Discurso durante a 155ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relato da viagem de S.Exa. ao Haiti, na semana passada, a convite do Exército Brasileiro. Registro da importância da atuação brasileira em forças de paz. Homenagem a todos os soldados que estiveram e que estão no Haiti. Comentários acerca da possibilidade de levarmos a nossa experiência com política ambiental a outros países.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. FORÇAS ARMADAS.:
  • Relato da viagem de S.Exa. ao Haiti, na semana passada, a convite do Exército Brasileiro. Registro da importância da atuação brasileira em forças de paz. Homenagem a todos os soldados que estiveram e que estão no Haiti. Comentários acerca da possibilidade de levarmos a nossa experiência com política ambiental a outros países.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2010 - Página 45269
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • DEPOIMENTO, VISITA, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, MISERIA, CALAMIDADE PUBLICA, IMPORTANCIA, MISSÃO MILITAR, TENTATIVA, RECONSTRUÇÃO, PACIFICAÇÃO, PAIS, NECESSIDADE, CONTINUAÇÃO, AUXILIO.
  • CRITICA, OPINIÃO, IMPRENSA, DESNECESSIDADE, ASSISTENCIA, DESCONHECIMENTO, DIRETRIZ, POLITICA EXTERNA, GOVERNO BRASILEIRO, ELOGIO, BUSCA, LIDERANÇA, AMERICA LATINA, AMPLIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, ORGANISMO INTERNACIONAL, INCENTIVO, COMERCIO EXTERIOR, FOMENTO, PAZ, DETALHAMENTO, VANTAGENS, MISSÃO, MILITAR, REGISTRO, RESPONSABILIDADE, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PAGAMENTO, MAIORIA, DESPESA, COMENTARIO, EFICACIA, EXERCITO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, MOÇAMBIQUE, ANGOLA, PREPARAÇÃO, REFORÇO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, COMERCIO.
  • HOMENAGEM, SOLDADO, BRASIL, ZILDA ARNS, MEDICO, VITIMA, ABALO SISMICO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, LEITURA, NOME, ELOGIO, BRAVURA, COMPETENCIA, PATRIOTISMO.
  • NECESSIDADE, POPULAÇÃO, NACIONALISMO, VALORIZAÇÃO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, ATUAÇÃO, EXERCITO, PRODUÇÃO, ALIMENTOS, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, LIDERANÇA, AMBITO INTERNACIONAL, INCENTIVO, POLITICA, PRESERVAÇÃO, FLORESTA, AFRICA, PRIMEIRO MUNDO.

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            O SR. ACIR GURGACZ (PDT - RO) - Sr. Presidente, Senador Adelmir Santana, Srªs e Srs. Senadores aqui presentes, inicialmente quero cumprimentar e parabenizar os professores e os alunos que participaram do desfile do dia 7 de setembro, organizado pela Prefeitura Municipal, Prefeito José de Abreu Bianco, do Democratas, que também esteve nesta Casa como Senador da República. Em nome dele, quero cumprimentar toda a sociedade que lá esteve, naquela maravilhosa festa cívica acontecida no dia 7 de setembro deste ano. Juntos conosco, estavam também o Presidente da Câmara e os demais Vereadores, o Senador Valdir Raupp, que lá esteve presente também prestigiando aquele evento cívico muito importante.

            Sr. Presidente, na semana passada, fiz uma viagem que me colocou em contato com a dura realidade de um povo atingido pela desgraça dos homens e pela fúria da natureza. Essa viagem foi à capital de um pequeno país da América Latina, o país mais carente desse continente: o Haiti.

            Fiquei muito emocionado com o que vi por lá. A minha visita àquele país teve como objetivo acompanhar a tropa de comando da força de paz brasileira, que atua no Haiti desde o ano de 2004.

            Estivemos presentes a convite do Exército Brasileiro, além da minha pessoa, o Deputado Federal Francisco Praciano, do Amazonas; o General do Exército Renato Joaquim Ferrarezi, Comandante Militar do Oeste; o General de Brigada Gislei Morais de Oliveira, Diretor de Abastecimento; General de Brigada Carlos César de Araújo Lima, Comandante da 12ª Brigada de Infantaria Leve; o General de Brigada Paulo Sérgio Melo de Carvalho, 2º Subchefe do Estado Maior do Exército; o General de Brigada César Leme, Comandante do Grupamento Unidade Escolar / 9ª Brigada de Infantaria Motorizada; o General de Brigada Walter Souza Braga Netto, Chefe do Estado Maior do Comando Militar do Oeste; o General de Brigada Wagner Oliveira Gonçalves, Diretor de Patrimônio.

            Um aspecto interessante da viagem ocorreu ao retornar de lá, Senador. Ao divulgar para a imprensa a minha preocupação com o processo de construção do Haiti, com a miséria que testemunhei lá, recebi críticas por considerar que aquele povo precisa de ajuda. Ouvi comentários que depreciaram a situação pela qual passa o povo haitiano.

            A verdade é que há pessoas que não conhecem a realidade de outros países, não conhecem a política externa brasileira. Tão pouco conhecem a importância para o Brasil de buscar a liderança na América do Sul e no Caribe, para conduzir, com essa liderança, o crescimento do País e da região, principalmente através de laços comerciais. Em um mundo globalizado, isso é fundamental, pois estimula a exportação de uma grande variedade de produtos brasileiros.

            Essas pessoas que criticam ações como essa, sequer conhecem o próprio Brasil. Bom seria que todos pudessem conhecer pessoalmente todos os cantos do nosso País, mas não se pode. Existem livros, reportagens, matéria de TV e na Internet que podem ajudar a conhecer a realidade do Brasil, assim como também conhecer um pouco da realidade de todo o mundo.

            Para que fique bem claro, as despesas que o Brasil tem no Haiti são cobertas, praticamente todas, pela ONU, algumas pequenas despesas ficam por conta do Governo brasileiro. Mas o País inteiro pode ter certeza de que a atuação brasileira em forças de paz tem sido sempre muito positivas para a Nação, além do aspecto positivo, na área de diplomacia, existe, também, a vantagem de fornecer treinamento in loco e em situações reais para as nossas Forças Armadas. Além disso, existem as ligações comerciais que sempre surgem com o relacionamento dentro das forças de paz.

            O Brasil hoje tem frutíferas ligações comerciais com países africanos que podem ser consideradas resultantes de ações brasileiras em missões de paz, em Moçambique e Angola, por exemplo. Primeiro, o Exército chega como um para-choque forte, eliminando os problemas, pacificando as regiões, estabelecendo um relacionamento harmonioso com as populações locais e devolvendo a democracia e a tranquilidade ao povo. Depois, chegam os laços comerciais e culturais: as empresas, os médicos, engenheiros, profissionais liberais, criando oportunidades de emprego e de negócio para ambos os países.

            Eu destaco que são duas as situações que envolvem esse processo. Em primeiro lugar, está a decisão política do Governo em atuar junto com os organismos internacionais em missões de paz. Isso coloca realmente o Brasil numa posição favorável de liderança na América do Sul e no Caribe, por exemplo, com presença marcante em questões internacionais junto à ONU, à OEA e à OMC.

            Outra coisa é a atuação dos nossos militares que compõem essas forças de paz, a dedicação, o patriotismo, o amor e o carinho com o qual atua a Força de Paz, gerando um trabalho notável no exterior que só orgulha a nós brasileiros.

            Sr. Presidente, eu fico realmente impressionado com a velocidade com a qual a mídia atropela as informações, notícias e fatos. O terremoto que devastou o Haiti no início do ano já foi esquecido, a ponto de pessoas aqui no Brasil já desconsiderarem o que aconteceu. Ou pior: essas pessoas parecem não ter ideia do que pode representar para um pequeno país como o Haiti ter sua infraestrutura totalmente devastada no mesmo dia em que mais de 200 mil pessoas faleceram e ainda não conseguem conceber o que significa para um país como o Haiti, já combalido dentro de um contexto de guerra civil, passar por um terremoto que matou mais de 200 mil pessoas e deixou mais de 200 mil feridos sem hospitais, sem transportes, sem alimentos.

            Estamos em setembro e alguns aqui no Brasil acham que o Haiti já teve tempo de superar a tragédia e viver em condições idênticas às nossas.

            Não estamos no Primeiro Mundo, mas não podemos ficar insensíveis a ponto de não enxergar as diferenças entre o que acontece em Porto Príncipe e o que acontece em cidades brasileiras.

            Ainda bem, Sr. Presidente, que não são todos os brasileiros que pensam assim. Eu conheci, na semana passada, muitos brasileiros e brasileiras que têm a consciência de nosso papel dentro desse cenário latino americano, em meio a essa tragédia internacional. Conheci homens e mulheres do Exército brasileiro que estão lá no Haiti, ajudando o povo a reconstruir seu país em um cenário de paz.

            Conheci pessoas que deixaram o conforto de suas casas aqui no Brasil para viverem durante um período incerto, em um presente de riscos de violência e de acidentes naturais - um novo terremoto, talvez. Essas pessoas, Srªs e Srs. Senadores, sabem que o Haiti não pode esperar muito por ajuda. Essas pessoas sabem que não é possível cicatrizar feridas tão profundas em tão pouco tempo.

            O Exército brasileiro perdeu 18 militares que estavam atuando na Força de Paz no Haiti, naquele dia 12 de janeiro deste ano. O Brasil perdeu a saudosa Zilda Arns, que tanto batalhou pelas crianças carentes do Brasil e que estava lá em um encontro de religiosos atuantes em sua mesma causa.

            Sim, Sr. Presidente, é preciso lembrar às pessoas que criticam a ação brasileira lá que Zilda Arns morreu no Haiti, vítima desse terremoto, enquanto estava se reunindo com pessoas para combater a miséria de lá também. Será que se ela voltasse viva também teria sido criticada por isso?

            Eu sinto muito receio da falta de memória do povo brasileiro, principalmente em ano de eleição, quando muitos eleitores parecem esquecer o quanto sofreram nas mãos de políticos corruptos para logo em seguida darem seus votos novamente a essas pessoas.

            Por isso quero lembrar aqui, reavivar na memória o nome de cada um dos militares brasileiros que morreram lá, no cumprimento do serviço, vítimas de um terremoto.

            São eles: Coronel Emilio Carlos Torres dos Santos, Coronel João Eliseu Souza Zanin, Tenente Coronel Marcos Vinicius de Macedo Cysneiros, Major Francisco Adolfo Vianna Martins Filho, Major Márcio Guimarães Marins, 1º Tenente Bruno Ribeiro Mário, Subtenente Raniel Batista de Camargo, 2º Sargento Davi Ramos de Lima, 2º Sargento Leonardo de Castro Carvalho, 3º Sargento Rodrigo de Souza Lima, Cabo Washington Luis de Souza Seraphin, Cabo Arí Dirceu Fernandes Júnior, Cabo Douglas Pedrotti Neckel, Soldado Tiago Anaya Detimermani, Soldado Antonio José Anacleto, Soldado Felipe Gonçalves Julio, Soldado Rodrigo Augusto da Silva, Soldado Kleber da Silva Santos.

            Eu citei aqui, Sr. Presidente, o nome de 18 heróis brasileiros...

            Vai ficar marcado em minha memória tudo que vi lá, os vestígios, as marcas da violência da natureza, do terremoto que devastou Porto Príncipe, principalmente os locais onde os brasileiros morreram, como os destroços do Hotel Christopher, o Ponto Forte 22, conhecido como Casa Azul, local pacificado a duras penas pelos soldados brasileiros, e o Forte Nacional.

            Esses militares morreram em cumprimento do dever, senhoras e senhores que estão agora me assistindo pela TV Senado. Tenho certeza de que foram muito bem sucedidos naquela missão, assim como estão sendo os seus colegas que os sucederam. É preciso entender a dificuldade pela qual passaram esses brasileiros que estavam nos mesmos locais, no mesmo momento. Eles tiveram a sorte de não perderem suas vidas, mas viram seus amigos morrerem em uma tragédia de grande escala. No entanto, esses militares não se deixaram abater. Se antes o trabalho deles era a pacificação, ganhou uma proporção muito maior. Tiveram que administrar seus sentimentos de companheirismo, sem poder passar sequer para orar por seus amigos e já se abraçaram a uma nova e mais dura causa, lidando com o desafio emocional que afetou todos os haitianos e estrangeiros que se encontravam naquele país. Nossos militares sofreram, mas se dedicaram de corpo e alma à missão, à farda brasileira. Eu vi pessoalmente esses militares trabalhando lá no Haiti. Eu vi a forma carinhosa como cada brasileiro que sai às ruas daquele país é tratado com carinho pelo povo haitiano. Eu vi nisso o resultado de um maravilhoso trabalho que vem sendo desempenhado pelos nossos militares, desde 2004, desde o início da participação brasileira de força de paz no Haiti.

            Quero destacar que o motivo que me traz originalmente aqui hoje, ainda durante a Semana da Pátria, é o desejo de homenagear todos os soldados que estiveram e que estão hoje lá no Haiti.

            Quero transmitir aqui o meu orgulho pelo trabalho realizado no Haiti e pela tropa comandada pelo Coronel Luciano Puchalski, que agora será comandada pelo Coronel Altair José Polsin, cuja troca de comando tive o prazer de acompanhar de perto na semana passada. Assim como destaco também a presença de representantes de todos os países que compõem a força de paz, um exemplo marcante de apoio à tropa brasileira.

            Digo aqui com satisfação que uma coisa é um governo decidir participar de uma força de paz encabeçada pela ONU, e outra coisa é os soldados irem para lá e realizarem um trabalho sensacional, envolvidos de coração e mente, enfrentando dificuldades gigantescas em um local distante de suas casas.

            Por isso considero cada brasileiro integrante daquela força de paz um herói. Estejam eles dentro ou fora do país, são heróis representando espetacularmente o nosso País, o nosso Brasil, auxiliando um país que tem um histórico de colonização e de sofrimento parecido com o nosso.

            Hoje, o Exército Brasileiro possui dois Batalhões de Força de Paz e uma Companhia de Engenharia atuando no Haiti. A Marinha do Brasil mantém na missão um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais.

            O primeiro batalhão está lá, sempre com renovação de seu pessoal, desde 2004, enquanto o segundo Batalhão de Infantaria de Força de Paz, Brabatt 2, foi enviado após o terremoto de janeiro.

            Acredito ser oportuno encerrar este meu comentário, reafirmando minha opinião de que precisamos voltar a valorizar o nosso País, voltar a dar vazão ao nosso patriotismo. Se somos patriotas durante a Copa do Mundo pelo simples fato de que nos orgulhamos com a nossa habilidade no futebol e nos empolgamos com a chance de sermos os primeiros do mundo em alguma coisa, posso sugerir que temos outros motivos para ficarmos orgulhosos das nossas cores, das cores de nossa bandeira.

            Já citei antes que o mundo olha com cobiça para a nossa Amazônia e quer decidir como vamos definir as estratégias de nossa agroindústria. Isso é inaceitável. Somos hoje um país peso pesado na política internacional e teimamos em não aceitar isso.

            O Brasil pode e deve ser o maior produtor de alimentos do mundo. Por isso precisamos aproveitar dois elementos que temos em abundância: terras férteis e gente que quer trabalhar, que quer produzir.

            Por que não transformar o Brasil no maior produtor de alimentos do mundo? Que isso seja feito na Amazônia, no Nordeste, no Sul, no Sudeste, onde for. Queremos produzir e estimular o equilíbrio ambiental.

            Como já citei aqui, é hora de levarmos para fora a nossa experiência com política ambiental, estimulando a preservação das grandes florestas na África e o replantio nos países de Primeiro Mundo. Não é mais tempo de aceitarmos o contrário.

            A manutenção da liderança do Brasil na força de paz no Haiti, mesmo após o terremoto de janeiro, foi uma reafirmação dessa força. Isso porque foi a vitória da nossa visão de humanidade e diplomacia que superou a lógica mercantilista de tirar proveitos até mesmo da desgraça alheia, na forma de uma tragédia monstruosa que foi a que ocorreu no Haiti.

            O Brasil cresce a largos passos e com isso aumenta a nossa responsabilidade internacional. Ainda sofremos muitos problemas e distorções internas, é verdade, mas estamos no caminho certo.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu tinha para dizer nesta tarde.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2010 - Página 45269