Discurso durante a 160ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta quanto à necessidade do estabelecimento de políticas sociais que proporcionem maior qualidade de vida aos idosos.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Alerta quanto à necessidade do estabelecimento de políticas sociais que proporcionem maior qualidade de vida aos idosos.
Publicação
Publicação no DSF de 16/09/2011 - Página 37551
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, DADOS, AUMENTO, EXPECTATIVA, VIDA, POPULAÇÃO, PAIS, IMPORTANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, JUVENTUDE, LIMITAÇÃO, ORIGEM, IDADE, NECESSIDADE, POLITICA SOCIAL, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, IDOSO.

            O SR. GEOVANI BORGES (Bloco/PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª pelo cuidado com que conduz, com muita competência, os trabalhos da Casa. Procuramos sempre colaborar para primar pela transparência absoluta. 

            Mas, Srª Presidenta, Senadora Marta Suplicy, Srªs e Srs. Senadores, compareço a esta tribuna para fazer breve relato acerca de uma realidade comum a todos os povos na atualidade: o aumento da expectativa de vida e, por consequência, o envelhecimento das populações.

            Não é diferente no Brasil, onde, nos últimos anos, a parcela de idosos saltou de 7,3% da população brasileira para 10,8%. As projeções indicam que, em 2030, o percentual vai passar de 18%. Muitos de nós ainda estaremos vivos, se Deus quiser - e tenho certeza de que Ele quer -, para testemunhar.

            Ontem, tomei conhecimento de uma experiência aplicada a um grupo de treze jovens que trabalham no setor de supermercados no Estado de São Paulo. O resultado dessa experiência foi exibido pela TV Globo.

            Explico: treze jovens se submeteram a um treinamento novo no Brasil. Calçaram luvas para perder o tato, óculos para poder enxergar menos, usaram faixas para sentir o que é uma artrite, e até botaram milho no sapato para saber como é difícil caminhar com os pés doloridos e cheios de calosidade. O objetivo do treinamento é claro: fazer com que os jovens sentissem algumas das dificuldades por que passam as pessoas mais idosas na lida diária.

            Esse tipo de treinamento surgiu nos Estados Unidos, quando grandes hospitais geriátricos perceberam que seus funcionários e principalmente os enfermeiros precisavam se colocar na pele dos idosos para melhorar o atendimento. Isso foi nos anos 80, quando acontecia por lá um fenômeno que agora acontece no Brasil.

            Vejam, portanto, que, antes de tudo, os fatos foram mudando à nossa volta, e nós não fomos capazes de, lá atrás, identificar aquela realidade que também nos alcançaria. O resultado é que, inclusive nos supermercados, foram adotadas práticas e instalações que tornam o dia a dia das pessoas idosas ou com algumas limitações nos movimentos uma verdadeira penúria, Senador Mozarildo Cavalcanti.

            E quando digo “inclusive”, quero, na verdade, expressar que não é só nos supermercados. As inadequações estão nas ruas sem rampas, nas portas por onde não passa uma cadeira de rodas, nas calçadas quebradas que impedem o caminhar seguro, nos transportes públicos tão sucateados e que mais parecem latas de sardinhas, e por aí vai. É como se projetássemos um mundo para pessoas eternamente jovens, céleres e de saúde perfeita.

            Srª Presidenta, experiências simples como essa, exibida na tevê, nos conduzem a uma série de reflexões acerca de como deve ser estruturada a política social de um país. E, antes de tudo, é preciso entender que a resposta a essa pergunta independe do grau de desenvolvimento da nação, da percentagem de pobres existentes, do nível das desigualdades e da distribuição de renda, e, sobretudo, da estrutura etária da população. Política social é para ser posta em ação, inclusive ou talvez principalmente de forma preventiva.

            Qual o papel dos gastos sociais do Estado na redução das desigualdades? O que deve ser priorizado para que verdadeiramente se alcance uma vida melhor, o bem-estar para todos? As respostas não são únicas e estão na raiz do debate sobre a forma como devem ser estruturados os programas sociais no Brasil e, de resto, em outros países.

            Em todo o mundo, o contingente de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos tem crescido rapidamente. O Brasil é um país que envelhece a passos largos. No início do século XX, um brasileiro vivia, em média, 33 anos, ao passo que hoje sua expectativa de vida, ao nascer, constitui 68 anos. No Brasil, o número de idosos passou dos dois milhões, em 1950, para seis milhões, em 1975, e para quinze milhões, em 2002, significando um aumento de 700%. Estima-se, ainda, que, para 2020, essa população alcance os 32 milhões. Cabe destacar que, em todo o mundo, a população está envelhecendo, intensificando a heterogeneidade dentro do próprio grupo etário.

            Então, se a realidade já nos bate à porta, o que se tem, no momento, é que correr contra o tempo. E se os aspectos práticos do dia a dia, com a acessibilidade, são trazidos ao debate, muito mais ainda temos de pensar em questões ligadas à Previdência Social e à saúde.São verdadeiros desafios para o Estado, para os setores produtivos e para as famílias.

            Nossa realidade mostra que estamos engatinhando nesses aspectos. Vemos aqui, com muita frequência, colegas, como o Senador Paulo Paim e o Senador Mozarildo Cavalcanti, defenderem com ardor os interesses dos aposentados. E, ao mesmo tempo, vemos que a aposentadoria, apesar de ter como proposição a garantia de direitos e de inclusão social do idoso na sociedade democrática brasileira, seus valores, do ponto de vista econômico, não permitem o atendimento satisfatório dessas necessidades de sobrevivência.

            É uma discrepância. Estamos vivendo mais, mas não estamos vivendo com mais qualidade. Ainda não temos assimilado o conceito de que os cuidados com a qualidade de vida dos idosos começam, na verdade, na infância. Nossa população idosa está a requerer um olhar mais humano, mais político sobre suas demandas. E isso exige, por extensão, um enorme aparato, tanto do sistema de apoio formal, que são o Estado e sociedade civil, como do informal, que é a família.

            A experiência aplicada aos jovens em São Paulo provavelmente não será esquecida e bem que poderia ser reaplicada em outras praças. A projeção da velhice é algo que ainda não se discute.

            Fica, portanto, aqui, o alerta e o comentário breve deste cidadão que também já cumpre o que posso chamar de segunda etapa, ou o segundo tempo do jogo, e que sonha para si e para todos um envelhecer com dignidade, com acessibilidade, com respeito às limitações próprias daquela fase da vida. É a semente que estamos plantando e cujos frutos, um dia, todos desejamos colher.

            Srª Presidenta, antes de concluir meu pronunciamento, eu queria registrar a presença, aqui, através do Serginho, de um grupo de universitários da Faculdade Seama, que estão nos brindando com suas presenças.

            Poderiam ficar em pé, por gentileza? (Pausa.)

            Eu ainda tenho alguns minutos e agradeço a presença de todos.

            Atenção, nosso pessoal: como dizem, o nosso famoso leite é o açaí, no dia a dia de cada um de nós.

            Então, Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, nesta tarde, concluo o meu pronunciamento.

            Procurei, mais uma vez, Srª Presidenta, Senadora Marta Suplicy, do nosso querido Estado de São Paulo, colaborar com o tempo que prevê o Regimento Interno.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/09/2011 - Página 37551