Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Sr. Aziz Nacib Ab’Saber, falecido no último dia 16; e outros assuntos.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Sr. Aziz Nacib Ab’Saber, falecido no último dia 16; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2012 - Página 7826
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, DEFICIENTE MENTAL, ORIGEM, GENETICA, ENFASE, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, OPORTUNIDADE, DESENVOLVIMENTO, PESSOAS, PORTADOR, DEFICIENCIA.
  • CONGRATULAÇÕES, ORADOR, DESTINAÇÃO, DIRETOR GERAL, AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO (ANP), MOTIVO, CONQUISTA (MG), CARGO.
  • CONVITE, ORADOR, DESTINAÇÃO, SENADO, MOTIVO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB).
  • REGISTRO, VOTO DE PESAR, MORTE, GEOGRAFO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, HISTORIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero iniciar minha fala com uma frase de uma jovem tirada de um livro que entreguei para o Romário. Dei um também para o Lindbergh, para o Presidente Lula e para o Marcelo Deda. Para o Lula especialmente pela função, pelo cargo que ele exercia na época, de Presidente da República, e aos demais, os três, porque todos têm filhos com Síndrome de Down. Esse livro é escrito por uma menina chamada Mariana. E a Mariana começa o livro dizendo: “Eu sou Mariana, uma pessoa normal que tem Síndrome de Down”. Então a Síndrome de Down e nenhuma outra deficiência pode impedir a pessoa de se desenvolver plenamente se as condições lhe forem oferecidas.

            Eu acho que a homenagem que o Senado, o Congresso Nacional, o Parlamento brasileiro destacou, estabelecendo um dia para que a gente pudesse chamar a atenção de toda a sociedade, tem este sentido: criar as condições, os meios para que as pessoas normais que tenham alguma debilidade possam ter um desenvolvimento que todas as outras pessoas também têm. Acho que é esse caminho que nós estamos buscando materializar com a nossa atividade aqui no Congresso Nacional.

            Mas gostaria também, Sr. Presidente, de destacar hoje a posse no Rio de Janeiro da nova Diretora-Geral da Agência Nacional de Petróleo, Magda Chambriard, com a presença da Presidenta Dilma Rousseff, lá no auditório da Escola Naval do Estado do Rio de Janeiro. Tive oportunidade de participar daquela solenidade. Considero muito importante hoje que o setor de petróleo, gás e biocombustíveis esteja no comando de três mulheres: a Presidenta da República, que é a Comandante em Chefe, digamos assim, da Nação e de todos, a nossa Graça Foster, presidindo a Petrobras, que cuida de petróleo, gás e biocombustíveis, e a Agência Nacional de Petróleo agora dirigida pela Magda Chambriard.

            Quero aqui registrar também os nossos cumprimentos à Magda Chambriard pela sua ascensão ao posto mais destacado daquela agência que é tão importante para o desenvolvimento do Brasil. E já apelo, em meu nome e de V. Exª, do Ceará e do Piauí, que nós coloquemos para funcionar uma determinação do conselho que manda realizar os leilões nas áreas do Norte e do Nordeste brasileiro, que é muito importante para o Ceará e para o Piauí.

            Destaco também, Sr. Presidente, que, agora a pouco, nós inauguramos uma galeria de fotos históricas contando a passagem dos 90 anos do Partido Comunista do Brasil. Está ali, naquele corredor que liga o Anexo II aos plenários da Câmara e do Senado, os dois plenários do Congresso Nacional, uma galeria de fotos contando essa passagem, essa história belíssima de luta pela democracia, de luta pelo desenvolvimento, de luta para combater as desigualdades sociais, para a ascensão do povo, para melhoria da qualidade de vida. A galeria está muito bonita. Foi aberta pelo Presidente da Câmara, com a presença do Ministro Aldo Rebelo e grande representação de quase todos os partidos com assento no Congresso Nacional.

            Quero fazer um convite para todos os Senadores e para os Deputados Federais: o Congresso Nacional realizará, na segunda-feira, dia 26, às 17 horas, aqui no plenário do Senado, uma sessão solene em homenagem aos 90 anos do Partido Comunista do Brasil. Então, convido a todos, Senadores, Deputados, Senadoras, Deputadas, funcionários e assessores, todos são nossos convidados para que possamos comemorar juntos os 90 anos de existência do Partido Comunista do Brasil. É o mais antigo partido em funcionamento no nosso País e que considero merecer essa homenagem decidida pelas duas Casas de forma unânime.

            Faço, Sr. Presidente, aqui um tributo a uma pessoa muito especial para o Brasil, que nos deixou há poucos dias. Trata-se de Aziz Nassib Ab’Saber, que nos deixou no último dia 16 de março, aos 87 anos de uma vida dedicada ao nosso País, ao nosso povo, ao nosso saber.

            Quero expressar minhas condolências a todos brasileiros por essa perda e, em especial, à sua viúva Cléa Ab’Saber.

            Aziz Ab’Saber nasceu em 24 de outubro de 1924, em São Luis do Paraitinga, São Paulo. Como ele mesmo nos contou, numa palestra aqui no Senado, era um homem muito simples. Sua mãe era uma mulher da roça, que casou com um libanês, como assim se passaram a chamar todos os sírios que chegaram aqui no final do século XIX e início do século XX, que se mudou para o Brasil aos 15 anos, para buscar o avô, que aqui já vivia.

            Segundo suas palavras, seu pai "era um boy de mercadão. E os beduínos inteligentes que ficavam na porta ensinaram tudo a ele, a escrever, a ler e ensinaram a ele ética e outras coisas mais". Considerava sua vida muito especial: "Eu fico entre o meu pai, que não escrevia e não lia em português, e minha mãe, que também era uma pessoa de primeiras letras. E eu tenho a obrigação de equilibrar tudo isso, por ter conseguido cursar a universidade".

            Aziz se mudou para a capital paulista pouco antes de ingressar no curso de Geografia na Universidade de São Paulo. Seu primeiro emprego público foi o de jardineiro da universidade, enquanto fazia os cursos de especialização. Durante vários anos lecionou na rede pública, posteriormente na Pontifícia Universidade Católica e, por fim, na USP, sendo membro do Instituto de Estudos Avançados dessa universidade. Suas preocupações com o ensino superior eram permanentes.

            Lamentou, em 2007, na Comissão Mista Especial de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional, destinada a acompanhar, monitorar e fiscalizar as ações referentes às mudanças climáticas no Brasil, que a universidade estava colocada de lado, marginalizada e com isso ela própria não se incentivava. Defendia que a universidade deve ter o papel de recuperação do conhecimento acumulado em todas as épocas e em todas as áreas no mundo. Deve também estar voltada para a produção de novos conhecimentos e pronunciar-se a respeito do nosso entorno, da nossa região, dos domínios da natureza, projetando as sociedades sobre o espaço total nacional. Coerente com essa concepção, desempenhou importante papel na área da pesquisa, tornando-se um dos maiores especialistas em geografia física do País e referência nos assuntos ligados ao meio ambiente e impactos ambientais.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, devido a essa visão engajada do conhecimento na construção humana, Ab'Saber presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, nos anos de 1993 a 1995, permanecendo como seu presidente de honra e conselheiro. Defendia a intervenção dos cientistas na realidade político-social, colocando seus conhecimentos a serviço dos movimentos sociais.

            Nos anos 1980/1990, tornou-se um dos principais amigos do então candidato a presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, integrando, inclusive, sua Caravana pela Cidadania, que percorreu todo o território nacional. Dizia que, ao longo de anos e anos de pensar, chegou à conclusão de que a pobreza do nosso País é difícil de ser resolvida, mas tem que ser minorada. São palavras dele, pronunciadas aqui, nesta Casa: "Ninguém escolhe o lugar para nascer, o ventre para ser gerado, nem a condição socioeconômica para ser integrado, nem a condição sociocultural e ética. Então, nasce onde o acaso determinar. Estou desesperado com a vida urbana, especialmente a vida dos pobres nas grandes cidades. Um dia ouvi uma menina pequenina dizendo para a sua mãe, desoladamente: “Mãe, nós não temos nada enquanto outros têm tudo!” Dizia ele: “Não é de fazer chorar?".

            A meu convite, quando eu presidia a Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior da Câmara Federal, deu uma palestra, em dezembro de 1999, na abertura da I Conferência Nacional das Cidades, em 1º de dezembro, e aquela conferência, na verdade, resultou no surgimento do Ministério das Cidades e aproveitou ele para denunciar os especuladores urbanos, que "são insensíveis à pobreza, à ascensão das camadas pobres para, pelo menos, um nível de classe média, e usam os espaços de todas as maneiras possíveis. Basta dizer que a diferença entre o mundo rural e o mundo urbano é que, no rural, se medem os pedaços pela necessidade da produtividade agrícola ou agrária e, na cidade, se mede por metro quadrado".

            Era um estudioso que examinava, com o máximo de cuidado, os fenômenos da natureza, que não desconhecia problemas reais, mas também não adotava uma posição alarmista, que atemorizava a todos com as possibilidades do desenvolvimento. Ele foi o primeiro a classificar o território brasileiro em domínios morfoclimáticos e a desenvolver a teoria dos redutos seguindo a linha de pensamento da teoria da evolução das espécies, do biólogo inglês Charles Darwin. A seriedade de suas investigações levou a que fosse honrado com vários prêmios, como o Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005) e em ciências exatas (2007); o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia; a Medalha de Grão-Cruz em ciências da Terra pela Academia Brasileira de Ciências; e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente (2001), concedido pelas Nações Unidas.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Aziz Ab’Saber se preocupava com os destinos do nosso povo e da nossa terra. Alertou-nos para a defesa da costa brasileira, que ele considerava a mais longa e diversificada costa tropical do mundo. "Por isso mesmo tem gente que está de olho em comprar terra, comprar beleza, comprar coisas ornamentais da nossa costa, porque não é em qualquer lugar que tem praias como as do Ceará, que tem regiões como o litoral norte de São Paulo, ou Santa Catarina, Garopaba, etc, então é preciso muito cuidado", advertiu.

            Ele fez uma missão, com inúmeros cientistas brasileiros e estrangeiros, franceses, europeus de um modo geral, cientistas do mundo inteiro, pelo Nordeste, para examinar o semiárido, examinar essa região brasileira. Sobre o Nordeste, destacava que a nossa responsabilidade com a região envolve ter esclarecimentos sobre a realidade fisiográfica, ecológica, social e fundiária, para podermos resolver os grandes problemas da região semiárida mais povoada do mundo. Lembro que certa vez disse que, se nascesse de novo, gostaria de nascer no meio do sertão, no meio do semiárido, não para sair da região, mas para viver nela.

            Na verdade, nos disse que gostaria de nascer lá no meio do sertão do Ceará, lá em Quixadá, no meio daqueles monólitos.

            O Brasil, portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, perdeu um grande homem e a ciência perdeu um de seus melhores expoentes.

            Por isso o nosso tributo a Aziz Nassib Ab’Saber, grande brasileiro, defensor do nosso País, defensor da integração sul-americana, defensor dos povos, da sua autodeterminação e de que era possível, sim, ter um mundo, ao mesmo tempo equilibrado ambientalmente e desenvolvido.

            Não podemos, sempre nos disse, negar aos povos, às populações mais carentes, aos pobres do mundo, o direito também de terem uma vida digna. E muitos, quando não querem examinar o projeto de desenvolvimento, terminam caindo nesse sentimento, de que é preciso conter o desenvolvimento para salvar o Planeta. Pelo contrário, é preciso desenvolvimento equilibrado para que todos, desenvolvendo-se, possam defender assim o seu planeta.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2012 - Página 7826