Discurso durante a 80ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa de maiores investimentos pelos Governos Federal e Estadual no Estado do Rio Grande do Sul.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Defesa de maiores investimentos pelos Governos Federal e Estadual no Estado do Rio Grande do Sul.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2013 - Página 30254
Assunto
Outros > ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • CRITICA, FALTA, ATENDIMENTO, GOVERNO FEDERAL, PROPOSTA, INVESTIMENTO, ESTADO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ENFASE, ATRASO, CONCLUSÃO, OBRA PUBLICA, REESTRUTURAÇÃO, RODOVIA, REGIÃO SUL, MELHORIA, TRANSPORTE URBANO, REGISTRO, DESAPROVAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, LOCAL, COMENTARIO, IMPORTANCIA, POLITICA, REGIÃO, DEFESA, AMPLIAÇÃO, ATENÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NECESSIDADE, AREA.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Meu querido amigo Presidente, bravo Senador Paim, uma manchete que há tempos apareceu no Zero Hora - e eu estou com ela meio engasgada na expectativa de ver quando acontecerá - é esta aqui: “Promessas de Dilma e Tarso ao Estado chegam a R$6,9 bi”.

            Essa foi a manchete mais positiva que, no atual Governo da Sra Dilma e do Sr. Tarso, saiu com relação ao Rio Grande do Sul. Foi a vez em que nós abrimos, lemos os jornais e dissemos: “Bom, agora é para valer”. Mas já faz tempo. Já faz tempo que essas obras foram apresentadas, consideradas prioritárias, garantidas pela Presidente.

            Um levantamento mostrou sete obras, sete importantes obras essenciais para o desenvolvimento do Estado, prometidas, justiça seja feita, há tempos, por governos anteriores. A atual Presidente e o atual Governador, depois de um longo estudo, se reuniram a anunciaram à Nação: “Há verba e vai sair”.

             Mas, infelizmente, não sei se há certa ironia. O Zero Hora divide as promessas, as garantias, em dois tipos: as renovadas e as novas. Promessas renovadas que já existem há tempos e que Dilma e Tarso confirmaram. E novas, algo que não se esperava e que o Governo bancou e confirmou.

            As três obras novas contemplam trechos rodoviários relativamente curtos, mas que são, Senador Paim, absolutamente indispensáveis. Na BR-392, o trecho que liga Santa Maria a Santo Ângelo é absolutamente necessário para o escoamento da produção agrícola.

            Toda aquela região é importante, porque o escoamento dá uma volta enorme e às vezes tem de ir a Porto Alegre e de lá ir ao porto de Rio Grande. Essa estrada de Santo Ângelo a Santa Maria baratearia o frete espetacularmente. E quem olha o mapa e vê não acredita que essa estrada ainda não havia sido construída.

            Duas outras obras anunciadas pela Presidente e pelo Governador: a melhoria de um trecho da BR-116 e o prolongamento da BR-448, que servirão para desafogar os congestionamentos da região metropolitana.

            São trechos de menos de 100 quilômetros, e, no entanto, a entrada e a saída de Porto Alegre se transformam numa loucura. São trechos que permitem sair de Porto Alegre e ir em direção a Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias. É uma estrada de 120 quilômetros, boa, que normalmente se faz em uma hora e pouco, mas em que, na hora do pique, se gastam duas horas, apenas até a cidade de São Leopoldo, menos de 40 quilômetros.

            As duas outras obras anunciadas, a melhoria de um trecho da BR-116 e o prolongamento da BR-448, também servirão para desafogar o congestionamento na região metropolitana. Essas são as obras anunciadas, recebidas com aplauso, porque eram absolutamente necessárias, e nunca o Governo anunciava a sua construção.

            Depois, a Presidenta e o Governador renovaram promessas de quatro obras: ERS-010, a implantação do metrô em Porto Alegre, o erguimento da segunda ponte sobre o Rio Guaíba e a instalação, no Aeroporto Salgado Filho, de equipamento para pouso sob forte nevoeiro ou baixa visibilidade.

            A ERS-010, uma rodovia curta, que liga Porto Alegre a Sapiranga e desafoga a 116, foi prometida em dezembro de 2009. A obra tinha início previsto para 2011, mas, pelas últimas informações, sua construção efetivamente começará em 2015, quando então já estarão iniciando seus mandatos, no Palácio do Planalto e no Palácio Piratini, os sucessores da Dilma e do Tasso. Essas obras são fundamentais e baratas. Porto Alegre a Sapiranga - meu Deus do Céu! - é daqui até ali.

            Se tudo der certo, os futuros Presidente e governador é que farão a inauguração. Não se sabe, agora, se eles continuarão em palácios, reeleitos, porque depende da vontade soberana do povo.

            No caso da obra mais cara, essa, sim, difícil, o metrô de Porto Alegre. Dois bilhões e quatrocentos milhões, no mínimo, é o seu preço. O início das obras do metrô estava prometido para 2013, mas nem o processo de licitação está concluído. Eis aí uma obra prometida para a Copa do Mundo, mas que pode frustrar mais uma vez o povo do Rio Grande do Sul.

            Srs. Parlamentares, as manchetes da imprensa são importantes porque sinalizam que tanto a Presidente como o Governador, tanto a Srª Dilma como o Sr. Tarso sabem que essas promessas poderão ajudar nas suas reeleições ou poderão complicá-las.

            Pelo que tenho observado, a Presidente Dilma não tem, como nós imaginávamos, como nós pensávamos, um projeto econômico certo e definitivo para o País. Parece que ela age mais por reflexo do que por reflexão. E aí se incluem as promessas novas e as promessas renovadas feitas ao Rio Grande; aí se incluem as medidas casuísticas tomadas na área econômica.

            Eu penso, Senador Paim, que pesou muito na eleição do Governador Tarso Genro o fato de pertencer ao mesmo partido que a Presidente Dilma, o fato dessa identificação governo a governo, que já há tempos não vinha acontecendo, foi um dos grandes fatores definitivos da vitória do nosso Governador.

            Muitos dos eleitores gaúchos pensavam ou imaginavam, e alguns, muitos ainda, pensam e imaginam, que a intimidade partidária e de ideias entre Presidente e Governador serviria para que o Governo Federal investisse em obras essenciais no Rio Grande do Sul, o que há muito tempo não tem sido feito pelos vários Governos Federais em relação ao Rio Grande.

            Mas não foi o que aconteceu até agora. Pelo contrário, o Governo Federal vem mantendo a frieza com que os Governos Federais, ao longo da história, têm tratado o Rio Grande do Sul.

            O que se vê, em qualquer Estado do Brasil, são obras que aparecem, que são feitas, são realizadas, mas, no Rio Grande, tudo é um parto, imprevisível o momento da sua apuração. Os gaúchos pensavam na festa de Dilma e Tarso, que coloriram uma grande vitória, e alguns ainda esperam, eu diria até que muitos ainda esperam que, por ter começado a sua carreira política em nosso Estado, a Presidenta Dilma Rousseff teria um cuidado especial com o Rio Grande do Sul. Esse é um sentimento que, ainda hoje, predomina no Rio Grande do Sul, numa expectativa cada vez mais difícil de se concretizar.

            Aparentemente, a Presidente Dilma se mantém distante dos dramas que sacodem o nosso Estado, dramas que conhece muito bem, porque viveu lá uma grande parte de sua trajetória política.

            Também causa estranheza ao Rio Grande do Sul a administração do Governo Tarso.

            Há quem diga que sua gestão é, depois da redemocratização, talvez a mais tímida e que menos tem conseguido enfrentar os problemas do Estado. Em outras palavras, a administração de Tarso estaria conseguindo jogar para baixo indicadores econômicos e sociais, que já não eram bons.

            O Rio Grande do Sul estava sempre, na história, lá em cima na educação. Hoje está nos últimos lugares. O Rio Grande do Sul sempre esteve nos altos índices da saúde. Hoje está lá atrás.

            A partir de agora, fala-se que Tarso Genro vai legar uma herança pesada ao seu sucessor, porque as finanças do Rio Grande do Sul, hoje fragilizadas, deixarão a perspectiva de um difícil mandato, de uma gestão dura para o próximo governador. Por isso há quem pergunte: "será que o Governador Tarso Genro vai mesmo tentar a reeleição?" É a pergunta que as manchetes dos jornais colocam aqui e acolá.

            Nós todos sabemos, como sabe o atual Governador, que o vitorioso da eleição de 2014 vai encontrar um Rio Grande sem reservas financeiras, sem recursos em caixa para sustentar uma pesada máquina estatal e sem fôlego para enfrentar os gargalos que asfixiam a economia, as empresas, os trabalhadores.

            O Rio Grande do Sul e a sua gente sabem que os desafios e obstáculos ao progresso do Estado não se vencem nem com promessas novas, nem com promessas antigas renovadas. Deve ser por isso que, no Rio Grande, Tarso Genro e os políticos de todos os partidos vivem e convivem com a maldição da reeleição.

            O Rio Grande do Sul, como mostra a nossa história, é uma terra que não costuma reeleger seus governantes. Após a redemocratização, a partir da volta das eleições diretas de 1982, nenhum partido, absolutamente nenhum partido, conseguiu manter-se por dois mandatos sucessivos no Palácio Piratini.

            Esta é a lição que todos nós políticos do Governo e da oposição devemos aprender com humildade e com sabedoria: a política não vive de promessas, nem de novas promessas ou de promessas renovadas; a política se renova e se reforça com a força e a consistência das promessas cumpridas. Promessa cumprida é o que tem de mais importante na biografia de um homem público e é o que todos nós sabemos e que o Brasil e o Rio Grande esperam de nós.

            Nesses 36 anos desde que cheguei aqui, V. Exª sabe, Senador Paim, que eu tenho falado muito e debatido muito sobre o Rio Grande do Sul, mas sempre com o maior carinho e o maior respeito pelos Governadores, seja do meu Partido - lá estiveram o Governador Brito e o Governador Fogaça -, seja do Partido de V. Exª - lá estiveram os dois ilustres Governadores, o Tarso e o nosso querido Governador, por quem temos tanto respeito, de quem falam na volta à vida pública -, bem como a Governadora do PSDB.

            A nossa Bancada de Senadores aqui em Brasília - V. Exª e eu, que já estamos há mais tempo, e a Senadora Ana Amélia, que está entrando agora - fazemos um esforço total e absoluto para defender o nosso Rio Grande, defender a importância da economia do Rio Grande.

            Há um sentimento, de certa forma partindo de São Paulo, de 1930 e de 1932, de muita resistência ao Rio Grande do Sul.

            Nós temos vários projetos que andaram pela Casa, alguns aprovados aqui no Senado, mas que estão lá, na gaveta da Câmara, querendo mostrar e provando que o Rio Grande do Sul é um grande Estado, forte, pujante e com grande responsabilidade. Mas há uma região do Rio Grande do Sul que atravessa uma fase dificílima, metade do Rio Grande do Sul: o sudoeste, a zona da fronteira e a metade sul, região que foi uma das mais ricas do Brasil - Pelotas, Rio Grande, Uruguaiana, Alegrete -, de onde vieram os grandes políticos não só do Rio Grande, mas do Brasil inteiro. E, com a queda de Getúlio, parece que houve um certo movimento de quase - eu diria - esmagar aquela região.

            Tenho repetido, repetido e repetido aqui e apresentei projeto mostrando que, daquela região, quase dois milhões saíram - do Rio Grande do Sul, quase dois milhões da população -, e hoje, quando se fala na agricultura, quando se fala no crescimento de uma vasta região, foram os gaúchos que o fizeram, foram esses dois milhões que saíram do Rio Grande e transformaram o mato de Santa Catarina, o oeste do Paraná, o Mato Grosso do Sul e o Mato Grosso; agora eles estão lá na Amazônia, estão no Acre, estão no Amapá. É essa gente, gaúchos que levaram a sua mulher, os seus filhos e as suas coisas, que transformou o Centro-Oeste no celeiro do mundo.

            Eu berrava lá, no Rio Grande, como Deputado, como Governador, como Ministro da Agricultura e aqui como Senador: essa gente que saiu do Rio Grande, que tinha 50, 60, 70 anos de capacidade de trabalhar a terra, que conhecia a terra e que fazia milagre na terra, como fizeram no Rio Grande do Sul, tinha as condições enormes de potencialidade. E o Governo fez. Compraram baratíssimo, ou ganharam terras por aí afora, e levaram progresso e levaram desenvolvimento.

            Eu gritava na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, quando esses milhões de gaúchos foram embora: mas por que é que uma parte deles não fica aqui, na metade sul? Por que é que a metade deles não fica aqui, quando nós temos terras e mais terras que praticamente não produzem nada? Não houve isso.

            Temos cidade como Três Passos, em que a população em 30 anos diminuiu pela metade: de 35 mil para 18 mil. Essas pessoas estão lá no Paraná, estão lá em Santa Catarina, estão lá no Mato Grosso. Levaram progresso, desenvolvimento, projeto enorme de crescimento, mas saíram do Rio Grande.

            E as propostas que nós apresentamos, essas que contei? É normal o plano de socorro ao Nordeste. É normal o plano com relação a Manaus. É normal que Minas Gerais, que é um Estado rico, o norte de Minas Gerais, que é uma região que está identificada com o Nordeste, também tenha as vantagens que o Brasil dá para as indústrias que se estabelecem no Nordeste. Aliás, essas vantagens o Governo dá, visto que uma imensa maioria de fábricas que faziam do Brasil um grande produtor mundial, e o Rio Grande do Sul era o seu principal produtor, pois essas fábricas, só da cidade de Novo Hamburgo, mais de 30 mil trabalhadores estão lá no Ceará, na terra dos Gomes, levados pelos incentivos, levados pelas vantagens que fizeram com que eles fechassem as fábricas do Rio Grande do Sul e fossem para o Nordeste.

            De um lado, não nos dão chance. E do outro lado, não nos abrem uma porta. Eu tenho insistido: nós, os três Senadores - agora com a Ana Amélia, com muita competência; três anos atrás com o Zambiasi, com muita competência -, nos reunimos, fizemos uma reunião de quatro horas no Palácio do Planalto, com o Presidente da República, o Lula, com o Ministro da Fazenda, com o Ministro do Planejamento, e debatemos noite afora. E botamos no papel as questões, as interrogações com relação ao tratamento que deveria ser dado ao Rio Grande do Sul.

            O Lula prometeu - lembra Presidente Paim? -, inclusive, entregou à Ministra da Casa Civil, já candidata a Presidente, a Senhora Dilma, que ela ficasse com a coordenação de reunir o Governo do Rio Grande e o Governo Federal para fazer o planejamento daquilo que nós apresentamos, dos equívocos, das mágoas, das falhas e daquilo que, em nossa opinião, o Rio Grande do Sul tem direito a receber do Governo Federal.

            É verdade que, justiça seja feita, o governo de lá era do PSDB e não olhava com muita simpatia essa conversa, esse diálogo de governo com governo. Mas aquele governo saiu e, hoje, a Dilma não é apenas Chefe da Casa Civil, ela é Presidente da República, e o Tarso é Governador.

            Eu acho que a Presidente Dilma podia, tinha condições e devia começar a cumprir o que ela, naquela reunião, recebeu como orientação do então Presidente Lula e disse que ia cumprir: fazer a reunião para fazer essa discussão.

            O Rio Grande do Sul e os anos que o Rio Grande do Sul... É uma coisa interessante, não dá para acreditar. Se você fala em Juscelino Kubitschek e olha para Minas, Minas conta o que ela recebeu do Governo de Juscelino em cinco anos. Foi uma revolução: estradas, Furnas, Três Marias. Foi uma revolução! E se você olhar para o Rio Grande do Sul, vinte anos de Getúlio Vargas, mais três ou quatro de Jango, mais os três generais da ditadura, praticamente nada para o Rio Grande do Sul.

            Por isso, venho a esta tribuna. Não venho toda hora. Já fui Governador, dirigente partidário durante muito tempo. A minha missão não é, aqui, querer fazer qualquer coisa que signifique alguma crítica, algum ataque ao atual Governador, que eu respeito muito, ou à atual Presidenta, por quem tenho muito carinho, mas eu tenho obrigação.

Os senhores não calculam como o Rio Grande do Sul cobra de mim que eu seja mais duro, que eu seja mais radical, que eu realmente bata na mesa. Eu acho, quem sabe, meu Presidente Paim, V. Exª, eu e a nossa Senadora Ana Amélia - e V. Exª é que tem que conduzir, afinal, V. Exª é o homem do PT - vamos refazer aquela reunião que fizemos. Podemos até convidar o Lula para estar presente, e a Presidente Dilma. Nós nos reuniríamos para fazer o levantamento daquelas coisas.

            Já sabemos que o trabalho dela não teve por onde dar porque a governadora de então não fez questão, não tinha nenhuma preocupação com isso. Mas agora, não. Agora nós sabemos, justiça seja feita, que o Governador Tarso Genro tem tentado. Claro que não faz manchete; claro que não abre as baterias, mas tem tentado e tem cobrado muitas das realizações que o Rio Grande está precisando.

            Pois não, Senador Cristovam.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Simon, uma das coisas que a gente admira nos grandes é como eles são capazes de ser nacionais e locais. O senhor tem sido aqui um Senador da República brasileira. O senhor fala aqui - e é ouvido - como um representante do pensamento do Brasil inteiro. E, hoje, o senhor demonstra que é Senador pelo Rio Grande do Sul. Isto é que faz bonita a atividade política, na sua grandeza total. Não me esqueço de que o nosso querido Fernando Lyra, Deputado, contava que Tancredo Neves, Senador Paim, em plena campanha para conseguir os votos do Colégio Eleitoral, para ser Presidente, um dia ligou para ele - Fernando Lyra, 1º Secretário da Câmara - para ver como é que ajudava um funcionário que trabalhava na casa de máquinas do prédio da Câmara. Ou seja, ele estava com a cabeça no geral, no nacional, na mudança tão radical, talvez a maior que a gente teve no Brasil, de um regime militar para um regime civil, e não esquecia o pequeno, não esquecia o local. Lembro-me também, voltando a Tancredo Neves, de uma fala que me foi contada. Um dia, ele estava numa conversa, numa reunião, num coquetel, uma coisa dessas - foi o Mauro Santayana quem me contou isso -, e alguém disse que era mineiro da mesma cidade dele, São João Del-Rei, e o Tancredo disse: “Que coisa boa encontrar alguém aqui”. Ele disse: “Mas eu já estou fora há vinte anos”. E Tancredo disse: “Você tem ido lá?”. Ele disse: “Dr. Tancredo, eu nunca voltei lá”. O Dr. Tancredo começou a mastigar a gravata, como ele fazia, disse para o Mauro: “Vamos embora, vamos embora”. E saíram. Quando saíram, ele perguntou: “Por que o senhor saiu?” E ele disse: “Eu não fico junto de um cara que há 20 anos não vai na sua cidade”. Ou seja, é o geral e particular; é global e o local. E o senhor, aqui, demonstra o seu compromisso com o seu Estado, sem nunca ter deixado aqui de ser o Senador da República, que qualquer brasileiro, de qualquer Estado, gostaria de ter como representante. Nunca deixou de ser isso. O senhor é visto mesmo é como um Senador da República, mas não esquece que é um Senador pelo Rio Grande do Sul. Eu quero dizer isso do ponto de vista da sua figura nesse discurso, mas eu quero, também, comentar o discurso, dizendo que essa frustração que o senhor manifesta em relação a pessoas que são próximas a nós, porque são realmente, chega não apenas a parecer uma crítica, mas termina tocando na gente emocionalmente e fazendo com que nós lamentemos que, hoje em dia, nós tenhamos de manifestar críticas àqueles que nós ajudamos a eleger, àqueles que são próximos, àqueles que são amigos. Isso não tira, de jeito nenhum, o compromisso que nós sempre tivemos nem deve levar nenhum arrependimento da posição que se tomou, mas, sim, a uma cobrança para aproveitar o tempo que ainda falta e recuperar, no Rio Grande do Sul, a posição que, de fato, como o senhor citou, sempre teve na educação, na saúde, na segurança, no espírito empreendedor, sem precisar que ninguém saísse de lá. Eu sou muito solidário com o seu sentimento e um grande admirador de que o senhor demonstra, hoje, que é um estadista, porque pensa o grande sem esquecer o pequeno, pensa o global sem esquecer o local.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - V. Exª está atravessando, nessa fase de sua vida pública, aqui no Senado, eu diria, uma sublimação do seu mandato. V. Exª é um exemplo para todos nós, porque V. Exª debate e discute o que tem de mais profundo e de mais importante na história do Brasil. E até porque V. Exª está na Capital. E esses são os problemas da Capital e do Brasil.

            V. Exª, cada vez que fala, fala por cada um de nós, porque todos nós nos sentimos atingidos pela luta de V. Exª. V. Exª é, realmente, um grande Senador nacional, mas todas as teses que V. Exª defende sempre têm uma referência que V. Exª faz a Brasília: a educação no Brasil inteiro, aqui, em Brasília é assim; a saúde no Brasil inteiro, aqui, em Brasília, é assim; a corrupção no Brasil inteiro, aqui, em Brasília, é assim.

            Eu tenho uma certa inveja cristã de V. Exª, porque acho que V. Exª realmente é um símbolo daquilo que deveria ser o Senado. V. Exª vem insistindo muito e muito, e hoje é sexta-feira, o dia que V. Exª propunha para que ficássemos aqui e entrássemos, ainda mais agora que o Senado mudou... Agora, as sessões do Senado começam às 14 horas e terminam às 22 horas. Eu acho isso interessante, porque nós entramos no horário das novelas, dos jornais televisionados, e se debatem todas as matérias.

            Eu digo a V. Exª que é uma pena. O Governo Federal deixou a reforma tributária ao deus-dará; não quis se meter; não teve a coragem de entrar no debate, de coordenar o debate. É claro que nós todos sabemos que, em primeiro lugar, o Governo Federal tem que ter a luta para deixar esvaziar o menos possível o cofre federal - é obrigação dele - e, em segundo lugar, tem que ter muito cuidado para se meter, para tirar de São Paulo, que tem muito, e dar para o Piauí, que precisa mais. É uma luta difícil!

            O que o governo adotou? Cruzou os braços e deixou para brigarmos aqui. É claro que não dava. E, agora, o que o governo faz? Retira o projeto, retira da discussão, porque, de repente, o Líder do PMDB na Câmara dos Deputados, uma pessoa pela qual tenho respeito por sua inteligência... Dizem que ele é muito competente, mas não tenho maior conhecimento dos caminhos por onde ele vai, do que ele quer ou não quer. Eu só sei que dizem que, de repente - a imprensa está noticiando -, ele é o maior adversário do governo hoje, isto é, o Líder do PMDB na Câmara dos Deputados. E dizem ainda que, por causa dele, das influências dele, o governo está retirando tudo que é projeto do debate, para acalmar os ânimos e ver o que acontece.

            Mas a grande verdade é que o governo não fez absolutamente nada no que tange a todas essas questões que são fundamentais. Nada! Na questão dos royalties, o governo ficou assistindo. Prometeu mais do que poderia para o Rio de Janeiro; ficou magoado mais do que deveria com o Rio Grande do Sul, porque a emenda era do companheiro Ibsen Pinheiro. Mas, na verdade, na verdade, a única coisa boa que o Governo Federal fez foi dizer que os lucros desses royalties iriam todos para a educação. Seria, realmente, um fato extraordinário se essa manifestação de intenção... Sim, de intenção, porque não houve projeto nem nada de positivo, não houve emenda. Mas o Governo manifestou que queria determinar que as verbas dos royalties do petróleo fossem todas destinadas à educação.

            Todavia, afora isso, não se meteu na briga com os Estados; deixou-os ir na confusão. Prometeu demais, repito, para o Rio. Chegou a hora, deu uma confusão realmente previsível, e, hoje, voltou tudo à estaca zero.

            Então, acho que a Presidente Dilma, quando iniciou, tinha um lado forte, que a gente admirava, que era a firmeza; hoje, aquilo que a gente imaginava também está acontecendo: a governabilidade no Brasil se chama troca-troca. Chama-se troca-troca! O que aconteceu, agora, na votação desse projeto que terminamos de ver, foi o troca-troca. Aprovaram as emendas. Estão todos felizes da vida. Há parlamentares que garantiram a sua reeleição, porque o governo vai bancar as emendas; tudo em troca da votação do projeto.

            Trinta e nove ministros! A imprensa publicou que eu fiz, meio em tom de brincadeira, uma reunião no congresso da mocidade do MDB do Rio Grande do Sul, em Gramado, e, ali, quando eu me dirigi à Presidente Dilma, disse: “Presidenta, já são muitos Ministérios!” Agora a senhora terminou de nomear o 39º, uma nomeação estranha, porque o titular é também Vice-Governador de São Paulo.

            O Governador de São Paulo é um homem que luta pelo PSDB e pela candidatura do PSDB. O Ministério é do PT e luta pela candidatura do PT. Mas nomeou o 39º.

            Já os jornais estão anunciando o próximo ministro. Aí eu disse: “Presidente, eu faço um apelo à senhora. Primeiro, que não nomeie mais ministros. Chega de ministros!. Mas, se a senhora quiser nomear, não nomeie um, nomeie dois, porque, aí, então, a manchete será “A Presidenta Dilma e seus 41 ministros”. O ruim é se a senhora nomear um só e a manchete for: “A Presidenta Dilma e seus 40 ministros”, mas alguém vai se lembrar do Ali Babá ou coisa que o valha. Infelizmente, essa é a realidade.

            Encerro, Sr. Presidente, mostrando que sempre mantive o carinho e o respeito pelo Rio Grande. Sempre debati a importância do Rio Grande do Sul. Sempre manifestei o orgulho que eu tenho de ver o mundo inteiro reconhecer um fato sociológico de primeira grandeza. O mundo fala nos judeus, nos israelitas, que se dividiram pelo mundo e mantiveram a fé, a raça.

O mundo se refere aos ciganos, que estão, sem pátria, sem nada, espalhados pelo mundo inteiro e conseguem se manter. E o mundo fala nos gaúchos, que estão na mesma pátria, mas que saíram do seu Rio Grande e foram para seis mil, sete mil quilômetros de distância, para outra realidade, outro mundo, mas conservaram suas tradições, seu amor ao Brasil, seu amor ao churrasco, ao chimarrão, seu amor à fé, a uma Igreja profunda, seu amor à família, seu amor a uma educação formada no consenso e no conjunto, sua vontade de trabalhar, sua garra de, com o suor de seu rosto, transformar uma terra virgem e praticamente inútil em uma grande cidade. O que eles fizeram pelo Rio Grande do Sul eles fizeram pelo Brasil.

            E a história deles se escreve no Brasil inteiro. É só olhar este Congresso. Senadores que nasceram no Rio Grande do Sul são o Paim, a Ana Amélia e eu, mas Senadores que nasceram no Rio Grande do Sul ou que são filhos de quem nasceu no Rio Grande do Sul há mais de meia dúzia nesta Casa. E ninguém ama mais o Brasil do que nós gaúchos, porque sempre dizemos que, quando foi feita a divisão da América entre portugueses e espanhóis, era para nós gaúchos sermos espanhóis, para ficarmos junto com a Argentina, do lado de lá. Foi com a pata do cavalo, com a luta e o esforço que o Rio Grande do Sul derrotou e ficou brasileiro. O Rio Grande é brasileiro porque quis ser brasileiro, lutou para ser brasileiro. Por isso amamos demais o nosso País. Por isso, somos gaúchos, embora sejamos brasileiros e gaúchos. Por isso é que acho que merecíamos uma atenção com um pouco de carinho do Governo Federal.

            Um dia desses virei aqui de novo - já vim mais de uma vez - para noticiar, Paim, as questões que temos, uma em cima da outra, ao longo da história, com relação ao Rio Grande. Uma delas, meu querido Cristovam, é que, no Brasil, a bitola dos trens é larga, na Argentina é bitola larga, mas no Rio Grande do Sul é bitola estreita, porque eles achavam que seria inevitável uma guerra entre a Argentina e o Brasil. Assim, o Rio Grande do Sul pagou o preço da bitola estreita.

            Durante a vida inteira, já disse isto mil vezes... Metade do Exército Brasileiro estava acampado na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. Nós temos cidades, como Alegrete, que têm cinco quartéis. Em Quarai, ali do lado, são mais cinco. Alegrete, mais quatro, ali do lado. Em São Borja, mais três ali do lado. Mas nunca tivemos escola. Era proibido ter fábrica. A cem quilômetros da fronteira era proibido ter uma fábrica. Uruguaiana, maior produtora de lã do mundo, botava nos vagões dos trens a lã com a sua sujeira, pagava o frete da sujeira, para mandar para São Paulo, mas os grandes lanifícios se desenvolveram lá em São Paulo, porque eram proibidos no Rio Grande do Sul.

            São questões que se repetem ao longo do tempo, mas um dia a justiça deverá ser feita.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2013 - Página 30254