Discurso durante a 99ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a reportagem, publicada pelo jornal Zero Hora, intitulada “Seca no Pampa – Um martírio de duas décadas”; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA, POLITICA AGRICOLA.:
  • Comentários sobre a reportagem, publicada pelo jornal Zero Hora, intitulada “Seca no Pampa – Um martírio de duas décadas”; e outros assuntos.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2012 - Página 24642
Assunto
Outros > AGRICULTURA, POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ZERO HORA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), REFERENCIA, LIDERANÇA, REGIÃO SUL, INDICE, CALAMIDADE PUBLICA, SECA, PAIS, FATO, PREJUIZO, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, COMERCIO, REGIÃO.
  • REGISTRO, PROPOSIÇÃO, RECOMENDAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), PAIS ESTRANGEIRO, OBJETIVO, LUTA, REFERENCIA, EFEITO, SECA.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, em primeiro lugar, deixe-me ser muito sincero: V. Exª fica bem na Presidência. Olha, creio que quem está assistindo pela televisão deve dizer: “Está aí um bom Presidente”. Acho que, no ano que vem, teríamos em V. Exª... O que acha, Senador Requião?

            Senador Requião, estou dizendo que o Senador Luiz Henrique fica muito bem na Presidência do Senado. Acho que é uma questão de a gente pensar e refletir, porque, na verdade, na verdade...

            Mas estamos nós aqui: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Podemos até fazer uma sessão especial para discutir os nossos problemas.

            São Paulo é um pouco diferente, porque tem tudo que há de bom que nós temos, mas não tem as coisas ruins que nós temos.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco/PMDB - PR) - Senador, uma observação só, irônica, diga-se de passagem, para que eu não seja condenado posteriormente. Existem setores da política brasileira, e quero dizer isto na presença do Senador mais votado de São Paulo, o Senador Aloysio Nunes Ferreira...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Do Brasil.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco/PMDB - PR) - (...) e da política brasileira, que consideram São Paulo um país vizinho, mas nem sempre amigo do Brasil. Eu não sei que consideração o Senador Aloysio faria sobre essa ironia a respeito do seu Estado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu vou ser muito sincero, Senador. Reconheço que, quando rezo, peço perdão, porque tenho uma inveja, e uma inveja pecaminosa, dos Estados Unidos. Mas tenho também uma inveja menor de São Paulo. Eita Estado em que tudo dá certo! Que coisa impressionante!

            É verdade que lideranças como V. Exª, que vai dar-me o aparte, pelo seu estilo, por sua grandeza... Somos obrigados a reconhecer que São Paulo reúne, hoje, o que temos de bom no Brasil. Mas São Paulo é um problema para nós, porque cresce demais. O Brasil atrapalha o crescimento de São Paulo, e São Paulo atrapalha o crescimento do Brasil. Quer dizer, se dependesse de São Paulo, ele ia embora. O Brasil não o deixa correr tanto. Se depender de nós, nós vamos mais, mas São Paulo não nos deixa atravessar.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Meu querido amigo, Senador Pedro Simon, na verdade, o que nós temos de melhor em São Paulo são os gaúchos que lá vivem, os catarinenses, os paranaenses, os mineiros, os nordestinos. São Paulo, realmente, conseguiu esse milagre de trazer para uma convivência absolutamente harmônica gente do Brasil inteiro e tendo recebido um enorme afluxo de imigrantes árabes, italianos, japoneses, gente da Europa central, de modo que São Paulo é o somatório disso tudo. Mas São Paulo tem problemas graves também, muito graves, especialmente nas nossas regiões metropolitanas. Nós temos problemas de pobreza, problemas de desigualdades regionais, mas o fato é que, sem o Brasil, São Paulo não é nada. Essa é que é a verdade. São Paulo precisa do Brasil, não apenas da convivência com os irmãos brasileiros de outros Estados, mas existe, hoje, no Brasil, mais do que nunca, uma integração, uma noção de sistema, sem o qual a economia paulista não teria o dinamismo que tem. Obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Não tenho dúvida.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Lembro a V. Exª que o Presidente Fernando Henrique é carioca, o grande ex-Ministro da Educação Paulo Renato é seu conterrâneo, e há vários exemplos de grandes homens públicos: Freitas Nobre, o nosso líder, era cearense, e por aí afora.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - E vamos ficar ali. O Jânio Quadros é de Mato Grosso; o Lula, de Pernambuco.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Lula é pernambucano.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Quer subir, vá para São Paulo. É o problema do Requião: ficou no Paraná; eu disse: “Requião, vá para São Paulo”. Ficou no Paraná, não sai candidato a Presidente.

            Sr. Presidente, é estranho o discurso que vou pronunciar, é muito estranho: seca. O Rio Grande do Sul lidera ranking de desastre natural no País. É uma situação quase incompreensível.

            Domingo agora, dia 17, é o Dia Mundial de Luta contra a Desertificação. Pode parecer estranho que eu, Senador do Rio Grande do Sul, venha à tribuna tratar desse assunto, porque, no Brasil, o flagelo da seca está secularmente associado à região Nordeste. No entanto, o que me trouxe a esta tribuna foi a leitura de uma interessantíssima reportagem do jornal Zero Hora, intitulada “Seca no Pampa. Um martírio de duas décadas”.

            Estarrecido, descobri, por meio dessa reportagem, que o Estado do Rio Grande do Sul foi a unidade da Federação mais atingida por desastres naturais ao longo dos últimos 20 anos. O trabalho do Zero Hora foi desenvolvido com base em dados obtidos em estudos de abrangência nacional, realizados pela Universidade Federal de Santa Catarina, sobre os desastres naturais notificados.

            Segundo levantamento, entre 1991 e 2010, foram registradas, no Rio Grande do Sul, 4.924 notificações de secas, inundações e vendavais. Porque nós temos os dois lados: uma hora é seca, outra hora é vendaval. O mais impressionante é que a grande maioria desses registros, 2.643 notificações, correspondentes a 63% do total, referem-se à ocorrência de estiagem.

            Como disse, estávamos acostumados a ligar a palavra seca aos Estados do Nordeste brasileiro, porque, de tempos em tempos, repetem-se lá períodos de estiagem, estiagens demoradas, com seus dramáticos desdobramentos e com o êxodo rural, que, ao longo da história, fez com que os nordestinos fossem para São Paulo, viessem para Brasília e andassem pelo Brasil afora; e com a perda de praticamente toda a produção agrícola. Pequena, mas toda. Aliás, esse drama cíclico deu origem a importantes livros de ficção, entre os quais destacaria o formidável Vidas Secas, de Graciliano Ramos. No entanto, em tempos mais recentes, o Rio Grande do Sul, mais especificamente a sua região do Pampa, vem sendo palco de terríveis e devastadoras estiagens. 

            O pampa é o nosso bioma extenso, ocupando 63% do território gaúcho. Os restantes 37% são de mata atlântica, o que restou da mata atlântica. Por isso, o pampa tem, na nossa literatura, na nossa música, na nossa história, uma presença preponderante, equivalente à do sertão na literatura nordestina.

            De acordo com estudo da Universidade de Santa Catarina, divulgado pelo Ministério de Integração Nacional, as situações de emergência causaram danos, ainda, a mais 2,1 milhões de pessoas em 457 Municípios do Rio Grande do Sul, sendo que a cidade de Bagé, com 229 mil habitantes, a mais populosa e a mais atingida.

            É preciso considerar também que o Rio Grande do Sul aparece em destaque nas relações dos Estados mais atingidos por inundações e vendavais.

            Além de liderar o ranking nacional dos Estados flagelados por vendavais, o nosso Rio Grande aparece em segundo lugar no ranking das inundações graduais e em terceiro lugar no das inundações bruscas.

            A explicação cientifica é que o Rio Grande do Sul está situado em uma zona de convergência de massas polares e equatoriais. O choque entre essas duas massas determina a ocorrência de períodos de seca ou de inundações repentinas. Também Paraná e Santa Catarina sofrem desastres naturais decorrentes dessa característica climática. E V. Exª sabe, porque Santa Catarina também está pagando um preço caro, com inundações realmente terríveis.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Tivemos sete estiagens em onze anos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - E quantas inundações?

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Inundações, granizos, todo tipo de calamidade climática.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - No governo do nosso querido amigo Rigotto, ele perdeu três safras; nos quatro anos, três safras praticamente foram abatidas, obrigando o governo dele a fazer milagres, porque a arrecadação caiu, e ele teve que prestar o socorro necessário.

            As nossas secas são mais intensas nos anos em que se registra o La Niña, fenómeno oceânico-atmosférico oposto ao El Niño, e que se caracteriza pelo resfriamento anormal das águas superficiais no Oceano Pacífico.

            Tivemos secas rigorosas em 2002, 2004 e 2005. A deste ano está sendo igualmente devastadora.

            Nos cinco primeiros meses deste 2012, 390 Municípios gaúchos já decretaram situação de emergência ern função da estiagem. No final de maio, 35 cidades estavam em situação de emergência.

            Como bem definiu o chefe de comunicação da Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul, Major Ari Ferreira, em entrevista ao jornal Zero Hora, esses extremos climáticos deixam o nosso Estado em estado de alerta permanente. Ao final do período de seca, começa de imediato a temporada de inundações. Termina o período da seca, entram, de imediato, as inundações.

            O que se deve destacar aqui é que o Rio Grande do Sul, historicamente, tem sua economia assentada na produção agrícola e pecuária. Assim, essas catástrofes atingem duramente a vida do nosso homen do interior.

            Chuvas intensas ou estiagem prolongada significam quedas sensíveis na produção agropecuária. Reduzida a produção, mergulham em crise o comércio e o setor de serviços da zona atingida.

            Em suma, todos sofrem por igual. Os pecuaristas e agricultores atingidos precisam renegociar suas dívidas com os bancos. Ao mesmo tempo, caem as vendas de máquinas e implementos agrícolas. O mesmo ocorre com veículos de trabalho e de passeio.

            Sobre isso escreveu com muita propriedade o professor Argemiro Luís Brum, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul:

             

Necessariamente temos que adicionar o efeito multiplicador destas perdas para o conjunto do agronegócio, ou seja, o complexo industrial, de serviços e financeiro que encontramos a montante e a jusante da produção primária, incluindo a distribuição. Sem falar no fato de que as próximas safras serão feitas com menor tecnologia, pela falta de capital no meio rural, comprometendo a produtividade e, mais uma vez, a geração de renda.

            Entrevistado por Zero Hora, o professor de climatologia da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas, Júlio Marques, considera que esses períodos prolongados de seca acabam gerando maiores danos no Rio Grande cio Sul do que nos Estados do Nordeste, bem mais habituados a longos períodos de seca.

            Diz o professor Júlio Marques:

No Nordeste há uma estiagem natural, portanto não causa tanto impacto quanto aqui no Sul. Um mês de estiagem no Rio Grande do Sul causa mais perdas do que um ano inteiro de seca no Nordeste, onde não há produção agrícola forte.

            A reportagem de Zero Hora informa que a desertificação dos nossos campos poderá se intensificar em anos vindouros, como adverte o coordenador do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres da Universidade Federal de Santa Catarina, professor Antônio Edésio Jungles.

            Segundo o professor de Santa Catarina, o Professor Jungles, as estiagens devem ser analisadas não apenas pelos graves danos financeiros que causam aos plantadores e aos donos de rebanhos, mas principalmente pela real possibilidade de levarem à desertificação determinadas regiões.

            É o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, na região de Alegrete. Um deserto esstá se formando e anualmente aumentanto.

            O SR PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - E Alegrete me parece que é o Município de maior extensão territorial do Brasil.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Sim, a maior extensão territorial, é praticamente quase um Estado.

            O SR PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Do Rio Grande, seguramente.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - É verdade.

            Alerta o professor da UFSC: "Se não houver uma contenção desse processo, podemos acabar da mesma forma que o Nordeste''.

            Para combater esse problema, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul vem se empenhando em facilitar o crédito para a construção de açudes e sistemas de irrigação.

            Diz o jornal Zero Hora:

Lançado recentemente, o programa Mais Água, Mais Renda disponibilizou R$1 bilhão para este tipo de projeto. Desse montante, o Estado subsidiará R$225 milhões, além de prometer celeridade na concessão de licenças para as obras.

            Srs. Parlamentares, trago este assunto à tribuna do Senado porque o considero muito importante. O Rio Grande do Sul é um Estado de forte tradição agropecuária. Ano a ano, os danos causados pelas estiagens vêm crescendo É preciso lutar contra elas. E, para isso, existem mecanismos eficientes. Cabe aos administradores encontrá-los. Os números que citei da construção de açudes é um indicador de que algo está sendo feito e deve prosseguir.

            O certo é que nosso pampa, o pampa verdejante cantado em prosa e verso por nossos poetas e escritores, precisa ser protegido com urgência. Ele está tão ou mais ameaçado do que os outros biomas brasileiros, tanto pelo descuido dos homens que trabalham a terra quanto pelo descaso das autoridades.

            O trabalho de recuperação das áreas degradadas no Rio Grande do Sul deve ser iniciado imediatamente. A preparação para melhor enfrentar os períodos de estiagem ou seca deve ser intensificada. Temos conhecimentos e recursos para essa missão. O que nos falta talvez seja vontade e empenho por parte do poder político de realmente lutar contra essas catástrofes que estão nos atingindo.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Senador Pedro Simon, V. Exª permite uma observação?

            Essas estiagens afetaram igualmente, ou talvez com intensidade menor, mas não tão menor, o Estado de Santa Catarina. E nós criamos ali um programa baseado em uma observação que fizemos em Israel.

            Numa das visitas que fizemos a Israel, nós visitamos Massada. Acredito que V. Exª também tenha estado ali. Um platô...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Casualmente, uma delegação do Governo do Rio Grande do Sul hoje lá está fazendo a visita a que V. Exª está se referindo.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Um platô na região do Mar Morto, que na verdade não é um mar, é um lago, no deserto da Galileia.

            Em cima desse platô, os judeus construíram uma fortaleza que virou uma civilização. Ali não tem água, a chuva é mínima. No entanto, naquele local cresceu uma civilização que os romanos consideravam inclusive uma ameaça à dominação das legiões naquele país. E os romanos, então, tomaram Massada, mas depois de anos de assédio. E os judeus, para não se entregarem, suicidaram-se todos, escapando apenas uma mulher, que se escondeu onde? Escondeu-se numa cisterna. Por que Massada foi uma civilização florescente? Porque os judeus de Massada captavam água da chuva e a acumulavam em cisternas. Ora, eu lancei este programa em Santa Catarina, Água da Chuva, e estimulei os agricultores, principalmente os pecuaristas, criadores de frangos e de suínos, a colocarem uma rede de captação da água da chuva e reservamento em cisterna. Fizemos um projeto baratíssimo: com R$10 mil, financiados pelo Banco do Brasil, a longo prazo, para pagar em 10 anos, o agricultor poderia armazenar um milhão de litros d’água. Levei esse programa ao nosso caro Ministro Mendes Ribeiro, que pretende transformá-lo num programa nacional. Eu acho que, mais que cisternas - até porque nós temos o aquífero Guarani em território gaúcho, catarinense, paranaense, paraguaio -, o Programa Água da Chuva poderá ser a solução para resistência às estiagens, principalmente para quem cria gado, para quem cria frango, para quem cria suíno, que talvez represente o maior número de agricultores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, para que possam fornecer água a seus animais durante a estiagem, e para que, a partir daí, se crie um grande programa de irrigação. Cumprimento V. Exª pelo discurso importante que faz nesta manhã.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu estou a par do trabalho que V. Exª fez quando governador e fiz várias referências desta tribuna pela importância e pelo significado, que é exatamente esse que V. Exª está dizendo.

            Quando eu fui Governador do Rio Grande do Sul - lá se vai não sei quanto tempo -, eu criei um programa, porque nós temos que acrescentar que um dia nós vamos ter que fazer essa análise.

            Desculpe-me, meu querido Líder paulista. Nós elogiamos e endeusamos os Bandeirantes, com muita justiça. Foi belíssimo o trabalho que eles fizeram, mas o trabalho dos gaúchos não fica atrás. Saíram do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Norte, Amazonas, o Brasil inteiro. Um milhão e trezentos mil gaúchos! O que tinha de melhor. Eu dizia na tribuna da Assembléia Legislativa, a nossa melhor matéria-prima, a terceira geração daqueles que vieram da Itália, que vieram da Alemanha, e aprenderam a viver, a lidar, a conviver com a terra, saíram pelo Brasil e, modéstia a parte, dessa transformação, dessa revolução, dessa transformação no Centro-oeste, dessa revolução agrícola, celeiro do mundo, os gaúchos fazem parte.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - A começar pelo Senador Blairo Maggi.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - O Maggi, aqui, a família Maggi, o tio-avô dele foi meu colega de aula em Caxias do Sul; colega de aula em Caxias do Sul. Família Maggi, do Rio Grande do Sul, vieram e ficaram milionários.

            Os grandes frigoríficos de Santa Catarina, Sadia e Perdigão, saíram do Rio Grande do Sul.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Perdigão, Seara, Chapecó, todos gaúchos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Saíram do Rio Grande do Sul e foram adiante.

            E essa gente veio embora. Eu era Deputado Estadual; o governo era Triches. O Governo da República fez um trabalho importante, fez um processo que, eu diria, quase igual ao que D. Pedro II fez quando trouxe os italianos, os alemães, lá no final de 1800, e vieram para nós. Pegou os gaúchos e levou para lá, dando terra, distribuindo; eles vendiam um pedaço de terra aqui e comprava pedaços cem vezes maiores lá. O Rio Grande do Sul ficou uma desgraça! O Rio Grande do Sul ficou um abandono. E nós fomos de um azar, Deus o livre, de um azar - esse é o termo -, porque a biotecnologia chegou dez anos depois. Aqueles terrenos, o problema dos agricultores eram aqueles gringos, aqueles alemães com dez filhos, que tinham um monte de filhos para cuidar, para trabalhar na terra. De repente, eram muitos os filhos para pouca terra e a terra precisava, o rendimento era muito pequeno.

            Hoje, com 10 hectares, se faz fortuna. O Restaurante Flor da Serra, aqui em Brasília, tem uma produção feita em três hectares que é exportada para o mundo inteiro, e ganha muito mais com essa produção do que com outra coisa. Mas chegamos tarde, porque naquela época não tinha a biotecnologia.

            Quando eu fui Governador, nós criamos um projeto de microaçude e de plasticultura, singelo; microaçude e plasticultura. Por exemplo, em Caxias; os colonos agricultores vieram embora. E os gringos de Caxias, os mais ricos, compraram para fazer sítio. Então, há sítios e mais sítios e mais sítios em Caxias.

            Dizem que quando se compra um sítio há duas alegrias: uma quando você compra e outra quando você vende, porque dá um gasto enorme. Então, sítio é muito bom para quem é muito rico, mas para quem não é muito rico é muito difícil. O gringo de Caxias, muito competente, topou. Pegou os seus 15 hectares, 20 hectares, 30 hectares, aproveitou o projeto, fez o microaçude, fez a plasticultura e começou a plantar. Aí plantou, plantou, e dava frutas, vegetais, alface, tomate de montão. Quando eu via lá em Porto Alegre, no Ceasa, era tudo dominado, era uma ditadura, eles estavam escravizados com o preço. O que eles fizeram? Fizeram cooperativas, compraram caminhões e levaram lá e botaram do lado do Ceasa, ali na frente, acamparam e venderam os seus produtos. Caxias, uma cidade industrial, eminentemente industrial, é a maior fornecedora de produtos agrícolas do Ceasa. É a maior fornecedora. Vejam como projeto dá certo. Rogério Porto, o rapaz que eu coloquei, que, aliás, apresentou hoje um projeto sensacional.

            Hoje o tamanho da terra não é importante. O tamanho da terra não é importante; o importante é a biotecnologia. Então, é instruir, é orientar. Por exemplo, se tivermos um microaçude e a plasticultura, o efeito da estiagem é praticamente nenhum, porque aí ele estará preparado para isso. Ele estará ali com o açude, estará preparado, e a produção leva não sei quanto tempo para produzir, dois meses e está tudo pronto.

            Quando fui Ministro da Agricultura - aliás, o Sarney me deu uma força extraordinária nesse sentido -, a Embrapa estava recém-criada, e havia uma guerra contra a Embrapa. Primeiro foi para ela não ser criada, depois, uma guerra porque se criou e, para se criar, fazia entendimento com grandes empreiteiras, com grandes empresas agrícolas, que era quem tinha dinheiro e podia fazer. Se ela não tinha verba, não tinha dinheiro, não tinha nada, não tinha técnica, não tinha coisa nenhuma, como é que ia adiante? Aí queriam extingui-la. Fizeram uma guerra contra a Embrapa. Fizemos a coisa, o Presidente Sarney topou a sede própria da Embrapa, levou um pau danado: “é um troço ridículo fazer uma sede...”. Hoje, a Embrapa é uma empresa mundial. Quer dizer, tirando a Petrobras, tirando a Vale do Rio Doce, a Embrapa é a empresa do Brasil mais conhecida no mundo inteiro. E ela faz isso, ela tem condições de fazer isso.

            Então, tínhamos condições de transformar essas questões. E o que é mais importante, meu querido Presidente, é que essas condições aqui são de rendimento. Em primeiro lugar, perdem-se os gastos enormes, em segundo lugar, tem-se rendimento ao mesmo tempo.

            Encerro meu pronunciamento listando as dez recomendações da Organização das Nações Unidas para que as nações lutem contra a desertificação e contra os efeitos da seca. São dez recomendações, que valem para o mundo inteiro e, portanto, para o Brasil e para o Rio Grande do Sul. Diz a ONU:

1. o combate à seca deve ser encarado conjuntamente pelos governos, comunidades locais e donos da terra;

2. as estratégias contra a desertificação serão integradas às políticas de desenvolvimento sustentável;

V. Exª, que é Relator, novamente, está aí essa matéria para V. Exª.

3. as medidas preventivas devem ser aplicadas nas terras ainda não degradadas;

4. entidades de estudo sobre climatologia, meteorologia e hidrologia devem ser fortalecidas;

5. quadros institucionais que trabalham na área precisam ser qualificados;

6. o acesso das populações à informação e tecnologia adequadas será ampliado;

7. a integração entre organizações não governamentais, populações locais e os detentores dos recursos deverá ser incentivada;

8. é necessário criar sistemas de alerta rápido e mecanismos de ajuda às pessoas deslocadas por razões ambientais;

9. é fundamental constituir sistemas de segurança alimentar;

10. os governos devem desenvolver programas de irrigação destinados ao apoio à agricultura e pecuária.

            Em se fazendo isso, fazendo-se o mínimo, fazendo-se o necessário, vamos fazer o indispensável para proteger o presente e o futuro de nossa gente em nosso Rio Grande do Sul e em nosso Brasil.

            Era isto, Sr. Presidente, que tinha de dizer sobre esta matéria. Encerro, mas não posso...

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Nobre Senador, Pedro Simon, já que V. Exª citou a Embrapa, há uma outra ação muito importante relativa à esta nova realidade, consequência das mudanças climáticas que houve em nossos Estados.

            Em Santa Catarina, por exemplo, a região onde hoje é pastagem, onde hoje é agricultura era coberta por florestas onde predominavam as araucarias brasiliensis. Evidentemente, a devastação produzida, sobretudo pela Lamber americana, que montou, no planalto norte-catarinense, a maior serraria do mundo à época, que o Presidente Theodore Roosevelt, inclusive, veio visitar e onde nasceu um dos astronautas que conquistaram e pisaram na lua, com a devastação, evidentemente, houve mudança climática, e o mesmo deve ter ocorrido no Rio Grande do Sul.

            Mas o que é importante é o estudo biológico para verificar espécies mais resistentes a essas novas condições climáticas. Não adianta insistir em plantio de espécies que não resistem ao rigor do clima.

            Então, essa é a nova fronteira que se cria na tecnologia agrícola para a resistência a estas mudanças climáticas. Por exemplo, nós determinamos à Epagri, que é nossa Embrapa, estudo para propiciar plantio de maçã em clima menos frio. Ou seja, há uma tendência à redução do frio. Mesmo no planalto serrano catarinense, onde se registraram agora temperaturas abaixo de 0º, 5°, 6º, mesmo ali há uma tendência de aquecimento, e a Epagri já está estudando espécies de maçãs que possam ser cultivadas em um clima menos frio no futuro.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - O remédio existe. Hoje, no mundo, a biotecnologia é total, e, modéstia à parte, o Brasil está num bom lugar, com a Embrapa num bom caminho nesse sentido. A Embrapa já tem feito milagres.

            Eu me lembro quando o gaúcho, vaidoso, achava que o arroz agulhinha, esse especial que todo mundo quer, era só no Rio Grande do Sul. Hoje, o Mato Grosso produz duas safras do arroz agulhinha por ano, e com irrigação natural, não precisa de irrigação. A irrigação natural, que nós, no Rio Grande do Sul, não temos - gastamos uma fortuna com irrigação artificial e, por isso, o nosso agulhinha sai por um preço altíssimo -, aqui ela é natural. São duas safras por ano e o arroz é igual ou melhor do que o nosso. Isso está se espalhando.

            Estive, outro dia, em Mato Grosso, em Lucas do Rio Verde, que é o terceiro produtor de soja no mundo, e o Prefeito vai iniciar a criação de gado confinado. Vai começar com 42 mil hectares. Mas esses 42 mil hectares não são dele; ele vai fazer um entendimento, vai chegar num fulano que tem uma terra com gado em 15 hectares e vai entrar em entendimento com ele no sentido de que ele entra com a infraestrutura e o cidadão... Quarenta e dois mil! Fiquei besta quando vi. Estive lá, naquela cidade, e fiquei desmoralizado, porque fui ver a exposição de máquinas agrícolas e lá os bicos d’água e as sementeadeiras eram de cem metros de comprimento. Quer dizer, cem metros de comprimento, no Rio Grande do Sul, percorrem a propriedade de um lado a outro. É uma coisa fantástica o que estão fazendo lá!

            Nessa cidade, Lucas do Rio Verde, eles fizeram um plano, foram a Paris, olharam como é Paris, o desenvolvimento, o crescimento, as ruas, as avenidas de Paris, e é uma miniatura, mas é uma miniatura certa; no futuro, este é o caminho.

            Quer dizer, ali, no fim do mundo, prepararam um plano de crescimento. Podem-se ver ali as ruas, nesse caminho lá é a região espetacular da praça do palácio etc. e tal. Ali é um plano, estão vendo 100 anos à frente. É uma mentalidade que se sente. Eu digo: pena que o JK, em vez de fazer estrada, não fez ferroviária.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Às vezes, Senador Simon, é preciso voltar atrás. Por exemplo, nós abandonamos a mandioca. A mandioca é resistente à estiagem. A mandioca, depois se transformando em fécula, é subproduto para a indústria farmacêutica, para a indústria de cosmético, é subproduto de uma série imensa de produtos industriais, e nós abandonamos a mandioca. Então, nós também temos que voltar ao passado, para culturas tradicionais do Brasil que têm tanto potencial para o processo agroindustrial.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - E essa questão é dinâmica. Eu me lembro, não desta tribuna aqui, mas da tribuna da Câmara dos Deputados, do Deputado Antônio Bresolin. Ele é que inventou o plantio da soja. Não existia, o Brasil não produzia soja. Chegou lá no Rio Grande do Sul, trigo, trigo, trigo, e o trigo dava errado; trigo, e não produzia trigo. Hoje melhorou, porque a biotecnologia está produzindo um tipo de trigo especial para resistir, porque o trigo é feito para o frio. Na Argentina é uma maravilha, porque é frio. Agora, aqui, uma hora é frio e outra hora é quente. Pois hoje nós estamos criando um tipo de trigo que resiste, mas não havia naquela época. Então, o Antônio Bresolin resolveu lançar uma coisa, ele fez isso: tem que produzir soja. Ninguém sabia direito o que era soja, para que servia, para que não servia. Fez uma coisa de tal maneira que explodiu a produção de soja no Rio Grande do Sul, no Brasil, os gaúchos levaram para a Argentina e foi uma revolução. Hoje até há o exagero. Eu acho que é isso que V. Exª está dizendo. Quer dizer, a gente tem que se adaptar às novas realidades.

            A soja continua a ser plantada, mas é muito mais importante, hoje, plantar milho que plantar soja. É muito mais importante, hoje, a produção de milho, porque, em primeiro lugar, milho é tudo na agricultura, para a sobrevivência, a subsistência; em segundo lugar, porque, hoje, milho é uma alternativa muito importante inclusive para a produção de gasolina.

            Eu me lembro que, quando eu era Ministro da Agricultura, veio um embaixador dos Estados Unidos, pedindo uma audiência. Foi lá no Ministério para me levar uma grande notícia: os Estados Unidos tinham decidido aumentar o percentual de adição do milho na produção da gasolina e que isso era muito importante para o Brasil, porque o Brasil poderia produzir milho e teria um comprador nos Estados Unidos.

            Eu ouvi aquilo e disse para ele: “Eu acho muito importante, mas por que não produzem o milho de vocês e nós não ficamos com o nosso? Vamos trocar o nosso milho pelo quê?”. É claro, ter o nosso milho de graça, para ele, era infinitamente mais importante.

            Hoje, o milho é mais significativo que qualquer outra coisa, por isso acho que... Eu não sei, fui Ministro da Agricultura, e a pesca estava lá comigo; a reforma agrária estava lá comigo; a agricultura familiar, a pequena e a média propriedade estavam lá comigo.

            Hoje, são cinco ministérios, e se formos olhar o Ministério da Pesca, o que ele pode fazer sozinho? Se formos olhar o Ministério da Reforma Agrária, como é que se vai fazer reforma agrária com o Ministério se não se tiver toda a infraestrutura que já está no Ministério da Agricultura?

            Eu acho que foi esvaziado exageradamente o Ministério da Agricultura e esses Ministérios que existem não agem em conjunto, não dialogam entre eles.

            Então, essa, realmente, é uma questão que está complicada.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Senador Pedro Simon, quero registrar, com grande alegria, a presença, na tribuna, de alunos do Centro de Ensino Médio nº 02, da Ceilândia, do Distrito Federal, que, certamente, aprenderão muito com essa aula que V. Exª dá na tribuna nesta manhã.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - É impressionante ver, em volta do Distrito Federal, o plantio.

            Está-se fazendo uma verdadeira área de plantio em torno de Brasília. Ao invés do Cerrado, está-se criando, está-se plantando, estão-se desenvolvendo pequenas e médias propriedades, e vai haver uma verdadeira revolução agrícola - talvez a grande saída.

            Brasília seria uma cidade para 500 mil, e não dois milhões de habitantes, e veio esse aumento espetacular. Que não seja tanto apenas querer que haja indústria em volta de Brasília. Mas esse desenvolvimento da média e da pequena propriedade está-se tornando uma grande realidade de Brasília. E posso garantir-lhe que vai adiante.

            Minhas saudações aos jovens e a V. Exª.

            Repito, para concluir, que V. Exª, realmente, fica muito bem na Presidência.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2012 - Página 24642