Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cumprimentos ao Presidente do Santos Futebol Clube, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, pelo envio de carta ao Presidente do Sport Club Corinthians Paulista, com pedido de desculpas ao treinador Tite sobre lamentável incidente; e outros assuntos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Cumprimentos ao Presidente do Santos Futebol Clube, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, pelo envio de carta ao Presidente do Sport Club Corinthians Paulista, com pedido de desculpas ao treinador Tite sobre lamentável incidente; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2012 - Página 6424
Assunto
Outros > ESPORTE. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, ORADOR, FATO, RETRATAÇÃO, PRESIDENTE, TIME, FUTEBOL, REFERENCIA, COMPORTAMENTO, TORCEDOR, RELAÇÃO, TREINADOR PROFISSIONAL DE FUTEBOL.
  • LEITURA, ORADOR, ENTREVISTA, DIPLOMATA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, PUBLICAÇÃO, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, NECESSIDADE, DIPLOMACIA, RESOLUÇÃO, CONFLITO, REGIÃO, CUMPRIMENTO, SENADOR, RELAÇÃO, TRABALHO, CORPO DIPLOMATICO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Querida Senadora Vanessa Grazziotin, V. Exª sabe que sou um propugnador da paz em todos os lugares do mundo, seja nos nossos estádios de futebol, seja na África, na Ásia, no Oriente Médio, nas Américas, na Europa, onde for.

            Ainda na semana passada, eu aqui relatei um episódio a que assisti na TV Gazeta quando da mesa redonda dos repórteres Flávio Prado e Michelle Giannella ao entrevistarem o técnico Tite, do Corinthians, que há dois domingos sofreu uma ofensa da parte de alguns torcedores que se encontravam ali no estádio da Vila Belmiro. Pela terceira vez em que esteve naquele estádio, haviam cuspido sobre o técnico enquanto ele trabalhava.

            Aquilo me deixou muito preocupado e então escrevi uma carta ao presidente do Santos, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, no sentido de que ele pudesse tomar a providência de solicitar desculpas ao técnico e ao próprio Corinthians.

            Eu gostaria aqui de ler a carta do presidente do Santos Futebol Clube, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, datada de ontem, ao Sr. Mário Gobbi Filho, presidente do Sport Club Corinthians Paulista, nos seguintes termos:

Prezado Presidente,

Ausente do País por conta da reunião da FIFA para a qual fui convocado, não tive chance de recebê-lo pessoalmente por ocasião do clássico Santos FC x Corinthians, no último dia 04/03/2012.

Fiquei sabendo, por outro lado, que, durante a partida, um pequeno número de torcedores localizados no setor das cadeiras cativas praticou atos deploráveis, como o de cuspir no treinador Tite, que exercia seu trabalho no gramado.

O depoimento do técnico no programa Mesa Redonda da TV Gazeta trouxe a público essa lamentável ocorrência.

Consciente, no entanto, de que atitudes como essa contrariam minha convicção de que o esporte é uma atividade de convivência e confraternização, venho pedir-lhe desculpas, oficialmente, em nome do Santos Futebol Clube.

Peço-lhe a gentileza de transmitir ao treinador Tite, pessoa extremamente educada e equilibrada, que releve a grosseria de uns poucos, dando-lhe conta, também, que vamos adotar providências para que fatos lamentáveis como esse não se repitam.

Um abraço do

Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro,

Presidente

Santos Futebol Clube.

            Eu quero cumprimentar a atitude do Presidente do Santos e dizer o quão importante é, ainda mais diante da vinda das seleções de futebol de todo o mundo aos nossos estádios por ocasião da Copa do Mundo, que possam as torcidas de todos os times ter a atitude mais civilizada e respeitosa possível com as torcidas de times adversários, sobretudo quando aqui estivermos recebendo as seleções dos países, inclusive daqueles com os quais, muitas vezes, temos uma tradição de rivalidade. Que isso se reflita em atitudes educadas, civilizadas, respeitosas e construtivas.

            Por outro lado, Srª Presidenta Vanessa Grazzitin, eu gostaria de aqui registrar uma reflexão do que ocorre no Oriente Médio. Ainda hoje, estamos aqui, no Senado, recebendo - muitos de nós fomos convidados para conversar com ele - o Vice-Ministro de Relações Exteriores de Israel. É importante que nós nos preocupemos com a paz, com a fraternização e com o diálogo. Ainda ontem, O Estado de S. Paulo publicou uma entrevista muito significativa de Paulo Sérgio Pinheiro, que aqui quero ler e comentar.

Por que o mundo parece inerte com relação às inúmeras mortes de civis que acontecem, diariamente, na Síria? E por que países como a Rússia e China afiguram-se como não importar-se com tais atrocidades?

Cabe ressaltar que a Síria ocupa uma posição estratégica no mapa do mundo árabe e, por isso, uma posição central para o mundo inteiro. Geograficamente, ela faz fronteira, ao norte, com a Turquia e, a sudoeste, com o Líbano e Israel. Ao sul está a Jordânia, e, a leste, o Iraque. Sendo que, ao lado do Iraque, fica o Irã.

Por que o mundo está tão cauteloso no que concerne a intervir nesse conflito? A primeira resposta que nos vem à mente é porque a Síria é um país central. Um país vizinho ao Irã, ao Iraque e a Israel é vital para a segurança mundial. Qualquer coisa que aconteça com ele terá repercussão com seus vizinhos e, portanto, repercussão mundial.

Calcula Paulo Sérgio Pinheiro, cuja entrevista iremos ler, que mais de três milhões de pessoas foram já afetadas pelos combates internos na Síria. E não é muito difícil que isso possa desaguar num conflito envolvendo Israel e o Irã [que têm falado até da utilização de armas nucleares]. Não podemos esquecer que, além de Israel e Estados Unidos, outros países amigos da Síria, como Índia, Rússia, China, possuem armas nucleares. E não é, não seria bom para o mundo uma guerra que envolvesse tais países.

As mortes, os estupros, as torturas que vêm ocorrendo na Síria devem ser enfrentadas pela vertente diplomática ou pela pressão econômica dos países ocidentais. As armas são o pior caminho que pode ser usado como solução para a questão síria [assim como no Afeganistão, onde ocorreu uma atitude inteiramente tresloucada de um oficial das Forças Armadas dos Estados Unidos].

Uma intervenção bélica nesse “vespeiro” é suicida para o resto do mundo, conforme nos relata Paulo Sérgio Pinheiro em entrevista concedida para o jornal O Estado de S. Paulo, que passo a ler:

“Na sua avaliação, qual deve ser a solução para o conflito sírio, um ano depois do início da repressão?”

Diz Paulo Sérgio Pinheiro:

“Não há nenhuma chance de uma solução militar ser a resposta. A solução para o conflito é um acordo negociado, com a participação do governo, dos grupos armados e da oposição. Não há outra saída. Uma militarização do conflito será algo extremamente desastroso. É claro que a Síria está em uma situação geopolítica delicada. É um erro profundo tentar transpor a situação da Líbia para a Síria. A Líbia era um país periférico e com população concentrada nas cidades. Além disso, sem o peso que a Síria tem para o mundo árabe. Meu recado central é um só: a violência precisa parar. Incentivar a militarização e armar rebeldes não funcionará. O ciclo da violência precisa ser rompido para evitar uma guerra civil”.

Jamil Chade, correspondente de O Estado em Genebra, pergunta então:

“Qual é sua avaliação da visita de Annan a Damasco?

            Diz Paulo Sérgio Pinheiro:

“Ainda é muito cedo para dizer. Foram só duas conversas. Acho que seria inaceitável julgar a missão dele neste momento. Temos de ser pacientes nas negociações. É cedo para dizer que seu trabalho na Síria acabou. A realidade é que não há alternativa ao diálogo.

Entendemos a situação das vítimas. Mas pensamos que a outra opção teria consequências catastróficas. Não falaríamos em centenas de mortos, mas em milhares. Não vamos brincar com isso. Será muito difícil a saída negociada. Mas não será a primeira crise solucionada com uma mediação.”

Pergunta Jamil Chade:

“Qual a sua avaliação sobre o estado atual do conflito?”

Responde Paulo Sérgio Pinheiro:

“Falamos em uma punição coletiva da população pelo governo. O que sabemos é que a intensificação do confronto armado aumentou o sofrimento. A situação humanitária é cada vez pior. Em Baba Amr, vemos que os ataques deixaram um rastro de morte, miséria e destruição. Os que saíram ainda nos falam sobre execuções sumárias, O governo deu algum acesso a agências humanitárias. Mas perdemos muito tempo e muita gente poderia ter sido salva. O acesso precisa ser garantido.”

Pergunta Jamil Chade:

“O que ocorrerá com a lista que o senhor fez de responsáveis sírios envolvidos nos massacres?”

Responde Paulo Sérgio Pinheiro:

“Quando houver uma decisão e um órgão competente, a lista que fizemos das pessoas envolvidas será entregue. Só existem duas cópias dessa lista, que estão com a ONU. Foram colocadas numa pasta, com dois códigos diferentes e só podem ser abertas se ambos estiverem corretos”.

           Quero aqui cumprimentar o trabalho do diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que lidera as investigações sobre as violações de direitos humanos na Síria e alerta que armar os rebeldes ou promover uma invasão estrangeira na Síria fará explodir uma guerra regional com milhares de mortes.

           Insiste Paulo Sérgio Pinheiro, um ano depois do início da repressão, que apenas uma saída negociada resolverá a crise síria.

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Concluindo, Srª Presidenta, o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro apresentou o seu relatório ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, no qual diz que o governo sírio está promovendo uma punição coletiva contra a população.

            Assim, Paulo Sérgio Pinheiro, com razão, insiste no risco que seria repetir na Síria a mesma estratégia da Líbia e destaca que as apostas devem ser concentradas no trabalho do mediador Kofi Annan.

            Cumprimento Paulo Sérgio Pinheiro por sua lucidez e ação como o representante do Brasil, que hoje presta um trabalho tão significativo para o Conselho de Direitos Humanos da ONU.

            Muito obrigado, Srª Presidenta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2012 - Página 6424