Discurso durante a 187ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa dos interesses dos idosos; e outros assuntos.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, POLITICA SOCIAL, ELEIÇÕES.:
  • Defesa dos interesses dos idosos; e outros assuntos.
Aparteantes
Tomás Correia.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2012 - Página 53378
Assunto
Outros > HOMENAGEM, POLITICA SOCIAL, ELEIÇÕES.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, IDOSO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, ESTATUTO, DEFESA, GRUPO, REFERENCIA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, ASSUNTO, REGISTRO, MOTIVO, CRESCIMENTO, POPULAÇÃO, VELHICE, BRASIL, ENFASE, NECESSIDADE, MELHORIA, POLITICA SANITARIA, PREVIDENCIA SOCIAL, PROTEÇÃO, VIOLENCIA, VALORIZAÇÃO, SOCIEDADE, IDADE, SUPERIORIDADE, RELEVANCIA, INVESTIMENTO, PROFISSÃO, CUIDADOR DE IDOSO, EXPECTATIVA, CONGRESSISTA.
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, LIVRO, ASSUNTO, SAUDE, IDOSO, ELOGIO, TRABALHO, AUTOR.
  • REGISTRO, ELEIÇÃO, VEREADOR, PREFEITO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ESTADO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, ATUAÇÃO, CANDIDATO, ELEIÇÃO MUNICIPAL.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Anibal, Senadores e Senadoras, eu quero falar um pouco sobre o mês de outubro, fazendo uma relação com a história, mas este nosso discurso vai se afunilar, vai se aprofundar no Dia Internacional do Idoso, ou seja, no dia em que o Presidente Lula sancionou o Estatuto do Idoso.

            Sr. Presidente, a nossa história registra que outubro é um mês de transformação, um mês em que fatos marcantes aconteceram na história do Brasil e no mundo. O Movimento de 30, no mês de outubro, levou Getúlio Vargas ao poder. E a partir daí novos pilares foram construídos na economia, no social e no político neste País.

            A Constituição de 1988 foi promulgada no mês de outubro. Eu estava lá, porque fui Constituinte, ao lado de Ulysses, de Covas, de Lula, de Passarinho, de Fernando Henrique Cardoso, de todos os Constituintes.

            Lembro-me também, Senador Anibal, de que foi em outubro que Lula e, depois, Dilma deram o primeiro passo nesta caminhada que está transformando social e economicamente o Brasil.

            Neste mês temos o Outubro Rosa, com o objetivo de chamar a atenção para a prevenção e o tratamento do câncer de mama. Outubro é o mês das crianças, outubro é o mês dos poetas, outubro é o mês da cidadania, outubro é o mês dos professores, outubro é o mês da eliminação da pobreza, outubro é o símbolo da democracia, devido ao processo eleitoral que nós estamos vivendo. Outubro é o mês dos prefeitos, é o mês dos vereadores, é o mês dos comerciários, dos servidores públicos, é o mês da luta contra a exploração das mulheres, é o mês do desarmamento.

            Outubro, Senador Anibal, é o mês do descobrimento da América.

            Ainda ontem, eu falei que, no mês de outubro, voltando na história, Zapata, Sandino e Guevara, líderes, foram traídos e assassinados. Outubro é o mês da implementação da Lei Federal do Estatuto da Igualdade Racial, de nossa autoria.

            Hoje, no Rio de Janeiro, mês de outubro, teremos a estréia, no Festival do Rio, do documentário Raça, de Joel Zito e Megan Mylan. Estarei lá nesse filme, ao lado do cantor Netinho e Miúda dos Santos, neta de escravos. Hoje também, 10 de outubro, será eleito o primeiro negro Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

            Outubro é uma ponte, é um caminho, é um momento, como disse o poeta, da lapidação das rochas.

            Outubro, enfim, é o mês do Estatuto do Idoso, que está vigorando há nove anos. Esse, Sr. Presidente, é o eixo da minha fala. No dia 1º de Outubro comemoramos o Dia Nacional e o Dia Internacional do Idoso, assim como a promulgação pelo Presidente Lula, há nove anos, do Estatuto do Idoso.

            O Sr. Tomás Correia (Bloco/PCO - RO) - V. Exª me permite um esclarecimento, Senador?

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Pois não.

            O Sr. Tomás Correia (Bloco/PCO - RO) - Para informar a V. Exª que acabo de ver que o Ministro Joaquim Barbosa, há poucos minutos, foi eleito Presidente do Supremo Tribunal Federal. V. Exª está mencionando aí. Eu queria então fazer esse registro no discurso de V. Exª.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Exatamente. O que eu citei aqui, e V. Exª deixa muito claro, foi que no dia de hoje seria eleito - está no meu aqui, porque até o momento eu não tinha ainda, quando eu escrevi -, no dia de hoje será eleito o primeiro negro Presidente do Supremo Tribunal Federal. E V. Exª complementa, dizendo que neste momento já está na Internet, já foi eleito o primeiro negro Presidente do Supremo Tribunal Federal. Muito bem, Senador.

            Enfim, um divisor de águas é o Estatuto do Idoso no que se refere às políticas públicas voltadas para os homens e mulheres assim chamados da terceira idade.

            O Estatuto, de que tive a alegria de ser o autor da apresentação do projeto original, compõe-se de 118 artigos que dão garantia à vida, à liberdade e à dignidade, saúde, alimentação, habitação, educação, cultura, esporte, lazer, profissionalização, previdência social, assistência social, proteção jurídica, criminalização dos maus tratos.

            O Estatuto, enfim, trouxe inovações importantes em relação aos aspectos penais, tipificando diversas situações como crime: discriminação, omissão de socorro, abandono, preconceito, apropriação ou desvio de bens entre outros.

            Tenho muito orgulho de ter meu nome associado a esse Estatuto, que se originou de uma proposta para mim apresentada ainda na Câmara dos Deputados, em 1997, quando lá cumpria o mandato de Deputado Federal pela terceira vez. Tive depois a felicidade de continuar o debate aqui no Senado e aqui nós aprovamos a redação final.

            Sr. Presidente, tenho participado intensamente de todo o processo de tramitação de outros estatutos na Casa: o da Igualdade, o da Pessoa com Deficiência, o Estatuto do Motorista, mas, sem medo de errar, do Estatuto da Criança e do Adolescente, esse me parece o mais completo. Todos nós temos que reconhecer o avanço que representou para as políticas públicas o Estatuto do Idoso.

            A edição desse conjunto normativo que é o Estatuto representou não apenas uma ampliação da abrangência da anterior política nacional dos idosos, mas também a adoção de uma nova perspectiva por parte do poder público e por parte de toda a sociedade.

            As questões relacionadas à terceira idade, aos direitos dos idosos e aos nossos deveres para com eles aqui são muito claras. O perfil demográfico da população brasileira, como sabemos, vem se alterando. Em suma, com a natalidade em queda e a expectativa de vida em alta, nossa população está envelhecendo, e isso é bom. Significa que a expectativa de vida que há alguns anos era de 60 anos hoje se aproxima de 80 anos.

            O Censo de 2010 confirma essa tendência. Temos hoje, no Brasil, mais de 18 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos, o que representa aproximadamente 12% da população do País. Nos próximos 40 anos,esse número deverá sair de 18 milhões para 60 milhões. Temos, portanto, de estar preparados para essa transição demográfica que já vivemos e que se acentuará gradativamente à medida que o envelhecimento da população e a queda da natalidade forem acumulando seus efeitos ao longo do tempo.

            Acredito que o marco legal estabelecido há nove anos, com a promulgação deste Estatuto, nos fornece um quadro normativo necessário para orientar nossos esforços no que se refere à garantia dos direitos e à promoção do bem-estar dos nossos idosos.

            A aprovação do Estatuto, no momento em que ocorreu, na esteira dos avanços já iniciados na Constituição de 88, foi uma feliz oportunidade. Temos uma orientação segura, adequada, de modo que temos condições de nos preparar para essa transição, assegurando os nossos direitos e o bem-estar. E a relevância dessa preparação fica, portanto, mais evidente quando levamos em conta que essas transformações do perfil demográfico têm ocorrido rapidamente.

            O Brasil ainda luta, por exemplo, contra problemas sanitários, típicos dos países em desenvolvimento, mas já enfrenta as complexidades dos países com população envelhecida. Ainda lidamos com problemas sanitários ligados a doenças infecciosas e parasitárias, mas vemos crescer os casos de doenças associadas ao envelhecimento. Temos de cuidar dos dois. Com toda a pressão que impõem ao sistema de saúde, na medida em que implicam procedimentos mais complexos e custos mais altos de tratamento, é preciso que tenhamos um olhar especial para a saúde do idoso.

            Da mesma forma, Sr. Presidente, esse envelhecimento gera um impacto significativo na Previdência Social. Por isso tenho alertado que a desoneração poderá no futuro trazer, aí sim, o déficit da Previdência. Por isso é preciso que o Tesouro recomponha aquilo que foi desonerado da folha de pagamento. 

            Hoje a expectativa de vida do brasileiro já ultrapassou os 73 anos, contra os 67 do início do início dos anos 90, e rapidamente, como eu dizia, vamos ultrapassar os 80. Mais importante ainda, a expectativa de vida dos que chegam aos 60 anos, ou seja, dos que se aproximam da idade da aposentadoria rapidamente vai ultrapassar, segundo os dados - e eu alertava antes -, os 80 anos. Isso quer dizer que teremos no futuro cada vez mais pessoas recebendo aposentadorias por um período mais longo.

            Ao mesmo tempo, com a queda da taxa de fecundidade, a reposição da força de trabalho vai se desacelerar. Segundo as projeções a partir das tendências atuais, em 2050 haverá apenas 1,92 jovem para cada idoso com 60 anos ou mais. Praticamente um a cada dois será idoso. Hoje essa relação é de 6,5 jovens para cada idoso. Não é difícil ver como isso vai pressionar as contas públicas. Por isso o meu alerta e o meu cuidado com a seguridade, com a previdência.

            Tudo isso, Sr. Presidente, impõe que a gente se prepare desde já.

            No que diz respeito às garantias legais, creio que os idosos brasileiros estão bem amparados, graças ao nosso Estatuto. Mas precisamos cuidar para que as pressões dessas mudanças que haverão de se acentuar nas próximas décadas sejam olhadas de modo que não se transformem finalmente em risco para a garantia dos direitos.

            Caminhamos cada vez mais rapidamente na direção de uma transição demográfica, como eu dizia, com amplos efeitos nos aspectos da nossa vida social. Precisamos não só manter, mas aprofundar a atenção que devemos dar a nossa população idosa, com uma mirada cada vez mais inclusiva. Será preciso ter uma sensibilidade especial para os problemas e as dificuldades próprias do envelhecimento em todas as dimensões.

            Sr. Presidente, hoje, graças aos avanços iniciados com a Constituição de 1988 e aprofundados nos últimos anos, a situação dos idosos no Brasil tem progredido. O Benefício de Prestação Continuada, que atinge hoje cerca de 1,7 milhão de pessoas, e o instituto da Aposentadoria Rural, por exemplo, têm-se mostrado instrumentos fundamentais para reduzir a pobreza entre os mais velhos. Também os ganhos reais do salário mínimo, a inflação mais PIB, têm ajudado muito a retirar da pobreza, nesses 10 anos, cerca de 40 milhões de brasileiros.

            Mas, Sr. Presidente, se contam hoje com uma proteção mais completa e avançada, os idosos ainda estão inseridos em um contexto social que muitas vezes pode não ser especialmente sensível aos seus problemas e até mesmo implicar alguma hostilidade.

            Temos que levantar, com tristeza, a questão da violência contra os idosos.

            A OAB, por exemplo, e a Comissão de Direitos Humanos aqui do Congresso, do Senado e da Câmara, das assembleias e das câmaras de vereadores recebem diariamente denúncias de violência contra idosos vindas das próprias famílias. Há também casos de furtos de cartões de crédito, retirada indevida de rendimentos, fazem empréstimo consignado em nome do idoso, e não pagam, internação por longos períodos em instituições públicas enquanto os seus rendimentos são utilizados pelas próprias famílias.

            De acordo com pesquisa da Fundação Perseu Abramo, 35% dos idosos já sofreram algum tipo de violência: assaltos, estupros, espancamentos, violência institucional, desrespeito aos direitos dos idosos cometido por agentes públicos até em hospitais, mercados e principalmente no transporte público,

            Esse é apenas um pequeno quadro da situação que demonstra que fizemos muito pelo idoso, mas temos que fazer ainda muito mais. Temos que avançar na valorização da juventude, que é a marca da nossa sociedade, mas temos também que dar atenção especial para os idosos. Precisamos estimular a difusão, tanto no seio das famílias quanto no contexto da nossa cultura pública mais geral, do reconhecimento do valor da velhice, ingrediente fundamental dos laços de solidariedade, da coesão social e da valorização da família.

            Isso se torna ainda mais importante na medida em que caminhamos, como já disse, em direção a uma composição populacional em que os idosos serão maioria, não serão mais minoria.

            A solidariedade entre gerações é fundamental, é um dos traços mais distintivos de uma sociedade coesa. Respeitar e valorizar a velhice é sinal de grandeza, de amadurecimento social, de conhecimento da realidade de um País.

            Eu diria, Sr. Presidente, que, desse ponto de vista da coesão da nossa vida social, o esforço para garantir o direito dos idosos ultrapassa o respeito aos interesses localizados da população idosa e ganha o estatuto de defesa - que fizemos, e muitos fazem - do interesse geral da própria sociedade brasileira.

            Uma sociedade incapaz de cuidar dos seus idosos é uma sociedade incapaz de cuidar de si mesma.

            Cabe ao País investir na formação de cuidadores de idosos, geriatras, fisioterapeutas e outros profissionais que se dedicam ao atendimento dos idosos.

            É preciso investir em atenção à saúde para a terceira idade, em centros de convivência, em atendimentos específicos e até mesmo em equipamentos, melhores calçadas, rampas, pisos antiderrapantes, que tornem as nossas cidades mais amigáveis e mais acolhedoras aos idosos.

            Outro campo que carece de atenção é o enfrentamento do analfabetismo entre os idosos. Dados do Ipea mostram que, em 2008, mais de 6 milhões de pessoas com mais de 60 anos não sabiam nem ler, nem escrever.

            É necessário avançar.

            Recordo que, quando o Estatuto do Idoso virou Lei, há quase dez anos, eu disse que o Estatuto é o coroamento de um longo trabalho que vai colocar o nosso País na esteira de um novo amanhã, de uma nova era, em que o branco e o prateado das cabeças serão as novas cores da aquarela brasileira.

            Sr. Presidente, Mário Quintana disse uma vez que "As reflexões dos velhos são amargas como as azeitonas".

            Por isso eu digo: o Estado brasileiro e a sociedade brasileira precisam se apropriar mais, implementar mais o Estatuto do Idoso.

            Sr. Presidente, falo e repito: fizemos muito, mas temos muito o que fazer. E tudo isso depende de todos nós.

            Continuaremos sempre defendendo uma Previdência justa, sem fator previdenciário, com reajuste real para os aposentados e pensionistas.

            A idade é um estado de espírito, e os nossos interesses devem estar voltados para o futuro, para o amanhã. Seguidamente, pergunto-me: “qual é a melhor idade?” Eu respondo: “é aquela que você está vivendo.” Viva-a intensamente.

            Eu tenho fé, acredito no meu País, acredito no meu Governo. Eu quero o bom combate, a boa luta, e seguir os passos largos dos avós; encontrar a teimosia da meninice; quero vento, quero lua, quero sol; quero pisar na areia a abraçar o azul do mar; quero cantar e dançar e acariciar a eternidade, independente da idade em que eu esteja; quero fazer novos planos, mesmo na velhice, como aquele primeiro beijo, como a imensidão, meu Senador, do primeiro amor de todas as nossas vidas.

            Acredito na vida, acredito na nossa gente. Busco a realização de sonhos, independente da idade - repito -, eles estão apegados a mim. Tristes daqueles que não sonham, que são pássaros cativos, que só olham o horizonte dos relógios ou só pelo retrovisor. Eu, quando tiver 80 anos, 90 anos, se assim Deus quiser, eu continuarei olhando sempre além do horizonte, além da floresta, mas sempre vivendo com o povo que habita a floresta. Felizes daqueles que buscam mudar a realidade, que sabem que a rosa dos ventos está sempre na palma das mãos.

            Quero finalizar saudando o aniversário do Estatuto do Idoso, marco inegável do processo de aperfeiçoamento das condições de nossa vida social, congratulando-me com todos os idosos brasileiros pela passagem do Dia do Idoso, do Brasil e do mundo, já que outubro é também o mês internacional do idoso. A todos os nossos cidadãos, aos nossos idosos, deixo aqui as minhas mais sinceras manifestações de gratidão e de admiração. Da mesma forma como o seu trabalho ergueu o País que hoje temos, a experiência que acumularam permanece como um farol, iluminando os caminhos que nos levarão ao desenvolvimento sustentável e principalmente humano, que tanto almejamos e merecemos. A todos, deixo aqui o meu afeto, o meu agradecimento.

            Há uma canção linda - eu já falei sobre ela -, que diz “Que homens são esses?”, de autoria de Francisco Castilhos e Carlos Moacir, que foi imortalizada na voz do já falecido César Passarinho. E diz:

Que homens são esses

Que fogem a luta

Será que não sabem as glórias do pago...

Que homens são esses que nada respondem, que calam verdades, que reprimem afagos...

Que homens são esses que trazem nas mãos o freio, o cabresto, a rédea e o buçal...

Que homens são esses que têm o dever de fazer o bem, mas só fazem o mal...

[aí a parte a que ele se refere]

Eu quero ser gente igual aos avós

Eu quero ser gente igual aos meus pais

Eu quero ser homem sem mágoas no peito

Eu quero respeito e direitos iguais...

Eu quero este pampa semeando bondade

Eu quero sonhar com homens irmãos

Eu quero meu filho sem ódio nem guerra

Eu quero esta terra ao alcance das mãos...

Que sejam mais justos os homens de agora

Que cantem cantigas, antigas e puras

Relembrem figuras sem nada temer...

[Ao olhar o passado, lembrem dos avós e dos bisavos, lembrem que esses homens é que trabalharam a terra para que hoje ela seja o que é]

Procurem um mundo de paz na planura

E encontrem na luta, na força e na raça [e na idade]

Um novo caminho no alvorecer...

Desperta meu povo do ventre de outrora

Onde marcas presentes não são cicatrizes

Desperta meu povo, liberta teu grito

Num brado mais forte que as próprias raízes.

            Essa canção que aqui declamei, na verdade, foi feita em homenagem aos idosos.

            Senador, com alegria um aparte a V. Exª, se meu Presidente ainda o permitir.

            O Sr. Tomás Correia (Bloco/PMDB - RO) - Obrigado, a V. Exª. Eu nem queria interrompê-le em face do brilhante discurso que faz V. Exª, declamando essa poesia tão linda e tão bonito esse poema, mas, Senador, eu queria só voltar um pouquinho atrás no discurso de V. Exª, quando enumerava algumas ações que são desrespeitosas aos idosos. Quero informar a V. Exª - e V. Exª deve ter visto já - que o maior desrespeito aos idosos que se verifica também é nas companhias aéreas. Eu tenho viajado mais frequentemente nesse tempo para cá e tenho verificado o seguinte: as filas da frente, as filhas frontais, que são reservadas aos idosos, aos deficientes, às pessoas com dificuldades, essas filas, Senador Paulo Paim, são vendidas, são acrescentados valores para vendê-las. Então, ainda ontem, eu vinha em um avião da Tam - estou aqui mencionando a empresa porque foi nela que eu vi esse fato e tenho visto - e as filas da frente todas desocupadas, porque não venderam as cadeiras da frente, e pessoas idosas se apertando nas cadeiras no meio da aeronave, com enorme dificuldade de se locomoverem para irem ao banheiro, com problema de circulação das pernas, etc., etc., etc. Então, eu queria aqui apelar também à Anac para que tome providência. É um absurdo verificar, numa longa viagem que se faz, uma pessoa idosa espremida nas cadeiras da aeronave, e as poltronas da frente - há, inclusive, uma sinalização para pessoas idosas, com necessidades especiais, está lá sinalizado para essa finalidade - são vendidas com valor adicional do preço da passagem. O que é um absurdo, é um desrespeito ao consumidor, é um desrespeito ao cidadão. É como se num shopping, numa praça comercial qualquer - ou num shopping, ou em qualquer lugar que fosse - aqueles locais destinados aos deficientes, aos idosos, fossem vendidos com preço diferenciado. Então, eu queria dizer a V. Exª que incorpore essa informação, porque é um frontal desrespeito à pessoa idosa, a pessoas com deficiência, a senhoras grávidas, a pessoas com crianças, porque estas vagas, estes espaços nas aeronaves poderiam - e é obrigatório por lei - servir para o uso dessas pessoas. No entanto, são vendidas, Senador Paulo Paim.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Pessoas idosas e pessoas deficientes.

            O Sr. Tomás Correia (Bloco/PMDB - RO) - É. Então, eu queria só fazer esse registro, porque fico indignado quando eu vou viajar e vejo que as aeronaves fazem isso e proíbem. Inclusive, há um constrangimento. Um dia desses, eu estava usando uma poltrona dessas com a minha esposa e chegou a aeromoça e disse: “Olha, a senhora não pode ficar aqui”. E explicou que só poderia ficar se pagasse a mais. Como eu tenho, já, mais de 60 anos - 62 - eu pude usufruir da poltrona, com muita insistência até, para ficar lá. Mas a minha esposa foi retirada dali e colocada lá no meio da aeronave, porque não podia ficar ali, porque não tinha pagado a taxa adicional.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito bem, Senador Tomás Correia, pode ter certeza de que o seu aparte eu incorporo ao meu pronunciamento e há uma concordância total com a sua fala e a minha forma de ver que os bancos das aeronaves deveriam, sim, principalmente aqueles que garantem o melhor conforto, ser assegurados para idosos e pessoas com deficiência. Meus cumprimentos a V. Exª.

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Senador Anibal Diniz, eu vou fazer um apelo especial, sei que V. Exª já me deu: se pudesse me dar mais 5 minutos, só para eu concluir aqui dois registros que farei com a maior rapidez. É que vão na mesma linha, meu querido Presidente Senador Anibal Diniz.

            Será lançado, hoje à noite, em Porto Alegre, um livro cujo nome é Um Novo Envelhecer: Tempo de Ser Feliz. De autoria do Dr. Leandro Minozzo, o livro aborda a questão do envelhecimento com saúde.

            O livro tem prefácio deste Senador, porque ele pediu que eu o apresentasse. Para mim é uma honra enorme assinar e fazer a apresentação do livro do Dr. Leandro, que vai ser lançado hoje em Porto Alegre.

            Creio que o bom mesmo é viver cada fase das nossas vidas, curtir e aproveitar cada momento; ser feliz e tirar o melhor de cada idade; não transformar a velhice num discurso somente da melhor idade, mas conhecer a importância dos anos que nós vamos acumulando ao longo de nossas vidas; conhecer bem os nossos caminhos, o que Deus preparou para nós e, aí sim, ter boas idades com prazeres diferentes, de acordo com a idade de cada um.

            Parabéns, Dr. Leandro Minozzo, pelo lançamento do livro, uma obra que, com certeza, fará muito sucesso e que eu tive a alegria de apresentar!

            Por fim, meu querido Presidente Anibal Diniz, quero apenas, para que fique nos Anais da Casa, fazer um registro, que eu comentei de improviso ontem no aparte que fiz quando V. Exª estava falando. A pedido do PT do Estado, registro que o Rio Grande do Sul elegeu as duas vereadoras mais jovens do Brasil, com 17 anos, e uma jovem vice-prefeita, com 26 anos.

            Gislaine Ziliotto elegeu-se Vereadora pelo PT na cidade de Ipê da Serra com a maior votação da cidade. Ela poderá assumir o cargo porque, em 1º de janeiro de 2013, dia da posse, completará 18 anos, idade mínima exigida pelo Tribunal Superior Eleitoral.

            Outra jovem de 17 anos que irá entrar na política no próximo ano é Marina Braatz, também do PT. Ela completará, no fim do ano, 18 anos. Assim, no dia 1º de janeiro, assumirá a cadeira no Município de Pontão. Marina Braatz também recebeu uma grande votação naquela cidade.

            Sr. Presidente, lembro ainda que o PT também elegeu uma jovem Vice-Prefeita no Município de Cachoeira do Sul. Falo da Vereadora Mariana Carlos, de 26 anos, que compôs a chapa com Neiron Viegas, do PT também. Eles receberam 15.485 votos. Lá, nessa cidade específica, o Prefeito será do PT e a Vice também do PT, Mariana Carlos, de 26 anos.

            Eu comentava ontem, e repito: eu estive em todos os comícios grandes e que bom que o PT elegeu. E lá foi um grande comício.

            Depois que a Mariana falou, eu disse: “Mariana, tu não és candidata ao Senado, né?” Ela disse: “Por que, Senador?” Respondi: “Com esse discurso, com essa competência, você é eleita Senadora.” Ela disse: “Fique tranquilo, Senador. Só daqui a dez anos, porque eu preciso ter 35 anos e, até lá, o senhor já foi reeleito.” Isso na visão da Mariana. Enfim, o plenário todo bateu palmas.

            Enfim, Sr. Presidente, coragem e determinação são marcas dessas jovens mulheres e também de homens, naturalmente, como de outros tantos que se elegeram e têm nosso total apoio.

            Sr. Presidente, eu encerro, mas não poderia deixar de dizer que eu ia fazer um aparte a ele. Eu não fiz o aparte, porque ele entrou num segundo pronunciamento. Cumprimento o Senador Suplicy pela carta que ele leu aqui da filha do ex-Deputado Federal José Genoíno. É uma carta que emocionou a todos. O Senador chorou, da tribuna, e ao mesmo tempo percebi; e depois pelo e-mail, no meu gabinete, no celular, que houve uma solidariedade a essa jovem pelo carinho e pela forma como ela expressou a sua vida, a sua luta e a sua história.

            Então, fica aqui também ao Senador Suplicy, dizendo que eu li o título da carta e li a carta, antes de ele ir à tribuna. A coragem é que faz o caminho da liberdade. Essa é a síntese da carta.

            Meus cumprimentos à filha e também ao Senador Eduardo Suplicy, que, como sempre, não se nega a ir à tribuna expressar as suas posições de solidariedade àqueles que ele entende que, ao longo das suas vidas, têm compromisso com a liberdade e com a justiça.

            Era isso, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2012 - Página 53378