Pela Liderança durante a 238ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa do ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de acusações acerca de seu suposto envolvimento com o mensalão, e cumprimentos pelos avanços obtidos em sua gestão; e outro assunto. (como Líder)

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
IMPRENSA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Defesa do ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de acusações acerca de seu suposto envolvimento com o mensalão, e cumprimentos pelos avanços obtidos em sua gestão; e outro assunto. (como Líder)
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Cristovam Buarque, Pedro Taques.
Publicação
Publicação no DSF de 20/12/2012 - Página 74959
Assunto
Outros > IMPRENSA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENFASE, ATENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, ESTADO, ESTADO DO CEARA (CE), CRITICA, ACUSAÇÃO, IMPRENSA, PARTICIPAÇÃO, EX PRESIDENTE, PROCESSO, PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA, TROCA, FAVORECIMENTO, GOVERNO, COMENTARIO, AUSENCIA, DEMOCRACIA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, REFERENCIA, GRAVIDADE, DEPOIMENTO, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • REGISTRO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, JUROS, BRASIL, ESFORÇO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, SOLUÇÃO, REFERENCIA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, BUSCA, REDUÇÃO, CUSTO, ENERGIA ELETRICA, ELOGIO, ATIVIDADE POLITICA, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero cumprimentar todos os nossos colegas. Atuamos em conjunto durante todo este ano de 2012, participamos de batalhas eleitorais. Quero cumprimentar também os nossos servidores da Casa, desde o mais graduado servidor, no mais destacado posto da Casa, no caso a Secretaria-Geral da Mesa, até o nosso zelador, aquele que cuida do nosso gabinete, das instalações das comissões, assim como os nossos auditores que nos acompanharam nos vários votos e pareceres destacados aqui, no Congresso Nacional, especialmente no Senado.

            Cumprimento a todos, porque vamos chegando ao final deste ano de 2012.

            Quero também cumprimentar o nosso ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que tem sido alvo constante de ataques, de insultos, numa verdadeira quase que perseguição a um ex-Presidente da República que teve a qualidade especialíssima de colocar o nosso País de pé, elevar a autoestima do povo, voltar a fazer o País se desenvolver.

            Quero registrar o nosso agradecimento lá do Ceará, especialmente no domingo, quando inauguramos o novo estádio do Castelão com a presença da Presidente Dilma. Posso dizer aqui: este ato só foi possível pela determinação do Presidente Lula e pela corajosa decisão de garantir os meios, os recursos do orçamento para os programas de mobilidade urbana, em que a nossa cidade se destaca pelo volume de recursos destinados para alargamento de vias, para o nosso VLT, e os investimentos de mobilidade urbana no novo metrô para a cidade de Fortaleza, de 12 quilômetros, todo subterrâneo, financiado pelo Orçamento Geral da União e pelo BNDES, o investimento no novo estádio do Castelão com recursos do BNDES, o que não seria possível pelos cofres exclusivos do nosso Estado. Foi a garantia dada pelo Presidente Lula.

            É esse Presidente que buscam achacar, para quem buscam criar dificuldades na sua trajetória de homem público que se voltou para defender o interesse maior do nosso País. Por isso eu quero registrar os meus... Em todas as áreas: mobilidade, educação superior, educação técnica, educação infantil, ensino fundamental. É só olhar. Quem quiser enxergar, examinar com mais cuidado, com mais zelo pode ver como o nosso País avançou nesse sentido.

            E faço isso do ponto de vista político, faço como uma opinião minha e também do meu Partido, também do PCdoB, que tem acompanhado essa trajetória dos últimos anos da nossa Nação, desde a nossa legalização como Partido, em 1985, até hoje, o esforço que foi desenvolvido pelo ex-Presidente e a sequência dada pela Presidente Dilma Rousseff.

            Nós vivenciamos momentos em que o País não investigava nada. Eu não via nem promotor nem procurador da República investigando nada. Não existia. Houve um tempo...

(Fora do microfone.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Agora é Senador da República.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Em que ano isso?

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - V. Exª tem o aparte.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Em que ano o senhor disse que não existia promotor?

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - O serviço de promotoria pública no Brasil é antigo.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - É 1834.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Vem de longe.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Vem de longe.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Então, nesse período todo houve. O problema...

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Eu quero expressar a V. Exª o meu respeito pelo discurso. Concordo inteiramente com os avanços sociais que foram colacionados pelo Presidente Lula, mas tivemos, antes disso, outros Presidentes da República.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - É verdade.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Houve a estabilização da moeda. Depois, houve avanços, como o aumento da classe média com a retirada de pessoas abaixo da linha de pobreza. Agora, uma pergunta: será que o cidadão que faz muito adquire crédito, e esses créditos fazem com que ele não possa ser investigado?

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Eu não considero, não.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Desculpa. Deixe-me só terminar meu aparte, se V. Exª me permitir, e já encerro. Eu concordo com tudo isso que V. Exª disse a respeito do Presidente Lula. Agora, falar em perseguição? Com todo o respeito! Foi a Polícia Federal que investigou o caso. A Polícia Federal está sob a subordinação do Ministro da Justiça, que é do PT. Esse é um ponto. Foi no escritório da Presidência da República lá em São Paulo, por obra do Divino Espírito Santo, que encontraram aquela senhora chamada Rose. Aí a culpa é de uma conspiração? O Marcos Valério faz denúncia ao Ministério Público. A culpa é de uma conspiração que existe contra? Nós todos devemos expressar o respeito ao Presidente Lula, e isso eu faço. Expresso respeito pelo seu trabalho e pela sua história de vida. Agora, nós temos que entender que ninguém se encontra acima da lei.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Não se encontra mesmo, não.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Nem membros do Ministério Público.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Claro.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Nem o Procurador-Geral da República.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Principalmente.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Se dissermos “principalmente”, estaremos fazendo uma exclusão. Eu retiro “principalmente”, porque todos estão diante da Constituição.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Claro.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Entre cidadãos que são iguais não existem melhores.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Não existem. E é exatamente por isso que eu estou aqui falando. Este tipo de tratamento não existe no Ministério Público e, especialmente, nos órgãos de comunicação do nosso País: como tratar as questões, como levantar e como incitar. Inclusive, incita o STF.

            V. Exª ouviu bem o Ministro Teori Zavascki? Eu só fiz uma pergunta para ele: onde é que a Corte Máxima do País, a Corte de apelação - que no nosso País tem o nome de Supremo, imitando uma espécie de corte de outras nações, que não tem nada de supremo, é uma Corte de apelação Constitucional -, onde é que essa Corte tinha condições de espetacularizar as suas decisões, através de um movimento midiático? Ele me disse: “Em nenhum canto do mundo. É sui generis. Só tem no Brasil. É uma particularidade.”

            Então, o problema é esse, é que há um preconceito. O problema é que antes não tinha um operário no Governo. E teve! Quando se pensou em ter um operário no Governo e de um partido de esquerda, goste ou não goste, a ideia é que seria um desastre total. O trabalho é esse, a ideia foi essa e a tentativa foi essa. Não é o problema de denúncia, não é o problema de investigação, pois todos são iguais, mas é o tratamento que se dá no nosso País, que trabalhou muito com a senzala, anos e anos, e carrega um preconceito sem tamanho, porque um operário dar certo na Presidência da República é inaceitável. Aí é olhar e dizer: pelo amor de Deus, como é que esse cara vai dar certo? Não pode. E pior: o cara ainda é de esquerda, ainda é de um partido de esquerda. Então acho que tem um viés também de carga pesada.

            Basta olhar como se controlam os veículos de comunicação de massa no País, inclusive, com a interferência direta no Congresso Nacional. Olha quem são os donos dos veículos de comunicação, olha qual é o pensamento deles, olha como eles agiram durante anos e anos. E não estou falando da rádio de Salitre, no Estado do Ceará, não. Eu estou falando da mídia que controla 70% das informações do Brasil, que veicula 70% das informações no Brasil.

            Por isso que eu destaco o Presidente Lula, que foi um operário, que foi um dirigente político capaz de construir uma central sindical, capaz de construir um partido, de se eleger Presidente e tocar a Presidência no rumo do desenvolvimento do nosso País.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Permita-me um aparte?

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Você pode não gostar do Lula, pode não gostar do Partido dos Trabalhadores, ao qual eu não pertenço, e acho até que poucos do Partido dos Trabalhadores têm coragem suficiente para defender o seu próprio Presidente da República. Mas nós temos consciência do que é que se trata. Nós sabemos o rumo das coisas. Nós não somos um bando de tolos aqui, no nosso País, fazendo onda para flanar no discurso fácil da oposição, mesmo porque nós somos a oposição, nós tratamos desse tema no nosso País.

            Meu caro Senador Aloysio Nunes Ferreira, presidente do grupo parlamentar Brasil/Geórgia. (Risos.)

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Meu caro Senador Inácio Arruda, eu também, como o Senador Pedro Taques, tenho respeito pela figura do presidente Lula pela sua história, por muitas coisas boas que ele fez pelo nosso País. Mas também estou com o Senador Pedro Taques por considerar que isso não dá a ele imunidade, não dá a ele uma condição de um ser acima da lei. Agora, vítima de preconceito? Acho difícil. O presidente Lula é o queridinho do capital financeiro do Brasil, é o queridinho do grande empresariado brasileiro. Nunca o capital financeiro lucrou tanto em sua vida quanto no governo Lula. Nunca. A direita tem preconceito contra ele? Veja à sua volta os seus correligionários de Base de apoio do Governo. Partidos de esquerda? O PTB é um partido de esquerda? O PP e o PR são partidos de esquerda? Eu não vejo, realmente, preconceito no caso do presidente Lula. O que eu acho é que é um preconceito até a favor, que V. Exª acaba de exprimir no plenário: porque era um operário, porque veio de baixo. Ora, eu conheço muitos operários, e V. Exª também conhece, na história do movimento operário, de líderes operários que, uma vez chegando ao poder, fizeram a política do capital. Foi o caso do presidente Lula, sem dúvida nenhuma. Agora houve, sim, avanços sociais que vêm acontecendo, aliás, desde um grande marco histórico do nosso País, que foi a Assembleia Nacional Constituinte, que abriu um horizonte de direitos sociais e de direitos democráticos dos quais o nosso povo nunca antes na história do nosso País havia usufruído. O presidente Lula tem o seu papel, um papel positivo, nessa construção. Mas isso não faz dele, meu caro Senador Inácio Arruda, um ser acima de qualquer tipo e do alcance de investigações, quando...

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Pelo contrário.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB - SP) - ...quando essas mesmas investigações acontecem.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Claro.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - O problema é que ele acabou reagindo de uma maneira absolutamente inadequada, quando aconteceram denúncias em relação ao seu governo. Em relação ao caso Rose, ele está bem quietinho, mas em relação a casos acontecidos no passado, “ah, fabricaram dossiê fajuto contra um candidato à Presidência da República”, “ah, são os aloprados”, “mensalão é conspiração da mídia.” É isso.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - O tal dossiê até agora nem se viu ainda.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Não, se viu dinheiro. A polícia apreendeu dinheiro que serviu para fabricar um dossiê.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Mas o dossiê fabricado não se viu.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Sim, mas houve uma conspiração criminosa, dirigida por um tal de Freud, que é comensal do Presidente Lula, que pegaram com a boca na botija armando a fabricação do dossiê fajuto.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Nem o Ministério Público investigou o tal dossiê.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - E o Presidente Lula diz assim: “são uns aloprados, coitadinhos”, e continua convivendo com essa gente, esse é o problema. É uma certa permissibilidade que acaba por deslustrar o prestígio do Presidente.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Agradeço o ilustrado pronunciamento de V. Exª e espero o dossiê chegar. Pode ser que alguém do Ministério Público consiga entregar aqui, no Congresso Nacional. Até hoje não entregaram. Não tem. Podiam informar, vazar.

            Há um caso que está em segredo de justiça em que o Procurador-Geral fez revelações na Folha de S.Paulo. Sinceramente, acho que esse é o problema da inversão das coisas. Acho que temos que ter esse zelo, esse cuidado. O Procurador não pode fazer isso, ou não deveria fazer.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Permito.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - A Lei nº 1.079, que trata de crime de responsabilidade, traz instrumentos próprios para isso. Qualquer cidadão pode representar o Procurador-Geral da República pela prática de crime de responsabilidade.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Sim, mas aqui não se tratava disso. Nesse caso, trata de um processo.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Se ele vazou, ele cometeu uma figura típica do Código Penal, que é típica também ao crime de responsabilidade. Defendo que o Procurador-Geral da República seja investigado também. Eu, todos nós, porque na República todos se subordinam à Constituição.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - É a nossa expectativa e espero que isso aconteça.

            Estou levantando a ideia de que devemos exercer, primeiro, um grande processo de democratização dos meios de comunicação de massa no nosso País. Esse negócio de controle absoluto por uma, duas famílias, três, quatro, isso não pode dar certo. É um país continental, um país imenso. Isso não está certo. Acho que podemos ampliar mais, abrir mais o espaço das relações de comunicação do povo brasileiro com o conjunto das opiniões, as mais diversas opiniões do nosso País.

            Mas eu queria avançar para a Presidente Dilma, porque eu vejo também aqui outra situação. É que a Presidente Dilma - acho que corajosamente - está enfrentando dois problemas cruciais em relação à questão do desenvolvimento. Um, o problema dos juros. Esse é um negócio terrível no Brasil. Enfrentar esse problema, amigo… Os adversários são poucos, mas são poderosos e eles bancam páginas e páginas de revistas, de jornais, de televisão. É jogo duro enfrentar a grande especulação no nosso País. Botar o dedo nessa ferida, que sangra o povo brasileiro há décadas e décadas, não é para qualquer um. E precisa, de fato, de uma base de apoio ampla, capaz de sustentar uma postura como essa. Esse é um problema crucial.

            Nessa linha do desenvolvimento, entra o problema dos juros, e entra uma pressão gigantesca, porque não vem apenas dos que estão aqui. Não é apenas o fundo de pensão de uma empresa estatal ou mesmo de uma empresa privada brasileira. São os grandes fundos de investimentos externos. Quem olha diz: não dá certo isso aí não. Vocês não são mais os queridinhos não. A gente estava mandando dinheiro para vocês, mas vocês não querem não.

            Então, as relações do Brasil, o entrelaçamento da economia brasileira com esses setores tem criado imensas dificuldades para enfrentar essa questão crucial dos juros, que ainda são um dos maiores do mundo. E a pressão para não reduzir mais é gigantesca, dentro do nosso território brasileiro. Por todos os meios.

             Acho que aqui é a questão central. Não é o problema se investiga ou não se investiga. Porque, amigo, eu quero dizer, teve tempo em que a gente tratava o Procurador-Geral da República com nome de engavetador. Era uma vergonha! Não se investigava nada. Nada, nada, nada, nada! Era assim que se tratava a República aqui. O Lula é o primeiro da lista dos procuradores. “Qual que vocês escolheram? É esse que vai ser. Não importa.” É assim que ele tratou, meu caro Senador Cristovam.

            Eu acho que o problema é do desenvolvimento do Brasil. Aqui é que está a pedra de toque do nosso problema. É enfrentar esses aí. E esses têm força. Esses são capazes de chegar a um jornal e dizer: “Esse Senador não presta, é bandido.” E no outro dia você vira bandido. Esses são capazes disso, se você tocar nessas feridas cruciais do desenvolvimento brasileiro, meu caro Senador Cristovam, que, nesse caso, é professor nesse tema.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador. Senador, eu não vou entrar na parte de fulanização do debate em relação ao Presidente Lula, até porque estou de acordo que fez um bom governo, que tem um crédito com a sociedade brasileira, com a história do Brasil, embora isso, como o senhor mesmo disse, não justificaria acobertar qualquer coisa. Não vou entrar na figura do Lula. Eu vou querer discutir uma coisa que, para mim, está passando desapercebida, que é o estilo de governo que nós temos tido nesses últimos anos. Não são apenas as pessoas que cometem erros. É um estilo de governo, que fez uma aliança tão ampla com a direita, que, para atender a ganância dessa direita, tem que nomear pessoas para cargos importantes, como a Agência Nacional de Águas, como a Agência Nacional de Aviação Civil, que não estão preparadas, mas que representavam parte do pagamento de um débito eleitoral. Ou um estilo de governo que levou a fazer com que acontecesse tudo isso do mensalão. Estilo de governo, inclusive, diga-se de passagem, em que ninguém denuncia nenhum dos condenados de terem enriquecido para si. São acusados de terem usado dinheiro, inclusive público, para um projeto de poder, o projeto de ter o controle do Congresso. Eu creio que está na hora de, mesmo quem defende o Presidente Lula, começar a fazer uma autocrítica e perguntar por que está passando isso. E, aí, não pode ficar na parte simplista de que é manipulação da imprensa, de que é manipulação da Polícia Federal. Há algo mais profundo. Há algo mais profundo que termina fazendo com que nós, até - porque o meu Partido faz parte da Base de apoio do Governo -, terminemos dando lenha à fogueira que eles querem queimar. Se não fizermos essa autocrítica de que erramos no estilo, se não entendermos que nós cometemos erros...

(Interrupção de som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - ...se não fizermos a autocrítica, se não procurarmos saber onde nós erramos, para que eles tenham todos esses argumentos que tomam conta das manchetes dos jornais, nós vamos continuar errando no estilo de governo, e, aí, hoje é o Presidente Lula, amanhã será qualquer um aqui, será a própria Presidenta Dilma, qualquer um, porque deu margem às críticas que recebem, mesmo que façam um carnaval maior do que fariam, se o culpado fosse do lado deles, mas nós demos arma. Então eu queria, eu acho que está na hora, Senador Wellington, Senador Suplicy, de fazermos uma autocrítica sobre o estilo de governo nesses últimos 10 anos. Ele criou uma base de apoio tão ampla, que exige fazer tantas transações e transigir tanto que termina levando a esse tipo de risco, que termina ameaçando até a honra de um bom Presidente como foi o Lula. 

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Claro. Eu imagino assim, Senador Cristovam, considerando sempre essa figura que V. Exª representa aqui, na defesa do direito, dos direitos humanos, da coisa correta, justa e da economia brasileira se desenvolvendo, que é o sonho de V. Exª, inclusive quando coloca educação como uma questão chave, estratégica para o desenvolvimento.

            Mas veja, o Governo do Presidente Lula e da Presidenta Dilma, eu não vou dizer como é que foi tratado porque a frase pode não pegar bem, amanhã eles fazem uma manchete ruim com a frase, mas um cidadão honesto e honrado desfilou para Allende, na data nacional do Chile, com uma placa, que fazia referência ao Allende....

(interrupção do som)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - .... e que dizia um desaforo pesado (fora do microfone).

            Este é o meu Governo. Eu sei de que lado eu estou. Eu sei o que está em curso. Eu sei o que é o debate político no Brasil. Eu conheço a trajetória histórica do Brasil. Eu sei o que é essa batalha. Para a gente não se confundir, porque senão aí termina se confundindo: não, eu estou aqui. Aqui nós temos um eixo.

            De vez em quando paira aqui na Mesa do Senado e na Mesa da Câmara ideia sobre como centralizar um pouco a política, buscando o caminho das reformas políticas.

            Nós propusemos a ideia de que deveríamos fazer uma reforma com financiamento público de campanha. Há uma resistência atroz. Propusemos lista partidária. Também tem uma resistência atroz. Mas querem o fim das coligações, o que atinge partidos principalmente como o nosso. Fim de coligação é isso.

            Querem a coligação na majoritária, mas querem o fim das coligações proporcionais, arguindo esse sentimento de que a promiscuidade está nas coligações profissionais. Uma desfaçatez, uma mentira descarada, mas é isso que é propagado, inclusive por gente boa e por gente que diz que é muito honrada, que é muito honesta, mas vai por esse caminho. Esse caminho não é o caminho melhor para nós. Para gente que tem ideia do País, ideia da Nação, ideia do projeto nacional. Eu digo aqui, é o estilo, mas vejamos: há uma batalha em relação à questão dos juros. Então, amigo, nessa batalha temos que estar firmes. Firmes, aqui.

            A Presidenta topou enfrentar uma batalha crucial, uma outra batalha em relação ao desenvolvimento: preço de energia. Olha aí, mas aqui também há interesses pesados, interesses do grande capital. Não são os queridinhos do capital? Então, por que o capital está gritando? Está nervoso por que, o capital? Não deveria ficar.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Capital, a Fiespe está a favor. O Paulo Skaf se esgoela na televisão o tempo todo a favor. O que é isso? O capital está contra?

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Deve haver algum problema.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Então, tem. Tem mesmo.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Deve ter algum problema com os capitalistas de São Paulo.

            Mas é estranho que esse capital, que não é o capital do Skaf, de quem V. Exª está falando. Eu estou falando que o capital produtivo brasileiro quer essa mudança, mas o capital especulativo que ganha fácil, que nunca investiu em transmissão, que nunca investiu em geração de energia, que foi amortizado agora, essa turma que se associou, e que nunca ninguém investigou, nunca tiveram coragem de investigar, Procurador nenhum investigou; foram chamados, mas engavetaram...

(Fora do microfone.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - ...É o problema do lado, é como se você se posiciona na batalha política, porque senão cria uma confusão. Não é o problema da promiscuidade partidária, da escolha de a, b, c ou d, porque eu refuto a ideia de que o meu Partido, ao participar do Governo, tenha caído em promiscuidade. E eles atacaram o meu Partido duramente. E atacaram os outros partidos também da nossa Base. Na base do campo popular, porque o que interessa aqui é desmoralizar o campo popular.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - V. Exª me permite?

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - E esse está no centro do embate. Nós estamos no centro do embate e está ligado à questão do enfrentamento do projeto de desenvolvimento.

            Nós vamos ter coragem de ter um projeto mais nosso, em que o País esteja mais de pé ou vamos estar sempre ligados a esses interesses escusos que, muitas vezes, não aparecem. Eles não são muito visíveis.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco/PSDB - SP) - Meu caro colega da amizade com a Geórgia. A vida de V. Exª é uma contraprova daquilo que V. Exª está afirmando, porque ninguém mais do que V. Exª aqui verbera o capital, o capital financeiro, a conspiração dos interesses internacionais, essa coisa toda. E, no entanto, ninguém diz que V. Exª - nenhum jornal, nada - é malandro, é ladrão, que V. Exª descumpre os seus deveres parlamentares. Sempre foi tido e havido como o homem honrado que V. Exª é. Então, a vida de V. Exª é a contraprova da afirmação que é o centro do seu discurso, de que basta alguém se opor a um projeto de algo chamado grande capital, que conspira contra os interesses nacionais, para ser imediatamente crucificado pela grande mídia. V. Exª, não. V. Exª permanentemente batalha contra esse comitê central do capitalismo mundial e do capitalismo brasileiro e é sempre tido e havido como um homem de bem, como V. Exª efetivamente é. Um Parlamentar correto, valoroso, patriota, que todos admiram.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Nós temos uma sorte enorme no Senado da República, porque contamos com V. Exª, que vem de longe. V. Exª vem de longe, sabe do que nós estamos falando. V. Exª pode não concordar com o que nós estamos falando, mas sabe do que nós estamos falando. V. Exª conhece muito a história, viveu muito a história. Aliás, viveu a nossa e de outras nações, situação de dificuldade política, especialmente. V. Exª sabe muito bem das batalhas que nós travamos no Brasil, desde o Império. Depois, na República. Depois nos governos mesmo autoritários, como foi o governo do Getúlio, um governo que teve muito arbítrio, mas que teve um enfrentamento com a idéia do projeto nacional.

            Você imagine o governo do Goulart, ou do próprio Getúlio, de 50. E você viu como o Lacerda, que tinha sido aliado no passado, foi perseguido pelo governo do Getúlio e transformou-se em inimigo mortal do Getúlio. Lacerda chegou a expressar aqui, publicamente, que ele não poderia nem ser candidato, que não poderia assumir, porque se assumisse, teriam que derrubá-lo; não poderia governar. E não era o Getúlio nenhum socialista, nenhum progressista, não era nada disso. Era progressista, avançado, principalmente nessa etapa.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Perdão. Senador Inácio Arruda, V. Exª está trazendo um tema e despertando um interesse formidável, mas eu estou preocupado com aqueles que estão inscritos também.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - O senhor está me pedindo que eu conclua.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Eu prorroguei inúmeras vezes, dado o interesse tão grande que V. Exª despertou em todos.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Eu vou concluir, Sr. Presidente, porque eu estou direcionado agora para o governo da Presidenta Dilma. Esse é um problema crucial.

            É mais ou menos assim: governamos com Lula, chegamos no governo da Presidenta Dilma. Também é uma mulher de tradição, e quando falei no Aloysio Nunes Ferreira, também ele é dessa tradição de luta, de luta dura, para defender a liberdade e a democracia.

            Então é essa a mulher que vem para a Presidência da República. E essa mulher tem um sentimento, um sentimento de que temos que tocar nessa questão do desenvolvimento com mais independência. Não é o desenvolvimento sem capital, não - é bom que todo mundo entende do assunto -, é com capital, e com os capitalistas também. É com eles mesmos. Agora, com eles mesmos, desafiando eles mesmos para ter coragem de terem um projeto mais ousado de Brasil. É para isso que a Presidente está chamando, chamando para que gastemos...

(Soa a campainha.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) -... menos com juros, para que enfrentemos o preço da energia, para que toquemos nessas questões centrais, porque elas que podem nos levar a ter um desenvolvimento mais largo da nossa história com a distribuição da riqueza, mantendo esse campo democrático, popular, porque é esse campo que tem compromisso com a distribuição de riqueza, de forma mais ampla, de forma mais permanente.

            Acho que a minha fala tem esse sentido, meu caro Senador Cristovam. Eu que sou discípulo de V.Exª.

            O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Eu pediria a gentileza para concluísse, Senador Inácio.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Vou concluir. Vou obedecer.

            V.Exª como, também, da escola de Economia, da Universidade de São Paulo, vai nos ajudar, com certeza, a poder chegar, nesse final de ano, e dizer para a Presidenta da República que temos, sim, interesse em manter esse processo de desenvolvimento do Brasil, de respaldar a nossa Presidenta nesse rumo do desenvolvimento.

            Se quiser destacar a questão dos juros com mais audácia, conte conosco e se, depois, puder distribuir...

(Fora do microfone.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) -...um pouquinho desses royalties do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, para a gente lá do Ceará, também agradeço.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/12/2012 - Página 74959