Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Insatisfação com a inexistência de um Plano Nacional de Educação para o decênio 2010/2020.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Insatisfação com a inexistência de um Plano Nacional de Educação para o decênio 2010/2020.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2013 - Página 9635
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, FATO, AUSENCIA, DEFINIÇÃO, PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, PERIODO, DECENIO, MOTIVO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, DEMORA, REMESSA, PROJETO DE LEI, REFERENCIA, MATERIA, DESTINATARIO, CONGRESSO NACIONAL, SOLICITAÇÃO, APOIO, PRESIDENTE, SENADO, OBJETIVO, URGENCIA, TRAMITAÇÃO, PROJETO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, RELAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, BRASIL.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Presidente desta sessão, Jorge Viana, Srªs e Srs. Senadores, TV Senado, Rádio Senado, amigos, é triste constatar que, há mais de dois anos, o Brasil é uma nau sem rumo em relação ao planejamento nacional da educação.

            Lamentavelmente, no dia 31 de dezembro de 2010, terminou a vigência do Plano Nacional de Educação para o decênio 2000/2010 e até agora não foi aprovado o novo PNE.

            Esse retardo em estabelecer o norte para a educação brasileira deve-se à lentidão do Congresso em apreciar a matéria, mas se deve, sobretudo, ao envio tardio do projeto ao Congresso Nacional pelo governo Lula, que deveria ter se preocupado mais com um tema de tamanha envergadura.

            O fato é que o projeto do novo PNE só chegou ao Congresso ao final de 2010 e não em 2009, como deveria ter acontecido se o Governo do então Presidente Lula tivesse dado a devida atenção a essa matéria, uma prioridade para sedimentarmos o caminho do desenvolvimento duradouro e sustentável.

            Não ter um Plano Nacional de Educação aprovado para o decênio 2010/2020 é uma afronta ao art. 214 da Constituição, uma irresponsabilidade de um Presidente que não se preocupou em enviar ao Congresso o PNE em tempo hábil!

            A esse respeito, o Senado Federal tem hoje uma tarefa de extrema importância para a Nação porque precisamos apreciar, o quanto antes, essa matéria se o desejo for estabelecer as metas e as prioridades para a educação do Brasil.

            Um Plano Nacional da Educação que corre o risco de demorar quase três anos para ser implementado já nasce com um déficit que exige esforço hercúleo para ser minimizado.

            A conta é simples: se o plano deve vigorar por dez anos e já se passaram quase três, estão perdidos praticamente 30% do tempo para se dar uma guinada na educação brasileira e acabar com um vergonhoso quadro de ineficiência, ineficácia do sistema de ensino.

            Registro, portanto, um apelo ao Presidente do Senado Federal e das Comissões de Assuntos Econômicos e de Constituição e Justiça para que deem a necessária celeridade na apreciação da matéria.

            Da nossa parte, queremos examiná-la no âmbito da Comissão de Educação, Cultura e Esporte o quanto antes porque o País sem educação pública de qualidade não tem futuro nem destino.

            Sem educação pública de qualidade, Sr. Presidente, o Brasil está fadado ao fracasso porque é nos bancos escolares que brotam os talentos e as vocações.

            Srªs e Srs. Senadores, não somos contra as cotas e os programas sociais porque são medidas de extrema importância para um País como é o caso do Brasil. Representam o primeiro passo no sentido de promover distribuição de renda. Tanto é que os programas sociais têm origem no governo Fernando Henrique. Mas o maior crime que se pode fazer para as futuras gerações é perpetuar um sistema de cotas no lugar de democratizar o acesso à educação básica e ao ensino superior de qualidade, capaz de oferecer a todos os jovens condições para o desenvolvimento pleno, independentemente de etnia e origem social.

            Não há como ficar calado diante desse pacto pela mediocridade que convalida a ineficiência e inoperância do Governo porque o Governo do PT não imprimiu a devida celeridade à tramitação do PNE na Câmara dos Deputados. Por quê?

            A educação tem o poder de romper o círculo da pobreza e da exclusão social porque liberta a alma e lança as bases para os exercícios críticos da cidadania.

            Não deixaria jamais de reconhecer o mérito do governo Lula em aumentar, de forma expressiva, o número de escolas técnicas do Brasil. Era um pleito antigo de todo o setor produtivo, que sofre sistematicamente a carência de mão de obra especializada. Mas tanto o ex-Presidente Lula quanto a Presidente Dilma estão muito longe de oferecer ao Brasil um modelo de educação à altura de governos que dizem priorizar o combate à pobreza e à exclusão social.

            Só há um caminho para vencer o círculo vicioso da pobreza: a educação. O que se vê no Brasil hoje é vergonhoso. Um quadro de desempenho pífio nunca antes visto na história deste País, muito semelhante a também pífio desempenho da economia.

            O Brasil, depois de mais de 10 anos de governo do PT, ainda tem 9% de analfabetos, 25% de analfabetos funcionais e quase 30% da população, 57 milhões de pessoas, sem o ensino fundamental.

            Somos um país de iletrados, de pessoas sem as condições de acesso ao ensino público de qualidade, alicerce da cidadania no mais amplo sentido.

            A educação tem o poder de resolver uma dezena de outros problemas, a começar pela violência e o tráfico. Se não há uma escola de qualidade para preparar os jovens e inseri-los no mercado de trabalho, a tendência é que se percam no submundo do crime e das drogas.

            Estamos num momento de refletir sobre a educação que queremos dar às futuras gerações como pré-requisito para a digna sobrevivência da sociedade do conhecimento. Já experimentamos diversos modelos: a escola propedêutica, voltada apenas à continuidade das novas etapas e de formação escolar, mas que praticamente ignorava o mundo real do mercado de trabalho. O ensino profissionalizante compulsório, que nem dava ao aluno condições de enfrentar novas etapas da educação, tampouco profissionalizava adequadamente.

            A triste verdade, Senador Ferraço, é que o Brasil continua muito distante do ideal da Escola Nova, defendido por educadores do calibre de Anísio Teixeira e Fernando Azevedo. É de 1932 o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assinado por Anísio e vários intelectuais, que mostravam como nenhum dos problemas nacionais era maior em importância e gravidade se comparados ao da educação.

            Dizia o manifesto: “Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no País a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a escola pública”.

            Mas hoje, passados mais de 80 anos, o Brasil amarga índices vergonhosos de desempenho na educação. Quando há uma melhora, não é expressiva ao ponto de vencermos metas e superar expectativas.

            Senador Buarque, de acordo com o Movimento Todos pela Educação, quase 90% dos alunos terminam o ensino médio sem saber Matemática. É uma realidade dura de ouvir, porque não há como pensar num Brasil desenvolvido com um quadro como esse.

            Os dados analisados a partir do desempenho dos alunos na Prova Brasil, em 2011, revelam que a situação piorou em relação aos anos anteriores, quando 11% alcançaram desempenho mínimo na disciplina. A meta estabelecida pelo movimento é de 20%.

            E qual é a meta do Governo? Existe de fato política para a melhoria da educação pública no Brasil?

            O que mais nos choca nas avaliações da educação no Brasil é a postura do Governo do PT. Com todo o respeito ao Ministro Aloizio Mercadante, parece-nos que ele tem tido aulas com o Ministro Mantega e a equipe econômica, sobretudo sobre como manipular números para melhorar a educação, a exemplo do que faz o Governo para diminuir a miséria e fazer mirabolantes manobras para garantir o superávit primário.

            Nunca antes na história deste País - que nos perdoe o ex-Presidente Lula pela falta de originalidade - viu-se um esforço tão grande no sentido de distorcer a realidade do Brasil.

            Querem mudar a realidade do Brasil por decreto?

            Senhoras e senhores, pensar nos caminhos para o desenvolvimento do Brasil moderno requer assegurar aos brasileiros o pleno desenvolvimento das potencialidades. Isso se realiza pela educação de qualidade, pela valorização da cultura, bem como do esporte, como meios de fortalecer os laços de pertencimento e de cidadania.

            A educação de qualidade deve ser vista no Brasil como questão de Estado, prioridade de estatura equivalente, ou maior, à da manutenção da estabilidade econômica e do aprimoramento da infraestrutura.

            Não basta apenas definir as prioridades para a educação. O desafio maior é garantir que, estabelecidas as metas, estas sejam rigorosamente cumpridas em todo o Brasil. É tarefa que, sem gestão de resultados, dificilmente pode ser cumprida, em razão das dificuldades de articulação entre os membros da Federação.

            A esse respeito, cabe a observação de Simon Schwartzman, em referência a um estudo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, tão bem colocada no livro América Latina, Desafios da Democracia e do Desenvolvimento, organizado pelo nosso querido Presidente Fernando Henrique Cardoso e por Alejandro Foxley.

O conceito de “sociedade do conhecimento”, de uso crescente nos últimos anos, resume bem o consenso que se estabeleceu sobre a forte interpenetração que é necessária entre três componentes que costumavam ser tratados separadamente nas políticas sociais e econômicas da América Latina: a educação, a capacitação científica e tecnológica e as políticas econômicas.

            Srªs. e Srs. Senadores , não há como discordar que a sociedade do conhecimento não é somente uma sociedade que dá importância à educação, à pesquisa e à cultura, mas é a que seja capaz, além disso, de reunir elementos de forma produtiva.

            Sem educação de qualidade, isso jamais será possível. Não se faz educação por decreto.

            Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2013 - Página 9635