéria de alta importância para o nosso País. Parabenizo V. Exª pelo aniversário e pelo pronunciamento.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada, Senador Adelmir. V. Exª colocou muito bem aqui que vemos a igreja e entidades sociais trabalhando mais nessa questão da prevenção e, principalmente, no tratamento.

            A Fazenda Esperança - tem em São Paulo, tem no meu Estado e em alguns Estados brasileiros, como em outros países também - é um exemplo disso. Mas é muito pouco para o tanto que nós estamos precisando no País. E, com o alastramento do crack, que está chegando mesmo com uma força virulenta, é necessário que pensemos duas vezes em como fazer para auxiliar aqueles que mais precisam.

            Com a palavra, o Senador Papaléo Paes.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senadora Marisa Serrano, quero inicialmente parabenizar V. Exª pelo seu aniversário e dizer que esta Casa é muito honrada com a sua presença aqui. Dignifica o Senado Federal a sua presença e todos, tenho certeza absoluta, porque lá no Amapá a senhora é muito admirada pelas pessoas que assistem à TV Senado, porque sempre comentam conosco. Então, pela sua seriedade, pela sua inteligência e por sua prática como parlamentar, parabéns a V. Exª! Quanto à questão crack - o seu tempo já está chegando ao final -, quero deixar bem claro o seguinte: vejo e fico indignado de ver a apatia das autoridades responsáveis pelo combate às drogas. É uma apatia mesmo, que faz com que o Estatuto da Criança e do Adolescente seja um belo livro que não é cumprido rigorosamente pelas autoridades, caracterizando, cada vez mais, que, em matéria de leis, não há país mais bem aquinhoado do que o Brasil; mas, em matéria de cumprimento de leis, acho que somos o que menos cumpre com as nossas responsabilidades democráticas, o que é do dever de cada um de nós. Enquanto a maconha, a cocaína e outras drogas viciam ao longo do tempo, o crack vicia o cidadão imediatamente. Basta ele dar um trago que já é um viciado, porque entra na corrente sanguínea imediatamente, tem uma ação extremamente alucinógena, levando essas pessoas ao delírio. A duração é rápida. Há casos em que até trinta segundos após o último trago o viciado já sente vontade de dar outro trago. Por isso é que essa droga vai destruindo rapidamente o ser humano: acaba de fumar uma, pega outra pedra, e assim por diante. Então, todos sabem as consequências para a sociedade. Mas eu lamento profundamente que as autoridades deste País, que somos todos nós, brasileiros, mas aquelas que têm o poder de comando, sejam negligentes a ponto de permitirem que, em qualquer praça pública deste País, os traficantes e os viciados ajam livremente. Se não houver o viciado, não há o traficante; se não houver o traficante, não há o viciado. Então, Senadora, parabenizo V. Exª por trazer esse tema, que é de extrema importância para a sociedade brasileira e que cobra de nós todos a responsabilidade.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Obrigada. V. Exª fala com a experiência de médico que é, Senador Papaléo Paes.

            Principalmente, vejo que esse é um tema para o qual esta Casa também está despertando. Há pouco tempo, nós não falávamos tanto em drogas, como estamos falando agora. É a preocupação que todos nós estamos sentindo. Somos aqui o escoadouro de toda a preocupação da sociedade brasileira. Por isso, nós estamos aqui hoje falando sobre esse assunto.

            Sr. Presidente, o tráfico e o consumo de drogas armam um esquema poderosíssimo e muito forte em todo o País, que movimenta bilhões de reais e que propicia uma violência vigorosa. Portanto, estamos vendo, no País, não uma guerra fácil. Vai ser uma guerra difícil. Por isso, todos nós precisamos garantir todo o nosso esforço para que essa guerra seja vencida.

            Também não vale só falarmos aqui que apenas a parte repressiva resolve o problema. Não adianta colocarmos, como eu digo, a Força Nacional nas fronteiras, e que, reprimindo, vamos acabar. Não acaba assim, não é dessa forma que precisamos atender a esse problema.

            Nós precisamos garantir, principalmente por meio de todas as associações que existem no País, a prevenção. A prevenção é fundamental. Garantir que as nossas escolas, os nossos diretores, os nossos professores trabalhem nesse sentido, que as famílias tenham conhecimento do que se passa, que as famílias saibam como trabalhar com suas crianças, com seus filhos. É preciso que todo mundo, governo, sociedade, as famílias, todos se unam na prevenção de algo que é fundamental, e que possamos extirpar do País o mais rápido possível.

            Sr. Presidente, para terminar a minha fala, ao mesmo tempo em que falamos das políticas preventivas no campo da educação, da cultura, do esporte, para fazer com que a juventude saia do vício ou ache outro tipo de diversão mais condizente com a sua idade, que ele goste de participar de um esporte, de uma atividade cultural e que ele possa se afastar das drogas, quero dizer que me dói, às vezes, quando vejo, Senador Tuma, celebridades, como V. Exª disse, grandes jogadores, grandes cantores, pessoas célebres no País, com quem a juventude gosta de se identificar, fazendo propaganda de fumo, propaganda de drogas, como o álcool, por exemplo. Uma coisa leva a outra.

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Para terminar já, Sr. Presidente.

            Eu estava lendo que a juventude, principalmente a juventude que vai de 13 as 25 anos, que são os mais atacados pela droga, não fica numa droga só. E, às vezes, é induzida à droga pelo álcool. Geralmente, é álcool, é droga, é uma cadeia que se forma. Portanto, temos de ficar atento a esse caso também, para que as pessoas - às vezes, de bom caráter - percebam o mal que podem fazer à juventude brasileira.

            Quero terminar dizendo que, quanto ao álcool, o Ministério da Saúde divulgou pesquisa no sentido de que 18,9% dos brasileiros afirmam que consomem álcool de maneira abusiva - não é socialmente, é de maneira abusiva. Em Campo Grande, capital do meu Estado, Mato Grosso do Sul, o índice é ainda maior, é de 19,1%. Há três anos, o índice era de 18%. Quer dizer, estamos dobrando rapidamente essa questão no País.

            Quero, então, terminar a minha fala dizendo que precisamos criar na sociedade, Senador Augusto Botelho, um espírito de garantir os valores sérios que queremos, como a amizade, a fraternidade, a decência, para que os nossos jovens percebam que há outros valores que as famílias têm, que a sociedade tem. Não é só aquele valor do consumo, como alguns acham, que o que vale na sociedade é o consumo e a valorização do seu semelhante: se o meu coleguinha está fumando maconha, eu tenho que fumar também, senão perco o status de participar do grupo.

            Temos que ensinar à sociedade que há outros caminhos para o sucesso, principalmente o da seriedade, da competência e dos bons costumes, que nunca deverão ser deixados de lado pelas famílias brasileiras.

            Era isso o que eu queria expor aqui. Agradeço aos Srs. Senadores pelos apartes.

            Muito obrigada.


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