Discurso durante a 55ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à infraestrutura do País e preocupação com a elevação do custo Brasil.

Autor
Ivo Cassol (PP - Progressistas/RO)
Nome completo: Ivo Narciso Cassol
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Críticas à infraestrutura do País e preocupação com a elevação do custo Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2013 - Página 20600
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • REFERENCIA, ELOGIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PROGRAMA, TELEVISÃO, EMISSORA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), GRAVIDADE, SITUAÇÃO, INFRAESTRUTURA, PAIS, RESULTADO, FALTA, GESTÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, SETOR, TRANSPORTE, FERROVIA, PORTOS, REGISTRO, EXCESSO, VALOR, INEFICACIA, SERVIÇO, DEFESA, NECESSIDADE, AGILIZAÇÃO, PROMOÇÃO, MELHORIA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, ESFORÇO, EMPRESA, PLANEJAMENTO, ASSUNTO, REDUÇÃO, PERDA, FUNDOS PUBLICOS, PREJUIZO, APOIO, ORADOR, PRIVATIZAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, PORTO, OBJETIVO, AMPLIAÇÃO, EFICACIA, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO AGRICOLA.

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com alegria e satisfação que, mais uma vez, uso a tribuna desta Casa. Cumprimento especialmente nosso telespectador, que acompanha, mais uma vez, a sessão aqui do Senado. Ao mesmo tempo, também mando um abraço para os amigos, as amigas do meu grande e querido Estado de Rondônia, que sempre temos defendido nos quatro cantos desse pujante Estado que serviu de modelo da reforma agrária e, hoje, tem mais de doze milhões de cabeças de gado, uma economia forte e um povo que acredita na garra, na raça e na sua determinação.

            Quero aqui mandar um abraço para um amigo de Machadinho d’Oeste - além do Deputado Neodi, aquela grande liderança que é -, para o Messias Fernandes, que se comunicou com a gente, com o nosso gabinete, porque acompanha semanalmente e diariamente os trabalhos desenvolvidos aqui, nesta Casa. Além de cumprimentar os amigos, em nome dele, mando um abraço especialmente para as nossas crianças e para os nossos jovens. Além dos amigos e amigas que também cumprimentei, a todos os amigos e as amigas da terceira idade, que são exemplos de alegria, exemplos de satisfação, essas pessoas experientes, vividas, e que, no dia a dia, dão exemplo de vida não só para a gente, mas para os nossos filhos e para todo mundo.

            Ontem o Brasil inteiro, mais uma vez, acompanhou, estarrecido, a matéria veiculada pela Rede Globo, no Fantástico, que infelizmente mostrou, em nível nacional, a precariedade da nossa infraestrutura e o custo Brasil.

            E aí eu pergunto para quem está nos assistindo, à senhora dona de casa, aos Srs. Senadores, às Srªs Senadoras: quem paga esse custo Brasil? É só o Senador Ivo Cassol? Não! Quem paga esse custo Brasil é toda a nossa população. Quem paga esse custo Brasil, a falta de gerenciamento, a falta de competência, a falta de visão, a falta de gestão, quem paga isso é a sociedade como um todo, do mais pequeno ao maior, quando compra um quilo de açúcar, ou um quilo de sal, um quilo de farinha, um quilo de feijão.

            Quero, aqui, parabenizar o programa Fantástico, da Rede Globo, que, no dia 21, ontem, último domingo, exibiu uma matéria de extrema importância para o desenvolvimento do nosso País: deficiência estrutural nas ferrovias e portos faz o Brasil desperdiçar bilhões. Alguém pode dizer que estamos fazendo agora. Quero até parabenizar a Presidente Dilma, que é determinada e arrojada, mas ela tem que colocar muitos companheiros para correr, porque não planejam, não administram, não tiram o pé do chão e deixam esse gargalo, infelizmente, atrapalhando o nosso País.

            O Brasil produz muito, mas não tem condições de entregar nos prazos por causa da falha no transporte. São investimentos previstos em mais de R$28 bilhões. Infelizmente a gente vê isso. Dessa vez, o Fantástico focou nas ferrovias e portos. No preço de tudo que nós compramos, 20% são os custos de transporte. Vocês sabiam disso? Vinte por cento do que a senhora, dona de casa, compra, do que o senhor compra são transporte! Isso se transforma em R$2,00, em cada R$10,00, em prejuízo para o nosso consumidor, para a nossa população. E tem consequência.

            Este ano, por exemplo, o Brasil teve uma supersafra de grãos. E a comida ficou mais barata? Não. O tomate que ficou mais caro. Mas, só o tomate? Não. O feijão também ficou mais caro. A nossa soja, que era vendida a peso de ouro, essa, sim, ficou mais barata. Perdemos espaço e, ao mesmo tempo, quando pensamos que o produto ficou mais barato, o preço do transporte fica mais caro todo ano. De 2003 a 2011, o frete dessa lavoura mais do que triplicou. É uma situação absurda, e essa conta acaba sendo de todos nós.

            A velocidade de que o Brasil precisa ainda não entrou nos trilhos. É preciso uma camionete fazer as vezes do trem para percorrer a Ferrovia Norte-Sul do centro do País. Entre Palmas, em Tocantins, e Anápolis, em Goiás, há 700 quilômetros que ainda não podem ser chamados de ferrovia. O País já gastou, já investiu R$5.1 bilhões e, depois de duas décadas, continua esperando pelo trem. São mais de 700 quilômetros desde Palmas, no Tocantins, até o perímetro urbano de Anápolis, em Goiás. E aí, faltando apenas 6 quilômetros para chegar ao pátio de manobras, é o fim da linha. Não que este pátio exista. Depois do túnel, há o espaço e as pilhas de trilhos, que, de tanto tempo estocados, estão perdendo a garantia.

            Para o Ipea - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, esse é o tipo de situação que o Brasil não pode mais permitir se quiser se desenvolver.

            Carlos Campos, economista do Ipea: a hora de fazer bem feito é agora. Porque não adianta fazer um projeto vagabundo, um projeto pela metade, começar uma obra e dali a pouco isso dar com os burros n’água. É prejuízo, é dinheiro público que, infelizmente, vai para o ralo.

            Só agora o Ministério dos Transportes constatou que o aço dos trilhos comprados da China... Não quero aqui culpar o novo Ministro, porque assumiu há pouco, o Ministro César Borges, mas, infelizmente, os técnicos deveriam ter verificado que a dureza necessária do material é abaixo da qualidade, por isso a quantidade de carga deve diminuir. Porque os trilhos são de péssima qualidade, tem de diminuir as cargas dos trens, caso contrário, vai derreter os trilhos da ferrovia. Vocês acreditam numa coisa dessas? Uma ferrovia que tem trilhos de ferro, se botar a carga como assim era planejado, infelizmente, vai derreter. O prejuízo é contabilizado dia a dia pelas empresas do distrito industrial de Anápolis. Só de uma delas saem, todo mês, caminhões que percorrem 300 mil quilômetros fazendo entregas.

            Para o atual Presidente da Valec - a empresa do governo encarregada de construir ferrovias -, a obra atrasou e ficou tão mais cara, porque foi feita sem um projeto executivo. Ou dito, Sr. Presidente, Senador Paim, um projeto básico, um projeto feito nas coxas, um projeto que, infelizmente, não leva a lugar nenhum. 

“Não necessariamente aquilo que foi feito a mais significa um dano ou um prejuízo ao erário, mas, evidentemente, uma falta de planejamento. Eventualmente, você pode ter má-fé e algum desvio na obra, que a gente tenta coibir de todo jeito. Mas uma falta de planejamento pode dar vazão a isso, sim” - afirma Josias Sampaio Cavalcante, Presidente da Valec.

            Agora a Valec fará os projetos antes de qualquer nova licitação. Mas parece impossível ter chegado até aqui uma obra que começou há 26 anos, ainda no governo do nosso Senador e colega José Sarney.

            Por incrível que pareça, 26 anos! Entra governo e sai governo. Entra governo e sai governo.

            Ficou parado mais de 16 anos e não tiveram competência de fazer o projeto executivo. Isso, infelizmente, é conversa para boi dormir. O que tem, sim, e nós temos que admitir, é o lobby das indústrias de caminhões, que, por causa de meia dúzia de empregos nos grandes centros, inviabilizam o País inteiro.

            É com isso que não podemos concordar! É isso que não podemos admitir! A nossa infraestrutura, infelizmente, foi para o ralo. As nossas rodovias estão acabadas, arrebentadas, a exemplo da BR-364, que infelizmente está ceifando vidas todos os dias, todas as semanas.

            Tanto o diretor do DNIT, o general, como o Ministro garantiram que nos próximos dias vão começar a restauração e a duplicação das marginais, nas curvas e nos morros. Assim esperamos. Infelizmente já estamos cansados de sermos enganados, de sermos iludidos. A burocracia muitas vezes trava. Não consigo entender o nosso País muitas vezes, por mais que eu esteja legislando, fazendo as leis.

            Poderia existir uma lei em que todas as obras estruturantes do País, Sr. Presidente, que têm o interesse social da Nação brasileira, não poderia ter um órgão ambiental, um órgão não sei do que do Estado que sempre chega lá e coloca empecilho. Acham uma rã, acham um rato, acham um sapo, acham um calango e paralisam as obras. Todo mundo sabe que por aquele local vai ter de passar a rodovia. Todo mundo sabe que naquele local vai ter de ser construída aquela obra, aquela infraestrutura. Mas, infelizmente, fazem isso para valorizar e para alguém ganhar. E quem paga esse custo Brasil são vocês, somos nós, o povo brasileiro.

            Por isso, nós aqui no Senado temos trabalhado e, ao mesmo tempo, desejado que o nosso Presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, que preside da EPL - Empresa de Planejamento de Logístico - possa planejar este País como um todo. Você, Bernardo Figueiredo, foi tão criticado nesta Casa, teve dificuldade. Agora é o momento e a hora de provar que você tem condições e capacidade de planear essa infraestrutura logística de produção neste País do agronegócio. Criado pelo governo no ano passado para fazer os projetos de infraestrutura antes de as obras começarem e não depois que elas estiverem pela metade.

            Ao mesmo tempo, preparar um mapa de transportes que inclui mais de 10 mil quilómetros de ferrovias para escoar a produção e as cargas do País. A missão da empresa é investir em logística e evitar desperdícios.

            Nós precisamos qualificar melhor a preparação das obras, porque é isso que vai evitar aditivos e muitas vezes aditivos cabriteiros, obras inacabadas e contrato que se esgota antes da obra concluir, diz o próprio Bernardo.

            Ao mesmo tempo, Sr. Presidente, todo mundo perde. Nós ganhamos, como se diz aqui - eu vou falar a palavra de um caminhoneiro; todo mundo perde: “Nós ganhamos porcentagem [na produção], não somos assalariados [a maioria deles]. Nós estamos parados, nós estamos perdendo. Nós não ganhamos o dinheiro. Nós não temos salário fixo”, reclama um caminhoneiro que foi entrevistado pelo Fantástico.

            O engarrafamento de caminhões é o pior, porque, a cada vez que chega um trem, a estrada bloqueia. O viaduto que evitaria isso é obra do PAC - está parado. A exemplo dos viadutos de Porto Velho. Infelizmente, o ex-prefeito que passou por lá, um incompetente, cometeu falcatruas. Fizeram aditivo, pagaram parte das obras, não concluíram a obra e o povo de Porto Velho, a mercê da conclusão também daquela obra, como tantos outros viadutos por aí no meio do caminho.

            A dificuldade não é só fazer a soja chegar ao porto, mas fazer com que ela embarque nos navios. E aí é outra dificuldade, é outra situação difícil que ninguém consegue entender.

            Um País, um dos maiores do mundo igual ao nosso, que o que sustenta e viabiliza é a nossa produção agrícola, o agronegócio, com tantos discursando, falando, mas pouco planejando, ao mesmo tempo, poucos dias atrás, Sr. Presidente, movimentação aqui em Brasília contra a Medida Provisória dos Portos. A Presidente Dilma já mandou foi tarde essa medida provisória.

            Esses portos brasileiros já deviam ter sido privatizados há dez anos. Eu sei que muita gente foi contra a privatização, mas foi discurso de campanha política. Jà ganharam as eleições lá atrás. Agora tem que botar o Brasil para rodar, tem que botar o Brasil para andar.

            O que o Governo Federal não dá conta, o Governo do Estado não dá conta, o Município não dá conta de fazer, passa para a iniciativa privada que consiga dar conta do recado, do resultado para o País poder produzir muito mais.

            O Brasil não tem berço suficiente, o que quer dizer espaço e estrutura para carregar os navios. E aí se forma outro engarrafamento na estrada do porto.

            Um sobrevoo na aproximação do Porto de Santos mostra o tamanho do engarrafamento. Eu estou falando engarrafamento, não é mais da estrada, não é mais da BR, estou falando engarrafamento já de navios, mais de oitenta navios ancorados, na fila para atracar.

            Eles vão esperar, em média, não uma semana, ao custo de R$60 mil/por dia, mas até 60 dias. São R$60 mil/dia, US$30 mil/dia. Essa é a razão para que entre os BRICS, o grupo de países emergentes, o Brasil fique em último lugar em qualidade de portos e de ferrovias.

            “Se você olha praticamente em todos os portos, temos filas, filas e filas de navios. Dentro das baías, fora das baías. Isso daí alguém paga. Nós pagamos. Não há dúvida de que nós pagamos“ - destaca Cláudio Frieshtak, economista.

            Por causa do atraso no carregamento dos navios, a China cancelou há poucos dias a compra de dois milhões de toneladas de soja este ano.

            “O recente cancelamento de exportações de soja é uma demonstração clara de que o Brasil tem condições de vender, mas não tem condições de entregar nos prazos definidos”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

            Um armazém é o exemplo de como o sistema entra em colapso. Há três dias parou de receber soja porque está completo, com 135 mil toneladas de soja. Dá para carregar dois navios, só que não pode entregar, não pode carregar, porque não tem espaço no porto para os navios atracarem. Até quando vai continuar esse monopólio desses que querem mamar a custa do dinheiro público? E o País, o povo brasileiro, pagando os custos. Vão ter de esperar mais 15 dias para começar a carregar essa mesma soja. A empresa dona do armazém divide apenas um leito com outras três empresas. Assim, só consegue carregar dois navios por mês.

            Pelo menos um gargalo começou a ser resolvido. Desde sexta-feira, dia 19, o serviço público - e meus parabéns pela determinação da Presidente Dilma, da Receita Federal, da Vigilância Sanitária, do Ministério da Agricultura, do Ministro da Agricultura - está trabalhando 24 horas. Mas foram necessários quantos anos para colocarem, 24 horas, a Receita Federal dentro dos portos? Precisou a imprensa, o quarto poder desta Nação, colocar na mídia, divulgar, para daí tomarem providências. (...)E aí se tomaram providências.

            Meus parabéns, porque hoje isso acontece 24 horas por dia nos portos de Santos, Rio e Vitória. Em maio, outros portos passarão a operar 24 horas por dia. Só isso deve aumentar a capacidade de embarque e desembarque em 25%, segundo a Secretaria Especial dos Portos.

Pela primeira vez, o Brasil fez planejamento de longo prazo. De maneira que nós sabemos o que o Brasil precisa de investimentos até 2030. No ano passado, nós movimentamos mais de 900 milhões de toneladas. Em 2030, deveremos movimentar 2,23 bilhões de toneladas em nossos portos.

            É o que afirma Leônidas Cristino, Ministro dos Portos.

            Os investimentos previstos são de R$58 bilhões, a maioria da iniciativa privada. É dinheiro que vai fomentar nossa economia.

            Na outra ponta da Ferrovia Norte-Sul, a soja já chega de trem, apesar de isso ainda acontecer em volume pequeno, porque a principal região produtora ainda não tem acesso à ferrovia.

            Dou o exemplo aqui, Sr. Presidente. Eu era Governador do Estado de Rondônia. Foram com um projeto para fazer a Ferrovia Norte-Sul. Estavam levando de Lucas do Rio Verde para chegar na região de Vilhena, chegando a ferrovia ao portal de entrada do nosso Estado de Rondônia. Eu disse naquela época, numa audiência pública na cidade de Vilhena: por que não fazer de Vilhena a Porto Velho, para levar os 5 milhões de toneladas de soja que produz o Mato Grosso e que produz o Cone Sul do Estado de Rondônia - Cerejeira, Vilhena, Cabixi, Comodoro, Sapezal e toda aquela região?

            Hoje, graças a Deus, com aquela iniciativa minha na época como Governador, na audiência pública em Vilhena, contra tudo e contra todos que estavam lá dentro...

(Soa a campainha.)

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - Eles estavam num projeto infelizmente equivocado; estavam em um projeto, infelizmente, que levava nada a lugar algum, quando, pela mudança que eu estava propondo, se levaria muita soja ao porto de Porto Velho para descer Itacoatiara e, ao mesmo tempo, levar para o resto do mundo afora.

            Ao mesmo tempo, no porto de Itaqui, no Maranhão, o problema não é a falta de berços. Há um novinho, que fica pronto em dezembro. Só que ele não pode ajudar a escoar a supersafra porque não há armazém para estocar os grãos, gente! Há portos, mas não há armazém!

            Então, por isso, temos de passar para a iniciativa privada. Precisamos passar para quem possa mesmo tocar.

            A obra do terminal de grãos ainda está na terraplenagem. Ao lado, em um terminal privado de uma empresa de mineração, mais de 3 milhões de toneladas de soja chegam de trem todo ano. É fácil ver como é mais eficiente. Um trem de 80 vagões é descarregado em 8 horas. Pela estrada, a mesma carga precisaria de 240 caminhões e 60 horas de descarga.

            Só que, para embarcar em um navio, essa soja precisa dividir esteira com ferro. Quando um embarca, o outro para ou espera. A empresa está construindo um armazém de esteira para duplicar a capacidade de embarque. Mas, gente, só agora? Tantos anos! Quedê os intelectuais, ou metidos a esperto, ou metidos a inteligente, que sempre estiveram na frente de tudo isso? Não planejaram este País?

            Infelizmente, é o custo que o Brasil paga, e o custo está exatamente em chegar e sair dos portos. Se você fizer o comparativo, o transporte de um contêiner de São Paulo para cá custa, mais ou menos, R$1,2 mil. Isso equivale a US$600. Com US$600, você atravessa a costa americana, da costa leste para a costa oeste, lá nos Estados Unidos. São 4.300km pelo que pagamos por 120km. É que lá vai de trem. Se a Ferrovia Norte-Sul estivesse pronta, o Brasil também sentiria o impacto de redução dos custos. E, em vez de esvaziar, encheria os cofres públicos. De 2007 até agora, teria faturado R$12 bilhões. Suficientes para pagar toda essa obra.

            Isso que nos entristece, mas não nos cala. O que nós precisamos, sim, é projetarmos e trabalharmos junto com o que está acontecendo nacionalmente, especialmente quando se planeja, especialmente quando se estuda, especialmente quando nós temos dos nossos produtores, de mãos calejadas, que produzem e, ao mesmo tempo, fazem a diferença.

            O nosso produto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o nosso grão é um dos mais competitivos mundialmente. Se nós conseguirmos reduzir esse custo, esse custo de transporte das nossas BRs, esse custo das ferrovias, esse custo de R$60 mil por dia de cada navio, que é o agricultor brasileiro que paga. Quem paga esse custo é você que produz a soja, é você que está aí produzindo o milho. Esse recurso poderia estar no bolso do nosso agricultor para comprar mais máquinas, mais equipamentos e, ao mesmo tempo, ajudar a desenvolver muito mais o Brasil.

            É por essa razão que eu aqui me solidarizo com todos aqueles que estão estudando e planejando, para que a gente possa, junto, pensar grande e pensar forte. Nós precisamos, sim, que a infraestrutura não fique paralisada, ou não fique estagnada. Só da maneira que está, nós queremos fazer, mas não fizemos acontecer. Nós precisamos é fazer acontecer, ao mesmo tempo que essas obras são obras estruturantes para a Nação, não só as ferrovias, mas, especialmente, as nossas rodovias. E as nossas rodovias, infelizmente, estão precárias.

            Está aí um exemplo, a BR-319, Sr. Presidente, que interliga Porto Velho a Manaus. Eu fui motorista de caminhão em 1977, 1978, 1979, e levava banana de Porto Velho a Manaus. Eu saía às 6 horas da manhã, 5 horas da manhã, e, às 6 horas da tarde, eu estava em Manaus. Hoje, existe um pedaço no meio em que não se passa. Trinta e cinco anos depois, trinta e quatro anos depois, estamos num novo século, estamos num novo milênio, estamos numa nova situação, e a burocracia, infelizmente, inviabiliza o Brasil ficar interligado pelas nossas rodovias, e está interditado parte daquele trecho.

            É isso que nos entristece muito, quando, na verdade, ela devia estar interligando, continuando a levar o progresso...

(Soa a campainha.)

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) -...e, ao mesmo tempo, preservando. Não é uma estrada que vai abalar o Planeta na questão ambiental; não é uma rodovia que vai abalar o nosso País em questões ambientais. Nós somos muito competentes e, além de competentes, somos muito trabalhadores, porque temos feito sempre da questão ambiental uma questão de sobrevivência.

            E onde nós podemos fazer uma obra estruturante e uma obra importante para o País, podemos pegar outro lugar degradado e recuperar essa área para poder ajudar a nossa Nação e, especialmente, o mundo afora.

            Além disso tudo, Sr. Presidente, a preocupação que nós temos é que o País inteiro precisa dessa infraestrutura na área da produção agrícola, em que hoje os Municípios se encontram quebrados; hoje, os Municípios se encontram falidos, porque não têm recurso, porque se está dando isenção para carros, mas não tem dinheiro para a infraestrutura, para fazer avenidas, para fazer ruas, para fazer asfalto nas nossas rodovias, e se anda a passos de tartaruga.

            Eu sou contra a isenção para quem compra um carro, porque quem tem dinheiro para comprar um carro coloca R$5 mil a mais para poder ajudar a comprar remédio, para colocar esse dinheiro na infraestrutura para poder construir mais asfalto.

            Está aqui o exemplo de Brasília, Sr. Presidente. Se sairmos daqui, dos nossos gabinetes, às 18 horas, nós não conseguimos andar. O povo não consegue sair daqui para as cidades vizinhas, circunvizinhas a Brasília. Se você vem de manhã cedo para o trabalho, a situação não é diferente; na hora do almoço, não é diferente. E olhe que Brasília é uma cidade planejada. Imagine então esses grandes centros!

            É por isso que temos de pegar esse recurso. “Ah, mas nós estamos segurando emprego.” No meu Estado, não estão segurando emprego nenhum. Estão segurando emprego em São Paulo.

(Soa a campainha.)

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - Estão segurando emprego na indústria. Mas a pessoa que compra um carro paga os R$3 mil a mais, paga R$5 mil a mais. Não é por causa de R$2 mil, R$3 mil que ela vai deixar de comprar um carro. Na hora em que superlotar e na hora em que todo mundo comprar os seus veículos, você vai oferecer o quê? Vai comprar um carro velho? Daí você dá um carro novo? Aí, vai chegar um momento em que ninguém mais vai precisar de carro a não ser aqueles que vão substituir os carros velhos por carros novos, carros usados.

            Portanto, sou contra isso, Sr. Presidente.

            Mas uma coisa boa a Presidente fez: ela deu para a cesta básica os incentivos fiscais que precisava. Mas precisamos de mais. Nós precisamos também desonerar os nossos remédios, porque quem compra medicamento é a maioria das pessoas idosas. Os jovens, os da média idade, muitos, até hoje, não tomaram sequer uma cibalena. Mas todas as pessoas da terceira idade, estes, sim, diariamente, estão precisando e tomam remédio e estão pagando os impostos, infelizmente caros. Estão, de uma maneira, contribuindo muito mais com a arrecadação.

            Mas vamos aumentar mais ainda no consumo de álcool, vamos aumentar mais ainda o imposto no consumo de cigarro, vamos aumentar mais o imposto em outro supérfluo para poder ajudar aqueles que, na verdade, têm mais dificuldade.

            Por isso, quero aqui, Sr. Presidente, nesta segunda-feira, deixar meu abraço, agradecer a sua compreensão por ter me dado alguns minutos a mais e me colocar à disposição mais uma vez, porque, como Governador do Estado de Rondônia que fui, Prefeito de Rolim de Moura que fui, me preocupei muito com a infraestrutura. Diziam eles no Estado de Rondônia, sou conhecido como o Prefeito das estradas. A sociedade, a população de Rondônia me conheceu como o Governador da infraestrutura, mas também investi na saúde, na educação, na segurança pública e, ao mesmo tempo, sem infraestrutura, não se vai a lugar nenhum.

(Soa a campainha.)

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - A infraestrutura, as nossas rodovias, as nossas ferrovias, nossos portos, Sr. Presidente, são iguais à espinha dorsal do corpo humano: se você não cuidar dela, você quebra, você fica na cadeira de rodas, fica enfermo. E aí, infelizmente, com muita tristeza, se vê ainda hoje, muitas vezes, em certos Estados, certas regiões, locais nessa situação.

            É isto que temos que fazer: planejar um Brasil moderno e eficiente, competente, para termos num futuro, e num futuro próximo, produtos agrícolas mais baratos na nossa mesa, com isso, diminuindo a inflação, que tem afetado a todos, especialmente pelo tomate.

            Um abraço a todos. Obrigado e até a próxima oportunidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2013 - Página 20600