Pela Liderança durante a 19ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discurso de afastamento do Senado Federal para assumir o cargo de Ministro de Estado da Pesca e Aquicultura.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Discurso de afastamento do Senado Federal para assumir o cargo de Ministro de Estado da Pesca e Aquicultura.
Aparteantes
Ana Amélia, Lauro Antonio, Randolfe Rodrigues, Rodrigo Rollemberg.
Publicação
Publicação no DSF de 02/03/2012 - Página 4577
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • DISCURSO, DESPEDIDA, ORADOR, MOTIVO, POSSE, CARGO PUBLICO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO, PESCA, AQUICULTURA, COMENTARIO, RELAÇÃO, FATO, HISTORIA, SENADO.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. telespectadores da TV Senado, Srs. ouvintes da Rádio Senado, hoje, quando o Rio completa 447 anos, fundado em 1565 por Estácio de Sá e Mendes Sá, depois de uma guerra expulsando os franceses, venho ocupar esta tribuna com o coração estraçalhado de melancolia, porque não vou poder mais estar aqui nos próximos dias. Agora, também venho com esperança porque o setor da pesca é muito importante em nosso País. E os brasileiros, Monteiro, perguntam como é que a gente tendo três milhões e meio de quilômetros quadrados de mar, 12,5% de água doce superficial da Terra, nós ainda estamos em 26º em produção de pescado. Os brasileiros querem saber. É pouco? É pouco. Está aquém dos nossos recursos naturais? Muito. Quanto os nossos vizinhos pescam? Mais do que nós, Peru e Chile. Na Ásia, então, nem se compara.

            Mas nós estamos progredindo ano a ano? Não. A pesca no mar está estagnada.

            E tem alguma boa notícia? Tem. A boa notícia é a aquicultura. Aquicultura, essa está crescendo, essa depende, eu diria, de políticas públicas que possam incentivar o setor.

            Mas hoje me afasto do Senado Federal atendendo ao convite da Excelentíssima Senhora Presidenta da República para compor a equipe de seus auxiliares diretos. Devo reconhecer que a missão que me aguarda é ingente e a ela devo me dedicar de corpo e alma, numa devoção sem limites e num comprometimento sem tréguas. Pelos próximos dias vou amargurar a ausência de tantos companheiros que aprendi a respeitar, admirar e pelos quais tenho profundo apreço e respeito. Não poderei comparecer mais ao plenário, ao debate construtivo e ao culto de nossas comissões temáticas e das audiências públicas, onde se consulta o pensamento nacional. O ônus desse sofrimento não sou capaz de avaliar.

            Afasto-me do Senado Federal, mas não de suas tradições de ponderação, da suprema vocação democrática, do interesse público elevado à categoria santa de um dogma, do inegociável compromisso de servir ao interesse nacional com idealismo e renúncia, porque nesta Casa não há alguém que não saiba que o único caminho para se engrandecer na política é servir ao povo.

            O Senado tem sido, ao longo de nossa História, o cenário de todas as lutas pela liberdade da nossa gente sofrida e valente. A sua gloriosa missão nessa existência de 185 anos tem sido de confrontar a opressão, de clamar pelos espoliados diante das exorbitâncias do poder e a constante porfia pelo fortalecimento de nossas instituições democráticas. É aqui que se acrisolam as essências mais puras da nossa brasilidade, a grande e monumental forja em que se nacionalizam, abrasileirando-as, as aspirações regionais, unificando-as na solidariedade pátria, cimento inquebrantável de nossa unidade política.

            Quando lançamos um olhar retrospectivo para o nosso passado, custa-nos crer tenha sido possível aos nossos ancestrais reunir tanta inteligência, energia e imaginação, para que pudéssemos ser hoje a Nação continental de que tanto nos ufanamos. Desde aqueles tempos em que os Bonifácios nos deram a independência, passando por Vasconcelos e Paraná, que plantaram as nossas instituições livres. O Visconde do Rio Branco e Paulino de Souza, que estabeleceram as diretrizes de nossa política internacional.

Quem não se emociona diante do vulto épico do Marquês de Olinda, Sr. Presidente, Deputado às Cortes de Lisboa, Regente, por quatro vezes Presidente de Gabinetes Ministeriais, o primeiro escolhido pelo Imperador para compor o seu Conselho de Estado, inflexível nas suas convicções, conservador e quase reacionário, mas personalidade sem a qual o Brasil ter-se-ia perdido em meio às turbulências de sua formação. Ele era o Rei Constitucional que Feijó não soube ser, mas soube escolher.

            Quando nos lembramos de que esta Casa foi honrada com a presença de meus conterrâneos Caxias e Osório, nós nos damos conta da sua grandeza moral e das suas imensas projeções históricas. Caxias, Senador, grande na guerra, maior na paz, símbolo mais alto da integridade nacional, espada mais do que invicta, porque imaculada, conciliadora, que fundiu e consolidou a unidade da nossa Pátria.

            Osório, o bravo dos bravos, desambicioso sempre digno no serviço da Pátria. Quando os seus amigos liberais instigaram-no para, com o prestígio de sua espada, alterar a situação política que lhes era adversa, proferiu, em resposta, uma frase que deveria estar gravada em todos os quartéis de nosso País, pela lição perene de dignidade militar que nela se encerra: “A espada que trago na bainha é para defender a Pátria contra os seus inimigos, jamais para tiranizá-la”.

            Cotegipe e Zacarias de Góis e Vasconcelos, dois epígonos do maior porte, no Governo ou na Oposição, fixaram para a História o perfil de suas vigorosas personalidades.

            Gaspar Silveira Martins é outro nome que retumba de glória nos recintos austeros do Senado.

            Rui Barbosa e Pinheiro Machado em nossa Casa escreveram a História da Primeira República. Rui, a eloquência, a pregação infatigável dos ideais democráticos, o horror a todos os tipos de violência, a fé inabalável no império da lei, da justiça e da liberdade. Com seu gênio político e a sobranceria do seu caráter, ele incendeia a alma nacional, fazendo nela se cristalizar o respeito ao voto soberano do povo, o acatamento às decisões dos tribunais íntegros e livres, mas, sobretudo e principalmente, o nojo a todas as formas de tirania que se extravasam sempre na intolerância, na opressão e no sangue.

            Pinheiro Machado, o advogado defensor da República no Brasil, o realista, o estrategista, a paixão pela causa, o Senador que previu a morte quando, dias antes do seu assassinato, em entrevista a João do Rio, afirmou: “Morro na luta. Matam-me pelas costas, pena que não seja no Senado como César”. E, dias depois, tombava numa poça de sangue, apunhalado pelas costas, no saguão do Hotel dos Estrangeiros, no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, às quatro e meia da tarde, no dia 8 de setembro de 1915.

            Rui e Pinheiro, sempre adversários, completavam-se, no entanto, como intérpretes do Brasil do seu tempo. Rui preconizava o Brasil do futuro, liberto das garras do subdesenvolvimento cultural e político. Pinheiro Machado aceitava o Brasil das intervenções, dos estados de sítio, das depurações, como se não houvesse outras alternativas para assegurar a ordem, manter a autoridade e promover a continuidade do Brasil.

            Que mais diria eu? Arthur Bernardes, Nereu Ramos, Juscelino Kubitschek, Petrônio Portella, homens que marcaram, com o seu talento político, a sua passagem por esse átrio augusto. E não cito a todos que engrandeceram a nossa instituição e, por pudor, nem cito aqueles que foram meus companheiros e que tanto me ensinaram, meus contemporâneos nesses dez anos de Casa, mas aqueles que omiti eu homenageio naqueles que mencionei, sem dúvida vultos excelsos que sintetizam, no esplendor de suas vidas e biografias imaculadas, a expressão pinacular do nosso Senado Federal.

            Esse é o patrimônio de que somos guardiões e que nos foi transmitido e que devemos passar às gerações futuras, ampliado nas suas proporções, enriquecido nas suas tradições e dignificado na sua fidelidade à alma democrática do nosso povo.

            Procurei, Senador Paim, não deslustrar de todo as grandes representações populares que o bravo Estado do Rio de Janeiro sempre teve no Senado Federal. Lamento pelos erros que cometi, inerentes à miserável situação de humanidade que todos temos. Cito até o Apóstolo Paulo, quando dizia: Maldito homem que sou, porque o bem que quero fazer não faço, mas o mal que detesto, esse é que faço.

            Lamento, mas quero dizer também que, como modesto legado dos anos do meu mandato, deixo aqui 400 proposições legislativas, 232 projetos de leis, propostas de emendas à Constituição e dezenas de leis aprovadas.

            Sr. Presidente, é assim que extravaso minhas emoções neste momento em que, como disse, com o coração estraçalhado de tristezas, afasto-me desta Casa, mas não podia deixar de atender ao pedido da Presidenta Dilma, porque isso iria parecer egoísmo, iria parecer que sou demissionário da causa pública, a que todos nós juramos, em dia solene, servir com idealismo e renúncia. Eu não podia!

            Não podia também, Srs. Senadores, porque a mãe do PAC fez muito pela minha terra. Quando assumi neste Senado, o Rio de Janeiro tinha taxa de desemprego de 20%. Hoje, a nossa taxa de desemprego é friccional. São 5%. Temos US$183 bilhões programados para os próximos três anos. São investimentos nas siderúrgicas.

            A Companhia Siderúrgica Nacional agora está fazendo um vergalhão em uma fábrica de cimento para explorar escória de alto forno. A Gerdau aumentou a sua produção de vergalhões porque há muitas obras no Rio, mais de 500 milhões. Estamos fazendo uma base naval e um estaleiro para produzir o primeiro submarino nuclear, em um investimento de mais de 4 bilhões, na Ilha da Madeira, em Itaguaí. A Rodovia do Contorno tem mais de 38 pontes. Estamos investindo para modernização da nossa refinaria de Duque de Caxias. O espetacular projeto do Comperj, com mais duas refinarias, cada uma delas para processar e refinar 150 mil barris de petróleo por dia, e uma petroquímica, que vai processar o gás da Baía de Santos. Esperamos que, na região de São Gonçalo, de Itaboraí, se instalem mais de mil empresas de plástico, pequenas e grandes, polímeros, para aproveitar a nossa petroquímica.

            Estamos também com investimento para a Copa, que nosso Presidente Lula nos ajudou com esforço ingente para conquistar, e também para as Olimpíadas, que é um legado para toda a Nação brasileira. No norte do nosso Estado tem o Porto do Açu, que vai embarcar 300 mil toneladas dos maiores navios todos os dias para a Europa e para a Ásia. Também estão fazendo uma termoelétrica e também estão fazendo outra siderúrgica em um grupo italiano consorciado com os argentinos. E mais, estamos em acelerada preparação de terraplanagem para a construção de Angra 3, que são mais US$10 bilhões.

            Então, quero aqui dizer ao povo do Rio de Janeiro que saio do Senado Federal, mas o suplente que assumirá... Às vezes, as pessoas dizem assim: “Ah, os Senadores saem do Senado, deixam a esposa, deixam o filho, deixam um empresário rico”. Senador Paim, vai ficar no meu lugar um Deputado Federal que cumpriu, na última sessão legislativa, um mandato imaculado. Um líder que estará aqui com todas as qualificações morais, intelectuais e políticas para defender a nossa causa em comum.

            Então, faço aqui esse apelo ao povo do Rio, para que compreenda a minha situação. Estive em todas as construções políticas, para que o Rio se tornasse hoje um porto de grandes investimentos. Quem estava aqui, Senadora Ana Amélia, quando cheguei, sabe que o Governador Cabral passou quatro anos nesta Casa votando contra o governo do Presidente Lula, em todas as matérias.

            Foi no segundo turno da eleição para o Rio, quando me pediu apoio, que pude costurar essa aliança. A primeira vez que o Senador Cabral foi à casa do Presidente Lula eu o levei, sempre com a pregação da união, sempre com a pregação da unidade. Dizia eu que o Rio tinha um problema crônico, porque não se entendia com o Governo Federal, nem o prefeito da capital com o governador. Éramos o centro da discórdia, das porfias, do ódio. Política não se faz assim.

            Então, conseguimos construir uma parceria que trouxe muitos recursos para o Rio. A mesma coisa com o prefeito da capital. No segundo turno, ele estava para perder do Deputado Gabeira. Ao pedir o meu apoio, condicionei à aliança com o nosso Presidente Lula. De tal maneira que o Rio de Janeiro ganhou muito com a construção política da paz e hoje, diria a V. Exªs, com os seus 45 mil quilômetros quadrados - meu Estado tem 45 mil quilômetros quadrados -, tem US$4 milhões em cada quilômetro quadrado de investimento. Não conheço no mundo, digam-me - na Europa, na Ásia, nos Estados Unidos, na América do Norte - onde existem tantos investimentos por quilômetro quadrado da iniciativa privada e também investimentos públicos.

            Então, eu não poderia, de maneira alguma, fugir a esse pedido da Presidenta Dilma Rousseff. Com o coração estraçalhado de tristeza, peço aos meus companheiros do Senado Federal que me tenham por escusado. Não estou, de maneira alguma, abdicando de minhas responsabilidades. Sei que o meu suplente está à altura, até mais do que eu. Mas lá, também na pesca, quero reiterar a cada um, ao me despedir dos meus honrados Colegas, que estarei no Ministério da Pesca e Aquicultura à disposição de V. Exªs, para ouvir suas experiências no setor e construirmos juntos a grandeza da pesca em nossas regiões.

            Ouço, com muito prazer, os Senadores que me pedem aparte.

            Ao nobre colega do Amapá.

            O Sr. Randolfe Rodrigues (PSOL - AP) - Querido Senador Crivella, eu estava no gabinete, mas fiz questão de correr ao plenário. Eu já lhe dei um abraço nesta tarde, já o cumprimentei, mas faço questão de fazer isso de público, dar meu testemunho aqui desse pouco tempo, porque o tempo acaba. Cada ano, mês da nossa vida é muito pouco dentro desta rápida passagem que nós temos, que se chama vida. No pouco tempo em que o conheci e da impressão e contato que tive com V. Exª, trago aqui a melhor das impressões. Quero citar, por exemplo, um dos momentos em que tive a honra de estar acompanhado por V. Exª na Comissão de Constituição e Justiça, na votação do Código Florestal. Vi, naquele momento, a preocupação de V. Exª com as mudanças na legislação florestal brasileira. Vi V. Exª, naquele momento, votando divergente da posição da maioria. Vi V. Exª preocupado com a preservação das nossas florestas; preocupado que nós tivéssemos um texto que fosse o melhor para o Brasil, mas fosse também um texto que mantivesse a nossa preservação ambiental. Eu acho que isso inspira o desafio que V. Exª irá cumprir agora. A maior razão do patrimônio de piscicultura que temos no Brasil é devido à potência ambiental que somos. Posso falar de cadeira, porque sou de um Estado que tem um dos maiores bancos camaroeiros do País, que tem uma diversidade de peixes que não existem em outra região do País. Talvez pela sua localização ali na foz do Amazonas, a mistura que tem das águas barrentas do Amazonas e a mistura e proximidade que tem também com o Atlântico. Enfim, nós temos um potencial na área da piscicultura no nosso Brasil - sei que é redundante falar isso, e V. Exª sabe disso muito bem, deve ter ouvido isso muito bem - que faz inveja a muitos países do mundo. Com certeza, muitos países do mundo queriam ter pelo menos 5% do potencial que temos, muito concentrados na Amazônia, que não é só o potencial do nosso mar salgado, é o potencial da imensa bacia amazônica que possuímos. A escolha da Presidente Dilma, eu estou convencido, não poderia ter sido melhor, pela percepção e pela sensibilidade que tem V. Exª em relação a esse tema. Se me permite, da Bíblia V. Exª conhece mais do que eu. Tem uma passagem de Eclesiastes de que gosto muito e sempre a cito. Tenho certeza de que é a fé que o afirma; é a fé que o senhor tem no que vem, no que virá; a fé que o senhor demonstra aqui na existência de um Deus superior, criador de todas as coisas, do céu e da Terra. Essa fé que é tão presente no Senhor, é com essa fé no que virá e no trabalho que fará que V. Exª vai para o Ministério da Pesca. Acho que a melhor citação bíblica é a do versículo 11, de Eclesiastes, que diz que a fé é o firme fundamento naquelas coisas que a gente não vê, mas tem certeza de que existem. Então, vá, querido Crivella. Fará falta para nós o seu convívio e os ensinamentos que temos tido. Você consegue, permita-me dizer, até nos momentos em que é duro, passar ternura. Essa é uma qualidade particular de nós, humanos; é uma qualidade que admiro em V. Exª. Vá com fé! Como diz um amigo meu, do Amapá, põe a fé na proa e rema.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Randolfe, pelas lindas palavras de V. Exª, que me estimulam e que aumentam a saudade que vou sentir dos senhores aqui.

            Senador Rollemberg, se V. Exª me permite, a Senadora Ana Amélia estava a postos lá para fazer um aparte.

            Com a palavra V. Exª. Muito obrigado.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Caro colega, Ministro Marcelo Crivella, a bancada do Rio de Janeiro se notabiliza aqui, primeiro, pela suavidade, pela forma espiritualizada até de V. Exª; pelo vigor da juventude do Lindbergh Farias, nosso jovem Senador; pela experiência e sabedoria do meu querido Presidente, Líder Francisco Dornelles, do meu partido; e agora pelo seu suplente, que vai tornar essa bancada tão aguerrida quanto foi com V. Exª. Não tenho dúvida. Eu só vou reclamar de V. Exª porque, como firmei uma iniciativa sua do Projeto de Lei da Copa, que está dando pano para muita manga, Senador Crivella, mas espero que o Senador Walter Pinheiro e eu consigamos dar conta do recado, nesse trabalho que é bastante árduo. E V. Exª conseguiu, com essa iniciativa, provocar o debate muito amplo no Brasil inteiro a respeito disso. Tentaram já nos colocar até carimbos na questão da greve. Mas não importa, a gente quer, e a sua intenção foi esta, abrir um debate para aperfeiçoar aqui. Então, vamos fazer o seu dever. Agora, na sua missão, como Ministro da Pesca, vou fazer-lhe dois convites...

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Pois não.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Faço questão de o senhor estar presente na cidade de Tramandaí, no litoral norte do meu Estado, cujo prefeito Anderson Hoffmeister, do meu partido, promove ali o maior evento da região, reunindo milhares e milhares de pessoas, que vão à Festa Nacional do Peixe, que está na 23ª edição. São algumas toneladas de tainha assada como churrasco. O senhor nunca na sua vida vai comer coisa igual. Sensacional, meu caro Senador e agora Ministro da Pesca. Então, a Festa Nacional do Peixe, em Tramandaí, é a 23ª edição, de 29 de junho a 22 de julho. E, também, lá em Rio Grande, onde tem um polo naval - V. Exª estava fazendo referência ao Rio de Janeiro, aos desafios que tem - criado por iniciativa da Presidenta Dilma Rousseff, no governo passado, cujo Prefeito Fábio Branco, do PMDB, é de uma família tradicional de pescadores. Toda a família Branco tem essa vocação e vieram para dar uma contribuição na área política. Rio Grande é um centro também de pesca artesanal - e eu queria um apoio do senhor aos pescadores da região -, que também realiza a Festa do Pescador, que se realiza no final de junho até o início de julho. No carnaval, caro Ministro, tive a oportunidade, junto com uma amiga, em Pelotas, de ir à praia do Laranjal e ali, na Lagoa dos Patos, ver a pesca artesanal do camarão. Eu provei e é um camarão de excelente sabor e de excelente qualidade. Quanto maior é a salinização da lagoa, que é feita pelo Canal de São Gonçalo, essa produção tem uma qualidade melhor. Então, queria pedir o apoio de V. Exª, já como dever de casa, um pedido do Rio Grande do Sul para a Festa Nacional do Peixe, em Tramandaí; para a Festa do Pescador, em Rio Grande, e apoio também aos pescadores artesanais, sejam de camarão, sejam da maricultura de Santa Catarina ou da aquicultura, em todas as áreas da produção da pesca. Então, cumprimento V. Exª e o faço publicamente aqui, em nome dos gaúchos também, do Senador Pedro Simon e do Senador Paulo Paim, que está presidindo a sessão e, em especial, do meu querido Presidente Francisco Dornelles, que certamente apoia V. Exª nesse grande desafio.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senadora Ana Amélia. V. Exª acaba de inaugurar a agenda do Ministro.

            Primeiro compromisso, antes de assumir o Ministério da Pesca, eu assumo um compromisso com o Rio Grande do Sul, com a Senadora Ana Amélia, de comer aquele bagre.

            Senador, hoje, eu me reuni com o pessoal da CUT para tratar com eles do problema da greve. Fizemos uma reunião de quase duas horas, uma hora e tanta, para chegar a um acordo do projeto. É muito importante nós votarmos aquele projeto.

            Nós não queremos de maneira nenhuma cercear o direito de greve dos nossos trabalhadores. Paim é testemunha.

            Quando, nesses 10 anos, você me viu votar contra o trabalhador?

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Posso falar agora ou falo no final? Posso falar no final. Vou deixar você desenvolver o pronunciamento.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Por favor.

            Paim é meu companheiro de 10 anos. Quando foi votei contra o trabalhador?

            Apresentei dezenas e dezenas de projetos a favor do trabalhador!

            Agora, é preciso a gente entender que uma coisa é a greve em favor dos nossos benefícios, em favor do nosso salário, das conquistas da nossa categoria. Outra, é a greve política. É a greve, por exemplo, para usar o carnaval e desmoralizar um governador. É a greve para usar a Copa do Mundo e desmoralizar o Governo Federal.

            Nós precisamos encontrar um caminho. A três meses da Copa, depois de anos de preparação, depois de bilhões investidos, nós não podemos deflagrar uma greve só por razões políticas.

            É isso o que tentamos proteger. Eu tentei explicar isso hoje para a CUT, e estamos tentando costurar um caminho. Nós não queremos na Copa o que aconteceu, lamentavelmente... Até a população não dá apoio a uma greve como essa, porque uma coisa é o interesse do trabalhador, sagrado, pelo qual nós todos devemos lutar. Outra coisa é a greve, muitas vezes usada politicamente. E quem é prejudicado é povo, é o investimento público. Isso não é bom para o trabalhador.

            É isso o que o projeto tenta, entre tantos outros artigos, melhorar.

            Mas eu quero ouvir o Senador Rollemberg, que é aqui do Distrito Federal. Como dizia Tancredo, “é a âncora da nacionalidade a apontar permanentemente os horizontes sem fim da esperança”.

            Era assim que Tancredo saudava Brasília.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - Obrigado, Senador Marcelo Crivella. Obrigado pelo seu carinho com o nosso Distrito Federal. Saiba que V. Exª é um Senador muito querido dos brasilienses. Quero agora me associar ao Senador Randolfe, à Senadora Ana Amélia, ao Senador Paulo Paim para cumprimentar V. Exª pela nova missão que vai desempenhar agora no Ministério da Pesca. Quero cumprimentar a Presidente Dilma pela feliz escolha. V. Exª é um abnegado, um grande defensor dos interesses do nosso País e do Rio de Janeiro. Essa área é extremamente importante para o nosso País. Temos muito a desenvolver ainda no que se refere ao desenvolvimento da piscicultura, da pesca em nosso País, fazendo com que as novas tecnologias possam ser acessíveis, sobretudo para os pequenos pescadores, os pescadores artesanais, para que possamos desenvolver a pesca sustentável em todo o Brasil. V. Exª sabe, mais do que todos aqui, que esta é uma das preocupações do documento da ONU, no que se refere à economia verde. Ou seja, a sustentabilidade da pesca em todo o mundo. Mas eu tenho convicção de que V. Exª, com toda a sua experiência e com todo o seu compromisso, será um grande Ministro. Fará muita falta aqui no Plenário do Senado. Será substituído por um companheiro que já foi companheiro de PSB, nosso querido Eduardo, que será, certamente, muito bem recebido aqui na Casa e também representará muito bem o Estado do Rio de Janeiro. Mas esse seu jeito afável, carinhoso, acolhedor, que nos recebeu tão bem aqui nesta nossa primeira legislatura no Senado, certamente fará muita falta. Mas nós sabemos que os interesses da piscicultura e da pesca no Brasil estarão muito bem representados. Quero dizer que, quando a Senadora Ana Amélia fazia um aparte a V. Exª, eu fiquei com uma grande expectativa de que ela estendesse esse convite para a Festa do Peixe, em Tramandaí, também aos colegas Senadores. Mas ainda tenho a expectativa de que ela o faça fora dos microfones. Um grande sucesso para V. Exª é o que todos nós brasileiros desejamos.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito agradecido. É um prazer e uma honra conviver com um Deputado tão ilustre, e peço a V. Exª, neste momento, que esteja ao lado do meu companheiro, Senador Eduardo Lopes, que foi de um partido coirmão, o PSB, durante os quatro anos. E V. Exª sabe que ele teve um mandato imaculado em defesa do Rio de Janeiro; foi um Deputado brilhante. Nunca esteve envolvido em qualquer escândalo. Assíduo, presente, atuante, dos grandes.

            Ele teve um gesto muito bonito no Rio de Janeiro. Paim, eu estava em uma situação difícil. Eu era candidato ao Senado, à reeleição, mas não tinha aliança. O PRB, 30 segundos de tempo de televisão, sem aliança. O meu adversário era o candidato do Governador e de 92 prefeitos. Era o que fazia chapa com o Lindbergh. Era uma máquina extraordinária. Eles tinham sete minutos de tempo de televisão, com todos os partidos. Dos 27, havia 22 com eles, 19, se não me engano. Então, era uma luta ingente. Poucos acreditavam que Deus... Poucos acreditavam que eu poderia voltar ao Senado Federal. O Deputado, meu companheiro de mais de 20 anos, porque era pastor, como eu, na Igreja, então disse assim: “Crivella, eu não vou me candidatar para Deputado. Acho que consegui fazer um trabalho nesses quatro anos, juntar alguns votos pelo interior, e nós vamos fazer uma campanha juntos”. Falei: mas você vai se sacrificar? Ele falou: “Eu vou”. Ele é jovem ainda. Então, nós saímos, cada um para um lado do Estado, 90 dias andando para cima e para baixo, e, no final, pela mercê de Deus e generosidade do povo fluminense, conseguimos nos eleger.

            Então, ele agora vai assumir isso aqui, Paim, algo em que ele acreditou. Ele realmente acreditou, contra tudo e todos. É um idealista. A fé de um mártir, a fibra de um gladiador, o arrojo de um bandeirante. Deus o honrou, ele vai assumir a cadeira pelo Rio de Janeiro e, tenho certeza, fará um grande mandato.

            Ouço, com prazer, V. Exª.

            O Sr. Lauro Antonio (PR - SE) - Eu fico muito feliz e quero parabenizar a Presidenta Dilma pela iniciativa de escolher V. Exª para o cargo de Ministro da Pesca. E quero desejar muito sucesso. Realmente, a pesca no nosso País precisa de um desenvolvimento muito grande, e tenho certeza de que V. Exª vai desenvolver um bom trabalho. Que Deus o abençoe e que seja muito feliz nessa caminhada.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Lauro Antonio.

            Quero dizer a V. Exª que o Nordeste tem um potencial imenso na pesca, tanto no continente, como no mar, e eu estarei à sua disposição para atendê-lo, para debatermos os problemas, para encontramos as soluções, enfim, levarmos o Nordeste que tanto amamos. Nós do Rio de Janeiro temos uma dívida impagável com o Nordeste, pelo capital humano que de lá recebemos. É impagável. Você não paga o capital humano com dinheiro ou com benefícios. O capital humano é algo extraordinário. O meu Rio de Janeiro foi construído sobretudo por paraibanos, por alagoanos. O meu avô veio de lá. O meu nome é Marcelo Bezerra Crivella. O meu avô é Bezerra. Ele nasceu em Alagoas e veio para o Rio de Janeiro. Ali ele fez a sua vida, ali construiu nossa família, mas viveu sempre com o coração espatifado de saudade da sua terra. E, naquela época, Paim, você não podia voltar para casa. O que ele fazia? Teve vários filhos e colocava no nome dos filhos o nome da mãe, homenageava a irmã mais velha, homenageava a tia, mas ficava nessa homenagem e na saudade, porque as condições eram difíceis naquela época.

            Então, há muito sangue, há muito suor, há muita lágrima do povo nordestino no Rio de Janeiro. É um capital humano que nós nunca poderemos pagar. Nordestino no Rio de Janeiro tem um prestígio. Nós todos os consideramos muito, e a maioria dos fluminenses são descendentes deles.

            Nós agora, no Ministério da Pesca, vamos dedicar especial atenção a essa grande riqueza que o Nordeste tem nas suas águas e também na aquicultura no continente.

            Senador Paim, V. Exª quer falar?

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - O aparte!

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Por favor, com o maior prazer, depois de dez anos de sua companhia

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Quebrando o protocolo aqui já da Presidência, quero dizer ao meu querido amigo Senador Marcelo Crivella que eu só posso dizer obrigado. Obrigado por conviver com V. Exª, obrigado porque, em todos os momentos dos grandes debates aqui nesta Casa, fator previdenciário, reajuste dos aposentados, recomposição de perdas, não vacilou V. Exª uma única vez, sempre teve posição nítida, clara, definida e votando, como V. Exª disse, do lado dos trabalhadores.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Sempre!

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS.) - Eu tenho orgulho de dizer que sou seu amigo. Tenho orgulho também de dizer aqui que, na campanha passada, liguei para V. Exª. Eu disse que precisava de uma gravação de V. Exª. V. Exª disse: “Marque o dia e a hora. Você quer que eu vá ao Rio Grande ou quer que seja em Brasília?” E nós fizemos a gravação, e ela foi ao ar dezenas de vezes. Então, agradeço a V. Exª.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS.) - O prestígio que V. Exª tem perante o Brasil é enorme, mesmo no debate do 122, que V. Exª sabe muito bem qual é. Talvez muitos não saibam que V. Exª sempre foi muito tranquilo e equilibrado, querendo construir uma alternativa. Ainda não construímos, mas poderemos fazê-lo. No mais, dizia aqui para V. Exª: o brasileiro há de aprender ainda mais a importância do peixe, o quanto o peixe faz bem à saúde. A gente diz: “Corpo são, mente sã”.

            Então, V. Exª, tenho certeza, pela sua experiência, inclusive internacional, muitas vezes ali, sentado, contava-me as suas experiências na África.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Por dez anos.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Defendendo os que mais precisam, os mais pobres, como também no Nordeste. A Presidenta Dilma fez uma excelente escolha.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Obrigado, Paim.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS.) - Eu fico muito feliz. Sei que V. Exª será um grande Ministro para o Brasil.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Obrigado, Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS.) - E, consequentemente, todo o povo brasileiro será atendido pela grandeza. Vou dizer alguma coisa que alguém disse aqui do Plenário. Vou copiar: “V. Exª, que é um pescador de almas, é um homem do bem. Vai ensinar ainda mais o nosso povo a pescar e a entender a importância da nossa pesca, num universo tão grande que é o nosso litoral”. Parabéns a V. Exª. Permita-me que eu diga: tenho orgulho de ser amigo a V. Exª.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Paulo Paim. Foi uma honra ter aprendido a ser parlamentar, defendendo as causas de nosso povo, do trabalhador. Estivemos juntos. Sofremos pressão. Fomos base do Governo, muitas vezes incompreendidos, mas nunca falhamos. Sempre que abriram esse placar, esse painel, estava lá: Crivella e Paim, votando com o trabalhador.

            Temos orgulho disso e podemos aqui, de peito aberto, dizer que não traímos os trabalhadores brasileiros.

            Foi uma honra ter lutado ao seu lado.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/03/2012 - Página 4577