Discurso durante a 100ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise do momento que vive atualmente a política brasileira.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA, REFORMA POLITICA.:
  • Análise do momento que vive atualmente a política brasileira.
Aparteantes
Ana Amélia, Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy, Pedro Taques, Randolfe Rodrigues, Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2013 - Página 38725
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA, REFORMA POLITICA.
Indexação
  • COMENTARIO, JUVENTUDE, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, COMBATE, AUMENTO, PREÇO, PASSAGEM, TRANSPORTE COLETIVO URBANO, CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, CONCLAMAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTICIPAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, REPUDIO, VIOLENCIA, DESTRUIÇÃO, PATRIMONIO PUBLICO, DEFESA, IMPLEMENTAÇÃO, REFORMA POLITICA.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, hoje, está prevista uma nova reunião do povo na rua. Faz anos, Sr. Presidente, que a gente vem dizendo e repetindo: desta Casa não sai nada; ali do lado, ali do Executivo, menos ainda; e até ontem, do Supremo Tribunal, menos ainda. Dizíamos sempre que era fundamental que o povo saísse às ruas.

            E olha que houve um momento em que o governo não era um governo democrático como este que está aí. Era uma ditadura fechada. Uma ditadura comandada pelos militares, com a Igreja do lado, com os empresários do outro lado, com a grande mídia do lado. Eu diria até, com grande parte da população do lado. O povo não saía às ruas. E nós lutávamos contra aqueles radicais que queriam a luta armada. Queriam a guerra civil, queriam a luta, queriam uma guerra de fogo. Conseguimos que isso não acontecesse.

            O movimento, que parecia impossível, deu certo quando os jovens foram para a rua. E não era que nem agora.

            A Presidente Dilma, justiça seja feita, vem dizendo que está ouvindo o que os jovens falam, que o Governo dela está escutando o clamor e as reivindicações do povo e que respeita o povo se manifestar nas ruas.

            Naquela época, nós tínhamos que lutar contra os que queriam a guerra civil, contra os que queriam a guerra armada, contra aqueles líderes importantes que queriam derrubar o povo, derrubar o governo na força.

            Hoje, temos um Governo que, até ontem, tinha os índices mais altos de popularidade da história do Brasil; uma Presidente, que, quando assumiu, tomou posições sérias e radicais - que me trouxeram a esta tribuna para dizer: “Ótimo, Presidente; siga nesse caminho” - e que demitiu sete, oito ministros dando a linha do seu Governo.

            Repeti aqui, muitas vezes, que a aliança de partidos, com o troca-troca, era a desgraça do Governo e do povo. As artimanhas de aliar os partidos em troca de ministérios, em troca de favores, de se identificar com o Congresso Nacional em troca de emendas - “Eu te dou essa emenda e tu votas esse projeto” - não iam dar bem, iam terminar mal. Mas o que o Governo fez foi isso.

            O comando da Casa, cá entre nós, e todos os partidos arreglaram. Passava o projeto e aprovavam as emendas. Duas vezes isso não aconteceu: na Ficha Limpa e no Mensalão. E as duas vezes não aconteceram porque os jovens saíram às ruas. E não saíram que nem agora, não. Eram uns 500, 600, 700, o suficiente para mostrar que era um caminho sem volta a mocidade nas ruas.

            Eu repito, pela décima vez: a Ficha Limpa passou, nesta Casa, vamos bater no peito, por medo e por receio de muita gente, que votou a favor da Ficha Limpa por medo da gurizada que estava ali fora.

            Perdoem-me, mas os jovens na frente do Supremo devem ter ajudado naquele resultado.

            Agora, nós estamos vivendo uma hora diferente. Eu não digo que os R$0,20 ou os R$0,30, que o aumento das passagens não tenha sido importante, mas eu digo que, na minha opinião, o aumento de 20% ou 30% no preço das passagens foi o mote que determinou o que os jovens estão fazendo. Digamos assim: foi a gota d’água.

            Eu ouvi um jovem, ontem, na televisão, dizer: “Nós não podemos ir mais adiante. Nós já estamos no fundo do poço. Nós temos de lutar para levantar do poço.”

            Esse movimento, eu digo, meus irmãos, eu há muito esperava. Eu esperava que isso acontecesse, e como está acontecendo: sem partido, sem bandeira, sem ninguém. São eles, os jovens.

            É lamentável - a gente nota e a gente vê - como um grupo que não quer esse caminho, que quer radicalizar, que quer quebrar, como fez na Assembleia Legislativa, neste Congresso Nacional e no Rio, como fez na Prefeitura de São Paulo, essas pessoas que querem partir para o quebra-quebra, e que são uma minoria, estão se aproveitando, mas a imprensa está deixando claro o que a gente vê na televisão. A gente vê os jovens que conclamam se defendendo, lutando, querendo afastar os que estão entrando ali para fazer tumulto.

            É por isso até que eu, meu querido presidente do PT nacional, não sei se a decisão de V. Exª, que a imprensa está publicando, foi a melhor.

            Os jovens vão fazer uma movimentação hoje, daqui a duas horas, na Avenida Paulista. Os jovens pediram para ninguém ir nem com bandeira, nem com nada, irem simplesmente como pessoas. Os jovens pediram para os partidos políticos não estarem presentes.

            Eu não quero discutir, mas o Presidente Nacional do PT convocar os companheiros de Partido a botar a camisa vermelha e irem à reunião, enfrentar, mostrar que não têm medo, eu não entendi. Palavra que eu não entendi.

            O Collor, no auge da angústia da sua cassação, conclamou os jovens a irem às ruas, a defendê-lo; mas, pelo menos, pediu que os jovens fossem de verde e amarelo, que fossem de verde e amarelo - pena que ele representava o Estado e que queriam derrubá-lo - pedindo que viesse o apoio. Os jovens foram de preto. Mas o Presidente Nacional do PT pede que o povão do PT vá às ruas, enfrente, que mostre que não tem medo e vá de camisa vermelha.

            O que o PT e o que o seu Presidente estão querendo? Vamos fazer justiça? Esses jovens que estão nas ruas, a imprensa, nós todos temos falado que esse movimento é um movimento que, pode-se dizer, vem para lutar por um Brasil que está doente e sofrido há muito tempo. Eu não vi movimento no sentido de ser contra o PT, nem contra a Presidente Dilma, nem contra o Governo. É genérico, é geral.

            É verdade que eu nunca tinha pensado nisto, mas vocês já imaginaram se nós tivermos, como eles querem, uma saúde padrão FIFA? Vocês já imaginaram se nós tivermos uma educação padrão FIFA? Eu até acho exagerado. Padrão FIFA é na média, não precisa ter cabine especial, não precisa ter cobertura total. É isso que eles estão pedindo.

            Eu me considero atingido. Eu acho que eles estão gritando e eu baixo a minha cabeça porque estou, há 60 anos, na política e os colégios de hoje são piores que aqueles em que estudei, há 60 anos. Sessenta anos atrás, eu estudava 8 horas por dia - levantava às 7h30, às 8h estava lá e ficava até 11h30; voltava às 13h30 e ficava até 17h30 -, todos os dias, de manhã e de tarde. Hoje não há isso nem em colégio pago.

            Então, ainda é tempo, prezado Presidente do PT, de voltar atrás. O senhor não vai ganhar nada nesse confronto. Assim como as coisas dão certo e sobem, pode acontecer o contrário com elas.

            As coisas deram certo com a Doutora Dilma. Ela foi o dínamo. Como o Lula disse, transformou o poste numa Presidente da República. As coisas deram certo. E eu sou sincero: eu gosto do Prefeito de São Paulo. Acho que, dentro do contexto que está aí, ele tem um grau de responsabilidade enorme. E o Lula transformou um poste no Prefeito de São Paulo; mas não acostume, Presidente.

            A Dilma passou o dia de ontem para dizer que essa decisão que o Presidente do PT tomou foi na reunião em que estava com a Presidência da República, com o Lula e com o coordenador da campanha, o Sr. Santana. Foi nessa reunião em São Paulo, em um hotel que ninguém descobriu qual era, porque a informação que eu tinha era a de que, de todos os lados, a mocidade queria descobrir onde era a reunião para fazer uma homenagem na saída, mas não conseguiram.

            Mas está lá: o Presidente do PT - a informação de que os jornalistas dão é esta - havia acabado de sair da reunião e telefonou para a imprensa, convocando o PT para a reunião de hoje à tarde.

            Eu confio na hora em que nós estamos vivendo. Em primeiro lugar, é uma bofetada em nós todos, do tamanho que merecemos. Aprovamos a Ficha Limpa. A Ficha Limpa deu características completamente novas à eleição que passou. Aplausos generalizados. Reúne-se a Câmara dos Deputados, e querem derrubar a Ficha Limpa - querem acabar com a Ficha Limpa!

            Mas o que é isso? Mas como se pode entender a tão fraca reação, o tão fraco sentimento de responsabilidade de um Parlamento que, com base numa tese que foi aprovada e que deu resultados, que já provou resultados, em vez de partir para melhorar, para avançar... Não, a emenda que vai para o Congresso é para acabar com a Ficha Limpa.

            Eu não sei, não acredito, mas os votos que vêm com relação ao Supremo, com as novas mudanças, podem mudar o resultado, e nenhum dos condenados do mensalão irá para a cadeia. Nenhum irá para a cadeia.

            Foi impressionante o resultado que a Internet fez com relação à Emenda nº 37. Uma coisa impressionante! Aqui foi o Senador Pedro Taques, eu... Houve um terceiro? Houve um terceiro que votou...

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT. Fora do microfone.) - Randolfe Rodrigues.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PT - RS) - Randolfe? Somos três os que votamos a favor dos promotores com relação à Polícia Civil.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT. Fora do microfone.) - Ana Amélia, também.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PT - RS) - Ana Amélia. Quatro; fomos os quatro.

            E nós quatro, olhando para trás, víamos os Senadores do PT - o nosso amigo de São Paulo não estava lá - e delegados de polícia abraçados, cantando o Hino Nacional, porque haviam tirado os promotores da questão de abrir a denúncia.

            E, de noite, ontem, 150 mil - não sei quanto está hoje -, 93% a favor de os procuradores continuarem a atuar no processo policial.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Simon, permite um aparte sobre esse tema, só para ajudar no debate?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu lhe dou o aparte com o maior prazer.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - O que eu achei engraçado é que ninguém pediu verificação de quórum em um tema tão importante como esse. Nenhum partido pediu verificação de quórum. Se houvesse votação nominal, o quadro poderia ser bem mais claro para todos. Mas nenhum partido pediu verificação. E, sobre a PEC nº 37, inúmeros Senadores já vieram à tribuna, inclusive eu, e deixando muito claro que votaremos contra - e isso não agora, mas bem antes de iniciar o movimento. Mas naquele dia seria fundamental que tivéssemos feito a verificação de quórum. Falo isso porque me perguntaram no meu Rio Grande - e por isso faço o aparte - se houve verificação. Eu disse que não houve. Nenhum partido pediu verificação! E esse voto de Liderança acaba não contribuindo para que efetivamente se faça um bom debate sobre o tema. Só para ajudar na reflexão.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Os resultados da Internet fizeram com que a Mesa da Câmara não colocasse mais em votação nesta semana. Eu acho que vai ficar para o ano que vem.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Senador Pedro, nesta tarde maravilhosa de quinta-feira, aqui em Brasília, o primeiro ponto que gostaria de comentar da fala de V. Exª é sobre a PEC nº 37. Muitos vieram à tribuna do Senado manifestando-se contrários à PEC - e lá, na Câmara, também, contrariando o texto da proposta de emenda à Constituição - que subtrai o poder-dever do Ministério Público de investigar e cria, no Brasil, a exclusividade para que a polícia possa investigar. Muitos! Aí, o cidadão vai às ruas, faz esse movimento histórico, que muitos não estão a entender, e logo o Presidente da Câmara, lá da Rússia, parece um homem que veio do frio, já manda um recado dizendo que vai tirar a proposta de emenda à Constituição da pauta. Veja que me parece que estão amarelando ou estão costeando o alambrado, como se diz. Estão com medo, com receio, com paúra do que vem das ruas. Seria interessante...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Porque pensavam que eles iam, berravam e voltavam; que baixariam a bola.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Sim. Quem sabe, nós poderíamos colocar a PEC em votação agora. Parece-me mais ou menos assim: marca-se o jogo, o time começa a treinar mal e querem transferir o jogo para outra data. A sociedade brasileira tem o direito constitucional de ver essa PEC sendo votada, para que cada Deputado e cada Senador seja senhor de sua consciência e possa mostrar a sua cara.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - E, aí, o voto é nominal. Na PEC, o voto é nominal.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - É nominal. E possa mostrar a sua cara: é nominal e não é secreto. Então, assim aqueles que têm receio, que têm medo vão colocar a cara ali, naquele painel, e lá, na Câmara dos Deputados. Muito bem. O povo está nas ruas. Agora, às 16h, no Brasil todo, o cidadão vai se manifestar. Parece-me que o Poder Executivo está perdido.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Permita-me, Sr. Presidente. O Poder Executivo está perdido. Sua Excelência a Presidente da República sai e vai a São Paulo se encontrar com o ex-Presidente da República. Eu citei anteontem aqui um livro do Mario Puzo - não O Poderoso Chefão -, chamado O Quarto K, que falava da existência de um oráculo, que decidia tudo de mais importante dentro de um país. Nada poderia ser feito sem que esse ser, quase que metafísico, se manifestasse. E o mais importante deste contexto é que leva o marqueteiro da próxima campanha eleitoral. Parece-me, com todo o respeito, que Sua Excelência a Presidente da República - ou, como muitos gostam, a Presidenta da República - está perdida. Esse é outro ponto. E nós, Senador Pedro Simon, da classe política - Senadores, Deputados, aqueles que exercem cargos eletivos -, estamos, sim, passando por um momento de prova. Um momento de prova! O cidadão está cansado deste sistema político. O cidadão não aguenta mais. Nós não estamos aqui falando contra a democracia. Nós devemos, sim, defender a democracia, as instituições democráticas. Nós devemos defender, sim, a representatividade. Devemos defender este Congresso Nacional, atuando com dignidade. Atuando; e não o Congresso Nacional sendo um apêndice, um satélite de um Executivo que é presidencial e é monárquico. Nós aqui, assim, estaríamos nos transformando em meros carimbadores. A crise é institucional. No Supremo Tribunal Federal, imaginem: um Ministro do Supremo, que foi advogado de um daqueles que são julgados no caso do mensalão, não se dá por impedido ou suspeito. Esse mesmo Ministro vai ao jornal e diz que esse processo vai passar para frente, quem sabe, mais dois ou três anos, no julgamento de embargos infringentes que não se encontram no Regimento Interno do Supremo e cuja previsão a Lei no 8.038, de 1990, não estabelece. Deputados condenados aprovando lá, na Comissão de Constituição e Justiça, proposta de emenda à Constituição para subordinar as decisões do Supremo Tribunal Federal ao Congresso Nacional. Percebemos. Estamos em um momento importante da nossa história. E, aqui, muito bonito, parece um ditado do Estado de Mato Grosso: “por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”. Nós todos estamos aqui e parece que nada está a acontecer. Estamos em uma ilha, em uma ilha azul, uma ilha iluminada, uma ilha da fantasia. Parece que nada está a ocorrer aí fora. E muito está a ocorrer aí fora! O que está a ocorrer aí fora não são 20 centavos de uma passagem. Não são 20 centavos! O que está a ocorrer aí fora é o cansaço do sistema político, não contra a democracia, não contra o Congresso Nacional, não contra isso. É lógico que, neste momento, aqueles mais radicais, aqueles que gostam de praticar a violência e querem praticá-la se ocupam deste momento. Estes devem ser afastados e responder às penas da lei. Agora, a manifestação é um direito fundamental do cidadão. E já encerro dizendo que, ontem, às 17 horas, o Ministro Fux, aquele que “mata no peito”, segundo a entrevista na Folha de S.Paulo - ou “mataria no peito”, não sei o tempo verbal que foi utilizado -, garantiu o direito constitucional à manifestação. Porque lá, nas Minas Gerais, um desembargador proibiu as manifestações, e o Ministro do Supremo Tribunal Federal garantiu essas manifestações. Encerro, prometo ao senhor, dizendo que gostaria que V. Exª respondesse uma pergunta: as manifestações começarão daqui a 30 minutos, 40 minutos, aí fora; vamos fechar esta Casa? Vamos encerrar esta sessão?

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Eu posso responder, no exercício da Presidência, que nós ficaremos aqui, durante toda a noite, se necessário for, enquanto houver a manifestação.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Porque nós, aqui, estamos exercendo as nossas atribuições. O cidadão tem o direito de se manifestar, mas o Congresso, em especial o Senado, não pode...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Tem a obrigação de funcionar.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Sim, tem a obrigação de funcionar. Agradeço a oportunidade de apartear V. Exª, um político de 60 anos de política, mas um político de quem não conheço nenhuma mancha, nenhuma mácula, nenhuma nódoa na sua vida pretérita, na sua vida passada. Por isso, tenho a honra de aparteá-lo.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Agradeço. É bom porque o aparte é longo...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Com certeza absoluta, o senhor terá todo o tempo necessário.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - ... é brilhante. S. Exª fala como Procurador-Geral e como Senador da República.

            V. Exª abrange dois Poderes. Logo, logo, no ano que vem, abrangerá o terceiro, uma vez que será Governador de Mato Grosso. Mas esses dois V. Exª já os abrange.

            Recomendaria, se fosse falar aos meus irmãos do MDB, que, primeiro, não vão que não seríamos bem recebidos; segundo, vão sem camisas e sem bandeira do MDB! Vão como cidadãos! Fui outro dia aqui, em Brasília, como estava aparecendo e havia muita gente que me conhecia, mais do que eu imaginava, fui ficando para trás, fui ficando para trás para não me identificarem, pois achava que não era hora nem era momento, embora até fosse, relativamente, bem recebido.

            Mas, desta tribuna, proponho o seguinte: meu amigo Cristovam...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Estou desligando o celular só para ouvir V. Exª, pela importância do debate. Fique na tribuna o tempo que entender necessário.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Obrigado.

            V. Exª é o autor de uma manifestação que íamos lançar na quinta-feira. Na quinta-feira, assinei junto, o Pedro assinou junto, mas assinamos atrás da assinatura de V. Exª, onde conclamávamos ao povo que havia chegado a hora, que era para começar. Meia hora depois começou; e, infelizmente, não tivemos tempo para V. Exª ocupar a tribuna. Mas, meia hora depois, começou. O que V. Exª dizia ainda acho que, hoje, é hora de dizer; é hora de dizer a esses jovens: em primeiro lugar, sejam firmes; não aceitem a provocação do PT, se ela acontecer realmente lá na Avenida Paulista; deixem claro - como vocês estão deixando claro - que quem quebrou o antigo Congresso Nacional, o Palácio Tiradentes, não foram vocês; foi outro tipo de gente. Quem quebrou a porta e todos os vidros da Prefeitura do Rio de Janeiro não foram vocês.

            E um apelo que faço: iniciem o movimento. Vocês já estão falando e falando muito bem, falando em recusar a PEC nº 37; falando contra nós do Congresso - e não vou citar -, mas falando; pedindo a imediata apuração das irregularidades nas obras da Copa pela Polícia Federal e Ministério Público.

            E mais: queremos uma lei que torne corrupção, no Congresso, crime hediondo - e está ali o autor, Pedro Taques; o fim de um foro privilegiado, pois ele é um ultraje ao art. 5º da nossa Constituição.

            Ou seja, eles já estão botando as teses na rua.

            V. Exª, Senador Cristovam, fez ontem um brilhante pronunciamento; e eu, chateado, porque, anteontem, eu cheguei aqui às 14h30min e sai às 18h30min, e não me deixaram falar. Encerraram a sessão, porque havia uma outra, e não sei o quê. E eu fui embora. E, ontem, assisti, de Casa, ao seu pronunciamento.

            O Presidente da Casa disse que a sua ideia de reunir para discutir e botar no papel era muito boa, mas vamos fazer isso. Não é reunir para botar no papel. O Presidente Sarney já fez isso, todo mundo já fez. Até já nomearam uma comissão de juristas notáveis para fazerem a reforma política. É claro que não ia dar em nada. Mas nós estabelecemos um objetivo. Eles vão para as ruas e vão botar a proposta na rua. Nós vamos nos reunir e vamos decidir o que nós vamos fazer. Não podemos fazer tudo, mas há coisas que podemos fazer.

            Primeiro, não podemos aprovar a PEC nº 37, porque é um crime. Se, hoje, só ladrão de galinha vai para a cadeia, imaginem se promotor não puder denunciar! Imaginem se Tribunal de Contas, ninguém mais, e isso só fica com a Polícia! Ninguém mais do que a Polícia! E nós estamos fazendo isso por medo.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Nem CPI.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - CPI não faz, porque CPI não faz coisa nenhuma. A CPI arquivou o Sr. Cachoeira, que está condenado, lá fora, há 40 anos de cadeia, e está aí tranquilo. Saiu daqui quase que com voto de louvor. Não!

            O Renan pode realmente, mas também não pode ser uma comissão como a gente faz as comissões. Fazer uma comissão como eles nomearam a Comissão de Ética - a nossa Comissão de Ética nossa, que é de um ridículo atroz!

            Mas acho que hoje se pode iniciar esse diálogo, pode-se conversar com esses jovens, não por outro motivo, mas apenas para com eles estabelecer uma pauta. E vamos ao Presidente do Congresso e ao Presidente da Câmara estabelecer: “Isso aqui nós vamos fazer.” Eu acho que isso pode e isso deve.

            Por qualquer critério que eu adote, a não ser pelo da idade, pelo qual seria V. Exª, assim como pelo da feiúra, eu tenho que dar a palavra para a Senadora Ana Amélia em primeiro lugar. Permito.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Caro Senador Pedro Simon, obrigada. Tomo a brincadeira com o nosso Senador Moka como advindo do bom relacionamento que o senhor tem com o correligionário de um Estado tão querido por nós, que é o Estado de Mato Grosso do Sul, assim como por ele também ser filho de gaúchos. Eu queria, Senador Pedro Simon, dizer-lhe que, nesta tarde tão especial e tão simbólica, eu estou muito orgulhosa de estar representando aqui, junto com V. Exa e o Senador Paulo Paim, o Rio Grande do Sul, um Estado com uma história de grande força e peso na vida do País, mas, sobretudo, porque estamos aqui, junto com os Senadores de outros Estados e do Distrito Federal, nessa vigília. Junto com V. Exa, nós, aqui, fomos contra o Projeto de Lei da Câmara nº 132, quando V. Exa fez um dos mais memoráveis pronunciamentos neste plenário, que silenciou a todos, mesmo com aquela grande pressão de homens armados aqui, dentro do plenário, para que votássemos a favor. Foram quatro votos, de Senadores que levantaram sua voz para dizermos que éramos contra: V. Exa, o Senador Randolfe Rodrigues, o Senador Pedro Taques e eu. Como disse o Senador Paim, foi uma maciça opção das lideranças dos partidos políticos a votar. A PEC nº 132, no meu entendimento, pareceu um indicativo muito claro de que, no bojo dela, viria a aprovação da PEC nº 37, que inibe o Ministério Público de exercer as suas prerrogativas na amplitude das suas consequências e na amplitude que a sociedade brasileira quer. Quero-lhe dizer que queria o nosso Procurador-Geral do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Dr. Eduardo de Lima Veiga, e o Presidente da Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Dr. Victor Hugo Palmeiro, certamente, com os meios de comunicação de que a instituição dispõe, pudessem ver os Senadores pelo Rio Grande manifestando-se aqui, pública e ostensivamente, contrários não apenas à PEC 37, mas, no meu caso, também à PEC 33, que, igualmente, carece de total sentido num regime democrático. Então, eu vou lhe dizer que estou aprendendo, Senador, muito com o senhor e com o Senador Paulo Paim, porque estou aqui há pouco mais de dois anos e esta escola, para mim, tem sido extremamente exemplar. Juntos, estivemos também nas manifestações da OAB do Rio Grande do Sul, fazendo lá aquele movimento contra a corrupção, mas a voz da rua foi muito mais forte e, no contato que eu tive, aqui, em Brasília, com os representantes da Associação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, com os Drs. Carlos Cantarutti, Antonio Alencastro, Katia Vergara, Trajano Melo, Berenice Scherer, Conceição Brito, Maria Rosinete de Oliveira Lima, que é Ouvidora do MP do Distrito Federal e Territórios, Maria Abreu, Rosana Viegas e Gladaniel Carvalho, eu disse, naquele momento, que as manifestações não tinham começado. A PEC 37 só não seria aprovada se a voz de fora do Congresso fosse chegar aqui, se a pressão da sociedade fosse manifestada para chegar a esta Casa. Eu não tenho bola de cristal. Eu não tinha ideia do que iria acontecer, mas, hoje, Senadores Pedro Simon, Paim, Pedro Taques, Randolfe Rodrigues, Cristovam, Waldemir Moka, Magno Malta, Eduardo Suplicy, nosso Senador Garibaldi...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Não esqueça o Senador do PT.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Sim. Meu querido Senador Suplicy...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - O PT está ali. Aquele PT sempre esteve.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Esteve defendendo sempre essas posições, corajosamente. É bom que se ressalte isto. Pois hoje, Senador Simon, nós também estamos aqui nesta vigília e agora sabemos que essa voz muito forte no Brasil todo não é só para baixar o preço da passagem dos ônibus em São Paulo, no Rio de Janeiro e em várias outras cidades, mas, sem dúvida, foi essa voz tão forte que fez o Presidente da Câmara adiar a votação que estava marcada para a próxima semana, como muito bem V. Exª registrou no seu pronunciamento.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Muito obrigado pelo aparte de V. Exª.

            O companheiro ficou com a fisionomia muito triste, porque ele se acha... Não, o feio foi brincadeira, não foi sério.

            Tem a palavra.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco/PMDB - MS) - Senador Pedro Simon, quero dizer da alegria que tenho de vê-lo nessa tribuna. V. Exª, sem dúvida nenhuma, é uma referência não só para esta Casa, para o Senado, mas uma referência de vida, uma referência de fidelidade partidária, de postura. Senador Pedro Simon, confesso que passei aqui em função de V. Exª estar na tribuna e achei que a presença de V. Exª na tribuna teria que merecer o aparte dos seus pares que o respeitam, para mostrar isto para o conjunto da sociedade. É um movimento que está aí. Sempre se falava que o jovem estava alienado, que o jovem não participava, mas a verdade é que, nos últimos vinte anos, esses jovens não viram nada parecido, diferentemente da minha geração, da geração de V. Exª, quando essas lutas eram muito mais frequentes. Eu vim do movimento estudantil e participei de muitas lutas. Eu me lembro de ter presenciado aqui, no Congresso, a votação das Diretas-Já e de, depois, sair daqui e participar dos eventos. Eu acho que tem muito jovem que participa de uma grande manifestação pela primeira vez. Agora, esses jovens estão trazendo a sociedade como um todo para a participação. Inicialmente o jovem; hoje o pai do jovem, o avô do jovem. É uma manifestação muito importante. É claro que, no meio disso, sempre tem aqueles que estão querendo se apropriar indevidamente de um movimento legítimo, de depredações desnecessárias. O importante é a presença da sociedade e do povo na rua. Eu acho que não tem um recado específico; na verdade, é um aviso, acho que é um recado dizendo que é preciso mudar. E não é para um partido ou para outro, pois todo mundo que tem um mandato ou que está no poder, evidentemente, tem que ouvir isso e canalizar e tentar traduzir isso. Principalmente, a mudança que se pretende fazer é essa que nós temos que interpretar para assumir uma postura que a sociedade vai passar a respeitar. É o aparte que deixo a V. Exª, mais uma vez orgulhoso que sou de ter V. Exª na companhia no meu Partido e na minha bancada.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª.

            Estou vendo aqui apenas o Senador Suplicy, a quem vou dar o aparte. Mas quero perguntar ao Senador: se V. Exª não estará de camisa vermelha na Avenida Paulista, como não estou vendo ninguém do PT, só V. Exª e o Paim, será que o resto vai?

            Pelo amor de Deus, que os Senadores não compareçam a essa reunião! Não apareçam lá de camisa vermelha, porque, daqui a pouco, aparece alguém batendo fotografia, alguém mais esquentado. Acho que há momento para tudo na vida. Repare V. Exª - volto a repetir - que esse movimento se manifestou a favor de causas positivas. Fez questão de dizer que não era contra ninguém, mas a favor do Brasil. Pessoas falaram para mim que não têm ido nunca, mas elas me falaram para não ir e pediram que eu aconselhasse os meus amigos de partido para não comparecerem ou, se comparecessem, para que o fizessem com roupa simples, no meio do povo.

            Repare V. Exª que houve uma reunião, ontem, da maior seriedade. A Presidenta da República, o ex-Presidente, o Presidente Nacional do seu Parido e o encarregado da coordenação de publicidade se reuniram para discutir uma série de coisas. Sai o Presidente do seu Partido e dá uma nota fazendo uma convocação ao PT: nós não podemos fugir, temos que enfrentar. Vamos de camisa vermelha, vamos a essa reunião, vamos estar presentes e vamos dizer que não temos medo.

            Para que isso? Mas para que isso? Não era contra o PT. Não ouço ninguém falar do PT, até porque, cá entre nós, o PT está mandando muito pouco neste Governo. Não dá para dizer que essas coisas que estão acontecendo aí são coisas do PT. Não foi o PT que mandou abrir o escritório do Brasil em São Paulo, nem foi o PT que nomeou a secretária. Quer dizer, essas coisas aí o...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Pedro Simon, quero...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu me lembro até daquele tempo em que quantos estávamos aqui, um monte de Senadores - só do MDB havia mais de 30 -, e havia um do PT, que era V. Exª, que nem está hoje portando aos velhos tempos.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Está no plenário o Senador Walter Pinheiro, um dos Líderes do Partido dos Trabalhadores.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Ah, chegou?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - E o Presidente Paulo Paim.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Mas só para dizer que o companheiro Walter Pinheiro terminou de chegar e é acolhido com alegria.

            O Sr. Walter Pinheiro (Bloco/PT - BA) - Eu estive aqui às 2 horas.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Mas, também, até hoje não entendi por que tiraram a liderança dele, um líder excepcional, de primeira grandeza. A informação que me deram foi de que V. Exª era independente demais, pensava muito pela sua cabeça. Mas não entendi até hoje. Palavra que não entendi.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mas o Senador Walter Pinheiro foi eleito e nós temos a prática, no Partido dos Trabalhadores, do rodízio. A cada ano temos um líder. Este ano é o Wellington Dias, assim como já o foi o Humberto Costa. Então, esse é um procedimento que acho muito saudável. Mas eu prestei muita atenção nas suas recomendações. Eu acho que é próprio dos jovens do Partido dos Trabalhadores. Se quiserem participar da caminhada, hoje, na Avenida Paulista, são livres para fazê-lo. Acho que não precisa, de fato, tendo em conta que o Movimento Passe Livre sugeriu que não houvesse cores partidárias ali, que os jovens filiados ou simpatizantes do PT estejam lá de camisa vermelha. Acho que a ponderação de V. Exª faz sentido, porque é uma questão de respeito. Por outro lado, percebo que, muito provavelmente, hoje, o Movimento Passe Livre estará na Avenida Paulista, a partir das 5 horas, na esquina da Consolação e em outras áreas mais, porque serão muitos os que vão com o sentido de ter alcançado um objetivo muito importante, que era o primeiro objetivo expresso de propor ao Prefeito não aumentar a tarifa de R$3,00 para R$3,20, e, finalmente, conseguiu que o Prefeito, depois dos diversos diálogos e cálculos e até em diálogo com o Governador Geraldo Alckmin, tivesse anunciado a tarifa de R$3,00. Então, certamente, esse que foi o primeiro objetivo principal. Ao ter sido alcançado, vai significar que esses jovens e pessoas de todas as idades irão às ruas hoje para comemorar. Eu, ontem, quando conversei com uma das representantes do Movimento, a Srª Maíra, uma jovem de 22 anos, estudante de Geografia, que trabalha como garçonete numa lanchonete e é uma das porta-vozes do Movimento - eu até a cumprimentei logo após o anúncio feito pelo Prefeito Fernando Haddad -, ao lado dela estavam cantando, e ela falou: “Agora eu também vou cantar a Internacional.” Eram muitas vozes ali. Então, hoje, provavelmente, o espírito da caminhada será o de cantar, mas expressando, ao mesmo tempo, alguns objetivos, tais como os que V. Exª há pouco citou, para dizer que esse movimento veio para ter um dinamismo muito forte. Quero, mais uma vez, aqui dar uma recomendação a eles, dizendo que eles terão maior força na medida em que se utilizarem dos meios não violentos, da não depredação, da não violência, pois, com violência, podem ferir as pessoas pelas ruas. Portanto, acho que o movimento vai ganhar ainda maior respeito de todos os brasileiros na medida em que todos seguirem as recomendações desses representantes. Com eles dialoguei na sexta-feira passada, marquei um encontro na padaria em frente à Câmara Municipal de São Paulo. Conversei com algumas dessas representantes e procurei compreender suas razões. E fizeram um apelo de que pudesse o Prefeito, antes da manifestação de hoje, diminuir a tarifa. Felizmente, isso aconteceu. Mas esse movimento tem uma repercussão, hoje, formidável. Nós ainda não sabemos inteiramente como será o nosso diálogo com essas pessoas. Na segunda-feira, quando fizeram o primeiro cerco ao Congresso Nacional, estávamos aqui eu, Paulo Paim e Inácio Arruda. Depois, chegou aqui Rodrigo Rollemberg. E nós até nos dirigimos à Chapelaria, diante da rampa, que estava inteiramente tomada, e a direção do Senado e os responsáveis pela segurança nos recomendaram: “É melhor não sair lá fora, porque não sabemos o que é que vai acontecer com qualquer Senador, por mais querido que ele seja ou que pareça ter afinidade com eles, porque, de repente, pode surgir um incidente.”

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - É verdade.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mas aproveito esta oportunidade, Senador Pedro Simon, se me permite, para revelar aqui um diálogo pessoal que tive com V. Exª no início desta semana ou há poucos dias. Eu lhe perguntei: “V. Exª vai ser candidato outra vez em 2014?” O que quero dizer a V. Exª é o seguinte: tenho a convicção de que o povo do Rio Grande do Sul, mesmo que V. Exª complete 85 anos no dia em que terminaremos este mandato nosso, no dia 31 de janeiro de 2015, reconhece a contribuição de V. Exª, ainda mais com toda a sua experiência de vida, com sua postura, com a forma como dialoga conosco nestas ocasiões. V. Exª nos transmite um aprendizado e valores que são muito significativos. Então, quero dizer a V. Exª que poderá ser eternamente um Senador, porque, com toda a sua experiência, transmitirá luzes para caminharmos na melhor direção possível, ouvindo as vozes do povo brasileiro hoje nas ruas. V. Exª tem captado, ao longo da sua vida, essa consciência, essa vontade do povo brasileiro de viver com métodos democráticos para valer, aperfeiçoando nossas instituições com diretrizes sobre como melhorar a representação popular, as quais são as mais saudáveis. Meus cumprimentos a V. Exª!

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu queria ver, quando V. Exª chegar aos 85 anos de idade, com 36 anos de mandato nesta Casa, como é que V. Exª responderia a alguém que lhe fizesse esse tipo de aparte. Acho difícil.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu só quero dizer que, todos os dias, aqui, aprendo com V. Exª. V. Exª é uma pessoa com quem aprendo desde o primeiro dia da nossa convivência, em 1º de fevereiro de 1991. Todos os dias, eu aprendi com V. Exª, até nas poucas vezes em que porventura tenhamos tido alguma divergência. Em geral, quase sempre, estivemos juntos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu só vou dizer a V. Exª uma coisa: V. Exª passou dias e meses pedindo uma audiência para o Lula, e ele não tinha tempo.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não, ainda estou aguardando.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Ainda está aguardando, porque ele não tem tempo.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu tive uma audiência curta com ele, de 15 minutos, e ele me disse que ia me convidar para almoçar. Estou aguardando.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Aí V. Exª foi ao gabinete do Dr. Lula, e, na portaria, disseram: “Ele não tem audiência marcada.” E V. Exª respondeu: “Não tem importância, eu espero.” E Lula, que não tinha outra porta para sair senão aquela em que estava V. Exª, recebeu-o. Por quantos minutos ele recebeu V. Exª?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Por 15 minutos, de forma muito cortês. E disse...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Por quanto tempo?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Por 15 minutos. Mas eu mesmo tinha um compromisso no Palácio do Governo, com o Governador Geraldo Alckmin, e precisei sair logo. Mas ele me disse: “Eduardo, vamos marcar um almoço. Tem de ser numa segunda ou sexta.” Eu estou aguardando.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Se até o mês que vem ele não marcar...

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Desde o dia 6 de maio, espero que aconteça.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Se até o mês que vem ele não marcar, nós telefonaremos para ele, em nome do Senado, pagando o almoço para ele almoçar com V. Exª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mas vai acontecer, e daí eu lhe digo.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - A carta que ele escreveu - ele teve a honra de me mandar uma cópia - mostrou que, nesse tempo todo, na vida dele, ele acha que tem direito de ser candidato a Senador, disputando numa prévia. Ele disputa com os membros do Partido, se quiserem fazer aliança com outros partidos. Num gesto de elegância, V. Exª disse que só não concorre com o Lula: “Se Lula quiser, a vaga será dele.” Esse é o Suplicy, e essa é a maneira como o Partido dele o trata. Tu vais para o céu também e não vais encontrar muitos companheiros lá, não.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Pedro Simon, o senhor falou de uma espécie de manifesto que um grupo de nós tinha elaborado para publicar no final.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Que coisa fantástica!

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Foi na quinta-feira que nós fechamos isso, depois de um trabalho ao longo de quase uma semana. Ali estava o nome do Randolfe, o seu, o meu, o do Pedro Taques, o do Aloysio, o do Jarbas Vasconcelos - creio que são esses. As coisas são tão rápidas, que, na hora em que íamos mandar para o jornal, Senador Moka, vimos que ficou superado. Mas, aproveitando o tempo livre que nós temos aqui, vou ler o documento, para que as pessoas vejam como era um documento que merecia ter sido divulgado até para alertar sobre tudo isso. O documento começa dizendo: “Nós últimos meses, têm aparecido sinais da fragilidade das instituições democráticas. A democracia ainda não está ameaçada, mas as instituições estão cambaleantes. E isso poderá vir a ameaçar o seu futuro se não despertarmos. [Os meninos estão nos despertando. E aí segue uma série de demonstrações da fragilidade das instituições.] A aprovação da medida provisória dos portos sem o Senado cumprir seu papel de revisor transmitiu ao vivo, para todo o País, a ideia de que os Parlamentares votavam uma lei que não conheciam plenamente. O fato de votar por imposição do Poder Executivo, colocando o Congresso de joelhos, é prova da fragilidade das instituições. Da mesma forma, é desmoralizante o Congresso ter três mil vetos não votados e tentar votá-los todos em 24 horas [era isso que nós dizíamos]. Intervenções [mais uma manifestação da fragilidade] repetidas do Sistema Judiciário no processo parlamentar, seja por erros do Congresso, seja por vazio legal de leis malfeitas, que levam a interpretações ad hoc dadas pelo Supremo Tribunal Federal ou Supremo Tribunal Eleitoral, ou mesmo por provocações originadas por Parlamentares, até mesmo para impedir o debate de projeto de lei, tudo isso é prova da fragilidade das instituições democráticas, como também são as tentativas do Legislativo de criar restrições à liberdade de imprensa, ao pleno funcionamento de novos partidos e ao funcionamento do Ministério Público e até mesmo do Supremo Tribunal Federal [são provas da fragilidade]. O uso de recursos públicos ou privados do tipo mensalão ou a liberação de emendas para conseguir apoio de Parlamentares a favor de propostas do Governo submetem e desmoralizam o Congresso e, em consequência, as instituições democráticas. Igualmente, prova de degradação das instituições é a falta de nitidez nos contornos ideológicos e nos propósitos dos partidos, o que abre a possibilidade de alianças espúrias e até desavergonhadas, incompatíveis com uma democracia sólida. Ainda mais grave, o Governo Federal usa a força avassaladora, algumas vezes chantageando os dependentes de verba pública para submeter governos estaduais e municipais à vontade do Governo Federal. Prova dessa tutela é como governadores, prefeitos e ministros se afastam de candidatos à Presidência da República de seus próprios partidos, para não enfrentar, cada um deles, o Governo Federal. O uso de publicidade governamental com recursos públicos para promover os partidos e o Governo no poder, criando uma dependência de setores da mídia aos recursos e à vontade dos governos, reduz a plena liberdade de imprensa, fragilizando as instituições. [Não há muito mais.] Até mesmo projetos de nítido interesse social, como as transferências de renda para camadas pobres, comprometem as instituições quando usadas sem condicionantes, sem contrapartidas, parecendo um favor governamental, destruindo a impessoalidade necessária ao bom funcionamento da democracia. É preocupante, também, a maneira como as entidades da sociedade civil, ONGs e sindicatos de empresários e trabalhadores, são cooptadas ou mesmo corrompidas pelos governos, e a prova é que elas não estão nas ruas. Finalmente, esses indicadores são suficientes para alertar os Parlamentares e a opinião pública. [Aqui, vem a última frase.] A democracia ainda não está ameaçada, mas é necessário defendê-la, antecipando-se aos riscos que sofrem suas frágeis instituições.” Assinavam Jarbas Vasconcelos, Aloysio Nunes, Pedro Simon, Pedro Taques, Randolfe Rodrigues e eu próprio.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Repito: “A democracia ainda não está ameaçada, mas é necessário defendê-la, antecipando-se aos riscos que sofrem suas frágeis instituições”. Os meninos estão nos despertando.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Esse manifesto era para sair na quinta-feira. Ele seria lido às 14h30 aqui, e, às 16h30, o povo já ia para a rua.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Era para sair no sábado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - É.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - De repente, demoramos algumas horas e preferimos recolher, porque não fazia sentido.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Demoramos algumas horas.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Os meninos se anteciparam a nós. Os meninos foram para a rua demonstrar a fragilidade das instituições. Eles são democratas e estão preocupados com a fragilidade das instituições, provocadas por erros nossos, por omissões nossas, por erros do Supremo, por erros do Executivo, pela incapacidade de convivermos bem dentro de regras que mostrem a independência de cada Poder. Nós estamos ameaçados, e a prova disso é que o povo, cansado, cansado de esperar por nós, foi para as ruas. Só que o povo na rua desperta, mas ele não canaliza as soluções se não passar por alguns fóruns. Eu creio que o momento agora é de outro documento como esse, não mais alertando, porque isso os meninos fizeram, mas, agora, ouvindo o alerta deles e propondo algo que, se feito, canaliza a vontade deles.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Ia sair o nosso manifesto, tendo V. Exª na frente, e atrás vinha o povo. Mas acho que vai ficar bem assim: o povo vai na frente, e nós vamos atrás do povo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Exatamente!

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu acho que serve.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - É isso! Nós estamos...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Para ser sincero, essa é a melhor posição para nós.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - É verdade!

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Nós não merecíamos ir na frente. Devemos ir atrás mesmo.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Nós vamos atrás, pegando propostas deles e trazendo-as aqui para dentro, porque é aqui que se aprova. Ou se cria um foro mais amplo do que o próprio Congresso, como são as Constituintes, seja plena, que não é o caso hoje, seja específica, para a solução de algum problema. Eles nos alertaram. Eles sós não vão conseguir fazer com que suas vontades virem leis. Cabe a nós ouvi-los - ouvi-los, ouvir o grito deles para nós desde as ruas - e canalizar esses gritos sob a forma de instrumentos de mudança que acalmem o povo brasileiro inteiro, que está cansado de ver tantos erros cometidos, tantas arrogâncias praticadas, tanto desprezo àquilo que eles querem. Eu fiz questão de aproveitar a sua fala e de ler o manifesto. Ele não foi publicado porque não tivemos tempo.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Obrigado.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Mas, pelo menos, aqui foi aparecido.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - É claro. V. Exª pede para que esse manifesto seja transcrito nos Anais da Casa.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Eu espero que seja transcrito, Senador Simon, como aparte.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Peço à Taquigrafia que esse manifesto faça parte dos Anais da Casa.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Isso.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Já está atendido. O manifesto fará parte dos Anais da Casa.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - É o último aparte. Agradeço a tolerância de V. Exª, mas a estrela que brilha ali nos ofusca, se não permitirmos.

            Pois não.

            O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco/PSOL - AP) - A maior estrela aqui é o senhor. O senhor sabe disso e tem o reconhecimento de todos aqui da Casa. O senhor nos inspira. É por isso que, quando o senhor utiliza o microfone, até aqueles que têm posições claramente contrárias têm dificuldade de se opor à sua posição. Isso é um respeito conquistado pelos anos que V. Exª tem e pelo que V. Exª representa para o Brasil. Poucos de nós aqui, Senador Simon, poucos, poucos - eu diria que o senhor é um deles - teriam condição de passar incólumes por essas manifestações e, inclusive, ser convidado pelos jovens para caminhar junto. V. Exª é um desses. V. Exª teria condição de ir à manifestação, de ser abraçado pelos manifestantes e de caminhar junto com eles, porque, com V. Exª, há uma identificação do que eles estão falando lá fora. V. Exª tem dito muita coisa aqui que tem repercutido através de uma minoria. Nós dissemos, insistimos aqui, no plenário, que é inaceitável aprovar regime de contração diferenciada, derrubando a Lei de Licitações e derrubando o art. 37 da Constituição, que fala de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. Não era possível ser feito isso em função de uma Copa do Mundo.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Randolfe Rodrigues (PSOL - AP) - As ordens do Joseph Blatter, as ordens da Fifa não poderiam - nós dissemos isto - estar acima da Constituição. Isso foi dito aqui, no plenário do Senado, quando foi votada a Lei Geral da Copa, e foi feito ouvido de mercador a esse reclame. Eu achei interessante que, na abertura da Copa das Confederações, o Presidente da Fifa tentou contra-argumentar o movimento de vaias que lá existiam, e o povo reiterou as vaias em cima dele. Ou seja, o que está vindo de fora, o que está ecoando e pressionando aqui dentro são posições que tinham sido defendidas aqui, no âmbito do Plenário, que têm sido defendidas na Câmara dos Deputados, mas que aqui não tinham audiência. Não se tem audiência. Não se tinha, não existia, e não se tem audiência. O questionamento elementar que está sendo feito pela meninada lá fora é: ora, um país que consegue fazer, que é capaz de construir estádios de mais de R$1 bilhão também pode construir um sistema de saúde com o mesmo valor. Pode construir hospitais, centros de saúde, pode ter atendimento médico do mesmo valor. Mas nós aprovamos o regime diferenciado de contratação para construir estádios bilionários, e não aprovamos os 10% da receita bruta da União para a saúde. Vê o contraponto? Ou seja, o que está ocorrendo lá fora, neste momento, estava sendo semeado, estava sendo fermentado. Quando o povo olha para seus representantes e não se vê representado, busca novas formas de representação. Isso é em qualquer sociedade. É isso que impulsiona revoluções. Pergunta-se: por que isso está acontecendo? Está acontecendo pelos erros daqui de dentro, pelos erros da arrogância de achar que se pode tudo, que se conseguia tudo e que já tinham sido feitos muitos - abrem-se aspas - “favores ao povo”. Não é isso o que a meninada está falando lá fora. Não é isso - não é só a meninada - em relação às manifestações de rua por todo o Brasil. Fui de uma geração que ocupou as ruas. Fui da geração que antecedeu esta. O intervalo dessa geração para a minha é de 20 anos. É maior que a idade dos meus filhos. Eu falava isso aqui ainda ontem. Meus filhos estão nas manifestações, como provavelmente os filhos de todos nós estão em alguma caminhada, em algum canto do País. Posso dizer, com o conhecimento de alguém que viveu de perto o período anterior. Aliás, eu vivi; V. Exª viveu. V. Exª estava aqui dentro. Eu estava reclamando lá fora, e V. Exª estava, já naquele momento, aqui dentro, dando eco ao que nós reclamávamos lá fora. Quero lembrar que, naquele momento, há 20 anos, reclamávamos lá fora, buscávamos eco aqui dentro e tínhamos eco aqui dentro. O que estou sentindo agora é que os lá de fora não querem mais nem conversar com os aqui de dentro. Estão um pouco cansados dos daqui de dentro.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Lá fora nós tínhamos todo mundo contra nós e só vocês do nosso lado. E vocês derrotaram militares, Igreja, poder econômico, a grande imprensa. A mocidade ganhou.

            O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco/PSOL - AP) - Exatamente. Agora, o que está ocorrendo concretamente? Inicialmente é uma manifestação de completa aversão, mas, hoje, já vejo que eles publicam nas redes uma pauta mais concreta. E vamos continuar fazendo ouvido de mercador a essa pauta? Veja, sobre a PEC nº 37, o que a Câmara dos Deputados faz? Fazendo uma analogia futebolística, da mesma forma que um adversário marca um jogo e o desmarca, quando está em condições desfavoráveis, a Câmara dos Deputados, vendo que estava em condições desfavoráveis, desmarcou a votação. Não! Tinha que ter feito a votação e tinha que ter rejeitado a PEC. Mas se adia a votação da PEC, quando ela sequer deveria ser apreciada.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Randolfe Rodrigues (PSOL - AP) - Se não nos identificarmos com o que ocorre lá fora, com o que está acontecendo lá fora, os lá de fora vão achar cada vez menos importante o que acontece aqui dentro. E vão encontrar outras formas de representação.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Obrigado a V. Exª.

            Agradeço a tolerância. Mas é só final que eu havia preparado.

            Já se vão mais de 20 anos desde os grandes movimentos populares - aos quais V. Exª se refere. E, convenhamos, permanecem frustradas as expectativas de mudanças de postura e de prioridades. Apenas alguns arremedos, exatamente para que tudo permaneça como está. Migalhas que, também convenhamos, não são suficientes para um grande projeto de paz para o nosso País.

            Os movimentos dos últimos dias nada mais são, portanto, que a explosão de um grito parado no ar, há mais de duas décadas. Não há como negar: um grito de esperanças frustradas. Um grito contra a corrupção entranhada em todos os Poderes, em todos os níveis. Um grito contra a impunidade, principalmente porque ela se perpetua nas camadas mais abastadas da população. Um grito contra os gastos supérfluos, na contramão das necessidades urgentes da educação, da saúde, da segurança pública, da infraestrutura, da economia social. Um grito contra a política dos conchavos, longe dos interesses do povo. Um grito contra a dádiva, que ocupa o lugar do legítimo direito. Um grito contra a falta de um projeto de desenvolvimento nacional, e não de crescimento atrelado aos ganhos de poucos, em detrimento de todos.

            O recado aos que se julgam donos do poder foi dado na proibição de bandeiras partidárias em todas as manifestações, na ausência dos líderes que se imaginavam perpétuos na condução dos movimentos populares.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Lá não estava a UNE. Lá não estava a CUT. Portanto, partidarizar a discussão sobre o atual movimento popular é um tiro no pé, ainda que com bala de borracha. Há um grito novo parado no ar. Um grito contra a velha política. Novas lideranças surgirão sobre outras bandeiras. E, nós, Parlamentares, não podemos passar ao largo da constatação de que, no centro do poder, os manifestos se dirigem exatamente a esta Casa, ao Congresso Nacional.

            Não entendo que aqui estejam tão somente as frustrações, apesar de saber que elas são muitas. Aqui também mora muita esperança. O Congresso Nacional é o símbolo maior da democracia, e democracia é um governo do povo. É aqui que o povo mostra o seu desejo de mudança.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - É aqui que, neste momento, o nosso povo deposita a esperança de que é possível fazer uma nova política. De nada vão adiantar os nossos discursos de cobrança e de atribuição de culpa a outros Poderes da República, ao partido A ou ao partido B. As sementes de mudança que o povo exige nas ruas estão aqui. O povo já não quer apenas o combate às pragas das plantas políticas atuais. O povo quer novas sementes. O povo deseja novas plantas. O povo exige outros frutos - repito: mudança de postura e de prioridades. Portanto, as novas plantas da política exigidas pelo povo nas ruas têm que ser cultivadas com sementes geradas aqui no Congresso Nacional. O Parlamento é o viveiro das mudas políticas, das mudas sociais, da árvore frondosa da democracia. Eu entendo este momento como um dos mais importantes da nossa história. Hoje, a um único toque, milhares de pessoas ocupam as ruas.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - A falta de lideranças bem-definidas é um sinal de repúdio ao velho modo de fazer política, mas é um risco: enquanto esse velho modo de fazer política ainda estiver no poder, a experiência do que não queremos de volta. A velha política encontra, na maioria das vezes, artifícios nem sempre nobres de perpetuação no poder. Ainda que sob o discurso da mudança, desde que a prática continue a mesma.

            O Parlamento não pode permanecer inerte, escudado apenas em discursos.

            Ontem, os cálculos deram conta de algo como 300 mil pessoas nas ruas das nossas principais cidades. Se todas elas estivessem em Brasília, certamente rumariam para o Congresso Nacional, tomariam toda a Esplanada dos Ministérios, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.

            Mas não podemos nos esquecer de que, há muito pouco tempo, 1,6 milhão de brasileiros assinou um abaixo-assinado contra a eleição do atual Presidente do Congresso.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - E, se eu disse “atual”, é porque os Senadores fizeram os tais ouvidos moucos.

            Por isso, Sr. Presidente, digo de todo o coração: o povo está na rua. Neste momento, começa a passeata, e nós estamos aqui. Que tenhamos a coragem de fazer a nossa parte! Que tenhamos a dignidade de iniciar as mudanças que o povo espera!

            Não calcula V. Exª a emoção com que agradeço a sinceridade e a gentileza de V. Exª, eu, que, na quarta-feira, sentei-me às duas e meia, saí às sete e não consegui falar.

            Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2013 - Página 38725