Discurso durante a 233ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre o Requerimento 1.566, de 2011, solicitando voto de pesar pelo falecimento do carnavalesco Joãosinho Trinta.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Manifestação sobre o Requerimento 1.566, de 2011, solicitando voto de pesar pelo falecimento do carnavalesco Joãosinho Trinta.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2011 - Página 54983
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, HOMENAGEM POSTUMA, ARTISTA, CARNAVAL, ESTADO DO MARANHÃO (MA), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Foi dado como lido, Sr. Presidente, requerimento que encaminhei à Mesa, que gostaria que fosse transcrito na íntegra, de homenagem e voto de pesar pelo falecimento de João Clemente Jorge Trinta, Joãozinho Trinta, sábado, em São Luis do Maranhão, aos 78 anos.

            Permita-me dizer apenas algumas palavras, Sr. Presidente.

            João Clemente Jorge Trinta nasceu em São Luís, em 1933 e se mudou em 1951 para o Rio de Janeiro, onde fez dança clássica no Teatro Municipal e montou peças como "O Guarani", de Carlos Gomes, e "Aida", de Giuseppe Verdi.

            Aí começou como assistente na Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, em 1963. Dez anos depois, já era o carnavalesco titular. Ganhou o bicampeonato em 1974 e 1975 com os enredos "O Rei da França na Ilha da Assombração" e "O Segredo das Minas do Rei Salomão".

            Em 1976, foi para a Beija-Flor de Nilópolis, onde ganhou os títulos dos anos de 1976, 1977, 1978, 1980 e 1983 e lá ficou por 17 anos e seguindo para a escola Unidos do Viradouro.

            Uma das marcas do carnavalesco era o luxo e a riqueza na avenida. Criticado por ter essa postura, ele certa vez disse: "O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual".

            Em 1989, levou para a avenida o enredo "Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia". O trabalho criou polêmica com a Igreja Católica por colocar na Sapucaí um carro alegórico com o Cristo Redentor vestido como mendigo. A imagem foi censurada e, sem perder a criatividade, Joãozinho Trinta resolveu cobrir o Cristo com plástico preto e a inscrição: "Mesmo proibido, olhai por nós."

            Os problemas de saúde começaram em 1993, quando teve uma isquemia. Em 1996, sofreu um Acidente Vascular Cerebral - AVC. Em novembro de 2004 foi vítima de outro AVC, sendo que em 2006, ainda morando no Rio de Janeiro, teve outros dois AVCs e foi transferido para o Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, onde testemunhei o carinho e a competência com que foi tratado pelos profissionais do hospital Sarah Kubitscheck, principalmente pela Drª Lúcia Viladino Braga.

            Joãozinho venceu os carnavais das escolas do grupo de acesso, com o Império da Tijuca, em 1976, e Acadêmicos da Rocinha, nos anos de 1989, 1990 e 1991. Pela Unidos do Peruche, uma das mais tradicionais escolas de samba da cidade de São Paulo, teve uma passagem em 1989 e em 1990. Mesmo debilitado, continuou trabalhando e conquistou o título de 1997 pela Viradouro com o enredo "Trevas! Luz! A Explosão do Universo."

            Em 2001, levou para a Sapucaí um homem voando em um foguete portátil como parte do enredo "Gentileza, o profeta do fogo", pela Grande Rio, conquistando a sexta colocação.

            Joãozinho Trinta conquistou o 3o lugar no carnaval de 2003, com o enredo "Nosso Brasil que Vale". Por este trabalho, foi considerado o primeiro carnavalesco a aceitar merchandising e patrocínio para compor o enredo. A então empresa Vale do Rio Doce ajudou nos custos da escola de samba. Neste mesmo ano, ele gravou o documentário "A Raça-Síntese de Joãozinho Trinta", que mostrava os preparativos do carnaval na Grande Rio.

            A última participação de Joãozinho Trinta no carnaval do Rio de Janeiro foi em 2005, na Vila Isabel, com o enredo "Singrando em mares bravios... E construindo o futuro", que lhe rendeu a 10a colocação.

            Em 2009, ele ajudou a cidade de Cavalcante, no Estado de Goiás, com pouco mais de 10 mil habitantes, a fazer o carnaval local. Mesmo com a saúde frágil, ele desenhou fantasias e orientou as costureiras a fazerem as fantasias. Ele improvisou barracões em galpões de fazendas, organizou a bateria e montou cinco blocos carnavalescos. A apresentação contou com descendentes de escravos, que apresentaram a "sussa", dança típica quilombola.

            Joãozinho Trinta vivia no Maranhão, atualmente, e atuava em projetos da Secretaria de Cultura do Estado para a comemoração dos 400 anos de São Luís, em 2012. Disse a Governadora Roseana Sarney: "Joãozinho pensou num grandioso projeto, que agora deverá ser levado adiante, até como forma de homenagem a esse maranhense que marcou a história da arte brasileira".

            O luxo de suas fantasias e alegorias não fazia parte do dia a dia de João. Era apenas uma fantasia do menino que deixou o Maranhão para tentar a sorte no Rio de Janeiro. Como dizia o refrão do samba enredo “Ratos e Urubus”: "Sou na vida um mendigo, na folia eu sou rei".

            Joãozinho Trinta honrou a todo o povo brasileiro com as suas alegorias, sua criatividade e a beleza de tudo que criou.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210 inciso I e § 2º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

            Requerimento


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2011 - Página 54983