Pela Liderança durante a 129ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre projeto de lei apresentado por S.Exa.; e outro assunto.

Autor
Armando Monteiro (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/PE)
Nome completo: Armando de Queiroz Monteiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA, ECONOMIA NACIONAL.:
  • Considerações sobre projeto de lei apresentado por S.Exa.; e outro assunto.
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 12/07/2012 - Página 36547
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA, ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, APRESENTAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, OBJETIVO, MELHORIA, ATENDIMENTO, VITIMA, CRIME, PROPOSTA, UNIFORMIZAÇÃO, PROCESSO, REGISTRO, BOLETIM, OCORRENCIA, GARANTIA, CONTROLE, MINISTERIO PUBLICO, ATIVIDADE, CRIAÇÃO, UNIÃO, SISTEMA, BANCO DE DADOS, ANALISE, IMPORTANCIA, CRIMINOSO.
  • REGISTRO, EXPECTATIVA, ORADOR, MELHORIA, COMPETITIVIDADE, ECONOMIA NACIONAL, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, SITUAÇÃO, ECONOMIA, ATUALIDADE, BRASIL, ANALISE, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, EDUCAÇÃO, OBJETIVO, INOVAÇÃO, INDUSTRIA NACIONAL, SUGESTÃO, ATUAÇÃO, EXECUTIVO.

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Ricardo Ferraço, a quem cumprimento, Senador Valdir Raupp, presente a esta sessão, companheiros, Senadores e Senadoras, volto a esta tribuna no dia de hoje com objetivo de fazer um registro.

            Na última semana, apresentei um projeto de lei a esta Casa, o PLS nº 227, de 2012, com a finalidade de melhorar o atendimento às vítimas de crime no País. O projeto institui o Boletim de Ocorrência (BO) único, estabelecendo regras e critérios mínimos para o registro de infrações penais e administrativas pelos órgãos de segurança pública. A uniformização do processo permitirá significativa redução do tempo gasto nos registros de ocorrência e impedirá que sejam desperdiçadas informações valiosas para a solução dos crimes.

            O BO deixará de ser função exclusiva do delegado de polícia, Civil ou Federal, como ocorre atualmente. A descentralização do processo permitirá que o registro seja feito igualmente por policiais militares, pela Polícia Rodoviária Federal e pelo policial federal, na situação de policiamento de fronteira, portos e aeroportos. Os militares das Forças Armadas foram incluídos no projeto em função de sua participação crescente nas missões internas de garantia da lei e da ordem e em operações de patrulhamento das fronteiras. As Guardas Municipais estarão autorizadas também a realizar o registro de ocorrências de infrações administrativas.

            O registro das ocorrências será executado pela primeira autoridade policial que presenciar ou receber a solicitação, podendo ser iniciado no atendimento telefônico de emergências dos órgãos de policiamento ostensivo ou eletronicamente, via Internet. Um dos efeitos práticos da proposta será a possibilidade de ampliação dos efetivos policiais destinados ao policiamento nas ruas e à investigação.

            Hoje, quando um Policial Militar atende uma ocorrência, é preciso ir até a Delegacia de Polícia Civil para registrar a ocorrência, tarefa que pode ser extremamente demorada na maioria dos casos.

            Sras. e Srs. Senadores, o Boletim de Ocorrência será confeccionado em três modalidades: a primeira é o Boletim de Ocorrência de Infração Administrativa e se refere a ações que provoquem dano, perigo, cerceamento de direito ou que ofendam a ordem pública. A segunda, o Boletim de Ocorrência de Infração Penal, que são todas as infrações que não resultem em prisão em flagrante delito, inclusive os crimes sem autoria determinada e aqueles de menor potencial ofensivo. Por último, o Boletim de Ocorrência de Infração Penal com Prisão ou Apreensão em Flagrante Delito, que resultam em prisão ou apreensão de adolescente infrator que incide nas hipóteses previstas nos arts. 302 e 307 do Código de Processo Penal, sendo elaborado, obrigatoriamente, nos termos dos artigos citados e do art. 173 do Estatuto da Criança e Adolescente, constituindo-se no seu auto.

            O Projeto ainda assegura o acesso e o controle do Ministério Público aos registros e às atividades policiais, nos termos da Resolução n° 20/2007, do Conselho Nacional do Ministério Público.

            Outra consequência importante é a formação de um banco de dados criminais único no País. Trata-se, portanto, de um instrumento de sustentação das atividades de planejamento, avaliação e controle das intervenções policiais e das políticas públicas de segurança. Com isso, viabilizaremos a implementação do Sistema Nacional de Estatísticas Criminais, de autoria do Executivo e que também está em tramitação no Congresso Nacional. O Sinesp propiciará o planejamento técnico de políticas públicas de controle do crime no País.

            Trata-se, sem dúvida, de importante passo para assegurar atendimento mais adequado à população, priorizando o pronto atendimento do cidadão e servindo de ferramenta básica para construirmos um mapeamento das ocorrências policiais e dos crimes no País.

            Esta Casa não está alheia aos temas que afligem a sociedade. De forma corajosa, o Senado Federal empreende a necessária reforma do Código Penal e inova na busca de soluções eficientes na área de segurança pública.

            Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, aproveito este momento em que nos despedimos praticamente deste semestre legislativo para, mais uma vez, trazer aqui uma palavra que, de resto, tem marcado a nossa atuação nesta Casa, de preocupação com o ambiente econômico e, mais ainda, com os desafios que o Brasil vive neste momento, sobretudo na perspectiva da melhoria da competitividade estrutural da economia brasileira.

            Quero fazer referência a uma entrevista que foi publicada no último domingo, na Folha de S Paulo, que traz, como sempre, uma lúcida análise do presidente do BNDES, o ilustre Prof. Luciano Coutinho. Nessa entrevista, o Presidente do BNDES analisa o quadro conjuntural da economia brasileira, sobretudo na perspectiva dessa desaceleração que a economia vem experimentando, e nos remete a uma análise muito mais ampla daqueles fatores que vêm determinando uma perda de vigor e de dinamismo, sobretudo do setor industrial no País.

            E olhem que S. Exa. o Presidente do BNDES tem, como economista respeitado, uma grande capacidade de análise e um conhecimento que ele acumulou ao longo da vida, especialmente no que se pode chamar da economia industrial, a capacidade de poder pensar a indústria na sua estrutura, na sua complexidade, nos seus desafios.

            Falava o Prof. Luciano Coutinho sobre o efeito perverso, meu caro Senador Flexa Ribeiro, dos anos de grande apreciação cambial, que foram, por assim dizer, minando a competitividade da indústria brasileira. E vejam que nós tivemos um período, desde o início do Plano Real, depois, no período subsequente, de 2004 a 2008, e, mais recentemente, um período em que, paradoxalmente, em função de uma série de avanços positivos da economia brasileira, nós começamos a experimentar uma apreciação da moeda, uma grande valorização do real que foi comprometendo a competitividade da produção nacional.

            De outra parte, uma série de custos no Brasil se elevou, extraordinariamente, na última década. O custo da energia, um perigoso descompasso entre o aumento da produtividade e o custo unitário do trabalho no Brasil, tudo isso vem subtraindo as condições mínimas de competitividade da indústria nacional.

            Portanto, é hora de mais uma vez nos debruçarmos sobre a verdadeira agenda que é de interesse da economia brasileira, passado, esgotado o arsenal de medidas, que eu até entendo como necessárias no curto prazo, medidas pontuais de desoneração, de estímulo a alguns setores da economia brasileira. Nós temos que nos voltar para uma agenda mais estruturante, que passe pela melhoria das condições de infraestrutura do País, que nos remeta à agenda da inovação, que, por sua vez, tenha como pilar fundamental a melhoria do sistema educacional no Brasil. Sem a capacidade de inovar crescentemente a indústria, não poderá haver ganhos de produtividade no futuro.

            E, mais ainda: se o Brasil não puder enfrentar, meu caro Senador Flexa Ribeiro, meus caros Senadores Ricardo Ferraço e Valdir Raupp, haverá o desmonte dessa estrutura tributária complexa e disfuncional que penaliza os setores da produção no País e que cada vez mais mina a produtividade e a competitividade da economia brasileira.

            Concedo um aparte ao Senador Flexa Ribeiro, com satisfação.

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco/PSDB - PA) - Senador Armando Monteiro, V. Exa. fala com propriedade, na noite de hoje, da tribuna, sobre o processo de desindustrialização por que passa o nosso País. V. Exa. foi Presidente da CNI, e eu quero inclusive parabenizar a CNI pela campanha que está fazendo na mídia nacional sobre a urgência da indústria brasileira em ver efetivamente as reformas necessárias acontecerem. Eu já tive oportunidade, aqui, como V. Exa., de assistir, diversas vezes, ao Ministro Guido Mantega vir à CAE fazer exposição a respeito da economia brasileira. E já me posicionei a esse respeito. Acho que essas ações pontuais do Governo são necessárias, mas, lamentavelmente, acontece sempre o mais do mesmo. Não há uma visão, como V. Exa. colocou com bastante propriedade, da necessidade de se fazer a reforma para que o Brasil avance. O País está engessado. Se verificarmos o que acontece no nosso País nos últimos seis, sete anos... Outro dia, li uma matéria sobre a Petrobras, cuja produção não cresce há oito anos. A Petrobras não licita novos poços, novas oportunidades de exploração desde 2008 ou 2006. Quer dizer, nós estamos cada vez mais dependentes. E a produtividade dos poços que estão sendo explorados está caindo. A nova Presidente que assumiu a Petrobras, Drª Graça Foster, tem dito da necessidade de haver uma reforma ali dentro. Por quê? Porque a empresa foi partidarizada, lamentavelmente. Colocaram a política dentro da empresa. E V. Exa. sabe, como empresário, que não há como sobreviver numa situação como essa. A Petrobras é o orgulho de todos nós, brasileiros. Ainda hoje, eu ouvi um pronunciamento, se não me falha a memória, do Senador Inácio Arruda, dizendo que a Presidente da Petrobras tinha ido ao Maranhão dizer que iria retomar a refinaria do Maranhão e iria começar a refinaria do Ceará. Mas são todos projetos midiáticos que foram lançados há tempos, no governo passado, que, na realidade, não vemos acontecer, avançar. E aí, nós, brasileiros, estamos preocupados. Não é questão de ser da base do Governo, ser oposição. Não. Nós todos somos brasileiros. Nós queremos este Brasil avançando, crescendo. Queremos dar melhor qualidade de vida para a nossa população. Mas a indústria está perdendo espaço dentro da economia brasileira e hoje representa em torno de 15% da economia, quando já representou perto de 30%, o dobro do que é hoje. Quer dizer, e aí? V. Exa. sabe o que tem que ser feito, disse, com propriedade, da tribuna, mas, lamentavelmente, o Governo não vê isso. Insiste, na mesma tentativa de solucionar, induzindo o consumo. E aí nós temos notícias de que nunca na história deste País a sociedade esteve tão endividada. Não adianta oferecer dinheiro para o cidadão brasileiro porque ele não tem como tomar. Ele já está endividado, não tem como tomar. O Governo tem injetado recursos vultosos no BNDES, que subiram de vinte e tanto bilhões, há alguns anos, para trezentos e tanto bilhões hoje. É necessário? É, mas há uma concentração de aplicação desses recursos. E isso tem um custo para a sociedade que gira em torno de R$25 bilhões a R$28 bilhões e que onera a todos nós brasileiros. Quero parabenizá-lo e dizer que espero que o Governo da Presidenta Dilma, que tem se mostrado determinada, precisa ter a determinação de fazer as reformas. O momento é este. Antes que o Brasil, lamentavelmente, possa ter maiores dificuldades. O Ministro Guido Mantega vem ao Senado e diz que o PIB vai crescer 5%; depois vem e diz que o PIB vai crescer 4%. E nós todos sabemos, nós brasileiros, os economistas falam, que não vai chegar a 2%. Nós queremos isso? Não. Nós não queremos isso, mas é a realidade. É a lamentável realidade. Parabéns a V. Exa. pelo pronunciamento e espero que os Ministros e todo o Governo tenham assistido a V. Exa.

            O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco/PTB - PE) - Agradeço ao Senador Flexa e, para concluir, gostaria de deixar aqui a mensagem de que esta Casa legislativa tem uma grande responsabilidade no debate e no encaminhamento dessas questões. Mas tenho que concordar com V. Exa. que o Executivo é quem deve liderar, é quem deve gerar as iniciativas. E nesse sentido, meu caro Senador Flexa, é preciso ter a capacidade de olhar o mundo e verificar que estamos vivendo uma conjuntura completamente diferente daquela que ajudou a economia brasileira, especialmente até o ano de 2010, mais ou menos, em que pese a crise já em 2008.

            O mundo mudou. Há hoje um acirramento da competição em escala global e os países que não se prepararem, que não enfrentarem os problemas estruturais de forma a oferecer respostas prontas, firmes, poderão ficar atrás, inexoravelmente, nessa corrida. E o Brasil tem a justa ambição de preservar um patrimônio que foi construído por gerações, que é a indústria brasileira, que é um ativo da sociedade brasileira e que não pode ser desmontado pelo equívoco de algumas políticas ou pela omissão daqueles que têm responsabilidade neste País.

            E eu sei que nesta Casa há uma percepção crescente do sentido de urgência que se deve dar à implementação dessas reformas e dessas medidas.

            Portanto, ao encerrar essa etapa do trabalho legislativo desta Casa, eu quero mais uma vez afirmar a minha crença de que o Senado da República haverá de dar uma contribuição para que o Brasil implemente urgentemente essa agenda de reforma, que vai assegurar, efetivamente, a sobrevivência da indústria brasileira e, mais do que isso, vai colocar o Brasil no futuro.

            Eram essas as nossas palavras e eu agradeço ao Presidente desta sessão e aos companheiros que puderam nos ouvir aqui.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/07/2012 - Página 36547