O SR. JARBAS VASCONCELOS (Bloco/PMDB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Meu caro Senador Aécio Neves, que preside esta sessão; meu caro Deputado Rodrigo de Castro; Sr. Augusto Franco Júnior, irmão de Itamar Franco, em nome de quem eu quero saudar todos os familiares de Itamar e meu querido amigo Henrique Hargreaves, eu pensei Sr. Presidente, inclusive, por questão de tempo, em não falar, mas eu não ficaria bem com a minha consciência se não deixasse aqui registrado, mais uma vez, o apreço e o respeito que sempre dediquei a Itamar Franco.

            Os elogios a Itamar Franco jamais serão suficientes para expressar a importância que ele teve para o Brasil contemporâneo. Sua passagem pela Presidência da República o elevou ao patamar de personagem histórico, pois Itamar assumiu o Palácio do Planalto num contexto de crise política e econômica e entregou o País estabilizado ao seu sucessor.

            Marcados pelo sucesso, os 732 dias que Itamar Franco passou à frente do destino de milhões de brasileiros não foram fáceis, como muitos podem imaginar. A inflação chegou a atingir a absurda marca de 2.700% ao ano. Os planos econômicos já não surpreendiam mais ninguém pelos absurdos promovidos.

            Numa tentativa de reescrever a história para salvar biografias, surgiram recentemente versões fantasiosas daqueles que querem “faturar” o sucesso do Plano Real.

            Itamar não precisou prender boi no pasto, não precisou de tabelamento de preços. Itamar teve a coragem de mudar o Ministro da Fazenda três vezes antes de deslocar para a pasta o então titular das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso.

            Esses fatos mostram que Itamar Franco não teve vida fácil. Também não devemos esquecer que, logo após assumir a Presidência da República, Itamar tentou construir um governo de união nacional para assegurar o apoio político necessário à construção da estabilidade econômica.

            A maioria dos partidos atendeu ao chamado de Itamar. O único que não aceitou foi o Partido dos Trabalhadores. Na época, o PT expulsou a então ex-Prefeita de São Paulo Luiza Erundina por ela ter aceitado integrar o Governo Itamar como Ministra-Chefe da Secretaria da Administração Federal. À época, Lula liderava as pesquisas sobre a intenção de votos para a Presidência da República e preferiu não ajudar.

            Isso não sou eu que estou inventando, Presidente Aécio Neves. Está nos jornais da época e nos livros de história. Esse comportamento mesquinho do PT, no entanto, não impediu que Itamar viesse a apoiar a candidatura de Lula anos depois.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, no pronunciamento que fiz da tribuna do Senado, logo após o desaparecimento de Itamar, afirmei que sem ele não teriam existido os Governos de Fernando Henrique, Lula e agora Dilma Rousseff. Eu acredito piamente nisso, tanto que fiz questão de repetir essa afirmação neste novo discurso em homenagem a Itamar Franco. E gostaria de ir mais longe ainda: a estabilidade econômica brasileira - que tantos hoje defendem - tem apenas um pai e ele é Itamar Augusto Cautiero Franco.

            Que outro presidente teria deslocado um Ministro de Relações Exteriores, sociólogo por formação, para assumir uma pasta que já vinha no seu terceiro ocupante em apenas oito meses? Itamar Franco teve essa ousadia, e para quem, como eu, já esteve à frente do Executivo sabe que muitas vezes é preciso ir contra o senso comum para obter sucesso. Itamar fez isso várias vezes durante a sua vida e acertou na maioria delas.

            Fica o seu exemplo para todos nós, de coragem, determinação, honestidade e independência. Tive o privilégio de tê-lo como companheiro de Senado. Pena que tenha sido por um período tão curto. Mas sua voz continuará ecoando entre todos que se dedicam à vida pública não por vaidade ou por projeto pessoal, mas por acreditar que a política ainda é o melhor instrumento para mudar o mundo em que vivemos.

            Era o que eu tinha a dizer, Senhor Presidente,

            Muito obrigado. (Palmas.)