Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a importância das relações comerciais com a China, destacando a necessidade de aperfeiçoamento do sistema de transportes de cargas do Brasil; e outro assunto.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR, POLITICA AGRICOLA, COMERCIO EXTERIOR.:
  • Reflexão sobre a importância das relações comerciais com a China, destacando a necessidade de aperfeiçoamento do sistema de transportes de cargas do Brasil; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/2013 - Página 33313
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR, POLITICA AGRICOLA, COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • REGISTRO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, RELAÇÃO, VISITA, CHINA, OBJETIVO, DEBATE, MERCADO INTERNO, PAIS ESTRANGEIRO, DEFESA, NECESSIDADE, REALIZAÇÃO, PROVIDENCIA, MELHORIA, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, FACILITAÇÃO, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO AGRICOLA, ENFASE, SOJA, MILHO, ORIGEM, BRASIL, IMPORTANCIA, AUMENTO, EXPORTAÇÃO, COMENTARIO, SITUAÇÃO, POLITICA AGRICOLA, INDIA.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco/PR - MT. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, desde 2009, a China tem sido o principal parceiro comercial do Brasil. As relações sino-brasileiras, de um modo geral, seguem em bom ritmo, como pode ser comprovado pela assinatura do "Plano de Ação Conjunta Brasil-China", para o período de 2010 a 2014, que define objetivos, metas e orientações para a cooperação bilateral em diversos campos.

            As mútuas visitas dos dirigentes máximos dos países constituem, também, uma forte evidência dos elos que nos aproximam, bem como a criação do chamado "Mecanismo de Intercâmbio Parlamentar Brasil-China", o qual objetiva estimular e acelerar a implementação dos próximos acordos a serem celebrados entre os dois países.

            Brasil e China, no mês de março, por meio de seus bancos centrais, assinaram acordo de troca de divisas (swap) de moeda local no montante de 60 bilhões de reais, válido por três anos e com possibilidade de renovação. O objetivo é proteger as operações comerciais e os investimentos entre os dois países das oscilações do dólar.

            O gigante chinês é o maior comprador de commodities brasileiras, entre elas a soja. A China compra 70% da soja brasileira. No último ano, ela importou 27 milhões de toneladas de soja do Brasil e, em 2013, deve passar de 30 milhões de toneladas.

            Entre os dias 15 e 25 de abril, tive a oportunidade de desenvolver uma intensa agenda na China. No exercício da diplomacia parlamentar, nos reunimos com representantes do setor privado e governamental chinês para discutir quais as tendências de futuro do mercado chinês.

            Em reunião com a COFCO, uma empresa Estatal muito importante na China e que compra muita soja do Brasil, seu executivo, Cheng Muping, nos informou que nesta safra tiveram um impacto muito grande nos carregamentos brasileiros e isto os deixa muito preocupados. Pediu-nos claramente para que fossem feitos investimentos urgentes nos portos brasileiros e completou dizendo que a partir de março a fila nos portos brasileiros cresceu muito, com relatos de espera de mais de 60 dias o que causou a paralisação da fabrica de esmagamento da COFCO na China.

            Cheng Muping nos disse que a demanda chinesa seguirá crescendo e que a demanda por ração esta fortemente aquecida e a China deve importar mais de 64 milhões de toneladas de soja no próximo ano.

            Segundo ele, a demanda por milho também cresce fortemente, e a China pode já no curto prazo importar 15 milhões de toneladas de milho.Colaborando com essa informação, as projeções do USD A apontam que em 10 anos a China superará o Japão e o México e se tornará a maior importadora mundial de milho, demandando 20 milhões de toneladas do cereal.

            Srªs e Srs. Senadores, em todas as reuniões de que participei pude constatar que há um grande interesse em intensificar a compra da soja e do milho brasileiros. Todavia, ficou evidente que os chineses temem que as nossas conhecidas dificuldades logísticas inviabilizem o cumprimento desses contratos.

            O cancelamento de encomendas representa não apenas prejuízo material imediato, mas impacta negativamente nossa credibilidade e afugenta novos negócios, o que nos faz perder fatias de mercado que custamos muitíssimo para conquistar.

            O "apagão" logístico é uma dura realidade. O custo do frete em relação ao valor da carga é elevado para os padrões internacionais. O frete brasileiro responde, hoje, por algo entre 15% e 18% do valor da carga. Para efeito de comparação, esse mesmo frete custa, nos Estados Unidos, 6% ou 6,5%.

            No caso da soja, deparamos com uma situação inusitada: Na fazenda, a soja brasileira é mais competitiva que a norte-americana. Mas a partir do momento em que ela é embarcada em um caminhão e chega ao porto, ela passa a custar mais caro por causa das deficiências da infraestrutura.

            Além da falta de investimentos no setor de transporte de cargas, lidamos com a ausência de competição real, o que encarece o custo do frete. De acordo com a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja), o custo para escoar soja pelo terminal ferroviário da América Latina Logística (ALL) em Alto Taquari, no sul do Mato Grosso, cresceu 30% neste ano.

            Quanto ao transporte rodoviário, basta citar um dado: na safra passada, cada tonelada transportada entre a cidade de Sorriso e o Porto de Santos custou 195 reais. Este ano, o preço está em 320 reais!

            A situação dos portos brasileiros ilustra bem o quadro dramático da infraestrutura em nosso País. O caos no porto de Santos gerou atrasos de 30 a 60 dias nos embarques, o que acarretou severas perdas.

            O Governo Federal constituiu um grupo de trabalho interministerial para tratar emergencialmente do tema. Tomara que os Ministros dos Transportes, César Borges, e da Secretaria Especial de Portos, José Leônidas de Menezes Cristino, estejam atentos e empenhados em resolver a questão.

            No médio prazo, faço votos que as medidas anunciadas pela Presidenta Dilma Rousseff para promover a redução do Custo Brasil, medidas como o Programa de Investimentos em Logística -Rodovias e Ferrovias, surtam efeito.

            O Programa prevê a concessão à iniciativa privada de 7,5 mil quilômetros de rodovias e 10 mil quilômetros de ferrovias federais -- entre modais antigos e outros ainda a ser construídos. São previstos, ainda, investimentos de 133 bilhões de reais ao longo de 25 anos, sendo 79,5 bilhões de reais apenas nos primeiros cinco anos.

            Sr. Presidente, o setor portuário está a merecer uma profunda modernização. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) destinará, até 2014, R$ 5 bilhões e 200 milhões em 66 obras. As estimativas são de que a iniciativa privada invista entre 20 e 25 bilhões de reais no mesmo período.

            Essa parceria é fundamental para assegurar os recursos necessários para modernizar os portos brasileiros, sem esquecer a implantação de um programa de inteligência logística, além de inovações abrangentes na regulação.

            Srªs e Srs. Senadores, na tentativa de estreitar o canal de comercialização com empresários do gigante asiático e sanar a celeuma dos portos foram feitas visitas ao presidente da Câmara de Comércio de Importação e Exportação de Produtos Alimentares, Bian Zhenhu, ao diretor da Associação Nacional da Indústria Pecuária, Alimentação e Serviço da China, He Xintian, e a escritórios de negócios.

            Além da agenda de Governo junto ao Vice-Ministro da Agricultura Niu Dun, que nos disse que existe uma forte preocupação da China com relação à segurança alimentar e que o país tem grande respeito pelo Brasil como parceiro.

            O Vice-Ministro compartilhou um dado que nos chamou muita atenção. O Governo chinês estaria disponibilizando 100 bilhões de dólares para investimentos em agricultura fora da China.

            Podemos vislumbrar que países com grande potencial de expansão agrícola e que tem grande carência de recursos, como Moçambique, por exemplo, seriam beneficiados com esses investimentos, como uma política de longo prazo de garantia de suprimentos de comida para os chineses.

            Entretanto, o que nestas reuniões me deixou mais surpreso foi a mudança nos discursos dos chineses. Todos colocam a preocupação da China com relação à segurança alimentar e à sustentabilidade ambiental, e por isso nos foi questionado muito sobre o potencial brasileiro de crescimento da produção, mas que de forma alguma eles esperam que o Brasil desmate novas áreas.

            E é claro que relatamos que essa não é uma intenção brasileira, e que temos muitas áreas abertas de pastagens onde à agricultura pode se expandir sem desmatar.

            Nessas reuniões, buscamos atenuar algumas regras para uso de novas tecnologias agrícolas que têm prejudicado o setor exportador brasileiro.

            Precisamos, Brasil e China, alinhar nossa perspectiva quanto à produção e ao uso de novas tecnologias agrícolas. Creio que, nesse sentido, avançaremos significativamente.

            A viagem à China mostrou que a demanda chinesa por produtos alimentícios irá perdurar. No entanto, foi revelador constatar que há, no mercado chinês, abertura para a importação de grãos não-modificados geneticamente.

            Para o produtor brasileiro, a notícia é boa, pois não temos problema em lidar com os dois segmentos: o da soja transgênica e o da soja convencional.

            Srªs e Srs. Senadores, a China tornou-se o vetor do desenvolvimento econômico mundial. Estreitar as relações bilaterais com esse país é uma das chaves para o progresso brasileiro.

            Por esse raciocínio, precisamos aperfeiçoar o sistema de transportes de cargas de modo a garantir a competitividade de nossos produtos.

            Os investimentos em logística são vitais para que não percamos o passo rumo ao futuro.

            Da China seguimos para a índia, onde fiquei surpreso com o contraste entre os dois países mais populosos do mundo, China extremamente organizada e a índia uma experiência intensa, que não consegue ser descrita, apenas vivida. Fiquei impressionado como os indianos conseguem conviver entre si com tantas religiões, dialetos e diferenças de classe.

            Na embaixada brasileira tivemos uma reunião com a Pricewaterhouse discutindo sobre o mercado de carnes na índia.

            Parece estranho a discussão do tema porque se pensa que a índia é vegetariana, ela já foi mais, uma mudança do habito alimentar indiano tem ocorrido em uma população de 1,2 bilhões de indianos que estão melhorando financeiramente e com isso passam a comer mais, e buscam por proteínas.

            O indiano Mudit Agrarwal da Pricewaterhouse (PwC) nos fez um relato detalhado sobre a evolução do mercado de carnes na índia o que nos interessou muito principalmente pela perspectiva da índia se tornar um grande importador de alimentos, e isto se mostrou factível, afinal processo semelhante observamos na China que em dez anos se tomou um grande importador de alimentos, e a índia inicia o mesmo processo.

            Na índia as redes de supermercado começam a ser implantadas, e isto é muito positivo uma vez que a falta de infraestrutura de comercialização de carne prejudica seu consumo, a maioria da carne ainda é comercializada em pequenos açougues.

            É importante salientar que 32% da população indiana é vegetariana e apenas 30% da população que não é vegetariana consome carne regularmente, sem falar que nenhum indiano da religião Hindu que é 80% da população consome carne na terça feira. Carne de vaca, nunca!

            A indústria aviaria tem crescido muito na índia, eles possuem um lobby muito forte, o que faz com que o mercado de aves seja fechado, com taxas muito altas para importação, mas é claro que isto deve mudar assim que eles não forem autossuficientes.

            Esta proteção faz com que a indústria nacional de aves tenha uma margem alta. Para termos uma idéia a carne de frango fresca custa U$ 4,00 o Kg e a processada U$ 12,0.

            Quando olhamos para o mercado atual não vemos nenhum mercado para soja na índia, afinal eles produzem anualmente algo em torno de 11 milhões de toneladas. O que é suficiente e sobra ainda para exportar. 60 % do farelo de soja produzido na índia é exportada.

            E importante olharmos os números, a área agrícola da Índia não tem como crescer, a população está mudando seu habito alimentar e com isto o consumo de soja tem crescido em 6% ao ano, como a produção não cresce, em breve teremos ai um potencial importador.

            A índia é a população que mais cresce no mundo. Já são 1,22 bilhões de habitantes, com uma renda per capita de U$ 1.200. A renda é baixa, mas dobrou nos últimos 5 anos, com um Produto Interno Bruto (PIB) que cresceu de 11% em 2012.

            Com isso o setor aviário cresce 15% ao ano e de ovos cresce 7% a.a. Somado a isto, temos ainda o mercado de leite que cresce 8% ao ano, A índia produz 13% do leite do mundo e o consome. Apenas 20% do rebanho leiteiro indiano recebe ração.

            A média anual de consumo de carne por indiano é de 3,3 kg, e a de ovos, é de 57 unidades. O Instituto Nacional de Nutrição da índia recomenda a média de 11 kg de carne a.a. e de 180 ovos. Vale ressaltar que em 2003 o consumo de carne era de 1,4 kg/habitante. Nota-se então, um crescimento de 135%. Com base nisso, os institutos projetam que nos próximos 10 anos a media de consumo de carne por Indiano supere os 11 kg.

            Era o que tinha a dizer.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/2013 - Página 33313