Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa dos interesses dos produtores rurais frente aos efeitos das mudanças climáticas sobre a produção agrícola.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA. AGRICULTURA. PREVIDENCIA SOCIAL. :
  • Defesa dos interesses dos produtores rurais frente aos efeitos das mudanças climáticas sobre a produção agrícola.
Aparteantes
João Capiberibe.
Publicação
Publicação no DSF de 22/05/2012 - Página 20076
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA. AGRICULTURA. PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • ANUNCIO, REALIZAÇÃO, EXPOSIÇÃO AGRICOLA, LOCAL, MUNICIPIO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DEBATE, MOBILIZAÇÃO, AUXILIO, PRODUTOR RURAL, VITIMA, SECA, AMBITO ESTADUAL, PRORROGAÇÃO, PRAZO, PAGAMENTO, PARCELA, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, IMPORTANCIA, ATIVIDADE AGRICOLA, RELAÇÃO, ECONOMIA, BRASIL, ENFASE, IMPORTAÇÃO, SOJA, RESULTADO, BALANÇA COMERCIAL, COMENTARIO, EFEITO, MUDANÇA CLIMATICA, PRODUTO TRANSGENICO, PRODUTIVIDADE.
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, TRABALHADOR, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, SITUAÇÃO, FALENCIA, DESTINATARIO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, SOLICITAÇÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, PERDA, PREVIDENCIA PRIVADA, EX-EMPREGADO.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Srª Presidente Vanessa Grazziotin, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, nossos telespectadores da TV Senado.

            Senadora Vanessa, eu aqui vi V. Exª e o Senador Eduardo Braga tratarem, com muita insistência, dos efeitos da terrível enchente que se abateu sobre Manaus, especialmente, mas em toda a região do Estado do Amazonas. Vi fotos que são verdadeiramente assustadoras do que aconteceu naquela região. E eu agora ocupo a tribuna para falar exatamente o oposto, Senadora Vanessa: falar da seca que dizimou lavouras no meu Estado, tema que o Senador Paim, o Senador Simon e eu temos também trazido às comissões temáticas, bem como a outros ambientes de discussão aqui no Senado Federal.

            No dia 9 de junho, a partir das 10 horas, na programação da Expocipó, no Município de Capão do Cipó, na região central do Rio Grande do Sul, haverá a realização de um debate do movimento de mobilização denominado “Te Mexe Produtor!”, em uma linguagem bem gaúcha, Senador Paim.

            Esse movimento conta com o apoio da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa, que é presidida por um correligionário meu, Deputado Ernani Polo, e é organizado pelo Sindicato Rural de Santiago, presidido por Sandro Cardinal; demais sindicatos rurais dos Municípios vizinhos; pela Aprosoja, liderada pelo Prefeito de Tapera, Ireneu Orth; prefeituras e demais entidades. Deverá reunir mais de sete mil produtores de mais de cem Municípios de várias regiões do Rio Grande do Sul.

            Os principais problemas: endividamento agrícola e perdas na lavoura, em virtude da seca, e ainda a ausência de um seguro agrícola, que seja um seguro de renda. As perdas, na região onde será realizado o movimento e em algumas regiões vizinhas, como a região noroeste - a que o Senador Paulo Paim, há pouco, se referiu, sobre as perdas que essa região está tendo para a Argentina, levando suas fábricas e seus empregos -; a região missioneira, igualmente afetada duramente pela seca e também pela concorrência da Argentina; e ainda a região central.

            Segundo os dados repassados pelo Sindicato Rural de Santiago, chegam a 85% as perdas nas lavouras de soja e 90% as perdas nas lavouras de milho, em cerca de 60 Municípios, como Capão do Cipó, São Miguel das Missões, Santo Ângelo - a capital missioneira -, Giruá, Itacurubi, Bossoroca, Santo Antônio das Missões, Santa Rosa, São Borja, São Luiz Gonzaga, Alecrim, São Francisco de Assis, Manoel Viana, Santa Maria e tantos outros.

            Os números dessas regiões são ainda mais graves do que na média do Estado onde as perdas, segundo dados divulgados, no começo deste mês pela Farsul, são de 45% na soja e 54% de perda no milho na média das demais regiões em que a seca representou um prejuízo menor, mas igualmente preocupante. Agora, perder 90% e 85% em duas das principais lavouras, como soja e milho, nessa região, é levar ainda mais desespero e uma queda brutal na arrecadação desses Municípios.

            Na recente audiência pública que tivemos na Comissão de Agricultura, quando o Senador Acir Gurgacz propôs um debate com os representantes dos ministérios, foi apresentado que as medidas contra a seca na região Sul, os agricultores familiares de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, atingidos pela estiagem, com operações de custeio, não amparadas pelo seguro da agricultura familiar, e de qualquer atividade agropecuária prejudicada em decorrência no Sul, especial a de custeio pecuário, podem solicitar ao agente financeiro, no seu Estado, a prorrogação do prazo para pagamento das parcelas de financiamento do Pronaf.

            A medida é parte da Resolução nº 4.056, publicada em janeiro de 2012, e alterada em sessão realizada na última quarta-feira, dia 29, pelo Conselho Monetário Nacional, a pedido do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Os agricultores terão até o dia 31 de julho de 2012 para pagar as parcelas vencidas e a vencer entre 1º de janeiro de 2012 a 30 de julho de 2012.

            Para ser beneficiado por essa nova medida, o agricultor deve comprovar, no mínimo, 30% da perda. Os agricultores deverão formalizar a renegociação junto ao banco até o dia 30 de julho. Para isso, devem procurar o agente financeiro com o laudo de comprovação das perdas. Mais de 28 mil agricultores já receberam pagamento desse Seguro de Agricultura Familiar.

            O principal motivo das perdas da safra 2011/2012 é a forte estiagem da região Sul, sendo as culturas mais atingidas de milho e soja, como eu disse. A seca deste ano foi a mais forte dos últimos anos na região Sul, onde existe o maior número de contratos, no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. No meu Estado, no Rio Grande do Sul, segundo informe do Ministério do Desenvolvimento Agrário, 14.279 coberturas já foram pagas. Mas isso, Senadora Vanessa, só se refere à agricultura familiar. A agricultura de médio porte, a chamada agricultura empresarial, ainda não tem solução para os seus problemas, além da prorrogação dos custeios e também do PSI. Aproveito para revelar a importância que tem a agricultura para a economia do nosso País agora ante essas incertezas que advêm da crise lá do Velho Mundo, a Europa.

            Usada desde o Estado Novo, a expressão Brasil, o “celeiro do mundo”, nunca esteve tão atual como agora. Ano após ano, o Brasil produtor agrícola vem-se firmando no cenário mundial como único país exportador oficial de mais de 12 produtos agrícolas e com potencial para aumentar a produção de alimentos, pois possuímos terras para plantar e a preciosa água para irrigação. Mesmo nos momentos de seca, o que se vê é que houve certa imprudência das autoridades no sentido de não implementarem programas de irrigação eficazes. Também temos sido muito perdulários, porque não colhemos a água da chuva quando ela acontece nos reservatórios, e isso poderia representar um ganho neste momento.

            Um artigo publicado recentemente no jornal O Estado de S. Paulo, o qual peço que seja transcrito nos Anais desta Casa, trata dos resultados da produção agrícola brasileira e me chama atenção por outro motivo. O autor, Alberto Tamer, não só endossa a importância da agricultura brasileira para o mundo, como enfatiza a importância da agricultura para o próprio Brasil, o nosso País, de um grande mercado interno.

            A agricultura, Srªs e Srs. Senadores, tem garantido o saldo positivo da balança comercial brasileira e vem salvando a economia brasileira, mês após mês. Com a desindustrialização do setor de manufaturados, provocada principalmente pela política de juros e câmbio e o peso do custo Brasil, o País só tem garantido saldo positivo nos negócios externos por causa do superávit do setor do agronegócio da ordem de US$20,8 bilhões, acumulado entre os meses de janeiro a abril deste ano, e US$77,9 bilhões, nos últimos 12 meses. O campo emprega hoje 30 milhões de pessoas, enquanto que a geração de empregos nas fábricas começou a perder fôlego, por causa da importação desenfreada nos últimos meses. Sem esses números, conquistados pela competência do setor do agronegócio, não teríamos registrado superávit, mas sim um déficit comercial.

            O artigo do jornalista Alberto Tamer mostra que, de 1999 até hoje, as vendas externas de alimentos e produtos agropecuários aumentaram, nada mais nada menos, que 200%. A soja é o carro chefe das vendas externas em forma de grão, matéria-prima, farelo e óleo, no caso aí, já manufaturado. Esse resultado foi alcançado, mesmo com a feroz competição de países amparados por políticas de subsídios, protecionismos e manipulação cambial.

            Preciso lembrar, aqui, outros fatores adversos, mas que não desencorajam os produtores rurais brasileiros. Nos últimos anos, as mudanças climáticas têm imposto períodos longos de seca, como a estiagem que atingiu a safra de verão esse ano no Rio Grande do Sul e quebrou 50% da colheita da soja, na média; em algumas regiões, como falei há pouco, mais de 80% ou 90%. O problema também acontece na região Nordeste, onde a Bahia é o principal eixo onde está agravada a incidência de uma seca que tem ocupado aqui os representantes da Bahia, especialmente o Senador Walter Pinheiro. No Norte do Brasil, o problema é excesso de chuva, mudando o comportamento dos rios e das bacias hidroviárias.

            Na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, na última semana, discutimos as mudanças climáticas e os efeitos sobre a produção agrícola, onde ouvimos João Rabelo Júnior, Secretário Adjunto da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e João Luiz Guadagnin, Diretor de Financiamento e Proteção da Produção da Secretaria de Agricultura Familiar do ministério do Desenvolvimento Agrário.

            A catástrofe ambiental diminui a produtividade e exige a renegociação das dívidas dos agricultores. Mesmo assim, insisto, nossos bravos agricultores continuam colhendo resultados recordes. A agricultura familiar, por exemplo, apresenta a menor inadimplência com os bancos, com o índice de 3%, mesmo enfrentando as adversidades do clima, problemas de crédito e infraestrutura.

            E o Brasil rural ainda pode dar mais à nossa economia. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, nos últimos dez anos, a produção de grãos dobrou, mas há um espaço enorme para produzir ainda mais, atendendo à previsão de necessidade de crescimento de 20% na produção mundial de alimentos nos próximos oito anos. Para isso, o setor agrícola precisa, não apenas de socorro imediato a cada seca ou a cada enchente. É preciso uma política de prevenção, que seja de duração e de estabilidade para assegurar, pelo menos, a garantia da renda aos agricultores, através de mecanismos que, no plano da irrigação, sejam eficazes e eficientes.

            Lembro aqui um dado também fornecido pelo ex-Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, um dos principais líderes e estudiosos do agronegócio; ele mesmo um produtor bem-sucedido e que tem cuidado com a sustentabilidade. Lembrou Roberto Rodrigues que, entre 1990 e 2010, a produção de alimentos no Brasil teve um aumento de 177%, 173%, melhor dizendo, e a área cultivada, no mesmo período, um aumento, Senador Capiberibe, de apenas 36%. Veja só: aumentamos a produção de comida, de 1990 a 2010, em um percentual de 173%, enquanto que a área cultivada, nesse mesmo período, teve um acréscimo de apenas 36%. Isso significa dizer que os agricultores aplicaram alta tecnologia, aplicaram manejos sustentáveis como: plantio direto na palha, como aplicação de curvas de nível, como melhoramento genético e tantas outras habilidades gerenciais que deram esse salto de qualidade, e a produtividade aumentou mesmo com pequena área.

            Ouço, com muito gosto, o Senador João Capiberibe.

            O Sr. João Capiberibe (Bloco/PSB - AP) - Senadora Ana Amélia, V. Exª destaca o papel de ponta, de vanguarda do agronegócio brasileiro. É verdade, o Brasil vem multiplicando sua produção e melhorando, a cada ano, a produtividade de suas áreas. Minha preocupação é a de que a gente precisa avançar um pouco mais, pois nós estamos voltados para a produção e exportação de produtos da natureza, Praticamente exportamos matéria-prima, porque os países importadores, os países ricos impõem todo tipo de proteção a seus produtores. Estou vindo da Alemanha, passei a semana debatendo e discutindo (participei de duas mesas-redondas) sobre o desenvolvimento sustentável, sobre a economia verde. Tive a oportunidade de visitar algumas áreas e de também travar conhecimento com a questão de nossa soja brasileira. Hoje, na Alemanha, não entra soja transgênica. Falo isso porque as sementes transgênicas entraram pelo Rio Grande do Sul no início desta primeira década do terceiro milênio. No ano 2000/2001, essas sementes começaram a entrar de forma clandestina, contrabandeadas e cultivadas pelos agricultores do Rio Grande do Sul e, depois que recolheram a safra transgênica, como tudo neste País, a ilegalidade se transformou em legalidade, o que foi, na verdade, um grande erro, porque, hoje, os produtores transgênicos estão querendo se livrar dessas sementes para poder colocar os seus produtos por melhores preços. Há, no Brasil, um movimento de reservar áreas livres de transgênicos em vários Estados, o Mato Grosso está trabalhando nessa direção. Essa é uma questão para a qual a gente precisa estar alerta, não podemos depender, colocar a imensa produção do nosso País na mão de uma empresa produtora de sementes transgênicas, como a Monsanto, a Syngenta, qualquer uma delas. Acho que temos de ter essa grande...

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS) - Ou a alemã, a Bayer.

            O Sr. João Capiberibe (Bloco/PSB - AP) - Ou a Bayer, enfim. Mas lá eles tomaram essa decisão. Outra questão que precisa ser debatida é até quando a agricultura europeia vai receber esses altíssimos subsídios. Uma vaca, para pastar nos campos da Europa, recebe em torno de mil euros por ano.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS) - Oitocentos euros por produtor e não precisa nem se preocupar com o tempo, nem com a seca, Senador.

            O Sr. João Capiberibe (Bloco/PSB - AP) - Isso é absolutamente incompreensível! Estamos globalizando o comércio, a produção, mas temos dificuldades, porque só podemos comercializar matéria-prima, porque, na hora em que a soja sofre um processo de industrialização no Brasil os impostos vão lá para cima, o óleo de soja é cobrado absurdamente! Então, acho que temos de fazer um esforço, o Brasil precisa fazer um esforço para adensar a cadeia produtiva e puxar o mercado interno para o consumo e também dos nossos vizinhos latinos.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS) - Agradeço muito a valiosa contribuição de V. Exª. O problema da questão genética tem um aspecto ambiental, mas secundário, no meu entendimento. É uma guerra comercial de grandes grupos internacionais, dos Estados Unidos e da Europa. Essa guerra está andando cada vez mais célere, a Europa atenuou um pouco essa resistência em função de ela ter agora caminhado para se nivelar aos Estados Unidos na questão das sementes modificadas geneticamente. Essa corrida é comercial, de interesse de investimento em pesquisa. Claro que, como V. Exª também... Nasceu, no Rio Grande do Sul, a chamada “soja Maradona”, uma soja importada da Argentina. Hoje, praticamente todo o território argentino produz soja transgênica. O Canadá é produtor de soja transgênica e os Estados Unidos são o maior produtor. A tendência hoje, os dados são muitos grandes.

            Penso que não haja incompatibilidade, Senador João Capiberibe, de haver a complementaridade. Quem quiser produzir uma soja por uma conveniência empresarial, que o faça; quem quiser produzir soja transgênica, que o faça. Essa é uma escolha do produtor. Essa foi sempre a minha defesa nesse aspecto, quando a Lei da Biossegurança foi aprovada na Câmara dos Deputados - até foi Aldo Rebelo um dos principais responsáveis e articuladores -, em que se criou uma norma, um marco legal. Senão, íamos continuar na ilegalidade, o que é o pior dos mundos, trazendo uma semente não condicionada ao nosso solo, à nossa cultura. Dessa forma, foi uma discussão ampla no Congresso, que é a Casa que deve fazer a discussão.

            Penso que V. Exª diz outra verdade no que diz respeito aos pesadíssimos subsídios que a Europa paga para os seus produtores. Aliás, os Estados Unidos também têm altos subsídios. Dizem até que o produtor de soja no Brasil coloca a semente na terra e olha para o céu para saber se São Pedro vai ajudar; o produtor americano olha para o Tesouro americano, porque é de lá que sai o subsídio. Lá, está garantido; chova, faça sol, ele vai ter o subsídio garantido para ele. Então, de fato, V. Exª aborda com precisão essa matéria.

            Também concordo com V. Exª quando diz que temos de trabalhar e trilhar para buscar agregar valor a nosso produto. Exportar matéria-prima não é o melhor que podemos fazer. Então, é preferível exportar etanol, exportar farelo, exportar óleo de soja, exportar margarina, exportar proteína de soja e não apenas o grão. A China, inteligentemente, faz isto: para importar o grão, ela não cobra nenhum imposto, mas, para importar o farelo e outros produtos, ela cobra uma taxa de importação, o que é exatamente a proteção da sua produção interna. Então, eu agradeço V. Exª pela valiosa colaboração nesse aspecto.

            Eu queria só terminar, Srª Presidente, de uma maneira bem simples. Agora, saio da agricultura para tratar, Presidente Fernando Collor, de um tema extremamente relevante, em que o Senador Alvaro Dias, o Senador Paim, nós temos trabalhado muito intensamente. À época, o tema foi discutido no Brasil inteiro, porque não há brasileiro, especialmente aqueles que viajaram sempre muito, que não tenha carinho pela Varig - eu, particularmente, como gaúcha, também tenho isso. Hoje, eu recebi de Waldo Deveza uma mensagem pelo Twitter, como sempre, dizendo que nós estamos em ensurdecedor silêncio sobre a questão Aerus Varig. Semana sim, semana não, eu faço um lembrete na tribuna de algum modo, ou como questão de ordem, ou aqui, na tribuna, para pedir à Ministra Cármen Lúcia a decisão sobre o caso Aerus Varig, porque é preciso a decisão do Supremo Tribunal Federal numa questão de defasagem tarifária.

            Mas eu vou agora ler - é uma página apenas, Presidente Vanessa Grazziotin -, porque V. Exª tem sensibilidade para essas questões.

            Essa correspondência foi enviada à Presidente Dilma Rousseff, pela comissária da Varig Angel Nunes, e diz o seguinte:

“Cara Presidenta Dilma Rousseff.

Muito me emocionou seu discurso. Por empatia me pus em seu lugar e imaginei sua dor, sua juventude roubada, sua impotência diante de um sistema que lhe torturou física, emocional e psicologicamente.

Hoje, Presidenta, a senhora se ocupa da extinção da miséria; tem a imagem de mãe zelosa e dedicada, para com um povo que nunca se sentiu objeto de atenção.

Lamentável, porém, que sua benevolência ainda não privilegie a mim e aos que como eu são já irremediavelmente sequelados, funcionários da falida Varig; sim falida, pois com a venda da marca há quem pense que a Varig foi recuperada.

Existem ações judiciais, inclusive em última instância, dependendo apenas de boa vontade política, já nos foram feitas promessas de solução que não se cumprem, ficando nossos pleitos fadados a servir de estofo às cadeiras da Justiça.

Ainda me dói lembrar o quanto rogamos ao BNDES 300 milhões para salvar a Varig, o que nos foi friamente negado; concomitantemente acompanhávamos os investimentos deste banco até em países estrangeiros.

Como Brizola nos fez falta [escreveu ela]. Me lembro [diz Angel Nunes] de seu orgulho como bom gaúcho pela nossa Varig, nas repetidas vezes em que o servi na primeira classe.Ele nos conhecia, nos amava e certamente nos teria ajudado.

Resultado: perdeu-se um património nacional, a aviação brasileira nunca mais foi a mesma, e não haverá outra Varig.

Da mesma forma [escreveu Angel Nunes] que a Senhora se sentiu, eu me sinto agora torturada pela angústia de ver meus colegas morrendo, pelo medo nas noites insones, sob a ameaça de suspensão definitiva do meu plano de previdência privada, Aerus, que desde 2006 me paga 60% a menos do que eu faço jus; isso por ser do Plano 2, porque os colegas que optaram pelo Plano 1 recebem 80% a menos do que lhes caberia.

Torturada Srª Presidenta, por ver o abalo na vida e na saúde de meus filhos, um com epilepsia por stress, outro com depressão.

Não vou discorrer aqui sobre minhas perdas, mas foram muitas e irreversíveis.Torturada ainda pela humilhação de ter que implorar aos políticos, ao Judiciário e à Senhora por um direito que é meu, pois eu recebia 1200 e pagava 900 ao Aerus, na expectativa de uma velhice tranquila e um bom futuro para meus filhos, por ter a garantia da União, através da Secretaria de Previdência Complementar, atual Previc, órgão fiscalizador criado especificamente para me proteger, mas que, a despeito das denúncias, nada fez para evitar as irregularidades que acabaram por destroçar nossa autossustentação financeira.

Nossa contemporaneidade nos torna semelhantes: vivemos a ditadura, o feminismo, o sonho dourado do socialismo. Somos mães, eu de dois filhos, a Senhora, de uma filha e de uma Nação, da qual eu e meus colegas fazemos parte. Se lhe foi roubada a juventude ...

            (Interrupção do som.)

            A SRª ANA AMÉLIA(Bloco/PP - RS) - Estou terminando, Srª Presidente.

            A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco/PCdoB - AM) - Não, V. Exª pode continuar, Senador Ana Amélia. 

A SRª ANA AMÉLIA(Bloco/PP - RS) -

Se lhe foi roubada a juventude, nos está sendo roubada a velhice, em alguns casos, a vida, já que desde que essa hecatombe nos atingiu mais de 600 morreram por doenças adquiridas pelo desespero ou pelo suicídio.

Se seu pranto por suas perdas, por seus mortos e por todas as violações aos direitos humanos que sofreu é legitimo, o nosso também. (...) Por ironia, nosso algoz é o nosso defensor, que não nos salvaguardou nem antes, nem durante, nem depois, que agiu dentro de seu mundo entupido de leis e interpretações destas, de burocracia e etc., desprezando o valor do trabalho e da vida, como se fora cego e surdo aos nossos clamores.

Alerto aquela jovem que um dia sonhou em mudar o mundo, que imbuída de sentimento nobre não poupou a si mesma de todos os riscos, inclusive o de morte, que chegou a hora de realizar seu ideal de igualdade e justiça. Presidenta Dilma, o seu discurso me comoveu, será que algum dia a Senhora se comoverá com o meu?

            Cordialmente,

Angel Nunes - Comissária de bordo da Varig, com muito orgulho por ter representado, em 10.000 horas de voo, a qualidade superior de uma empresa e o nome de meu amado País, pelos mais diversos cantos do mundo.”

            Esse foi o meu pronunciamento, Srª Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª ANA AMÉLIA EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art.210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

- Agricultura salva PIB (Alberto Tamer, em O Estado de S. Paulo).


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/05/2012 - Página 20076