Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento da escritora Rachel de Queiroz.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.:
  • Comemoração do centenário de nascimento da escritora Rachel de Queiroz.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2010 - Página 50807
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ESCRITOR, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, BIOGRAFIA, ATUAÇÃO, LITERATURA BRASILEIRA, PUBLICAÇÃO, LIVRO, SECA, REGIÃO NORDESTE, RECEBIMENTO, PREMIO, LITERATURA, PIONEIRO, MULHER, INGRESSO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL).
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, DIVERSIDADE, ATIVIDADE, HOMENAGEM, ESCRITOR, ESTADO DO CEARA (CE), DEFESA, ORADOR, NECESSIDADE, POLITICA NACIONAL, CRIAÇÃO, BIBLIOTECA PUBLICA, AMPLIAÇÃO, ACESSO, OBRA LITERARIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente do Senado, Exmº Sr. José Sarney, imortal da nossa Academia Brasileira de Letras; nosso primeiro signatário da presente sessão, Exmº Sr. Senador Inácio Arruda; Senador Marco Maciel, que honra esta Casa; Diretora da Editora José Olympio, que se faz presente aqui, Srª Maria Amélia Mello - seja bem-vinda à nossa Casa -, depois do que falaram aqui um cearense e o nosso imortal da Academia, fica difícil falar mais um pouco de Rachel de Queiroz, principalmente eu que venho de uma outra terra, de Mato Grosso do Sul, da minha fronteira com o Paraguai. Mas eu não queria deixar de falar aqui, mesmo que alguns fatos possam ser um pouco repetitivos, porque é a história da Rachel.

            Como já foi dito, aos 4 de novembro de 1977, a Academia Brasileira de Letras elegia, para sua cadeira de número 5, a primeira mulher a integrar aquela instituição. Nos Anais, registra-se que houve um grande movimento, uma grande agitação nos meios culturais e literários da época por conta disso, pelo fato de ela ser uma mulher. E muitos aproveitaram para fazer um sensacionalismo quanto ao que se supunha ser uma vitória das mulheres - e o Senador Sarney já colocou aqui casos que antecederam essa data. Mas Rachel, serena como sempre, descartou essa interpretação e disse: “Não entrei por ser mulher, mas porque, independentemente disso, tenho uma obra”.

            E tenho repetido muito isso aqui na tribuna: não é a questão de gênero que pode direcionar o nosso caminhar, mas, principalmente, a nossa competência e a nossa forma de ver o mundo.

            Rememoro a cena por constituir uma amostra do seu atilado espírito crítico. Com efeito, à medida que as mulheres conquistam espaços antes inacessíveis, deixa de ser algo extraordinário sua presença em qualquer função ou setor de atividade. Em literatura, isso quer dizer que uma obra - de contos ou poemas, novela ou romance - não pertence a uma categoria diferente dependendo do sexo de quem escreve: é literatura de qualidade ou não é nada.

            Da pena de Rachel de Queiroz, a propósito, pode-se dizer muita coisa, menos que lhe falte vigor, solidez, energia - traços que nossa cultura ainda tende a associar ao elemento masculino. Tinha apenas 20 anos ao publicar seu romance de estreia, O Quinze, integrante da vertente do romance social nordestino, que inclui outros grandes nomes da literatura nacional, como Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Um romance - forçoso é dizê-lo, nesta homenagem - de extraordinária crueza e força expressiva, em que os problemas sociais de desigualdade do Nordeste, agravados pela intempérie, aparecem retratados em uma trama que inclui profunda análise psicológica das personagens.

            O reconhecimento nacional foi imediato. Esse romance de estreia recebeu o prêmio da Fundação Graça Aranha de 1930. Em 1939, publicou As Três Marias, que lhe valeu o prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira; e, 1954, o prêmio Saci por Lampião.

            Em 1957, a ABL - que viria mais tarde a recebê-la como imortal - outorgou-lhe o importantíssimo prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra. Mais tarde, em 1969, receberia ainda o Jabuti de literatura infantil, da Câmara Brasileira do Livro, por O Menino Mágico. Em 1993, foi agraciada com o mais elevado laurel literário do idioma, o prêmio Camões - já mencionado pelo Presidente José Sarney -, tendo sido, aliás, a primeira mulher a recebê-lo.

            Sua obra de 1992, Memorial de Maria Moura, foi adaptada para minissérie televisiva dois anos depois, o que lhe permitiu alcançar um público mais amplo, não somente no Brasil mas em países de expressão portuguesa, como Angola e Portugal.

            Rachel nos legou uma obra telúrica, que, à maneira do gigante Anteu da mitologia, extrai de sua mãe-terra - o Ceará e o sertão nordestino em geral - a força que a anima.

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Senadora Marisa, eu queria interromper V. Exª para registrar o que muito nos agrada, crianças aqui nesta sessão, do Ensino Médio do Centro Educacional Visão, de João Pinheiro, Minas Gerais.

            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS) - Sejam muito bem-vindos a esta Casa. Nós ficamos felizes em ver os alunos aqui - e eu, como professora, mais ainda.

            Menina ainda, impressionou-se ao ver acorrerem à capital os milhares de retirantes, fugidos dos horrores da grande seca, que seria tema de seu primeiro romance. Falar de sua aldeia, aliás, é caminho para a universalidade, já o dissera Tolstói.

            Ressalvadas as diferenças de paisagem natural e social que os inspiram, a própria terra é também a fonte de escritores do meu Estado do Mato Grosso do Sul, como Emmanuel Marinho, Maria da Glória de Sá Rosa e Ruberval Cunha, destacando o grande Manoel de Barros, apontado por Carlos Drummond de Andrade como o maior poeta vivo brasileiro. São da minha terra, e a terra é a força que os impulsiona a fazer a literatura de grande nível que fazem.

            Rachel de Queiroz faleceu no dia 4 de novembro de 2003, 13 dias antes de completar 93 anos e, precisamente, no aniversário de 26 anos de sua admissão à ABL.

            Hoje é dia de várias homenagens, e procurei ver nos jornais, Senador Sarney, que homenagens estavam fazendo a essa grande brasileira, a essa grande escritora, e muito pouco eu pude encontrar nos jornais de hoje referente aos 100 anos de nascimento de Rachel de Queiroz.

            Hoje, no Rio de Janeiro, o Instituto Moreira Salles lança o livro Mandacaru, livro de poemas inéditos dessa escritora cearense. Além do lançamento e da publicação, que terá distribuição nacional, o Instituto Moreira Salles, do Rio, programou para esta data uma série de atividades em homenagem ao aniversário da escritora. Às 16 horas, será exibido o filme O Cangaceiro, de 1954, dirigido por Lima Barreto, com diálogos de Rachel de Queiroz. Às 19 horas, a ensaísta e professora Heloísa Buarque de Holanda realizará uma conferência sobre a obra da autora, e às 20 horas, será aberta a exposição Rachel de Queiroz Centenária.

            No dia 23 de novembro, terça-feira, será realizada, às 20 horas, a leitura da peça A Beata Maria do Egito, escrita por Rachel de Queiroz, em 1958, com direção de Aderbal Freire Filho.

            Quero destacar também que as editoras todas, inclusive a José Olympio e a Saraiva, estão fazendo também homenagem nesta data.

            Mas eu gostaria mesmo, como professora de Língua Portuguesa e amante de Rachel de Queiroz, de ver o Brasil inteiro falando nela.

            Assomo, nesta tarde, à tribuna do Senado para juntar minha modesta contribuição aqui ao que já se falou de Rachel de Queiroz pelo Senador Inácio e pelo Senador Sarney. Também quero aproveitar esta hora para insistir na necessidade de uma política nacional de instituição de bibliotecas públicas, para que obras, como a de Rachel, patrimônio da cultura brasileira e universal, possam estar acessíveis a todos os cidadãos. Acho que essa tem que ser a nossa luta e a luta desta Casa em homenagem ao grande nome que é Rachel de Queiroz.

            Obrigada. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2010 - Página 50807