Pela Liderança durante a 33ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a seca que assola o Nordeste do País; e outro assunto.

Autor
Cássio Cunha Lima (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cássio Rodrigues da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Preocupação com a seca que assola o Nordeste do País; e outro assunto.
Aparteantes
José Agripino.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2013 - Página 11539
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROVIDENCIA, REFERENCIA, PROBLEMA, FINANCIAMENTO, SUPRIMENTO, ALIMENTAÇÃO, PRODUTOR RURAL, REGIÃO NORDESTE, FATO, SITUAÇÃO, SECA, REGIÃO.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco/PSDB - PB. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Eduardo Suplicy, Sras e Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, eu quero iniciar este meu pronunciamento com uma palavra de agradecimento que começa por V. Exa, pela generosidade da presença, pelas palavras amáveis dirigidas à memória do meu pai que, na última segunda-feira, estaria completando - o nosso poeta Ronaldo Cunha Lima - 77 anos.

            Este plenário esteve lotado com amigos, familiares vindos da Paraíba, presença de muitos Senadores, o que tocou profundamente a minha alma, o meu coração e, naturalmente, o de toda a minha família, em nome de quem também agradeço, sobretudo da minha mãe, Dona Glória, e dos meus irmãos, Ronaldo Filho, Glauce e Savigny. E, coincidentemente, no nascimento do meu pai, nasciam, também, Clara e Gabriel, gêmeos, filhos de Savigny e Silvana, que estavam aniversariando naquela data e a emoção me traiu, Senadora Lídice, e não pude fazer a devida homenagem a essas duas crianças.

            E nós estávamos, então, falando de nascimento e morte. Era uma sessão em homenagem à memória do meu pai, e, também, celebrando o nascimento de Clara e Gabriel. E, por coincidência, é sobre nascimento e morte que ocupo essa tribuna novamente. E não é a primeira vez que o faço para tratar desse tema, como já testemunhei igual pronunciamento vindo da Senadora Lídice.

            Falo, mais uma vez, da gravíssima seca que assola o Nordeste, e, desta feita, farei algo que contraria o meu estilo de fazer política. Sou de um partido da oposição, como todos sabem, aqueles que acompanham mais atentamente a política, estou, inclusive, nesse espaço, ocupando o tempo reservado à Liderança do PSDB, mas nunca fiz política em caráter pessoal. Sempre tratei das questões com aspectos institucionais.

            Mas, hoje, fazendo exceção a esse meu estilo, a essa minha forma de conduta, eu vou me dirigir pessoalmente à Presidenta Dilma e vou pedir, posso dizer, implorar que a Presidenta Dilma adote providências urgentíssimas em relação ao Nordeste brasileiro.

            Nós não estamos vivendo, propriamente, uma seca, que atinge as populações humanas. Essas estão um pouco mais protegidas, é verdade, e temos facilidade de reconhecer os méritos, por exemplo, do Bolsa Família; temos facilidade de aplaudir iniciativas que sejam exitosas. Não é essa a questão, porque, toda vez que dirigimos alguma crítica, apresentamos algum tipo de apelo ou formulamos uma reivindicação em relação ao problema grave da estiagem, a resposta única que o Governo Federal tem dado é: “Não, mas no passado era pior. No passado não tinha o Bolsa Família, não tinha este ou aquele programa”, e não elevamos o nível do debate nem muito menos nos aprofundamos para a realidade vivida pelo médio produtor rural, este, sim, absolutamente abandonado e esquecido.

            Eu vou fazer uma referência a um fraterno amigo, a um extraordinário brasileiro, chamado Manelito Dantas Vilar, que é primo, inclusive, do nosso famoso e igualmente querido Ariano Suassuna, que tem uma propriedade em Taperoá, Fazenda Carnaúba, que tem praticamente um século de construção, Senador Suplicy, de uma genética bovina adaptada à convivência com o semiárido.

            Há quase cem anos, a família Dantas, mantida agora por Manelito, seus filhos e suas filhas, com coragem, com brasilidade, com vigor, com amor e com devoção ao Semiárido, vem construindo essa genética de convivência com o Semiárido. Pois essa genética vai desaparecer, porque o rebanho está morrendo, o gado está morrendo. Os médios produtores já estão juntando as carcaças dos animais nas margens das estradas.

            Não se vê uma única providência, uma única providência sequer em relação aos problemas de financiamento, ao suprimento de alimentação, Deputado Mauro Benevides, que me honra muito com sua presença neste instante no plenário desta Casa, que será sempre sua.

            E o Governo faz um discurso equivocado, com um viés absolutamente distante da realidade: “Ah, mas nós temos o Bolsa Família”. O Nordeste agradece o Bolsa Família, como o Brasil agradece o Bolsa Família, mas o Estado não vive de Bolsa Família, não sobrevive de Bolsa Família.

(Soa a campainha.)

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco/PSDB - PB) - Nós não podemos reduzir a nossa região a famílias às quais esteja sendo assegurada uma renda mínima.

            É faço um apelo à Presidenta Dilma. Que ela consiga dar agilidade a um Governo que se mostra absolutamente insensível, inoperante, distante, abandonando o Nordeste. Que a Presidenta possa chamar os seus ministros, alocar os recursos que estão disponíveis no Orçamento da União.

            Eu peço só mais um minuto, Presidente, pela sua conhecida generosidade, para concluir o meu pronunciamento.

            No Orçamento da União, R$5,7 bilhões foram reservados para catástrofes naturais. Estamos solidários, mais uma vez, com a população do Rio de Janeiro, sobretudo da serra de Teresópolis, de Petrópolis, principalmente, para onde, dos R$5,7 bilhões, pouco mais de R$420 milhões foram liberados. Há recursos, mas não há providências, não há sequer conhecimento dessa realidade.

            É por isso que, em nome do povo da Paraíba, Estado que, com muita honra, represento neste Senado da República; em nome do Nordeste brasileiro, Senador Agripino - V. Exª sempre foi uma voz altiva e ativa na defesa de nossa região -, e contrariando o meu estilo, fugindo da minha praxe de fazer política, dirijo este apelo pessoalmente à Presidenta Dilma: Presidenta, lembre-se do Nordeste. O Nordeste está desaparecendo. O Nordeste está sofrendo. O Nordeste está sendo punido de forma severa, de forma grave.

            Presidenta Dilma, é hora de se mexer, é hora de atuar, é hora de fazer com que a região seja atendida nas suas necessidades básicas. É esse o apelo que fazemos.

            Proselitismo, discurso, eufemismo sobre Bolsa Família não resolve o problema do Semiárido, como tem sido a postura do Governo Federal.

            Escuto, com muito prazer, o Senador José Agripino.

            O Sr. José Agripino (Bloco/DEM - RN) - Senador Cássio Cunha Lima, eu vim às pressas para o Congresso, ouvindo o discurso de V. Exª na Rádio Senado. O apelo que V. Exª faz é absolutamente verdadeiro. Estou voltando ao meu Estado amanhã. Estive lá na semana passada, na semana anterior e na outra semana. Estive recentemente em Currais Novos, Caicó, Pau dos Ferros e Mossoró, todos Municípios do Seridó e do Alto Oeste do Estado. O quadro de seca do meu Estado...

(Interrupção do som)

            O Sr. José Agripino (Bloco/DEM - RN) - ... é igualzinho ao quadro de seca da Paraíba, que é de extrema aflição, com um detalhe: algumas adutoras feitas tanto na Paraíba como no Rio Grande do Norte possibilitam que exista água em algumas cidades. O sertanejo vive da atividade da pecuária. O que está ocorrendo é uma coisa de cortar coração! O ganha-pão das pessoas está indo embora! Ainda ontem, eu vi, na televisão, uma cena inédita de caminhões recolhendo carcaças putrefactas, ossadas de animais para levá-las para algum lugar. O ganha-pão das pessoas está morrendo! Quando fui Governador - lembro-me bem -, em tempo de seca, parava tudo que era obra, e o dinheiro de que o Estado dispunha era para aplicar na ação da emergência. Eu vinha buscar recurso aqui, em Brasília - recurso era o que não faltava! E eu tinha mais do que dinheiro, tinha ouvidos abertos aos reclamos. Seu pai foi governador na mesma época em que fui Governador. Fomos colegas de aflição e também colegas de solidariedade do então governo federal, que acudia, que chegava, naquele tempo, com as frentes de emergência, com ocupação, com trabalho para as pessoas, com suprimento de alimentação. Lembro-me muito bem! Até hoje, o povo do meu Estado se lembra do tal feijão de Jajá - Jajá é como o povo me chama; jota, a, jota, a. Parava tudo e comprava alimento, para fazer com que as pessoas mais pobres tivessem o sustento. Hoje, não há para quem apelar. É verdade que existe o Bolsa Família, mas não é tudo. Os animais estão morrendo, e o ganha-pão das pessoas está acabando. E há uma completa insensibilidade por parte do Governo Federal. Parece que o Nordeste está nadando de braçada...

(Soa a campainha.)

            O Sr. José Agripino (Bloco/DEM - RN) - ... está em voo de cruzeiro. É preciso que vozes como a de V. Exª; como a minha, que modestamente se manifesta; e como a dos governadores tragam para Brasília a dureza de uma situação que é tão ou mais grave do que a que a televisão está mostrando com os desabamentos de Petrópolis, porque lá a perspectiva é de inanição, de raquitismo de crianças, de uma quadra perversíssima. Em Pernambuco, na Bahia, em Sergipe, em Alagoas, na Paraíba, no Rio Grande do Norte, no Ceará, no Maranhão, no Piauí, numa região inteira, há uma seca sem precedentes, porque é mais um ano de estiagem - não é um ano, e, sim, mais um ano - que está fazendo com que o gado morra de fome, as criações morram de fome e as pessoas passem necessidade. Agora, é preciso que o Governo abra os ouvidos e chegue lá.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco/PSDB - PB) - Senador José Agripino, incorporo integralmente o seu aparte ao meu pronunciamento, com sua experiência, com sua visão lúcida, com todo o conhecimento que possui da Região Nordeste, particularmente do nosso querido Rio Grande do Norte.

            Para concluir, Sr. Presidente, agradecendo a generosidade e a tolerância, quero lembrar que os açudes estão secando. Cidades inteiras estão sem abastecimento. Açudes de grande porte estão chegando a 20%, 30% da sua capacidade - alguns com 6% apenas de capacidade!

            Na próxima semana, voltarei a esta tribuna para novamente cobrar da Presidenta Dilma, do Governo Federal as providências que não podem mais retardar. As chuvas matam e fazem alarde, geram notícias e imagens comoventes na televisão, e todas as populações por elas atingidas contam com a nossa solidariedade.

            A seca, não! A seca mata silenciosamente, e o Nordeste está morrendo e clama por ajuda.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco/PSDB - PB) - Hoje, Deus nos ajudou, e choveu em algumas cidades da Paraíba. Mas o problema da seca continua existindo. Precisamos contar com providências que não devem mais tardar por parte do Governo Federal.

            Muito obrigado, Presidente, pela tolerância em relação ao tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2013 - Página 11539