Discurso durante a 53ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Anúncio da solenidade de beatificação da Irmã Dulce, no próximo dia 22 de maio, em Salvador; e outro assunto. (como Líder)

Autor
Lídice da Mata (PSB - Partido Socialista Brasileiro/BA)
Nome completo: Lídice da Mata e Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. HOMENAGEM.:
  • Anúncio da solenidade de beatificação da Irmã Dulce, no próximo dia 22 de maio, em Salvador; e outro assunto. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2011 - Página 11979
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, CERIMONIA RELIGIOSA, IGREJA CATOLICA, HOMENAGEM, IRMÃ DE CARIDADE, ESTADO DA BAHIA (BA).
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO, MULHER, VINCULAÇÃO, COMUNISMO, ESTADO DA BAHIA (BA), DEFESA, DIREITOS HUMANOS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª LÍDICE DA MATA (Bloco/PSB - BA. Pela Liderança. Sem revisão da oradora) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, quero agradecer ao Líder do meu partido por permitir que eu desse uma notícia ao Senado Federal a respeito de algo que é motivo de muita alegria para todos os baianos e baianas, que há muito tempo veem e consideram Irmã Dulce uma santa.

            Nossa alegria se dá pela proximidade do dia 22 de maio, quando acontecerá, no Parque de Exposições, em Salvador, a solenidade religiosa em que Irmã Dulce será beatificada. Esse é o penúltimo passo para a santidade ser confirmada pelo Vaticano.

            A trajetória de vida dessa extraordinária mulher, que não descansou na missão de ajudar os que estavam à margem de qualquer direito ou conforto, não deixa dúvida sobre sua santidade. Sanidade esta que foi testemunhada por milhares de moradores de rua, que encontravam, nos seus cuidados, o verdadeiro sentido da solidariedade cristã e que, hoje, após a sua morte, continuam encontrando apoio nas obras sociais deixadas por ela, um legado construído com muito esforço e perseverança.

            Desde muito cedo que o desejo de ajudar ao próximo tornou-se o objetivo de vida de Maria Rita de Souza Brito Lopes Ponte. Mesmo antes de ingressar na Congregação Religiosa - Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus -, ela já se preocupava em acolher pessoas nas ruas, transformando a sua própria casa em abrigo para tratar suas enfermidades.

            Tive a oportunidade de conhecê-la e, muitas vezes, questionava-me onde uma pessoa de aparência tão frágil encontrava energia para tanta agilidade e determinação.

            Quando Prefeita de Salvador, recebi Irmã Dulce muitas vezes no gabinete, na sua peregrinação constante em busca de ajuda para os seus “pobrezinhos”, como costumava dizer.

            A voz quase imperceptível e mesmo com a saúde bastante debilitada, prosseguia no caminho para realizar a sua obra, batendo à porta de autoridades, empresários, pequenos comerciantes, ou qualquer pessoa com disposição de ajudar.

            Na oportunidade, tivemos a possibilidade de firmar convênios com as suas instituições, inclusive para o tratamento do alcoolismo em funcionários públicos municipais.

            Irmã Dulce deixou uma história de dedicação e amor ao próximo e uma obra social da maior importância para a Bahia. O Hospital Santo Antonio, fundado por ela, é responsável por mais de 40% dos atendimentos médicos, majoritariamente de pessoas carentes, não apenas de Salvador, mas também do interior do Estado. Mas as Obras Sociais Irmã Dulce têm um trabalho bem mais abrangente que atende idosos e crianças.

            A história de Irmã Dulce está preservada no coração dos baianos e no memorial a ela dedicado, instalado na OSID, na Cidade Baixa, em Salvador. Todo esse trabalho, cuidadosamente organizado sob a orientação de sua sobrinha, a jornalista Maria Rita Lopes Ponte, que herdou a missão de dar continuidade à sua obra.

            Para se entender um pouco mais do trabalho de Irmã Dulce, é preciso retroceder a meados da década de 30, quando os operários das fábricas de Itapagipe construíram seus barracos sobre palafitas na baía dos Tanheiros, dando origem ao local que ficou conhecido como Alagados, onde pessoas moravam em condições subumanas.

            Irmã Dulce era a referência de auxílio. Era ela que levava médicos, roupas, alimentos e conforto. Para ajudar na organização dos operários, em 1º de maio de 1936, fundou a União Operária São Francisco, primeira organização operária da Bahia. Poucos meses depois foi transformada no Círculo Operário da Bahia, com sede própria no Largo de Roma, na Cidade Baixa, em Salvador.

            Em 1939, ela invadiu cinco casas na Ilha dos Ratos, área do Comércio, também na Cidade Baixa, para acolher e cuidar dos enfermos de rua. Pressionada pelo proprietário das casas, levou os doentes para os arcos da subida da Colina do Bonfim, mas o Prefeito da época a intimou a retirá-los de lá. Mas nada disso a intimidava, e, para não deixar os enfermos ao relento, transformou um galinheiro do local, que viria a ser o embrião do Hospital Santo Antônio, em abrigo.

            Em linhas gerais, este é o resumo brevíssimo da história de Irmã Dulce que poderá se transformar oficialmente, pelas leis que regem a Igreja Católica, na primeira Santa da Bahia, embora, como disse anteriormente, para os baianos e as baianas há muito que ela assim é conhecida.

            Sr. Presidente, quero registrar, rapidamente, nesse tempo que ainda me resta, a passagem, no último dia 13 de abril, do aniversário - se estivesse viva, completaria 96 anos de idade - da Srª Ana Montenegro, comunista, defensora dos direitos humanos, reconhecida e conhecida por todos na Bahia como D. Ana.

            Faz grande falta à Bahia Ana Montenegro, a primeira mulher exilada política do Brasil, a quem tive a satisfação de, juntamente com a Deputada Estadual, hoje Prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, entregar, em seu aniversário de 90 anos, em sua residência, o título de Cidadã Baiana, que lhe foi concedido pela Assembleia Legislativa, por unanimidade de votação.

            Não posso deixar também de lembrar e, neste dia, fazendo este registro em sua homenagem, enviar um grande abraço a seus familiares: Sônia, sua filha; Sara, sua neta; e Lucas, seu bisneto, que, juntos com Ana Montenegro, marcaram a história da luta do nosso Estado por liberdades, por direitos humanos, de combate ao racismo e de direitos especialmente para a mulher baiana.

            Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2011 - Página 11979