Discurso durante a 52ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Índio.

Autor
MARCOS TERENA
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INDIGENISTA.:
  • Comemoração do Dia do Índio.
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2011 - Página 11690
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INDIGENISTA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, PRESENÇA, SESSÃO SOLENE, HOMENAGEM, DIA, INDIO, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, ALTERAÇÃO, RELAÇÃO, FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO (FUNAI), POVOADO, NECESSIDADE, MOBILIZAÇÃO, COBRANÇA, ATENDIMENTO, REIVINDICAÇÃO.
  • ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, CONFERENCIA, MEIO AMBIENTE, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRIAÇÃO, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, ESTADO DO TOCANTINS (TO), PROMOÇÃO, UNIÃO, COMUNIDADE INDIGENA, IMPORTANCIA, RECONHECIMENTO, CONHECIMENTO, INDIO.

            O SR. MARCOS TERENA - Meus parentes; guerreiros e guerreiras; Senador Wilson Santiago, que está presidindo e que veio da terra dos potiguares, da Paraíba; Vice-Governador de Tocantins, Dr. João; Dr. Antonio, Secretário de Saúde Indígena brasileira; e, destacando, meu colega de aviação, Comandante e agora Senador Vicentinho Alves, de Tocantins; não esperávamos que o Senado Federal tivesse esta disposição e esta coragem de, pela primeira vez na história do Brasil, abrir as portas desta plenária, por onde passaram Teotônio Vilela, Mário Covas, Fernando Henrique, José Sarney, que continua. Através desses Senadores novos, conseguimos mudar uma idéia de relacionamento conosco, nós, os povos indígenas, mostrando também, pessoal, meus parentes e minhas parentas, que nós entramos aqui pela porta da frente. Entramos aqui com dignidade, sendo respeitados, trazendo os nossos políticos, como os vereadores, as nossas lideranças, homens e mulheres.

            Vejo aqui o grande chefe, já caminhando para os oitenta anos - acho que é o cacique mais velho nesta plenária -, Celestino Xavante, o homem que lutou pela demarcação das terras de seu povo. (Palmas.)

            Vejo aqui também o companheiro de luta e amigo, que foi símbolo da luta da Rio 92, o grande Chefe Davi Kopenawa, ianomâmi de Roraima. (Palmas.)

            Vejo aqui também muitos jovens, lideranças. Vocês estão participando de um momento histórico. Pela primeira vez na história do Brasil - vou repetir -, o Senado Federal abre as portas da sua plenária, para celebrar com a gente o Dia do Índio. (Palmas.)

            Não podemos nos esquecer disto: no dia 18 de abril de 2011, nós entramos na plenária dos Senadores da República. Não entramos como Senadores ainda, mas, um dia, vamos ter Senadores indígenas também. (Palmas.)

            Uma outra questão que eu gostaria de salientar para todas as lideranças é exatamente esses pronunciamentos que foram feitos sobre a realidade de nossos povos, das nossas aldeias, das nossas comunidades com o Governo Federal.

            Realmente, não sei se a Presidente Dilma sabe disso, mas a Funai não está mais conosco dentro das aldeias. “Ué, mas, então, qual é o papel da Funai?” A Funai foi criada para ficar dentro da aldeia, por isso se chama indigenista. E, de repente, da noite para o dia, alguém deu uma ideia: “Ah, vamos tirar a Funai da aldeia.” E tiraram a Funai. E o mais complicado: não avisaram às aldeias, não avisaram aos caciques. E, de repente, o Chefe de Posto foi embora. Quem cuida das terras indígenas, agora, em nome do Governo Federal? Quem? Nós, os índios, somos autoridades como indígenas, mas o Governo Federal não pode lavar a mão e dizer: “Agora, os índios que se vierem!”, porque a dívida que o Governo Federal tem com o índio brasileiro é muito grande. Mais de mil povos indígenas morreram para dar lugar a este Brasil de árabes, de judeus, de negros, asiáticos, e, com 190 milhões de brasileiros, lá no cantinho, na última escala estamos nós que somos chamados de “as primeiras nações indígenas do Brasil.”

            Então, o Governo Federal precisa rever essa posição, precisa reconstruir essa relação com os povos indígenas de maneira digna. Não como índio sofredor, não como índio vítima, mas como povos indígenas, primeiras nações do Brasil. Quinze por cento do território brasileiro, quinze por cento do Brasil tem água, tem remédio, tem comida, tem urânio para fazer bomba atômica, tem nióbio para fazer satélite, tem ouro, tem mineral, tudo guardado pelos índios ao longo da história do Brasil. E agora nós somos tratados como pobres, pobres coitados. Não, meus irmãos, nós não podemos baixar a cabeça, e sabe por quê? Porque o mundo está sendo açoitado por nossa mãe terra, o meio ambiente está mostrando para o branco que ele tem de ouvir a voz do índio.

            Então, nossos pajés, nossos líderes - homens, mulheres - têm de mostrar essa força que todo esse patrimônio, o equilíbrio da mãe terra existe por causa da espiritualidade do índio. Quando Davi, os ianomâmis cantam em suas terras; quando os guaranis cantam em suas terras; os potiguaras; os pancararés; os pataxós; os terenas; os xavantes estão tocando seus chocalhos, estão dançando com sua borduna é porque nós estamos conversando com o Grande Espírito para cuidar da mãe Terra, para cuidar dos rios, para cuidar da natureza, dos passarinhos... (Palmas.) Tudo isso, pessoal, muitas vezes, o homem branco não compreende. Mas nós temos de continuar perseguindo isso.

            Para terminar, eu queria dizer para todos os irmãos indígenas a importância de estarmos no Congresso Nacional hoje. A partir de hoje e amanhã, teremos vários encontros e várias reuniões, como o próprio Dr. Antônio disse que fará a reunião da área da saúde. Significa que os índios estão empurrando essa carroça. E nós temos de empurrar. Nós temos que fazer com que o Ministro da Justiça aprenda a ouvir as organizações indígenas, mas também aprenda a ouvir os caciques indígenas, que são as verdadeiras autoridades das nossas aldeias. As organizações indígenas têm uma representação, mas, na verdade, quem fala pelo povo indígena são os caciques, são os líderes, homens, mulheres. São os pajés. Não apenas as organizações. (Palmas.)

            Então, eu queria dizer para os irmãos indígenas que nós vamos, no ano que vem, fazer a grande conferência do meio ambiente no Rio de Janeiro. Estou responsável por isso e vou convidar vários líderes indígenas brasileiros para mostrar para o mundo, para mostrar para a ONU que a nossa voz é forte, que, se não for a água dos nossos rios, o mundo não vai sobreviver só com petróleo; se não for a biodiversidade, eles não vão sobreviver só com penicilina.

            Não, pessoal. Nós temos valores, nós temos uma ciência. E, para este ano, já apresentamos - queria anunciar com muita alegria - um projeto dos jogos dos povos indígenas, para que o Tocantins, terra dos xerente, dos carajás, dos apinajé, receba os jogos dos povos indígenas este ano. Vamos reunir cerca de 1.400 atletas para mostrar para o Ministério do Esporte o que significa Olimpíada Verde: respeito ao meio ambiente, respeito à natureza - e não ficar criticando aquele que perdeu, mas ajudar aquele que perdeu, porque, no ano que vem, ele pode ganhar também -, orgulho de sermos povos indígenas e sermos brasileiros.

            Então, agradecemos ao Senado Federal, agradecemos a todas as lideranças que puderam chegar aqui. Sei que não é fácil, mas a gente tem que participar de algum jeito. Não podemos ficar esperando ônibus, não podemos esperar. Temos de lutar! Temos de participar e falar com seriedade - seriedade! - para que o homem branco também respeite a gente com seriedade. Somos as primeiras nações do Brasil e temos que ter orgulho.

            O futuro da modernidade, o futuro do computador, do celular, da tecnologia não será feliz se não ouvir a nossa voz, a voz dos nossos povos, a voz do índio.

            Vivam os povos indígenas e viva o Brasil! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2011 - Página 11690