Discurso durante a 36ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à proposta do Conselho Federal de Medicina de ampliar o número de casos em que o aborto é legal; e outro assunto.

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS, LEGISLATIVO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES).:
  • Críticas à proposta do Conselho Federal de Medicina de ampliar o número de casos em que o aborto é legal; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2013 - Página 12712
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS, LEGISLATIVO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES).
Indexação
  • CRITICA, PROPOSTA, CONSELHO FEDERAL, MEDICINA, APOIO, REGULAMENTAÇÃO, ABORTO, LIMITAÇÃO, PERIODO, GRAVIDEZ, REGISTRO, ESFORÇO, ORADOR, OPOSIÇÃO, DECISÃO, COMISSÃO, DIREITOS HUMANOS.
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, DESAPROVAÇÃO, NOMEAÇÃO, PRESIDENTE, COMISSÃO, DIREITOS HUMANOS, CAMARA DOS DEPUTADOS, REGISTRO, OPINIÃO, ORADOR, RELAÇÃO, CRITICA, PROCESSO, RESULTADO, DEMOCRACIA, DEFESA, SENADOR, RESPEITO, DIFERENÇA.
  • CRITICA, TENTATIVA, RETIRADA, ESTALEIRO, ESTADO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), DESAPROVAÇÃO, ORADOR, ATUAÇÃO, EMPRESARIO, GOVERNADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, aqueles que nos veem pela TV Senado, que nos ouvem pela Rádio Senado e aqueles que acompanham pelas redes sociais o Senado da República brasileira, Senador Paim; na galeria, quero cumprimentar ali o Léo, o Cláudio e o Diego, que são assessores e pessoas que convivem com a nossa luta diariamente de recuperação de drogados há mais de 30 anos, que convivem com a nossa luta, dando esperança e vida, muito mais que pão, enxugando lágrima, até porque, quando a ciência diz que uma lágrima é H2O mais cloreto de sódio, é água e sal, a lágrima é água salgada. É isto que a ciência diz sobre a lágrima: H2O mais cloreto de sódio, mas a ciência não sabe nada sobre lágrima, Senador Paim. Quem sabe muito sobre lágrima é uma mãe que tem um filho drogado, é alguém que tem filho drogado, é alguém que tem alguém envolvido com vício neste País. Aliás, quando eu falo em drogado, eu estou falando de tudo, das drogas que estão na chamada legalidade, porque o drama do Brasil não é crack -- há uma confusão nisso tudo --, o drama do Brasil é bebida alcoólica.

            Viu a última aqui do rapaz alcoolizado, que levou o braço de um pobre trabalhador por causa da violência da sua bebedeira e, depois, ousadamente, jogou o braço dentro de um córrego? Por isso, Senador Paim, eu agradeço muito a Deus a oportunidade de exercer esse sacerdócio de estender a mão àqueles que sofrem.

            O que me traz, Senador Paim, a esta tribuna é porque, amanhã, nós, que compomos a Frente da Família, e V. Exª é um desses Senadores que compõem a Frente da Família no Brasil -- Frente essa que eu tenho o privilégio de presidir. Alguns assuntos a Frente tem tomado em suas mãos, alguns assuntos dramáticos que dizem respeito à vida e ao direito de viver, como a questão do aborto.

            Esta semana, o Brasil conviveu com uma declaração desastrosa do Conselho Federal de Medicina. O Conselho Federal de Medicina veio a público como se viesse dar uma grande notícia de algo absolutamente importante, a descoberta da roda, a solução, a saída para um problema grave deste País: anunciou que apoiaria e que apoia a legalização do aborto até 90 dias; fez uma resolução à proposta de aborto.

            Aliás, a vida começa na concepção e, com 90 dias, é um brutal assassinato. A vida começa com a concepção e o aborto, na concepção, já é um brutal assassinato. Avalie isso, Senador Paim, V. Exª, que é um militante da vida; V. Exª, que é um militante dos direitos humanos.

            Eu vejo que as pessoas ficaram estarrecidas com a morte da Isabella Nardoni, uma criancinha de cinco anos. E, se nós fizermos esse debate com o Conselho Federal de Medicina e perguntarmos a eles: o que os senhores acham -- e sabe, Senador Paim, eu estou falando aqui em nome de muitos médicos no Brasil que estão revoltados. Não é que eles não concordam; eles estão revoltados com essa posição --, se nós perguntamos a eles: os senhores se lembram do advento da Isabella Nardoni -- todos se lembrarão --, com cinco anos de idade? O que os senhores acham de o pai ter jogado a criança pela janela? Se eles disserem: “É um absurdo!” Ora, quem concorda com aborto de um feto aos três meses de idade não pode achar que é um absurdo os pais terem-na jogado pela janela, porque quem mata com três meses está disposto a autorizar a matança com cinco, com dois, com três, com oito, sei lá o quê!

            Quando aquele garoto foi arrastado, no Rio de Janeiro, João Hélio, V. Exª deve se lembrar muito bem, o João Hélio arrastado…

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Fizemos audiência pública aqui e V. Exª participou.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Era um adulto e dois menores. Que menor! Dois machos de 17 anos de idade, capazes de assassinar uma criança, que entraram no presídio com status de herói pela brutalidade do crime. Mas, e essa criança que foi arrastada na rua e que chocou o País, o que me dizem os abortistas? Porque matar João Hélio e matar com 90 dias dá no mesmo tamanho, Senador Paim.

            Eu poderia citar n casos hoje aqui. Estava falando com a nossa colega e ex-Senadora Heloisa Helena e a convidei para vir para esta reunião, amanhã. Ela tem todas as dificuldades, por um mandato de vereadora que exerce, mas certamente tentará vir à Frente Nacional em Defesa da Vida, que combate o aborto.

            Eu quero citar e até lembrar minha querida amiga de Colatina, Selma, esposa do companheiro José Leal, que faleceu, do nosso Partido, mas que faz parte da Associação Espírita do meu Estado. As organizações espíritas foram se reunir comigo, semana passada, Senador Paim, e me levar um documento, pedindo empenho e luta para que nós -- eu, o Senador Paim e tantos outros -- não permitamos a barbaridade da legalização da mortandade, do assassinato coletivo da vida neste País.

            Quero avisar ao Conselho Federal de Medicina de que eles não vão ter tempo bom pela frente. Estamos a postos na defesa da vida. Os que defendem a legalização do aborto, Senador Paim, muitos dizem, é uma forma de preservar a vida das mulheres que querem praticar o aborto. A lei não se faz da exceção para a regra. A lei é feita da regra para a exceção e a regra é não matar. A lei não é feita para um caso excepcional. O caso excepcional tem que ser tratado como caso excepcional. A lei é feita da regra para a exceção e não da exceção para a regra.

            Ora, legalização de feto, a mortandade, o aborto até 90 dias é autorizar o Brasil a fazer filas, a ocupar os seus leitos de hospital após o carnaval, após o São João, após as festas fora de época dos Municípios, dos Estados, onde as pessoas bêbadas, drogadas, sem responsabilidade com a vida, engravidam e, num momento seguinte,

            imagine, elas buscam o aborto. Imagine esta desgraça legalizada, a pessoa não tem nem o que pensar, porque o Brasil vai se rebaixar a um nível tão rasteiro, tão rasteiro, porque é uma proposta que banaliza a vida.

            É para esta Comissão de 11 Senadores, de que faço parte, que está indo essa resolução do Conselho. Aliás, quero propor ao Senador Pedro Taques, que é o Relator da Comissão, ao Senador Eunício, que convoquem o Presidente do Conselho Federal de Medicina para que venha à Comissão explicar. Quem sabe ele consiga nos convencer. Quero propor a V. Exª, que é da Comissão de Direitos Humanos comigo, da qual é Presidente a nossa querida Senadora Ana Rita, para assinarmos um ofício convidando o Presidente do Conselho Federal de Medicina para vir à Comissão de Direitos Humanos, Senador Paim, para que explique esta nefasta posição de um Conselho de Medicina estar a favor do aborto até 90 dias, quando uma vida já respira, o coração já bate, já há uma vida formada.

            Amanhã, às 10 horas, teremos uma reunião, no meu gabinete, com a Frente da Família. E quero convocar V. Exª, que é membro, é defensor da vida, é um dos integrantes dessa Frente Parlamentar da Família, reconhecido e conhecido no Brasil pelas suas lutas em favor da vida, em favor dos interesses daqueles que precisam de quem lute por seus interesses. Eu quero convocar V. Exª, Senador Paim, para amanhã, às 10 horas da manhã. De antemão, quero antecipar que faremos uma guerra, como sempre temos feito, e avisar ao Conselho Federal de Medicina que a proposta deles já nasceu abortada.

            Senador Paim, dirijo-me a V. Exª, que é do PT, que era Presidente da Comissão de Direitos Humanos, hoje é a Senadora Ana Rita, do meu Estado, pessoa que abraço e de quem tenho orgulho por conta da história desta moça. De família simples, cresceu nos movimentos da igreja, foi vereadora de Vila Velha e mora no mesmo bairro, em Vila Velha, no bairro de Cobilândia.

            Não estou autorizado, Senador Paim, a defender ninguém. Não recebi procuração para isso. Mas eu queria falar um pouco sobre a polêmica da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Aqui, falo igual ao Pastor Silas Malafaia. Quem está lá presidindo essa Comissão é Deputado Marco Feliciano. Eu tenho divergências com esse parlamentar sobre muita coisa do que pensa, sobre muita coisa do que fala.

            Mas eu preciso fazer uma reflexão em nome do Parlamento, fazer uma reflexão em nome do voto, em nome do respeito à liberdade. Nós vivemos numa democracia -- estou certo, meu Presidente? -- e a democracia é plural. A Câmara dos Deputados é o rosto do Brasil. Correto, meu Presidente? É a cara do Brasil! O que temos na Câmara Federal? Lá, temos representantes de sindicatos, que representam diversas classes de trabalhadores de diversas áreas. Lá, temos pessoas que foram eleitas para defender companhias aéreas. Lá tem o que eles chamam de bancada da bola, bancada ruralista, bancada da luta. Lá tem aqueles que defendem escola de samba, que defendem legalização de jogo de bicho. Lá tem representatividade de católicos -- estão lá o Deputado Carimbão, o Deputado Eros Biondini, que hoje é Secretário lá em Minas, um bom Deputado --, representante de evangélicos, de espíritas, de deficientes, professores, médicos, profissionais liberais de toda ordem. É uma Casa plural. É a cara do povo a Câmara. Esta é a Casa da Federação, aquela é a Casa do povo. Se eu estiver errado, V. Exª, que nasceu os dentes já com mandato, me corrija.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - V. Exª está certo: é a Casa do povo. E o símbolo da democracia é o Congresso Nacional.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Então, esse Deputado de São Paulo teve 212 mil votos e veio para o Congresso Nacional. Veio com um balaio de voto nas costas. E, numa democracia, você pode ser a favor de algo ou contra algo. Você pode defender com ferocidade as suas bandeiras e ser respeitado por isso. E respeitar o outro que, na pluralidade, é contrário a você.

            Eu respeito plenamente a Senadora Marta Suplicy. Pensa diferente de mim, em quase tudo, eu acho que em tudo; em pouca coisa nós convergimos. Eu discordo dela: discordo dela na questão da homofobia, discordo dela na questão do aborto. Ora, discordo numa série de coisas; como ela discorda de mim. E eu a respeito; e ela me respeita, e muito.

            Posso ter discordâncias com V. Exª, e lhe respeitar, e respeitar a pluralidade da democracia. V. Exª pode discordar de mim com veemência e fazer um debate veemente. Eu fiz um debate aqui veemente com a Senadora Fátima Cleide, mas nunca lhe faltei com o respeito.

            Da Comissão de Direitos Humanos, hoje, o primeiro presidente fui eu. Era Comissão de Legislação Participativa.

            Ora, tudo na Câmara dos Deputados e no Senado se trata na base da proporcionalidade. Correto, Senador Paim? O Senador Jorge Viana é o Vice-Presidente desta Casa, porque a segunda maior bancada é o bloco de base do Governo, é a segunda pedida. A maior é o PMDB.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Por isso, o Presidente eleito.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - E, depois, o Jorge. E assim sucessivamente. A segunda pedida é o segundo bloco maior, que é o PSDB, e aí o Senador Flexa ficou na 1ª Secretaria. Assim também é na Câmara.

            Como se trata a questão das comissões, Brasil? Preste atenção. A questão das comissões se trata também na base da proporcionalidade. Correto, Senador Paim? Então, na base da proporcionalidade; e, quando não há proporcionalidade, na base do acordo de partidos. E, na base da proporcionalidade, na base de acordo de partidos, coube ao PSC, na Câmara, a Comissão de Direitos Humanos.

            Qualquer um membro daquele partido pode reivindicar a presidência. Qualquer um pode reivindicar a presidência. A presidência de uma comissão não quer dizer -- não é verdade, qualquer afirmativa é mentirosa -- que quem tem que assumir a presidência é alguém que pense igual.

            Ora, o Deputado Marco Feliciano pode pensar diferente do Deputado Jean Wyllys. Pode, sim, e até deve, porque fica bem para a democracia. E o Deputado Jean Wyllys precisa e deve, a bem da democracia, no que pensa, e respeitando o que pensa, ser contra o Deputado Marco Feliciano, no que pensa nas suas bandeiras, mas são obrigados e devedores, ambos, do respeito um ao outro, porque nós temos dívidas com os homossexuais.

Temos. E qual é a dívida? É a que a bíblia fala: a ninguém deveis nada, exceto o amor e o respeito. Nós devemos o respeito, como eles também nos devem o respeito. E se, na pluralidade da democracia, na proporcionalidade ou em acordo de partido, coubesse ao PSOL, do Deputado Jean Wyllys, a presidência da Comissão de Direitos Humanos, caberia ao Deputado Marco Feliciano votar nele, respeitá-lo e ainda fazer discurso, porque quem preside uma comissão não quer dizer que é ele quem vai aprovar projetos sem o colegiado.

            V. Exª acabou de sair da Comissão de Direitos Humanos. O presidente ordena os trabalhos, ele medeia os debates e, esgotados os debates e os prazos, vai-se à votação, e, em uma democracia, na votação ganha a maioria. Ganha a maioria. E esse rapaz, o partido dele, está sendo achincalhado, achincalhado.

            Senador Paim, a Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado é a Senadora Ana Rita, do PT. Muita coisa diverge de mim e em muita coisa divirjo dela. Na proporcionalidade, no acordo, da presidência saía V. Exª e entrava a Ana Rita. Eu fui para lá votar, V. Exª lá estava e falei sobre ela, de maneira que me emocionei pela história dessa moça capixaba, de família simples, chegou ao Senado, fez um belo trabalho na CPI, sabe de crimes cometidos contra mulheres neste País.

            Imagine V. Exª que se eu fosse para lá, levar um monte de gente que pensa como eu e é contrária ao que pensa a Senadora Ana Rita para vaiá-la, para levantar faixa e fazer um discurso dizendo que ela não podia assumir essa Comissão! Ora, que mundo é esse em que estamos vivendo? Que mundo que estamos vivendo?

            E criaram-se os movimentos de que o moço não pode. Tomaram conta das ruas. Eles fazem agora manifestação até na frente da igreja, e isso aí, pra mim, é ofensivo. Na frente da igreja, como se isso fosse uma disputa de homossexuais e evangélicos.

            Eu queria pedir às pessoas que entendessem que evangélico, que a confissão de fé nada tem a ver com esse momento. O que tem a ver é o seguinte, Senador Paim: se o Brasil todo pensar diferente desse Deputado, se o Brasil inteiro, quase 200 milhões, pensar diferente desse Deputado, ainda há 212 mil que pensam igual a ele, que mandaram ele para essa Casa para representá-los, para falar em nome deles, para defender as bandeiras que ele defende.

            Então, na pluralidade, é como se estivessem dizendo: Não, Ronaldo Caiado é ruralista, Ronaldo Caiado não tem condição de ir para a Comissão de Meio Ambiente.

            Como não tem? Se, na proporcionalidade, a Comissão de Meio Ambiente ficar para o DEM, Ronaldo tem todo o direito de querer ser presidente, se ele quiser, e tem que ser respeitado pelos seus companheiros.

            Quem disse que o Senador Blairo Maggi não tem condição de ser presidente da comissão? Tem sim. Por que não? Não vai influenciar em nada. Ele vai ter que ser mediador, presidente, presidir, fazer a pauta com seus pares, e mediar o debate. Mais do que isso, nada. Chamar as audiências públicas, e mais do que isso, nada.

            Avalie o senhor se eu não tiver condição de presidir a Comissão de Direitos Humanos do Senado da República! Porque eu penso diferente da Senadora Marta? Porque eu penso diferente de outros Senadores? O que é isso? O que é isso? Aí eu fico me perguntando. Começaram a fazer as conjugações no pessoal e começaram a dizer que ele estava desautorizado, porque ele é racista.

            Tem coisas na vida que eu só respondo por mim. Acabei de falar aqui do direito por conta do voto, do direito por conta de uma eleição democrática num país democrático. Até aqui eu defendo todos. Todos. Todos.

            Senador Paim, que ele é racista, porque ele colocou no Twitter que os negros vieram de Caim. Foi a mancha que Deus colocou em Caim. Eu não sei, nunca perguntei em que contexto esse rapaz falou isso. Porque é o seguinte: quem tem boca fala o que quer; mas, se você não consegue sustentar o que você falou, quem fala pelo cotovelo é obrigado a desmentir com a boca.

            Não sei em que contexto falou. Eu sei, eu estudei no Seminário Teológico Batista de Recife, um seminário muito importante, era o maior da América Latina, e eu aprendi que muitos filósofos de uma era não contemporânea nossa, filósofos da era do século XVI, e vieram avançando -- filósofos teólogos, teólogos filósofos, filósofos isolados. Eles procuravam uma explicação, uma teoria para isso. E, na época do apartheid, nos Estados Unidos, essa filosofia se intensificou. E aqueles que queriam o apartheid, filósofos que eram a favor do apartheid, da segregação racial, da humilhação dos negros, esses começaram a difundir essa teoria maligna, indecente. Era uma teoria -- eu não sei em que contexto o Deputado falou; quem tem que falar o contexto é ele, não eu --, mas eu sei que essa indignidade ocorreu.

            Pois bem, que ele seja convocado a falar sobre isso, não de maneira jocosa, mas de maneira séria. Se errou, pedir perdão; se não errou … Até porque alguém já disse que só os tolos não mudam. E é possível que ele tenha falado em um contexto, e a sua fala tenha sido pinçada; pinçaram a fala nos seus interesses e difundiram na Internet. Isso aqui tudo é conjectura.

            Veja V. Exª: eu li que a Xuxa disse que ele é um monstro. Ela leu, e, realmente, o cara que pega uma matéria e lê -- está lá escrito -- que o sujeito disse que os negros são amaldiçoados, a primeira reação nossa é essa mesmo…

(Soa a campainha.)

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - … não é? Esse bicho é um monstro, não é, Senador Paim? - nós que nascemos com os dois pés na senzala. Mas a redenção é uma coisa que cabe a todos.

            Eu me lembro, quando comecei a CPI da Pedofilia, e não foi um tempo muito longe. Foi quando a Xuxa começou a carreira dela. Ela fez um filme em que leva uma criança de 10 anos para a cama. Mas hoje ela não faz publicidade contra abuso? Corajosamente, depois da Lei Maranhão, ela veio a público dizer que foi abusada na sua infância.

            E a sociedade entendeu aquele momento para trás.

            A Bíblia diz: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei vós também”. Não esse sujeito que vive pedindo cartão de crédito e tirando oferta da igreja. Quero falar sobre mim: eu acredito no dízimo, eu sou dizimista, Senador. Sou dizimista e sou ofertante, graças a Deus! Acredito na Bíblia. Mas tem gente que não acredita, e você tem de respeitar quem não acredita. Conheço muitos pastores, como o Pastor Silmar Coelho, que prega fazendo piada. O pastor das minhas filhas, um sujeito maravilhoso -- quero até abraçá-lo, porque sua mãe morreu --, faz piada o tempo inteiro. Se um sujeito pega uma mensagem do site, pega um trecho do site em que ele conta uma piada -- tem dia em que ele prega vestindo a camisa do Flamengo; tem dia em que prega vestido de Super-Homem --, pode fazer o escárnio que quiser.

            E aí ouvi o Deputado dizendo para a Sabrina Sato, no Pânico, ontem, que ele brincou, quando fazia oferta. Ele tinha que ter sustentado que brincou e dizer: “Olha, eu tiro a oferta mesmo, porque sou pastor, não vou contar mentira para vocês, vou continuar fazendo”. Até porque, na era da Internet, o que está gravado está gravado, os vídeos estão lá. E aí eles vão agora entrar no Supremo, entraram na Comissão de Ética da Câmara para pedir a cassação dele porque descobriram um vídeo dele dizendo que satanás está no Governo, que satanás está na Câmara dos Deputados. Satanás está em todo lugar! Deus perguntou: “De onde vens?” E satanás respondeu: “De rodear a Terra e passear por ela”.

            E aí ele quebrou o decoro, Senador Paim, expôs a Casa, dizendo que Satanás estava…

            Futuro Governador do Distrito Federal, Senador Rodrigo Rollemberg!

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - (Risos.)

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Ele agora olhou… Gostou, não é?

            Quando o Deputado disse que o diabo estava na Câmara, você já não estava mais lá, nós já estávamos aqui. Veja bem: as pessoas acharam isso um horror! Um horror o cara falar isso em público, que o diabo está na Câmara Federal!

Ora, o diabo chega primeiro à igreja, senta-se no primeiro banco; o que dirá aqui!

            No dia em que foi votada aqui a violação da Constituição, que foi votado o relatório do meu amigo querido do coração, Senador Vital do Rêgo, tirando de nós os royalties que nos pertencem, eu disse: “Satanás só pode estar no couro de vocês”. E afirmo: aquele dia, naquela votação, o diabo estava solto aqui.

            Vai pedir minha cassação? Sabe por que, Rollemberg? Você era um menino. Nós, nós -- você tem cabelos brancos, eu não tenho -- éramos meninos. Na Constituinte, Paim, você estava lá, barbudão, valente, brigando pelo salário mínimo, e nós lhe assistindo pela televisão. Não é, Rollemberg? Um cidadão brasileiro falou pior e ninguém pediu a cassação dele. Na Constituinte, Luiz Inácio Lula da Silva disse: “No Congresso Nacional tem 300 picaretas”. Não foi, Paim? Foi ou não foi?

(Soa a campainha.)

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Virou até canção.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Virou música, foi glamourizado e ninguém pediu a cassação dele. Agora, só porque o outro falou que o diabo estava solto lá… E não está, não? Virou um vilipêndio. Virou um linchamento público. Linchamento público. Uma anarquia.

            Senador Paim, e se a moda pega?

            Eu caminho para o final do meu pronunciamento, referindo-me ao Presidente da Câmara, Henrique Alves, por quem tenho respeito e quero continuar mantendo. Henrique Alves está articulando para que o Deputado renuncie à Presidência! Está conversando com os Líderes do seu Partido para tirá-lo!

            Tirá-lo, Presidente Henrique Alves? O seu papel não é esse, não. O seu papel é fazer cumprir o Regimento Interno, Deputado Henrique Alves! O seu papel é falar dessa pluralidade democrática, porque, se a moda pega, Presidente, amanhã ninguém pode ser presidente de mais nada. Sair? Esse rapaz não é CC-5 de ninguém. Não é CC-2, CC-3. Não foi nomeado por ninguém. Veio para cá com o voto do povo de São Paulo.

            Senador Paim, olhe a reflexão que faço, chamando a atenção do Presidente Henrique: “Presidente, o senhor se esqueceu de que, na sua eleição agora, falaram tanta coisa do senhor, levantaram tanta coisa? Tanta coisa saiu na mídia! O senhor peitou e ficou na Presidência.

            Senador Paim, fizeram tanta ilação com esse menino do Ceará, por quem tenho o maior carinho e respeito, o Líder do PT agora na Câmara, o irmão do Genoíno, dizendo que aquele cara com os dólares nas cuecas era ligado a ele, fizeram aquele auê todo em cima dele, fizeram tanto isso, mas não houve nenhuma manifestação para tirá-lo da Liderança quando ele assumiu. E, se isso fosse verdade, porque nunca vi escrito em lugar nenhum que se constatou, que fechou o processo, que o processo constatou realmente que o Deputado estava envolvido… Nunca ouvi isso, nunca li! Se alguém tem, mande para mim. Se alguém tem, mande para mim! Mas ninguém fez nenhum movimento para tirá-lo da Liderança. Citando isso, ninguém colocou na Internet os vídeos do cara sendo preso com os dólares nas cuecas. Ninguém fez nada disso! Ora, são dois pesos e duas medidas?

(Soa a campainha.)

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Não tem um movimento em frente à CCJ. O sujeito de quem eu mais gosto naquela Casa, por quem tenho respeito, por amizade. Cada qual responde por si. É tempo de murici, cada qual cuide de si. Eu cuido dos meus atos e eles cuidam dos deles, ele cuida do dele, mas eu gosto demais do João Paulo, gosto demais. Não tem um movimento em frente à CCJ, e o João Paulo está lá, e não foi agora condenado no mensalão? Um cara com a história do Genoíno, que eu respeito -- e a liberdade que temos hoje no País se deve a essa gente --, e ele sabe o respeito que lhe tenho, mas não houve um movimento lá. Isso tudo é pano de fundo! Senador Paim, isso tudo é pano de fundo! Isso tudo é pano de fundo!

            Agora, eu quero dar um conselho ao Deputado. Eu acho que o senhor tem que dizer, Deputado, o seguinte: ninguém me colocou aqui, não fui nomeado, não saí no Diário Oficial de ninguém; eu vim com 212 mil votos de São Paulo.

            Fazer uma comissão paralela de direitos humanos? Isso pode? Quer dizer que só pode ser de direitos humanos quem concorda com o que as pessoas querem? Eu sou a favor da redução da maioridade penal, sou um guerreiro disso no Brasil, não posso ser da Comissão de Direitos Humanos! Porque eu luto pelo interesse dos humanos que querem ter direitos, entendeu, Senador Rollemberg? Eu luto pelos direitos dos humanos que querem ter direitos! Eu não posso, então? Eu sou contra o aborto, eu não posso, porque os abortistas não querem? Que conversa é essa? Eu sou contra o PL nº 122, eu não posso? Que conversa é essa, doutor? Eu posso. Eu cheguei a esta Casa com quase 1,5 milhão de votos num Estado de 76 Municípios. Eu posso. E o povo do meu Estado me mandou para cá exatamente porque acredita nessas bandeiras que eu prego.

            Quero dar um conselho ao Deputado: Diga, sem medo: “Só tem um jeito de me tirar daqui: se me matarem. Só tem um jeito: se me sangrarem publicamente!” Até porque nem a sociedade acredita nem Deus tem compromisso com covarde. Nem a sociedade quer nem Deus quer frouxo! Veio pelo voto do povo. Diga: “Eu saio, mas morto! Morto!” De outra forma não tem como tirar.

            Tem 212 mil votos em São Paulo que mandaram esse cidadão para cá. Não tenho nada a ver com os seus atos, não conheço o seu passado, nada tenho a ver com ele e disse no começo: não sou eu e tenho discordâncias brutais, mas o que é certo é certo; o que é correto é correto; o que é honesto é honesto. E é assim que nós temos que fazer.

            Obrigado, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Esse foi o Senador Magno Malta, que faz um pronunciamento…

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Senador Paim, quero só fazer uma ressalva: amanhã eu vou falar sobre o Jurong, que o Eike Batista, juntamente com o Governador do Rio… E eu lamento, porque até o Governador do Rio podia ter se manifestado, vindo defender o Deputado da Comissão de Direitos Humanos, junto com o Eduardo, com o Prefeito do Rio, porque ele participou nas duas campanhas dos dois. Eles o levavam para o palanque porque sabiam que ele levava uma legião de assembleianos atrás dele. Então, ele falava: “Cabral é bom para o povo”. E o povo acreditou. Ajudou o Cabral, mas o Cabral não se manifestou para defender o rapaz. E o povo ia atrás dele por causa dessas ideias aí. E o Prefeito do Rio também não.

            Mas eu quero dizer que estão tentando tirar o estaleiro, tirar o Jurong do Espírito Santo -- e V. Exª estava falando de portos aqui. E nós estamos de longe vendo. E eu recebi, na semana passada -- e não sei se é um bilhete --, um comunicado do Sr. Eike Batista. E eu o respeito, porque gera trabalho, gera emprego, e quem gera emprego, na minha visão, gera honra. Então, eu o respeito, mas a atitude não merece respeito, porque estão trabalhando… E aqui há uma pessoa a quem o Espírito Santo deve, e nós gostamos. Há indicativos de que o Presidente Lula estava no meio desse negócio para tirar do meu Estado, o Espírito Santo.

            E, amanhã, volto a falar sobre esse assunto e dizer: Sr. Eike Batista, eu recebi o seu bilhete e eu vou ler o seu bilhete amanhã aqui na tribuna do Senado e vou falar o que o senhor precisa ouvir.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2013 - Página 12712