Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a boa gestão pública no Estado do Acre nos últimos anos.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Outros:
  • Considerações sobre a boa gestão pública no Estado do Acre nos últimos anos.
Aparteantes
Blairo Maggi, Humberto Costa, João Pedro, Mozarildo Cavalcanti, Pedro Taques, Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 16/02/2011 - Página 3158
Assunto
Outros
Indexação
  • ELOGIO, POVO, BINHO MARQUES, EX GOVERNADOR, DOM MOACIR, BISPO, CHICO MENDES, SERINGUEIRO, MARINA SILVA, EX SENADOR, TIÃO VIANA, GOVERNADOR, REPRESENTANTE.
  • APOIO, REFORMA POLITICA, OBJETIVO, CONSOLIDAÇÃO, DEMOCRACIA.
  • ANALISE, GOVERNO, GETULIO VARGAS, JUSCELINO KUBITSCHEK, JOSE SARNEY, FERNANDO COLLOR, ITAMAR FRANCO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, queria agradecer a oportunidade da convivência com tantas figuras ilustres que trazem currículo de vida exemplar e que compõem a maioria desta Casa.

            Para mim é uma honra muito grande e chego ao Senado Federal expressando minha gratidão, em primeiro lugar, ao povo do Acre. Não se trata somente de um agradecimento pelos votos que me fizeram representante do Estado nesta Casa. Agradeço, sobretudo, pela sensibilidade demonstrada pelo povo acreano em compreender e apoiar um projeto político inovador, ousado, que, com luta dura, vencendo grandes desafios, ousou fazer uma transformação no Estado do Acre.

            Foram quatro eleições consecutivas nas quais esse apoio se manifestou de forma incontestável, nas urnas, com quatro vitórias no primeiro turno.

            Tive o privilégio de governar o Acre por oito anos, sendo sucedido pelo Governador Binho e, agora, temos à frente do Governo o ex-Senador Tião Viana.

            O Governador Binho é, talvez, um exemplo que devemos considerar pela maneira desprendida com que faz política. Esteve na origem desse projeto, pegando ensinamentos com Chico Mendes, vivendo na floresta e, através de um trabalho na educação, ajudando-nos como Secretário Municipal de Educação na Prefeitura de Rio Branco, como Secretário de Estado de Educação. Depois de também atuar como Vice-Governador, assumiu o desafio e aceitou ser nosso candidato a Governador. Cumpriu, até dezembro último, quatro anos de governo exemplar, mudando os indicadores do Acre, consolidando a trajetória de um projeto que esteve o tempo inteiro baseado no sonho de buscar melhores condições de vida para o nosso povo e incorporar a Amazônia como essência da vida do Brasil.

            Além do legado de uma boa gestão, o Governador Binho deixa para Tião Viana, atual Governador, a lição do desprendimento das ambições políticas. O Binho não quis, não aceitou ser candidato à reeleição, apesar dos altos índices de aprovação que tinha, um dos maiores do Brasil. Essa é uma lição pequena aparentemente, mas deve servir para todos nós, que buscamos, através da política, transformar a realidade do nosso povo e do nosso País.

            Queria também dizer que jamais entendi a política como profissão ou como um ofício qualquer, igual a tantos outros, iguais em importância e dignidade. Foi o aprendizado da vida e a consciência de que a vida em sociedade não pode admitir tantos desacertos e tantas desigualdades que me fizeram tomar o caminho da política.

            Impossível, a esse respeito, não me referir a figuras que, no meu Acre, à época ainda tão apartado das conquistas básicas da cidadania, apontaram direções, iluminaram caminhos e deram o constante testemunho da honradez, da fidelidade aos mais elevados princípios cristãos, de compromisso com os pequenos e da convivência harmoniosa com a natureza.

            Falo da capacidade de inovar de Chico Mendes, um visionário, e de uma figura ímpar, o Bispo Dom Moacir, pessoas que nos fizeram assumir compromissos e estabelecer princípios de vida comprometidos com o bem comum. Devo muito do estímulo para encarar grandes desafios na minha vida a essas figuras, a companheiros de partido e também ao povo simples do Acre. Assim, chegar ao Senado da República neste momento é mais uma etapa, é mais um desafio na minha vida, que se iniciou, de certa forma, cumprindo e sendo sujeito desse processo na Prefeitura de Rio Branco e passando pelo Governo do Acre. Chego agora a esta Casa, que conheceu duas figuras emblemáticas desse nosso projeto do Acre e são seus mais expressivos e dignos representantes. Refiro-me à Senadora Marina e ao Senador Tião Viana.

            Marina se firmou como uma personalidade do nosso País com seu exemplo de vida. Tião Viana aprendeu na escola do Senado o caminho de colaborar com o PT, com a nova política, com o Acre e com o nosso Brasil. Tião Viana está dando certo no Governo do Acre porque é fundador do projeto Acre, nosso projeto político no Acre, e também porque passou pela escola do Senado Federal, inclusive tendo sido seu Presidente por um período.

            Ambos, com a reconhecida competência e a mesma dignidade, abriram o caminho que agora começo a percorrer - eu e o meu colega, o Senador Anibal Diniz. Neles encontro a fonte de inspiração para o meu trabalho parlamentar. Com humildade, espero ser recebido nesta Casa da mesma forma carinhosa com que os meus ilustres antecessores foram aqui recepcionados por Senadoras e Senadores, por funcionários e até mesmo pelos companheiros da imprensa.

            Senador Humberto Costa, por gentileza.

            O Sr. Humberto Costa (Bloco/PT - PE) - Senador Jorge Viana, peço um aparte a V. Exª para dar aqui o meu testemunho não apenas como companheiro de partido de V. Exª, do atual Governador Tião Viana e também do ex-Governador Binho e de todos os companheiros e companheiras que fazem o PT do Acre. Ao ressaltar a importância do trabalho que esse grupo realizou e realiza naquele Estado e da sua contribuição para o próprio País, quero dizer que, como Ministro da Saúde, tive a oportunidade de fazer uma grande parceria com V. Exª e com o próprio Senador Tião Viana: ações importantíssimas foram implementadas naquela área. Mas, sem dúvida, a maior contribuição que deu V. Exª e o grupo que V. Exª representa naquele Estado, o PT, foi tornar o Acre um Estado livre de todas aquelas mazelas decorrentes da existência do crime organizado, daquele atraso político que manchou durante muito tempo a imagem do Acre. Eu tenho certeza de que V. Exª aqui, na condição de Senador, será um dos mais brilhantes entre nossos Pares, acima de tudo, por trazer esse compromisso importante com a dignidade, com a justiça social do seu Estado e do nosso País. Muito obrigado.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigado, Senador Humberto Costa. Aproveito para parabenizá-lo pela sábia escolha dos meus colegas e de todos nós de tê-lo como Líder. Agradeço também pela responsabilidade que me foi confiada, já nesse início de trabalho, ao ser indicado por V. Exª para compor a Comissão da Reforma Política.

            Refiro-me à reforma política porque estou convencido de que essa reforma tem todas as credenciais para se constituir, para além do Senado Federal, no ponto de partida da grande agenda política do Poder Legislativo. Nessa perspectiva, acredito estarmos diante de um extraordinário dever de casa, e devemos entender que não podemos contornar essa obrigatoriedade e muito menos fugir dela. Se o Senado, que inicia seu trabalho agora, não estabelecer uma ação objetiva para colaborar com a democracia do Brasil, consolidada hoje, nós vamos ter dificuldade para dar expressão aos anseios da sociedade brasileira.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Jorge Viana, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Por gentileza, Senador Mozarildo.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Quero, primeiro, dizer da minha satisfação de tê-lo aqui no Senado. Eu conheci seu pai, fomos colegas na Câmara de Deputados, e tive a oportunidade de conviver com Tião Viana aqui. Quero dizer que o Acre é muito feliz, pois tem em V. Exª e no Senador Tião Viana pessoas realmente comprometidas, de corpo e alma, com a causa daquele Estado. Portanto, dou-lhe os parabéns e desejo que o Acre continue nesse caminho brilhante que vem percorrendo até aqui.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigado, Senador Mozarildo.

            Bem, voltando à experiência do Acre, queria dizer que ela é parte das nossas histórias de vida e, por isso, fico contente ao ouvir as referências àqueles que estiveram aqui no Senado antes, fazendo o seu trabalho. Agora, eu, o Senador Anibal e o Senador Sérgio Petecão vamos tentar nos colocar à altura dos que nos antecederam.

            Queria também falar que, nesta legislatura que começa, dos 81 Senadores, 42 já ocuparam função de Prefeito, de Governador ou de Ministro de Estado e, além disso, temos três ex-Presidentes da República. Isso aumenta a responsabilidade do Senado, porque essa experiência política se associa àqueles que têm a experiência do Parlamento e trazem a força viva das ruas, da realidade do nosso povo.

            A esse respeito, permito-me fazer uma referência à experiência que vivemos no Acre, com as quatro vitórias que tivemos, que nos permitiram estabelecer princípios e o compromisso de estar sempre voltados para as ações que atendam ao bem comum, fazer sempre o melhor para quem precisa.

            Além disso, elas estimulam a autoestima. E foi essa a maior conquista que nós tivemos ao longo desses anos no Acre.

            O Sr. Blairo Maggi (Bloco/PR - MT) - Senador Jorge Viana... Senador, permita-me um aparte?

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Por gentileza, ex-Governador e nobre Senador Blairo Maggi.

            O Sr. Blairo Maggi (Bloco/PR - MT) - Primeiro, quero cumprimentá-lo pelo discurso, pela apresentação, já que, assim como eu, também está chegando nesta Casa. Mas eu gostaria de aparteá-lo para fazer uma referência ao meu amigo, ex-Governador Binho, que passou pelo seu discurso também, e dizer que, durante quatro anos, convivi com ele como Governador, quando formamos uma associação dos governadores da Amazônia, um fórum, onde ele, sempre presente, muito sereno, muito competente, levou suas experiências do Acre para o Fórum de Governadores da Amazônia. Muitos acham que a Amazônia é igual; na realidade, ela é muito heterogênea. Nós, da Amazônia, do Mato Grosso, somos muito diferentes da de Roraima, que é diferente da do Amapá e que é diferente da do Acre também. Então, quero cumprimentar V. Exª...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Blairo Maggi (Bloco/PR - MT) - ...e dizer aqui da minha alegria de ver o nome do meu amigo Binho sendo citado. Ele é um homem competente e comprometido com as políticas que vocês pensam e desenvolvem lá no Acre. Parabéns!

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigado, Senador Blairo. Bem, eu queria...

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Jorge Viana, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Por gentileza, Senador João Pedro.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - É para parabenizá-lo nesse primeiro pronunciamento, em que V. Exª faz uma avaliação do homem público que é e todos nós reconhecemos. V. Exª começou jovem, já como Prefeito de Rio Branco e Governador, mas quero destacar essa experiência de uma geração que tem Marina Silva, que tem Chico Mendes - V. Exª foi amigo do Chico Mendes -, uma geração que se contrapôs à velha política ali na Amazônia, ali no Acre. V. Exª faz parte do novo. E não tenho nenhuma dúvida de que essa experiência do Executivo, do debate sobre a Amazônia, do debate da Amazônia com os países fronteiriços do Brasil para essa conjuntura, para esse momento, vai trazer uma riqueza muito grande para esta Casa e para o Brasil. V. Exª tem aqui no Senado toda uma perspectiva de qualificar o debate por conta da bela vida pública que tem como homem da Amazônia, como militante social ali da floresta, conhecendo, principalmente, as vozes e os clamores dos pequenos de nossa região.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigado, Senador João Pedro. Eu queria lhe dizer que uma das tarefas que pretendo cumprir é de representar a voz dos mais de 25 milhões de amazônidas que vivem e que precisam desta Casa para buscar e alcançar melhorias de condições de vida.

            Queria também dizer que, tanto ou mais que os melhores livros propriamente, a experiência tem muito a nos ensinar. A primeira lição que fica é que a roda da História não cessa nunca de girar. Vivemos, hoje, uma realidade que nos custou abnegação, força de vontade e ação destemida. Para que atingíssemos o ponto em que ora nos encontramos foi preciso que correntes e personagens políticos distintos oferecessem sua própria contribuição.

            Digo isso com a convicção de quem na política como na vida escolheu um lado e nele permanece. Como lembrava sempre o saudoso Apolônio Carvalho, devemos mudar sem mudar de lado. Sendo petista, tenho a visão de mundo dos que acreditam na força transformadora da ação humana na condução da História. Reconheço, no entanto, por princípio e por convicção democrática, a existência de outros caminhos e de outras visões.

            Assim, posso afirmar que, se Getúlio Vargas introduziu os direitos civis entre nós e promoveu mudança na economia, coube a Juscelino Kubitschek, na segunda metade dos anos 50, fazer o Brasil olhar para dentro de si mesmo. Ele o fez transferindo a Capital para o Centro-Oeste, no esforço de incorporar a região ao País essencialmente litorâneo de então. Com isso, inegavelmente, ele possibilitou que a autoestima nacional pudesse, pela primeira vez, elevar-se.

            Mesmo com as dificuldades advindas da decepção trazida pela doença e morte de Tancredo Neves, o Governo do Presidente Sarney viveu grandes conflitos. E, nesse conflito, tivemos a perda e a morte de Chico Mendes. Mas também daí tiramos algumas boas lições, quando o Presidente Sarney, por intermédio de Fernando César Mesquita, que estava presidindo o IBDF na época, levou o tema da criação de reserva extrativista. Assim, foi no Governo Sarney que se criou a primeira reserva extrativista.

            Falo também do Governo...

(Interrupção do som.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - ... do Presidente Collor que, com a sua ousadia, mobilizou parte da sociedade brasileira.

            Logo depois, nós vimos e aprendemos a força da mobilização popular, que hoje o mundo experimenta no Egito. O Brasil experimentou-a aqui. E todos nós tiramos esta lição: a força que aqueles que estão fora desta Casa, que nos puseram nesta Casa, têm quando se mobilizam. Está aí uma lição que devemos tirar daquele episódio.

            Depois, tivemos a chegada ao poder do Presidente Itamar Franco, que nos mostrou que a simplicidade pode assegurar estabilidade política e econômica. E criou o Plano Real, mudando a realidade econômica do País.

            A seguir, chegamos ao Presidente Fernando Henrique Cardoso. Além de ter possibilitado ao Brasil experimentar o significado da normalidade democrática, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, um grande brasileiro, como Presidente da República, estabeleceu comigo, no Governo do Acre, relações verdadeiramente institucionais, que foram extrapoladas para uma relação pessoal, de amizade. Foi a primeira vez que tivemos uma situação dessas no País.

            Esse maduro relacionamento entre governantes foi decisivo, por exemplo, para minha vida, quando, enfrentando o crime organizado, junto com instituições como o Ministério Público Federal, o Ministério da Justiça, a Justiça Federal, o Ministério Público Estadual, a Justiça local e as forças da sociedade, o Presidente Fernando Henrique esteve no Acre para dar respaldo e ser avalista das ações que adotávamos para tirar o Acre da ilegalidade. Ficou essa lição.

            Por fim... Nobre Senador Pedro Taques, como profissional do Ministério Público a trazer o Acre para a legalidade, é uma honra lhe conceder um aparte.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Quero cumprimentar V. Exª pelo seu discurso e dizer que mais vale ver uma vez do que ouvir falar mil vezes. Vi o Acre antes e depois de V. Exª. Eu estive lá naquele momento terrível, a partir de 95, e depois, na luta contra o crime organizado. Quero dizer que se o governo de V. Exª no Acre teve vários méritos, e V. Exª já citou alguns, a luta na defesa dos direitos humanos, a partir do governo de V. Exª, foi notada dentro da instituição da qual eu fazia parte, o Ministério Público Federal, que muito contribuiu naquele momento histórico. Parabéns a V. Exª pelo discurso e pelo seu papel na política brasileira!

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Muito obrigado, Senador Pedro.

            Por fim, veio o Governo do Presidente Lula. O Presidente Lula está na base do nosso projeto no Acre. Ajudou na minha formação, na inspiração e no comportamento que adotamos no começo desse projeto. Creio que ninguém se preparou mais e melhor do que ele para governar o Brasil. Sempre encontro pessoas falando que o Presidente Lula não estava preparado. Ele se preparou. Que maneira pode ser mais eficiente do que conhecer profundamente o País antes de ter a oportunidade de governá-lo, conhecer profundamente o povo? E assim fez o Presidente Lula. Como ele, ninguém conseguiu entender a alma brasileira e com ela dialogar com tamanha e tão sincera espontaneidade.

            Recolho de minha longa convivência com o companheiro muitas lições. A primeira delas foi a de que ninguém conseguirá governar bem se não conhecer profundamente, integralmente e amorosamente o seu País.

(Interrupção do som.)

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Senador Jorge Viana, mais dois minutos.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Obrigado, Srª Presidente.

            Isso me fez fazer do Acre sujeito e objeto de minha atuação. Tentei fazê-lo com a força de vontade de um aluno aplicado. Talvez isso explique o fato de ter sido o Acre o primeiro local onde o Partido dos Trabalhadores disputou o segundo turno para o Governo do Estado. Talvez isso explique o fato de o Acre ter sido o primeiro Estado governado, por oito anos, pelo Partido dos Trabalhadores, tendo feito a sucessão com o Governador Binho e, agora, o quarto mandato, com o ex-Senador Tião Viana.

            Estou convencido, todavia, que o maior legado que o Presidente Lula nos deixou não foram os números que mudaram a economia, os 15 milhões de empregos e mesmo a inclusão de dezenas de milhões de pessoas. Entendo, lembrando JK, que o maior legado que o Presidente Lula nos deixou foi para nosso povo e para nosso País. Se JK iniciou o processo de incorporação do interior ao conjunto do País, o Presidente Lula consolidou o modelo de levar o País ao Centro-Oeste, Norte e Nordeste, que passaram, efetivamente, a partilhar os destinos da Nação, a serem sócios do desenvolvimento nacional.

            Quero fazer um apelo à Presidenta Marta, que dirige esta sessão: sendo este o meu primeiro pronunciamento, preciso de um pouco mais de tempo para concluí-lo. Já estou na fase final.

            Justamente por ter a infinita sensibilidade para entender o Brasil - ele, praticamente um sobrevivente das condições de vida do Nordeste de sua infância -, o Presidente Lula foi e é capaz de conversar com as pessoas, com o povo, sem artificialismo de qualquer natureza. Ele foi além, no entanto: fez o Brasil dialogar com o mundo de igual para igual. Como disse Chico Buarque: “Falando firme com os Estados Unidos e suavemente com a Bolívia”.

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Cinco minutos.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero concluir, falando um pouco do debate que temos hoje no País. O debate é sobre a sucessão do Presidente Lula, sobre se elogia-se a Presidente Dilma ou se fala-se mal do Presidente que saiu. É algo interessante, pois é a primeira vez que o País está tendo essa experiência - a única outra experiência é no Acre: um projeto de governo que durou oito anos e que agora segue por mais quatro anos, graças à vontade soberana do povo.

            Estranho porque tentam passar a ideia de que são novos os ocupantes do Palácio, mas a Presidente Dilma está há seis anos no Palácio. Ela é uma das sócias do sucesso do Governo do Presidente Lula. Ela conduziu as mudanças do País junto com o Presidente Lula. A mesma afirmação posso fazer, independente dos problemas, do Ministro Palocci, do Ministro Gilberto Carvalho. O Palácio segue. Agora, é óbvio, é um novo momento, é um novo governo.

            Quero dizer que até humoristas e alguns jornalistas estão tratando talvez melhor isso do que alguns analistas. Eu, por exemplo, vi: ninguém elevou tanto a autoestima do povo brasileiro como o Presidente Lula. A caminho de dois meses do fim do seu Governo, depois de ter passado a faixa presidencial a quem ele considerava a pessoa ideal para continuar transformando o Brasil, talvez esteja passando da hora de algumas pessoas desencarnarem do Presidente Lula. Ele é o ex-Presidente da República agora. Vamos pegar dele o que de melhor ele tem e deixou. Ele não está mais decidindo.

            Eu faço isso inspirado em posição do próprio jornalista Zuenir Ventura e de um humorista que é sempre bom e interessante ler, o Tutty Vasques, que falou em relação a um dos grandes articulistas da política, um comentarista político: “não sei o que puseram na água do Arnaldo Jabor”, por conta dos elogios que está fazendo à postura da Presidente Dilma.

            A Presidente Dilma, de fato, está fazendo aquilo que é necessário. O ex-Presidente Lula governou até a meia-noite do dia 31 de dezembro do ano passado. O mesmo eu fiz no Acre com o Governador Binho. É um período para acalmar, é um período para cortar despesas, para fazer um novo ajuste para começar uma nova caminhada. A Presidente Dilma está fazendo isso e merece receber todos os elogios. Ainda bem que ela está tendo essa paz para trabalhar, porque, quando ela for para as ruas, quando ela for para as regiões, ela irá com mais controle ainda da situação que ela lidera desde 1º de janeiro deste ano!

            Então, Presidenta Marta, é com muita honra que, antes de concluir, se a senhora me permitir, gostaria de ouvir o aparte do meu querido amigo e hoje Senador Wellington Dias, por gentileza.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - Minha Presidente, Senadora Marta Suplicy, queria congratular-me também com o nosso Senador Jorge Viana. Tive o privilégio de conviver com ele como Governador do Acre, tive oportunidade de conhecer esse trabalho que hoje é um exemplo para a Região Norte do Brasil, para o Brasil e, em vários aspectos, para o planeta. É o governo das florestas, é um governo que consegue trabalhar um desenvolvimento centrado na preservação da floresta, no respeito ao homem e à mulher daquela região. Eu quero aqui, meu querido Jorge, parabenizar você e a sua equipe por esse belo trabalho. Tenho certeza de que muito terá a contribuir com esta Casa. Muito obrigado.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Bem, para concluir, eu quero lembrar uma pensadora que diz que a política deve ser exercida como um gesto de amor. Que ela jamais possa ser confundida com a aridez dos números, com a frieza das estatísticas e com os mais mesquinhos interesses pessoais ou fisiológicos!

            Quero dizer também: que a política possa ser exercida com espírito de coragem! Não essa coragem convencional, que erradamente aprendemos a absorver, mas, como nos fala Guimarães Rosa, que ela brote do coração e aos corações se dirija. Que ela nunca se esqueça que seu objetivo, a razão de ser de sua existência é o atendimento dos anseios da sociedade e do bem comum.

            Leio aqui...

(Interrupção do som.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - ...Guimarães Rosa nos falar um pouco sobre a vida: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

            Encerro, agradecendo os apartes, os estímulos, a audiência proporcionada pela TV Senado e pela Rádio Senado, inclusive no Acre, e dizendo à Presidenta Marta, que está aqui, que vou me dedicar a esta atividade como uma causa de vida, compartilhando com meus companheiros e com os nossos adversários os mesmos propósitos, de fazer com que o Senado esteja à altura da expectativa que o Brasil deposita nele.

            Por fim, queria só encaminhar um requerimento, nesta minha primeira participação, com base no que falei. Esta é uma Casa que tem hoje 42 ex-Prefeitos, ex-Governadores, ex-Presidentes da República e ex-Ministros. Nós tivemos um desastre no Rio de Janeiro em janeiro de 2011...

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP. Fazendo soar a campainha.) - Senador.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco/PT - AC) - Vou encaminhar, então. Vou encaminhar: ...que nos fez ficar perplexos no começo deste ano, e desastres no final do ano no Nordeste, especialmente em Pernambuco e em Alagoas. Eu queria propor a criação de uma comissão especial para que o Senado da República, a Casa da Federação, assumisse o compromisso de ajudar o Brasil a encontrar um caminho seguro para enfrentar as tragédias que o nosso povo não suporta mais vivenciar.

            Faço chegar à Mesa do Senado este requerimento, que propõe que seja criada uma comissão especial no Senado, na Casa da Federação, com composição que represente as cinco regiões do País, as que vivem os incêndios, as secas, as cheias, as tragédias dos desmoronamentos. Entendo que o Senado é a Casa que pode acolher as sugestões, as propostas e auxiliar o Brasil na busca de paz para o nosso povo.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/02/2011 - Página 3158