Pela Liderança durante a 36ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Tristeza pela escassez de água no Nordeste; e outro assunto.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, POLITICA AGRICOLA.:
  • Tristeza pela escassez de água no Nordeste; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2013 - Página 12679
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • REGISTRO, INAUGURAÇÃO, SISTEMA, ADUTORA, ESTADO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), DEFESA, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, OBRA PUBLICA, REGIÃO NORDESTE, MOTIVO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SECA, REGIÃO, PREJUIZO, PRODUÇÃO AGRICOLA, COMENTARIO, ATUAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, ASSISTENCIA SOCIAL, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUMENTO, ATENÇÃO, PRODUTOR RURAL, LOCAL, PREFERENCIA, ATIVIDADE, ORADOR, SETOR, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A (BNB), CONCESSÃO, EMPRESTIMO, PRODUTOR RURAL, REGIÃO NORDESTE, DIFICULDADE, PRODUTOR, EFETIVAÇÃO, PAGAMENTO, SUGESTÃO, ORADOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AMPLIAÇÃO, ASSISTENCIA, SETOR.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, enquanto ouvia a obstinada e competente fala do Senador Cristovam Buarque, o peregrino da luta pela melhoria da educação no País, lia as notícias dos portais pela Internet, até para fazer jus à observação que fiz sobre os tablets.

            A notícia de primeira página dos principais portais noticiosos do Brasil é a inauguração de parte do Sistema Adutor do Pajeú, no Sertão pernambucano. Está a Presidente Dilma ao lado do Governador Eduardo Campos. O noticiário que é posto na Internet são as referências do Governador Eduardo Campos, a importância da estabilização da economia, claro, reportando-se a um feito incontestável do governo Fernando Henrique Cardoso. E a Presidente Dilma deve estar falando sobre PAC, sobre a inauguração da obra.

            A mim causa extrema preocupação que, durante a inauguração de uma obra, a questão política, a questão da sucessão, a questão da inauguração de uma obra esteja sendo conduzida pelo viés político-eleitoral, quando, na verdade… Sr. Presidente, V. Exª é do Mato Grosso do Sul, um Estado que não sofre com a seca. Mas a Presidente da República está no Sertão pernambucano, acho que Serra Talhada, que está tão seco quanto a minha Mossoró, ou Pau dos Ferros, ou Caicó, ou qualquer Município da Paraíba, de Alagoas, onde há uma seca inclemente.

            E aqui queria fazer uma observação e uma sugestão. Ao longo desses últimos dez anos… Eu fui governador pela última vez em 1990, de 1990 a 1994; fui pela primeira vez de 1982 a 1986; depois, de 1990 a 1994. E enfrentei, nos dois períodos de governo, secas brabíssimas. Então, tenho know-how de como enfrentar seca.

            Naquela minha época, ainda não existia uma das principais fontes de renda do sertanejo, principalmente do idoso, que é a aposentadoria do Funrural, que em alguns Municípios significa mais do que a própria renda decorrente do Fundo de Participação dos Municípios, que é a maior renda do Município, o Funrural, uma coisa que veio depois. Nem existia uma coisa que começou a acontecer com o Fernando Henrique, com o Bolsa Escola, e que evoluiu no governo do ex-Presidente Lula e prossegue agora, que é o Bolsa Família, que, na verdade, é uma distribuição de renda pública, chegando às pessoas mais pobres, mediante cadastro feito pelas prefeituras, com uma renda que lhes possibilita sobreviver. Há grandes vantagens e desvantagens que reconheço. A vantagem de possibilitar que essas pessoas saiam da faixa da pobreza e possam, minimamente, disputar a possibilidade de comprar aquilo com que nunca sonharam, como uma geladeira, uma televisão, muitos até, erradamente, a motocicleta para um familiar, pagando a prestação.

            Mas há uma coisa que é preciso registrar: esses são os assistidos por programas assistencialistas. Minha preocupação sempre foi, desde aquela época, desde 1982, desde 1990, quando fui governador, com aqueles que produzem e que são, na verdade, os que estão neste momento mais aflitos. Isso porque, Presidente, neste momento, no meu Nordeste, há cidades servidas por adutoras que ainda dispõem de água, …

(Soa a campainha.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN) - … cada vez menos, mas ainda dispõem de água; outras, não têm uma gota d’água em casa alguma. Mas nas vilas, distritos e povoados onde mora o sertanejo que trabalha, que vive de agricultura ou de pecuária, não há água de beber nem água para o gado.

            Quando fui governador, eu me preocupei com todos. Com aqueles que hoje são assistidos pelo Bolsa Família, eu chegava com as frentes de emergência garantindo trabalho, ocupação, renda para sobreviver com dignidade. Com as frentes de emergência faziam-se açudes, calçamentos, obras públicas, com recursos públicos, empregando as pessoas para que elas pudessem sobreviver. Mas eu chegava perto das pessoas que não podiam perder a esperança de um futuro por conta da seca: era o agricultor e o pecuarista.

            O que a Presidenta Dilma tinha a obrigação de fazer ao chegar lá para inaugurar um pedaço de adutora? Ótimo, eu aplaudo a inauguração da adutora. Mas se eu fosse Presidente da República, eu chegaria lá com uma ação efetiva, com uma esperança real para os brasileiros nordestinos que produzem, que não pedem emprego nem bolsa família nem estão aposentados pelo Funrural. São os agricultores e os pecuaristas, que estão, neste momento, passando a maior das aflições.

            Quando eu era Governador, entendendo a dor deles, eu fazia o que fiz: uma vez eu cheguei com um navio de ração. Eles não tinham capim, não tinham volumoso, não tinham nada, nem macambira, nem caroço de algodão esmagado, nem ração de canto nenhum, porque não tinham como comprar. Eu chegava com um navio inteiro de ração de milho para doar, para que a semente de gado e a atividade deles fossem preservadas por uma ação do Poder Público, com recursos públicos. Ela tinha que fazer isso, ela tinha que chegar com um fio de esperança e com um programa federal para garantir a sobrevivência, hoje e no futuro, daqueles que não pedem emprego, daqueles que geram o seu próprio emprego.

            Outra coisa: ela tinha que chegar lá com um programa de perfuração de poços e equipamento de poços. Quem mora em vila, distrito e povoado, fora das cidades, está morrendo de sede, ele e o gado dele. Tinha que chegar com um programa de perfuração de poços para garantir água de beber para o gado e para as pessoas. Para garantir o quê? A semente, a perspectiva de futuro.

            E tinha que fazer o quê? Aquilo que a minha experiência recomenda, que foi o que eu fiz: passada a seca, Presidente, eu criei um programa chamado Projeto Curral. Eu sou lembrado como governador por algumas coisas, mas uma das coisas de que o povo mais se lembra é o Projeto Curral, que eu levei a efeito e que beneficiou milhares de famílias: repunha a semente de gado que a seca havia levado.

(Soa a campainha.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN) - As pessoas dignas, que não vivem de Bolsa Família, que não vivem de aposentadoria do Funrural, que vivem dignamente da atividade para a qual são vocacionadas, a pecuária ou a agricultura, tiveram a semente de gado que perderam, a semente de gado que eles tinham. Duas, três, quatro, cinco, dez vaquinhas morreram, foram embora, e o meu governo as repôs. Com o quê? Com o gado que eu comprava no sul e sorteava, sem nenhum critério político, entre os inscritos, que eram selecionados entre aqueles que tinham perdido o seu ganha-pão na seca. Eles se comprometiam a pagar com as crias, com os filhos das vacas que viessem a nascer ao longo do tempo. Com isso, eu repus o rebanho; com isso, muitas famílias criaram filhos e até formaram filhos; com isso, mantiveram a coisa mais importante: a dignidade de viver não de esmola, não da proteção do Estado, mas de uma ação solidária do Estado.

            Há outra coisa, Sr. Presidente, que eu gostaria muito que a Presidente fizesse: não é preciso que se mire no meu exemplo, mas num exemplo que deu certo. Esse Projeto Curral, a reposição do rebanho, foi uma coisa que deu certo. Impõe-se um programa de assistência com a perfuração e equipamento de poços e com a oferta, por parte de governos, de ração animal para preservar a capacidade de geração de emprego. Aquele que tem vocação que gere o seu próprio emprego, com a sua atividade, mas que seja amparado para isso. Para que o Brasil seja um país não de coitadinhos, mas de lutadores.

            E é o seguinte: o Banco do Nordeste, os bancos oficiais estão tomando o pedacinho de terra, o que resta de alguns pequenos criadores, pecuaristas e agricultores, pelos empréstimos que eles não puderam pagar. Que chegassem com o lenitivo, ou de reparcelamento ou até um certo limite de perdão dessa dívida, para que as pessoas que vivem na região problema do País, a mais difícil das regiões do Brasil, pudessem manter o fio de esperança de continuar com a sua atividade a construir o seu futuro. Eu faria isso e dou essa sugestão a Sua Excelência a Presidente.

(Soa a campainha.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN) - Claro que é importante inaugurar a adutora. Seria muito importante se ela estivesse inaugurando aquilo que foi a obra prometida durante a campanha eleitoral: a transposição do São Francisco, que se transformou, lamentavelmente, em uma vergonha nacional. Mas está indo, de qualquer maneira, inaugurar uma adutora. A conversa do sertão pernambucano é a conversa da disputa eleitoral, como se aquela obra fizesse parte de uma campanha eleitoral em curso, inclusive com o ponto e o contraponto entre dois candidatos -- o Governador de Pernambuco e a atual Presidente da República --, quando eu acho que ela deveria chegar lá e inaugurar a obra, mas dizer: “Eu penso naqueles que são brasileiros competitivos, brasileiros que produzem o seu próprio emprego. Eu venho aqui garantir, com a minha mão de Presidente da República, a dignidade àqueles que estão perdendo pela seca”.

(Soa a campainha.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN) - Aí sim, eu viria a esta tribuna aplaudir de pé a ação de um Governo que estaria, assim, não agindo com caridade, mas com solidariedade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2013 - Página 12679