Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura do artigo intitulado "Paranoia e pererecas", de autoria de Antônio Delfim Neto. Necessidade de se discutir com mais profundidade a preservação da Amazônia. (como Líder)

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Leitura do artigo intitulado "Paranoia e pererecas", de autoria de Antônio Delfim Neto. Necessidade de se discutir com mais profundidade a preservação da Amazônia. (como Líder)
Aparteantes
Acir Gurgacz.
Publicação
Publicação no DSF de 16/02/2011 - Página 3142
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, ECOLOGISTA, DEFESA, MEIO AMBIENTE, BRASIL, INFLUENCIA, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CONTINENTE, EUROPA, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO, ECONOMISTA, DELFIM NETTO, CORRELAÇÃO, POLITICA DO MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente Vanessa Grazziotin, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, temos, há muitos anos - e a cada dia isto se renova sob vários aspectos -, uma guerra entre os chamados ambientalistas e aqueles que querem desenvolvimento com respeito ao meio ambiente. Aliás, não consigo conceber que alguém queira desenvolvimento sem respeitar o meio ambiente.

            Ouvi, aqui, inclusive, ontem, a Senadora Kátia Abreu dizer: “Ora, os que produzem, sejam os agricultores, sejam os pecuaristas, se não tratarem o meio ambiente, não terão água para produzir, terão erosão, com a qual não podem fazer nada”.

            Então, o que temos que discutir é uma saída inteligente para que o Brasil não seja refém de produtores europeus e produtores norte-americanos, que, recentemente, inclusive, reuniram-se e criaram um lema: floresta aqui - na Amazônia, no Brasil - e fazendas lá. Nos Estados Unidos, eles não têm mais o que preservar, porque ocuparam tudo para produzir - preservar no sentido de manter floresta.

            Eu queria ler, Srª Presidente, para constar nos Anais desta Casa, um artigo do Antonio Delfim Netto, uma pessoa que dispensa comentários, cujo título é “Paranoia e pererecas”:

Antes de sair por aí ‘tietando’ certas figurinhas carimbadas que desembarcam no Brasil sob patrocínio de ONGs de obscura origem, nossos honestos ambientalistas deviam desconfiar de tanto amor que declaram aos nossos indígenas, cuja sobrevivência dependerá da preservação da Floresta Amazônica, obviamente sob garantia de supervisão internacional. Os brasileiros são muito mal informados sobre a qualidade de vida dos 23 milhões de amazônidas, seus irmãos brancos, pardos, negros, amarelos e de pele morena: a grande maioria deles ainda não viu a luz e somente ‘intelectuais’ podem imaginar que eles - os verdadeiros interessados [quer dizer, os amazônidas] - combatem a construção das hidrelétricas porque desejam continuar vivendo na escuridão e no atraso.

Além dessa forma de alienação, que julga seu dever impedir a duplicação de uma rodovia vital em nome da proteção a um tipo de perereca ameaçada de extinção, existe no mundo desenvolvido um interesse bem justificado sobre a utilização dos imensos recursos amazônicos em benefício da humanidade...

A riqueza de sua biodiversidade, um rico subsolo praticamente virgem e oceanos de água doce obviamente são objetos de consideração nas projeções das equipes de planejamento do desenvolvimento nos próximos 30 anos em muitos países.

Não julgue o leitor que se trata de mais uma teoria conspiratória. Também não sei até que ponto se pode referendar o vazamento atribuído ao WikiLeaks, segundo o qual um graduado funcionário do Departamento de Estado americano classificou de paranoia a preocupação do governo brasileiro quando ouve críticas de estrangeiros à forma como lida com os problemas amazônicos. Não há nada de paranoico nesses cuidados da nossa parte. Um comentário descuidado pode não dizer nada ou pode ser bastante significativo.

Muita gente pode duvidar de que no subsolo amazônico, do lado brasileiro, haja petróleo. Talvez haja. No início dos anos 80, auge da crise produzida pela explosão dos preços do petróleo, num jantar em Washington com o então secretário do Tesouro John Connally, ouvi um desses comentários despretensiosos. Lembrei-me do episódio durante a recente discussão das leis de imigração do estado do Arizona, que pretendem restringir o ingresso de estrangeiros e estão causando enorme desconforto aos antigos imigrantes. Connally era o governador do Texas que recepcionava o presidente Kennedy em Dallas e foi atingido no ombro e na perna por uma das balas assassinas, a qual ainda lhe causava desconforto ao caminhar.

            Sr. Presidente Gilvam, eu gostaria que V. Exª me concedesse mais alguns minutos, para terminar.

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. Bloco/PMDB - AP) - Senador Mozarildo, V. Exª sabe que o Regimento deve ser aplicado dentro da flexibilidade e das necessidades das Srªs e dos Srs. Senadores. Portanto, de quantos minutos V. Exª necessita para concluir, em consideração? Três minutos? V. Exª tem os três minutos.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Obrigado, Presidente.

A conversa no jantar [diz Delfim Netto] (e não podia mesmo ser outra) era sobre o velho vício texano. Ele falou do petróleo de Angola e demonstrou curiosidade sobre as pesquisas da Petrobras no litoral norte angolano, se não me engano em Cabinda. Apesar das tensões ocasionadas pelas duras discussões sobre os problemas do endividamento brasileiro para garantir as importações do produto, tínhamos construído um relacionamento bastante civilizado e quase sempre cordial.

Num dado instante, Connally ele quis saber das prospecções na Amazônia e, como quem tivesse alguma carta na manga, comentou descontraidamente: “Vocês sabem por que continuam donos da Amazônia?” E ele mesmo, rindo, respondeu: “Seus vizinhos são menos competentes: se vocês fossem vizinhos do Arizona, a Amazônia teria outros donos...”

Lembro-me que devolvi, na hora, com um outro non sense: “Pode ser, mas vocês já não fazem John Waynes como antigamente...”

Na época, não era para levar muito a sério; depois, a crise do petróleo amainou e as pessoas tendem a esquecer esse tipo de problema. Hoje, com o aumento das tensões produzidas pela explosão demográfica e o crescimento agressivo da demanda por espaço para a produção de alimentos e para a exploração de matérias-primas essenciais na produção industrial, talvez seja uma boa coisa tratar de reforçar as fronteiras.

Mais importante do que isso: no caso brasileiro, é preciso um esforço permanente para levar às pessoas o conhecimento dos verdadeiros problemas ambientais, para que não se deixem iludir com a ideia falsa que o desenvolvimento econômico prejudica a qualidade de vida atual ou comprometerá a saúde das futuras gerações.

Temos absoluta necessidade de construir toda uma infraestrutura de transportes para aproximar os brasileiros entre si, acelerar a construção de hidrelétricas para proporcionar a oferta de energia e levar o progresso aos rincões mais pobres. Isso aumentará a segurança do sistema de energia, beneficiando todas as regiões. E podem fazê-lo com proteção inteligente ao meio ambiente.

            Senador Gilvam - V. Exª que também é da Amazônia -, eu fiz questão de ler esse artigo porque nós temos de discutir a Amazônia com o olhar dos amazônidas e para os amazônidas.

            Então, quero dizer que é muito importante que, neste novo começo de legislatura, nós discutamos com mais profundidade a Amazônia.

(Interrupção do som.)

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Senador Gilvam, já concluí, mas...

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. Bloco/PMDB - AP) - Senador Mozarildo, V. Exª pediu mais três minutos, que lhe foram concedidos. Como V. Exª quer concluir, a Mesa se flexibiliza à necessidade de V. Exª. Um minuto.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Eu gostaria de dar esse minuto para o Senador Acir.

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco/PDT - RO) - Senador Mozarildo, quero cumprimentá-lo por sua colocação e, também, manifestar o meu respeito pelos ambientalistas verdadeiros, aqueles que estão preocupados com o meio ambiente e com as pessoas que vivem do meio ambiente, envolvidos principalmente com a nossa Amazônia. Nós temos de nos preocupar com a floresta, evidentemente, mas, principalmente, devemos nos preocupar com o ser humano, com as pessoas que vivem na Amazônia. Meus respeitos, evidentemente, aos ambientalistas, excluindo aqueles falsos ambientalistas, que utilizam esse meio para tentar proteger a economia dos Estados Unidos e a economia dos europeus, em detrimento do nosso crescimento, do crescimento brasileiro, com relação à produção de alimentos. Portanto, meus cumprimentos, mais uma vez, Senador Mozarildo Cavalcanti!

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Fora do microfone.) - Obrigado a V. Exª.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/02/2011 - Página 3142