Comunicação inadiável durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Cardeal Dom Eugênio Sales.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento do Cardeal Dom Eugênio Sales.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/2012 - Página 33919
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CARDEAL, ARCEBISPO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, ECLESIASTICO, FUNDAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, IGREJA CATOLICA, ENGAJAMENTO, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL, AUXILIO, CIDADÃO, PERSEGUIÇÃO, VITIMA, DITADURA, REGIME MILITAR, DEFESA, DIREITOS HUMANOS.

            O SR. JOSÉ SARNEY (Bloco/PMDB - AP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Faleceu ontem, aos 91 anos, o Cardeal Emérito do Rio de Janeiro, Dom Eugenio Sales, vítima de um infarto enquanto dormia.

            Dom Eugenio era o mais antigo dos nossos cardeais. Ele nasceu em Acari, no Rio Grande do Norte, e eu o conheci há muitos e muitos anos, como Bispo de Natal. Marcava-o, já então, a sua forte preocupação social, que não abandonaria ao longo dos longos anos de serviço à Igreja.

            Removido em 64 para Salvador e feito Arcebispo daquela capital em 68, foi Cardeal em 69. Finalmente, em 71, ele foi transferido para a Arquidiocese do Rio de Janeiro. Tornou-se uma presença central na Igreja brasileira e uma figura importante no Colégio de Cardeais e na Santa Sé, onde foi membro de 11 Congregações.

            Foi um dos criadores das Comunidades Eclesiais de Base. Dom Eugênio foi, no entanto, um crítico de seu engajamento político. As Comunidades Eclesiais de Base eram um trabalho com lideranças laicas para, sob a coordenação de um animador especialmente formado, cultivar a vida cristã através da oração, do culto dominical, da leitura da Bíblia, da reflexão, do apoio mútuo e da solidariedade.

            Em 1958, Dom Eugênio começou uma experiência de escolas radiofônicas para a alfabetização de comunidades. Mais tarde, em 1961, um convênio entre a Presidência da República e a CNBB fundou o Movimento de Educação de Base (MEB) e estendeu a experiência a outras áreas do Brasil.

            Outra experiência destes tempos de pioneirismo foi a de entregar a paróquia às freiras. Foi também um dos fundadores da Campanha da Fraternidade, que ele idealizou. Seu irmão, Dom Heitor de Araújo Sales, então sacerdote potiguar e mais tarde Arcebispo de Natal, estudando na Europa trouxe para o Brasil subsídios que foram adaptados à realidade brasileira.

            A primeira Campanha da Fraternidade ficou restrita à Arquidiocese de Natal em 1962. A segunda, na Quaresma de 1963, abrangeu 25 dioceses do Nordeste. Nesse mesmo ano, o Secretário-Geral da CNBB, Dom Helder Câmara, escreve a todos os Bispos do Brasil, sugerindo sua adoção em âmbito nacional.

            Corajosamente, tomou a frente da acolhida a refugiados políticos latino-americanos, abrigando os mesmos no Palácio São Joaquim, sede episcopal. Ajudava-os a obter asilo político. Foi sempre firme na defesa dos direitos humanos, onde sua posição de absoluta isenção política lhe dava grande autoridade.

            No Rio, formou uma equipe que levou adiante o Banco da Providência e criou programas como o centro de atendimento a portadores de AIDS, a Pastoral Carcerária, o Núcleo de Formação de Líderes do Sumaré.

            Por uma deferência especial do Papa João Paulo II, de quem foi um grande amigo, foi autorizado a permanecer à frente da Arquidiocese do Rio de Janeiro até aos 80 anos.

            Dom Eugenio tinha 68 anos de sacerdócio, 57 de episcopado e 42 anos de cardinalato.

            Dom Eugenio constituiu, para nós, brasileiros, um exemplo do homem que dedicou a sua vida a serviço de uma causa, a serviço de uma fé, a serviço de Deus e a serviço dos homens. Ele, permanentemente, teve preocupação material também com as obras que realizou e que aqui acabei de relatar. Mas, sobretudo, o que nele ressaltava era o homem extraordinário, o homem que, por meio da sua pregação de princípios morais, de princípios de fé, alimentava, com o exemplo, o sacerdócio do Brasil e, sem dúvida alguma, da Igreja no mundo inteiro.

            Foi um homem excepcional que Deus pôs a serviço de Sua causa no mundo. Eu, pessoalmente, sinto-me honrado pelo fato de ter sido seu contemporâneo, isto é, de ter vivido num espaço em que ele também viveu, para poder testemunhar o grande homem de fé, o grande exemplo, o grande homem que, na Igreja, serviu de exemplo a todos nós.

            Morre com Dom Eugenio um dos maiores homens da Igreja no Brasil, de todos os tempos. Ele era um homem que pautou a sua vida pela sua coragem, pela sua firmeza de princípios e pela sua dedicação. Dedicação esta constituída de uma vida inteira a serviço da Igreja, a serviço do próximo, a serviço da bondade e que sempre, em toda a sua ação de sacerdote, de evangelizador, teve presente a caridade, a visão do homem e da sua condição material.

            Portanto, ele não teve somente uma projeção nacional. Ele teve uma projeção da Igreja no mundo inteiro. Basta ver o número de congregações que ele presidiu no Vaticano. E era um dos nomes cotados para suceder a João Paulo II.

            Eu fui seu amigo. Admirava Dom Eugenio. Quantas vezes estivemos juntos, quando ele vinha aqui ou eu ia ao Rio de Janeiro ou nos encontrávamos ao longo da sua carreira em Salvador e em Natal.

            Por ele tinha uma grande admiração. Acho que, com a morte de Dom Eugenio, o Brasil fica menor de suas figuras humanas, de seus grandes homens em qualquer dos setores da sociedade.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/2012 - Página 33919