Discurso durante a 140ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do jornalista Josélio Gondim.

Autor
Cícero Lucena (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cícero de Lucena Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do jornalista Josélio Gondim.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2010 - Página 42125
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, ESTADO DA PARAIBA (PB), COMENTARIO, BIOGRAFIA, ELOGIO, CONDUTA, COMPETENCIA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, DIVERSIDADE, JORNAL, FUNDAÇÃO, PERIODICO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CÍCERO LUCENA (PSDB - PB. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, permitam-me fazer este comunicado em meu nome e em nome do Deputado Estadual José Ademir, que aqui também se encontra.

            Na última segunda feira, em uma manhã nublada e triste, a Paraíba deu seu último adeus a um dos seus filhos mais determinados e aguerridos. Ele resistiu e perseverou em todos os projetos que abraçou ao longo dos seus 76 anos de vida. Refiro-me ao jornalista Josélio Gondim, um idealista e empreendedor que deixou sua marca na comunicação da Paraíba e do Nordeste através das inúmeras publicações que fundou, comandou, coordenou. A força com que se empenhava em seus projetos rendeu-lhe o apelido de Leão do Norte.

            Pai de cinco filhos - Tereza Cristina (Tina), Cláudia, Josélio Júnior, Elizabeth e Ana -, Josélio cuidou, ele próprio, desde cedo, de construir seus caminhos. Buscou, enfrentou e venceu desafios. Foi um jovem adolescente que, sozinho, aos 17 anos, bateu à porta de Assis Chateaubriand, então Senador da República eleito pela Paraíba e já um dos homens mais poderosos do Brasil, no início da década de 50, em face do verdadeiro império de comunicação que montara no País. Ao receber de presente um retrato em óleo em sua homenagem, Chateaubriand enalteceu o talento do jovem pintor e lhe conseguiu uma bolsa de estudos no Museu de Arte de São Paulo.

            Ocorreu, porém, que o destino reservado a Josélio não era precisamente o das artes traçadas pelos pincéis, mas sim a arte da pena do jornalismo. Essa confirmação viria em pouco tempo: inspirado na trajetória de seu grande líder, Josélio trocou os pincéis pela caneta e passou a trabalhar na imprensa, atuando à época em grandes veículos de comunicação, como o Diário de São Paulo, O Jornal do Rio de Janeiro e outros veículos impressos vinculados aos Diários Associados, como, por exemplo, o jornal O Norte, na Paraíba.

            O jornalista Josélio Gondim foi um dos pioneiros do jornalismo em revista no Brasil. Ele fundou as revistas Tudo, O Espelho e O Sol. A Tudo lhe rendeu uma demanda jurídica com a importante Time. Sob alegação de “semelhança gráfica e desvio de clientela”, a publicação americana primeiro entrou com processo para Josélio “desfigurar” a sua revista, mas depois propôs uma composição. Nem mudanças gráficas, nem acordo: Josélio resolveu vender a revista ao amigo Josemar Toscano Dantas.

            Mas, entre os seus maiores feitos, o próprio Josélio tinha uma preferência: a revista A Carta, que nós recebíamos e com que nos deliciávamos semanalmente. A pequena e respeitada publicação paraibana deu um furo jornalístico nacional como único veículo a antever a renúncia do então Presidente Collor, hoje Senador nesta Casa e um dos amigos de quem Josélio dizia mais se orgulhar. Entre onze Presidentes da República com quem conseguiu conversar ou que conseguiu entrevistar em sua trajetória, ele citava também dois outros de quem desfrutara relações de amizade: Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros.

            Dono de uma memória invejável, Josélio sempre foi de compartilhar com os amigos suas experiências de vida. E permitia-se, assim, descontraído, nas rodas de conversas, dividir conhecimento, socializar informações de bastidores de parte da história política da Paraíba e também de muitos momentos marcantes da vida política nacional.

            Mas, muito mais que essas incontáveis narrativas verbais, Josélio deixou também, por escrito, seus registros para a posterioridade. São três livros: Sob o Sol do Nordeste; Eu Nu a Caminho dos Elefantes e Cadeira de Rodas - nas Ante-Salas da Morte. São testemunhos políticos, passagens e visões de sua trajetória profissional e de sua vida pessoal.

            Transparente, determinado, aguerrido, irrequieto, provocador. De tudo isso um pouco era feito nosso Leão do Norte, que será lembrado assim por duas de suas filhas, Cláudia e Tina: “É um exemplo de dignidade que nós carregamos”, definiu Cláudia. “Ele mostrou que o que faz a diferença são os gestos: não tem preço o que fez por nós e por seus amigos”, completou Tina.

            Devo dizer que tive o prazer e a alegria da convivência com Josélio. Ele costumava frequentar um restaurante, em João Pessoa - José Aldemir se lembra muito bem -, chamado Adega do Alfredo. Tinha sua mesa, sua cadeira e seus amigos, que sempre estavam lá, para conversar e dividir seus conhecimentos e suas experiências. Com certeza, na sexta-feira, estarei na Adega do Alfredo. Mas posso dizer, desde já, que naquela mesa estará faltando ele.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2010 - Página 42125